Capítulo 14 - Um Novo Caminho
Remember when you couldn't take the heat
I walked out and said 'I'm setting you free'
Capítulo 14
Um Novo Caminho
"Como é que é?" Schmidt tinha sido só sorrisos - ainda que muitas vezes desconfortáveis, - desde que eu tinha acordado no hospital. Tinha a impressão de que sempre tivesse sido assim, mesmo sem conseguir me lembrar. Por isso, provavelmente, seu tom me assustou um pouco. "Você enlouqueceu?!"
"Muito pelo contrário," respondi, me dando o direito de ser tão ríspida e direta quanto quisesse, já que nunca voltaria ali ou pediria um emprego para qualquer um de seus contatos profissionais. "Eu finalmente estou pensando direito."
Se acordasse amanhã de volta em oitenta e nove, uma das primeiras coisas que faria seria me impedir de aceitar um emprego em um escritório particular. Não tinha porque passar mais um segundo ali.
"Pode pelo menos me dar a cortesia de explicar?" Sua indignação o fez cuspir nas folhas à sua frente, mas ele não desviou os olhos de mim. "Você está abandonando um emprego que muitos por aí dariam um rim para ter!"
Respirei fundo, ao invés de simplesmente lhe dar as costas, como queria fazer. "Eu não quero um emprego que me obriga a defender um cara que trata os próprios filhos como troféu, os tirando da mãe só pelo prazer de ganhar."
A expressão no rosto de Schimdt endureceu, seus lábios torcendo minimamente para baixo em sinal de desprezo. "Então você não serve para ser advogada-"
Sabia que ele ia continuar, mas o interrompi. "Não," falei. "Por isso sempre quis trabalhar para a promotoria." E então, soltando minha carta de demissão em sua mesa, completei: "Quem sabe não nos vemos no tribunal algum dia, não é?"
Saí de sua sala com o queixo no ar. Só tive que passar pela porta da minha sala para Savanah me entregar uma caixa com as minhas coisas.
"Tem certeza?" Ela perguntou, minha secretária me olhando assustada ao seu lado.
"Mais do que já tive de qualquer coisa na vida," e era verdade.
A partir do momento que tinha tomado aquela decisão, tinha sentido o peso da Bridget da última década que eu ainda não conhecia sair de meus ombros. E, mesmo agora, precisava me controlar para não sorrir demais.
Antes que continuasse meu caminho para fora daquele escritório para sempre, Savanah me fez um aceno e disse:
"Te vejo em casa."
A segunda coisa que a Bridget de dezesseis nunca se deixaria fazer era aceitar Max de novo. Isso, eu já tinha entendido. Difícil tinha sido falar para ele.
"Eu sabia! Sabia!" Ele exclamou quando falei que não podíamos continuar com aquele noivado. "Tentei fingir que era mentira, mas esse acidente te mudou. Mas, Bree, se você só quer adiar o casamento, eu entendo! Você precisa de mais tempo, a gente pode adiar até um ano-"
"Não," Eu o cortei. "Você é maravilhoso, Max, bem mais do que imagina e completamente diferente do que eu achei que pudesse ser quando estávamos no colegial," ele franziu as sobrancelhas para o que eu falei, mas não parei para explicar. Só continuei, "mas eu não o amo como deveria amar. E você merece uma garota que seja completamente louca por você! Que ame cada segundo que passe do seu lado. Você merece encontrar alguém que te ame de verdade, e eu não sou essa pessoa."
Ainda tinha demorado mais alguns minutos com ele dizendo que queria a mim, não a uma garota hipotética, mas acabou aceitando. O que mais podia fazer?
E era verdade. Além de ele merecer alguém que fosse louco por ele, também merecia amar alguém completamente. E ele não me amava. Tinha sido o noivo perfeito durante essas três semanas, mas nunca tinha tido coragem de falar que me amava. Nem quando eu estava terminando com ele. Era bom demais para mentir assim e não deveria ter que mentir para sua noiva.
O acidente tinha ido de pesadelo a sonho a pesadelo outra vez, e agora eu o via como uma benção. Poderia parecer terrível, tinha destruído nosso relacionamento, nas palavras de Max, mas era para o melhor. Não só para mim, mas para ele também. E pude perceber que, mesmo que não fôssemos continuar juntos e nem acontecesse nos próximos meses, nós ainda seríamos amigos. Daqui um ano, quem sabe, quando nós dois tivéssemos tido tempo o suficiente para nos recuperar de tudo, voltaríamos a nos falar. Não deixaria que ele, que tinha estado ali por mim quando eu precisei de seu abraço apertado, saísse de minha vida assim. Não se eu pudesse evitar.
