38
Eles esperaram por bastante tempo.
As horas foram passando, o tempo cada vez mais frio. De repente, quase ficou insuportável ficar perto da janela, então eles se aconchegaram na cama. Changbin tentou manter Jisung desperto, puxando assunto com o menino ou até fazendo cócegas, porém, em algum momento entre os sussurros silenciosos e os beijinhos sonolentos, ele caiu no sono. Sem coragem de acordar ele, Changbin apenas o acolheu nos braços e deixou que ele descansasse, sabia que na manhã seguinte ele levantaria cedo para trabalhar na enfermaria e só se veriam na hora do almoço. Contudo, ele ainda queria esperar por Chris, tinha a sensação que ele iria aparecer. Algo bem no fundinho da sua mente dizia isso, que ele vai aparecer, em algum momento.
Changbin tentou muito não dormir, mas o silêncio da madrugada e a respiração amena de Jisung o deixou sonolento também. Ao esticar o braço até a cômoda que ficava entre os beliches, pescou o relógio de pulso do Han e viu as horas. Duas e vinte da madrugada. Com os olhos ardendo, ele decidiu ao menos fechá-los por meio segundo, não iria dormir, definitivamente não iria. Ele queria ver Chan, e ele viria. Não podia dormir. Não agora. Changbin fechou os olhos, cansado pelo dia agitado, e de repente, seu corpo ficou mole e tudo parecia distante, mas, lá longe, ele ouviu um barulho incomum. Era muito tarde, geralmente automóveis não aparecem pela estrada àquela hora da noite, mas ele tinha certeza que ouviu o barulho de uma moto. Meio grogue de sono, ele levantou da cama cambaleando, os pés tocando o piso frio e a ventania deixando os pelinhos dos seus braços arrepiados. Changbin se aproximou da janela aberta e, lá do portão, ele viu uma moto estacionado e uma pessoa em cima, usando um capacete vermelho chamativo e uma camiseta verde com uma pizza estampada, ela tinha braços e pernas, e um sorriso convidativo muito estranho. Coçando os olhos, Changbin se perguntou se aquilo era algum delírio da sua mente sonolenta.
É o Minho? Se perguntou, as mãos ainda apoiadas na janela, em dúvida se deveria descer ou não. Olhando para trás, ele viu Jisung ainda dormindo encolhido, e resolveu que deveria ir dar uma olhada, aquela definitivamente era a moto de Minho e aquele capacete chamativo vermelho de brasas não podia ser de alguém que não fosse ele. Changbin catou o chinelo e saiu do quarto em passos cuidadoso, descendo as escadas se esgueirando pelas paredes, com medo de ser pego pelo zelador. Sem ser visto, ele atravessou o hall de entrada, caminhando com atenção até a porta de entrada, ele sabia que estava aberta, aquela fechadura estava quebrada há pelo menos uns cinco meses e Haeri nunca deu a devida atenção, porque seria um gasto a mais que ela não queria ter, por isso, usava apenas um cadeado grande e torcia para ninguém ser tão infeliz em querer roubar um orfanato. Hoje, por alguma obra do destino, aquele cadeado enferrujado estava aberto, apenas segurando a corrente nas portas de madeira. Num passe rápido, Changbin tirou o cadeado e puxou as correntes, deixando em um cantinho no chão, seguindo porta afora.
Ele se encolheu pela ventania e pelo frio, se xingando mentalmente por não ter pego um casaco antes de sair. Da distância em que estava, ele conseguiu perceber que a pessoa desceu da moto e estava em frente aos portões de ferro, olhando para cima e para baixo. De repente, Changbin ficou receoso em seguir em frente, e se fosse um ladrão? Inquieto, ele quis voltar, porém, antes que pudesse dar as costas e sair correndo porta adentro sem ser visto, o cara tirou o capacete, revelando um cabelo ondulado curto e loiro.