"Você é louca," Savanah disse, praticamente largando a caixa que carregava em cima da pilha na frente da porta. Parou para recuperar seu fôlego antes de continuar. "Sabe que a tal Stacy lá vai correr atrás dele, né?"
"Boa... Sorte... Para ela," falei, tendo que respirar entre palavras por causa do peso da caixa que eu segurava e acabei apoiando no chão. "Quem diria que eu tinha tanta coisa assim?" Falei, olhando para as pilhas à nossa volta, sabendo que papai ainda traria algumas malas.
"Eu diria," minha mãe apareceu, trazendo somente a pequena maleta com minhas joias.
Max tinha se recusado a aceitá-las de volta, mesmo o anel de noivado. "São seus," ele tinha dito. "Para se lembrar de quando estávamos juntos, já que não vai poder usar sua memória para isso."
Esse tinha sido seu argumento também para me deixar pegar vários outros objetos da casa, além da máquina de café - essa, por indireta de Savanah.
Nós dois tínhamos passado a tarde inteira da terça-feira decidindo o que era dele e o que era meu. Por mim, eu teria trazido só coisas que lembrava de oitenta e nove - o que não enchia nem uma mala, - mas fiquei bastante grata por ele deixar eu trazer também aquelas às quais tinha me apegado nas últimas semanas. Além de todas as roupas e sapatos, já que, segundo ele, quando nós ficamos noivos, tudo dentro do apartamento virou nosso.
Agora era quarta-feira de manhã e eu finalmente me mudava para minha casa nova: o pequeno apartamento de Savanah.
"Assim que eu conseguir um emprego, a gente aluga um lugar maior," prometi, quando ela abriu a porta e nós demos de cara outra vez com a falta de espaço.
Pelo menos teria um quarto só para mim, recentemente deixado vago por sua antiga colega de apartamento.
"Não se preocupe," Savanah disse, se preparando para pegar a caixa do topo da pilha à sua frente. "Nada disso vai sair do seu quarto."
"Nem a máquina de café?" Falei, a seguindo quando entrou em casa.
"Só a máquina de café."
Eu ri, enquanto minha mãe revirava os olhos.
"Ainda não acredito que você abandonou o escritório!" Ela resmungou. "Acabar com o noivado já foi demais, agora, largar seu emprego? Bridget, não é fácil encontrar outro escritório de advocacia tanto tempo depois de ter se formado? Ainda mais sem nem se lembrar direito da faculdade!"
Eu já preparava para me defender, quando outra pessoa foi mais rápida.
"E quem disse que ela vai continuar sendo advogada?" A voz de papai fez minha mãe paralisar onde estava, ainda que fosse bem no espaço da porta, no meio do caminho. "Com licença, Alba," ele pediu, bastante cortês para a mulher que tinha dormido na mesma cama que ele durante mais de três décadas.
Ela correu para sair do caminho, e ele entrou, colocando uma mala minha ao lado do sofá e vindo me cumprimentar. Eu perdi os próximos dois segundos da interação dos dois, só o suficiente para entrar no quarto que devia ter menos de três metros quadrados e deixar a caixa lá.
Quando voltei para a sala, minha mãe já tinha se recuperado do choque - que eu tinha intencionalmente deixado acontecer, não contando que papai viria, - e cruzava os braços.
"Como assim ela não vai continuar sendo advogada?"
Papai passou por ela outra vez, indo pegar uma caixa para ajudar. Não lhe respondeu, só ficou lançando olhares significativos na sua direção.
"O emprego que eu tava falando era de secretária, ou garçonete," respondi, fazendo minha mãe me olhar como se eu tivesse declarado a intenção de matar o presidente e roubar a declaração de independência dos Estados Unidos.
"Bridget, você tem um diploma!"
"Que não vale para nada se eu não me lembro das minhas aulas," sabia que estava sendo preguiçosa quando Savanah e meu pai continuavam trazendo minhas coisas para dentro, mas me sentei em uma cadeira.