Changbin semicerrou os olhos, tentando enxergar com clareza quem era, porque, até onde lembra, Minho não era loiro. Contudo, quando seus olhos finalmente captaram o semblante da figura lá na frente e seu coração acelerou, ele soube na hora quem era, mesmo que ainda estivesse um pouco embaçado para ver direito. Ele soube. Óbvio que era ele. Sem pensar duas vezes, Changbin saiu correndo na direção dos portões, o coração a mil e as mãos suando em nervosismo e ansiedade. Era ele. Era ele. Repetia na cabeça, o sorriso largo no rosto. Quando mais perto ficava, ele percebia que era realmente Chan, apesar da nova cor no cabelo. Era realmente ele. Em algum momento seus olhos se encontraram, porque era impossível não notar o garoto vindo correndo em passos barulhentos, e os dois foram de encontro ao portão velho de ferro, incapazes de se tocar além do que a palma podia encostar.
— Changbin! — Chan exclamou feliz, quase emocionado ao ver o namorado.
— Você veio. — Ele falou, descrente que Chan estava mesmo ali.
— Muito atrasado? — Indagou sem graça. Changbin olhou para o cadeado ainda maior que prendia os portões, sem saber como abri-los e tentou puxar, mas só fez mais barulho. — Relaxa, eu vou pular o muro. — Changbin o olhou como se ele fosse louco, mas Chan tinha um sorriso confiante no rosto, de quem realmente faria aquilo. — Me espera. — Ele foi até a moto, começando a empurrá-la até um canto que Changbin não conseguia ver e depois voltou, ainda com o capacete preso ao braço.
Changbin tentou xeretar como ele faria para pular o muro, mas o máximo que conseguiu ver foi Chan indo até o muro ao lado do portão. Ele gritou — mais alto do que gostaria — para Changbin segurar o capacete, e ele quase não chegou a tempo para pegar, mas felizmente conseguiu, segurando o capacete vermelho de brasas flamejantes nas laterais, e se fosse analisar mais precisamente, realmente era de Minho. Tinha as iniciais L e M bem pequenas na parte de trás, confirmando ainda mais suas suspeitas, e aquela moto preta Changbin poderia reconhecer até de olhos fechados de tanto que já viu Minho a usando. Ao olhar para cima, ele viu Chan sentado em cima do muro. Quando ele subiu? E tão rápido quanto ele subiu, ele desceu, caindo em pé perfeitamente na frente de Changbin, como quem tinha feito aquilo algumas vezes.
Eles se encararam no meio do que deveria ser um jardim, mas pelo descuido da administração do orfanato virou apenas um matagal baixo, e não conseguiam pensar em como deveriam se comportar. Era como anos atrás, quando eram crianças e tinham acabado de se conhecer, tinha um clima estranho pairando entre os dois e Changbin não sabia como iniciar uma conversa, já que ele nunca foi bom com as palavras e fazer amigos sempre foi uma tarefa muito difícil para o menino. Ele queria falar alguma coisa, qualquer coisa que fosse, mas tudo que conseguia fazer era apenas olhar para Chan, analisando cada pequeno detalhe que mudou nele. E tantas coisas mudaram. O rosto dele parecia diferente, talvez fosse pelas aparentes bolsas de água embaixo dos olhos, indicando que ele não dormia bem, ou talvez fosse o novo corte de cabelo e aqueles fios meio enroladinhos e loiro, ou quem sabe fosse aquela camisa feia marcando bem o tronco dele. Changbin passou tempo demais olhando para os braços pálidos e fortes, e tinha certeza que ele não estava assim quando saiu do orfanato. Certeza absoluta. Ele estava diferente.
— Você tá muito atrasado. — Foi tudo que conseguia dizer. Chan o olhava da mesma maneira, analítico e feliz, estupidamente feliz. O sorriso não saia da sua boca, tão largo que fazia dobrinhas nas bordas dos lábios e as covinhas surgiam como intrusas muito bonitas na pele pálida do rapaz. Changbin ficou constrangido em como ele descia os olhos pelo seu corpo, mas não falou nada, ele acabou de fazer a mesma coisa.