"Mas esses são empregos de adolescente!"
"Ótimo," respondi. "E são só temporários, até eu conseguir me sentir mais segura para continuar trabalhando com Direito." Ela ficou visualmente mais relaxada para minha resposta. "E aí vou até o escritório da promotoria."
Pronto. Estava nervosa outra vez. "Promotoria?"
"Sim, para trabalhar para o povo."
Achei que protestaria de novo, mas acabou aceitando. "Estava bom demais para ser verdade mesmo," disse, tão baixo que quase não entendi.
"Pelo menos eu estou livre, não é?" Falei, por mim, bem mais do que por ela, aproveitando para olhar em volta da minha nova casa.
Ela nunca entenderia a beleza que existia em não ter o emprego que pagava mais ou o noivo mais famoso. Mas eu entendia.
Depois de mais algumas horas trazendo as caixas para dentro e me ajudando a organizar o máximo possível meu quarto, nós quatro finalmente nos sentamos para tomar café em volta da pequena mesa redonda de Savanah.
E, de certo modo, minha também.
"Eu só não entendo por que você não pode começar logo com um emprego melhor," minha mãe falava pela milésima vez.
"Preciso de algum que me dê tempo para estudar," expliquei, já cansando de falar aquelas palavras.
Meu pai sorriu para mim do outro lado da mesa. Ele estava visualmente nervoso, principalmente agora que tinha parado de fazer esforço físico e tinha se sentado. Eu sabia bem o porquê, mas não estragaria sua surpresa.
"Bom, quando você precisar de dinheiro, pode vir falar comigo," mamãe praticamente mandou.
"Quando?!" Savanah bufou uma risada. "Não deveria ser 'se'?"
"Eu não te pediria dinheiro, mãe!"
Ela ficou ofendida na hora. "Posso saber por que não?"
Balancei minha cabeça, rindo de seu jeito. "Primeiro, porque seu serviço de jardinagem das casas da nossa rua nunca te deu tanto dinheiro assim. Você não pode ficar emprestando para qualquer pessoa."
"Você não é-"
"E também," continuei, antes que ela pudesse rebater, "eu tenho dinheiro. Max e eu nunca tivemos uma conta conjunta. Tenho um resto do meu último salário."
Savanah se virou na hora para mim. "E por que a gente ainda está nesse buraco mesmo?"
Eu ri. "Esse buraco, você quer dizer, seu apartamento?"
"Sim."
"É só o resto do salário e eu preciso que ele dure até conseguir um emprego, né?"
Ela deu de ombros, como quem abandonava a conversa por discordância, não conclusão.
"Bom, se vocês não se importam, eu vou tomar um banho, porque essa mudança me deixou fedendo," disse, se levantando e fazendo um aceno para meus pais antes de ir para o banheiro.
O clima entre os três que sobraram ficou um pouco desconfortável. Para a minha sorte - e a de meu pai, - meu celular tocou na hora. A primeira coisa que pensei era que precisava mudar o código dele. Tinha descoberto que era o aniversário de Max e agora isso não faria o menor sentido.
A segunda coisa foi que eu poderia colocar o aniversário de Thomas. E isso me deu um aperto no coração de saudades dele. Não tinha a menor ideia do que faria. Só tinha passado três dias desde que eu tinha me lembrado do acidente, e a raiva que sentia por ele tinha diminuído consideravelmente. Mas eu ainda estava tão decepcionada, que não aguentaria nem o ver agora.
"Com licença," pedi para meus pais, indo atender meu celular em meu novo quarto.
Logo antes de fechar a porta, vi papai falando:
"Alba, tem algo que eu preciso te contar."
Sorri para mim mesma, apertando o botão para atender a chamada.
"Bridget Thorne aqui," falei.
"Srta. Thorne, aqui é o delegado Balzac, encarregado de descobrir quem estava dirigindo no dia do seu acidente."
Nem precisava de explicações, reconheci sua voz na hora. Ele tinha deixado umas três mensagens na minha secretária eletrônica nas últimas semanas só para contar que não tinham desistido ainda, que estavam perto, será que eu e meu noivo não podíamos aparecer na delegacia? Não tinha falado tão claramente, mas sabia que era para conseguir um autógrafo de Max.
"Olá," falei, só para ele continuar.
"Tenho boas notícias. Encontramos o culpado."
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