— Desculpa. — Pediu, e reparando agora, a voz dele mudou um pouco também. Changbin ficou um pouco intimidado, mas gostou. — Aconteceu muita coisa hoje, quase não consigo vir. — Chan passou a mão pelo cabelo e Changbin quase babou. Não é justo ele estar tão bonito, pensou, sem realmente dizer. — Tem muita coisa que quero falar com você e o Hanie.
— Ele tá dormindo. Ficou te esperando mas você demorou muito. — Changbin não falou aquela frase com segundas intenções, mas saiu em outro tom, um tom de julgamento. Chan murchou, os ombros caindo e o sorriso morrendo um pouco. — Mas o que importa é que você tá aqui agora. — Tentou contornar a situação, timidamente segurando na mão dele. — Senti muito a sua falta, hyung.
— Você nem imagina o quanto senti a sua e do Hanie. — Assumiu, segurando na mão dele de volta, com delicadeza. — A gente pode entrar? Eu tô com frio. — Ele massageou o braço com a mão disponível, e Changbin riu.
De mãos dadas, os dois caminharam até o grande prédio. Changbin deu uma olhadinha dentro antes de entrar de vez com Chan, colocando as correntes com o cadeado do mesmo jeito que estava antes. Eles subiram rapidinho pela escada e sem esperar por uma possível aparição do zelador, os dois entraram no quarto. Changbin empurrou o baú até a porta, para ter certeza que ninguém entraria — por mais que soubesse que ninguém entraria naquele quarto enquanto ele dormisse ali. Chan parecia nostálgico ao encarar as paredes de tinta descascada e o teto com mofo, além dos beliches velhos de madeira riscada pelo tempo. Ele andou pelo pequeno espaço e percebeu Jisung dormindo pacificamente na cama, todo enrolado no lençol de Changbin.
Changbin notou o sorriso e a expressão de Chan, e concluiu que ele ainda era tão apaixonado em Jisung quanto antigamente. Percebeu isso porque sabia que olhava para Jisung da mesma forma, tinha noção disso e parou de fingir que não, porque era impossível fingir que não era apaixonado por aquele garoto bonito dormindo na sua cama. Simplesmente impossível.
— Senti falta disso. — Ele comentou baixinho, incapaz de querer acordar o Han. Changbin o olhou do canto, e parecia que tudo voltou a ser como antigamente. Ele quis que fosse como antigamente, quando eles três dormiam juntos naquele quarto minúsculo e dividiam o beliche. Mas sabia que era só temporário, que provavelmente Chan iria embora daqui alguns instantes, que ficariam sem se ver por tempo indeterminado, que nada seria como antigamente. Não quero que ele vá embora. E realmente não queria, somente a ideia o deixava um pouco aflito, mas disfarçou quando Chan o olhou com aquele sorriso sereno e olhos castanhos cansados.
— Você pode ficar? — Indagou. — Só essa noite, por favor? — Ficou envergonhado ao perceber que estava sendo tão carente, mas o que faria? Não via ele há tanto tempo, tinha tantas coisas a perguntar, como estava indo a faculdade? Como estavam as coisas? Ele estava se alimentando direito? Dormindo bem? E mais importante, por que ele não veio ao seu aniversário? Queria tanto perguntar isso, embora um sentimento estranho surgisse todas as vezes que a indagação brotava na ponta da língua.
— Como posso dizer não quando você tá me pedindo desse jeito? — O calor subiu pelo pescoço de Changbin até as orelhas, e ele olhou para qualquer direção que não fosse aqueles olhos hipnotizantes de Chris. Ele riu, se divertindo com a timidez dele. — Queria ter trazido alguma coisa para você e o Hanie, mas nem tive tempo trocar de roupa. — Ele olhou para si mesmo, desde a camiseta verde até a calça jeans, e Changbin queria dizer que ele parecia bem mesmo com aquela roupa. — Eu nem trouxe um presente para ele. — Voltou a olhar para Jisung, ressentido. — E nem para você.
— O maior presente que ele poderia ter pedido era você aqui, hyung. — E o meu também era. — Ele vai ficar feliz em te ver. — Ele fitou Jisung, que virou para o outro lado, dando as costas para os dois garotos que o olhavam em segredo. Changbin deu curtos passos até a beliche, mas antes que pudesse chegar em Jisung, Chan segurou em seu ombro, o impedindo de acordar o menino. Eles se olharam no meio da penumbra, e não disseram nada, quietos como antes.
Frente a frente, os dois pareciam desconfortáveis, com assuntos pendentes a serem conversados. Changbin não queria ter uma discussão, mas o assunto parecia pender no ar, à espera de ser anunciado para entrar no jogo. Ele tinha que falar ou nunca resolveria isso. Aprendeu com Jisung — e talvez um pouco com sua família biológica — que as coisas não iriam para frente se não fossem colocadas à mesa e esclarecidas.
— Fiquei chateado quando você não veio no meu aniversário. — Iniciou, ainda baixinho para não incomodar Jisung que dormia. — Caramba, você nem fez questão de avisar que não vinha. — Engoliu o choro que de repente se acumulou na garganta, como um remédio muito difícil de engolir. Chan ergueu a mão para afagar o rosto dele, mas Changbin não deixou.
— Me desculpa.
— Eu não tô mais bravo com isso, já passou. Mas ainda me deixa um pouco chateado. Entendo você ser ocupado e não ter tempo como antes, mas, porra, era meu aniversário. Você sempre fez tanta questão por ele, mais do que eu, e quando chegou o dia você não apareceu. — Passou a mão nos olhos, se negando a chorar. — Pensei que você tinha nos esquecido… — Olhou para Jisung adormecido, e lembrou de mais cedo, quando Jisung desabafou sobre as inseguranças que vinha sentindo. E talvez estivesse se sentindo igual, só não queria falar para preocupar o menino. — Talvez você encare isso como um drama meu, mas é assim que eu me senti e me sinto. — Finalmente olhou para ele, e todo o rosto de Chan estava preso em um semblante de culpa, mas Changbin não se deixou levar, embora quisesse pedir desculpa pelo jeito que falou e dizer que realmente estava sendo só dramático demais.
— Desculpa, de verdade, Binie. — Ele disse com mágoa na voz, e pela vermelhidão que começou a preencher seu nariz, Changbin prévio que ele queria chorar. — Eu não esqueci do seu aniversário, nem de vocês dois. Como posso esquecer dos garotos que amo? Vocês dois são tudo que eu tenho. Mas, sei que não foi certo não vir e nem falar com vocês, sei que o Minho aparece aqui de vez em quando pra falar com vocês, ele sempre diz que vocês dois estão preocupados comigo, mas eu não queria vir e vocês perceberem que não consegui fazer nada pela gente ainda. Olha pra mim, eu trabalho entregando pizza e estudo igual um louco, mesmo sem garantia que vou conseguir um emprego na minha área, eu não queria que você visse esse lado meu. Eu prometi que tudo estaria certo pra quando você e o Hanie saíssem daqui, mas daqui a pouco é final do ano e eu nem tenho uma casa boa de verdade pra gente morar. Eu só não queria que vocês ficassem decepcionados comigo. — Ele esfregou os olhos e fungou, tentando não chorar.
Changbin se compadeceu, incapaz de querer jogar algum tipo de culpa nas costas dele. Como poderia fazer isso? Ele se aproxima de Chan e o abraça pela cintura, deitando a cabeça entre o pescoço e um dos ombros dele. Ele tremia e fungava sem parar, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam descer. Eventualmente, Jisung acordou de relance quando percebeu que Changbin não estava mais na cama, ele sentou no colchão com o rosto inchado pelo sono e olhou para a cena de Changbin abraçando Chris e não soube exatamente distinguir a realidade do sonho. Ele levantou de supetão, batendo a cabeça no beliche de cima, assustando os dois rapazes de pé.
— É um sonho? — Jisung ficou de pé e beliscou o próprio braço, crente que aquilo seria o suficiente para ele acordar caso realmente fosse um sonho. Quando doeu e ele não despertou, percebeu que não era realmente um sonho. — Você tá aqui! — Exclamou, abraçando os dois. Mas ao olhar para o rosto de Chan, seu sorriso animado murchou. — O que tá acontecendo? — Jisung deu um passo para trás, preocupado com a situação.
— Foi culpa minha. — Changbin assumiu.
— Quê? — Chan o olhou. — Não, é culpa minha.
— Do que vocês dois estão falando? Eu tô mais perdido que cego em tiroteio aqui.
— A gente conversou sobre o meu aniversário — Iniciou com calma, ciente que o cérebro sonolento de Jisung funcionava devagar. — E ele me explicou o que tá acontecendo ultimamente.
— Então? Por que ele não veio no seu aniversário?
Changbin incentivou que Chan dissesse para Jisung o que tinha acabado de dizer para ele. E muito tímido, Chan repetiu, as lágrimas estagnadas nos olhos e a cabeça baixa, como uma criança que assumia que tinha quebrado um brinquedo para os pais. Jisung ouviu em silêncio, e quando ele falou que tinha medo de decepcionar os dois, o Han o olhou como se Chan estivesse ficando maluco.
— Como que decepcionado, hyung? — Jisung o segurou pelos ombros, balançando Chan como uma boneca de pano maleável. — Seu idiota cabeça de vento, cérebro de amendoim — Não parou de balançar ele. — Burro, burro, burro.
— Jisung, ele vai vomitar. — Interviu antes que essa tragédia acontecesse. Ele afastou Jisung de cima de Chan, e ofereceu a cama para Chan se sentar e retomar o juízo.
— Eu vou bater na cara dele, Changbin. Me segura. — Fingiu querer ir para cima do australiano, se agarrando em Changbin, mas sem realmente encostar em Christopher. Changbin riu, incapaz de levar a sério aquele garoto. — Como pode um rostinho lindo desse só falar besteira? Espera… — Estreitou os olhos na direção de Chan. — Você tá loiro?
— Jisung, primeiro, fala baixo. — Relembrou ao garoto para maneirar no tom de voz, era muito tarde e aquelas paredes finas tinham ouvidos. — Segundo — Prosseguiu, batendo na nuca do Han. — Você é idiota? Como só percebeu agora.
— Eu não prestei atenção! — Quis exclamar, mas Changbin tapou a boca dele com a mão. — Desculpa, amorzinho. — Sussurrou desta vez, olhando para Changbin com sua melhor expressão de arrependimento. — Quando você pintou o cabelo? — Jisung se voltou para Chris, que ainda parecia enjoado e triste.
— Jisung, a gente tem assuntos mais importantes para discutir agora.
— Como você quer que eu fique bravo com ele se esse idiota tá loiro? Homens loiros são meus tipo!
— Você pode falar baixo? — Quis bater nele, mas se controlou. — E eu não sou loiro, seu idiota. Como você pode dizer que tem um tipo para homem quando seu namorado não é esse tipo? Seu tipo deveria ser eu. E o Chan não é loiro natural.
— Vocês ainda estão bravos comigo? — O rapaz sentado na cama indagou com a voz oscilante, os ombros encolhidos e os olhos castanhos ainda marejados.
— Não! — Responderam em uníssono, como se a discussão que estavam tendo agora fosse mais importante. Chan se encolheu ainda mais, e Changbin passou a mão no rosto, decidido a voltar a focar no que realmente importa agora e não no fato que seu namorado — o mais idiota — não tivesse ele como seu tipo ideal.
— Escuta, hyung. — Ele sentou ao lado de Chris na cama. — É impossível que a gente fique decepcionado por isso, a gente sabe que você tá se esforçando muito lá fora, temos noção disso, mas você não pode querer que tudo dê certo de uma hora para a outra. E eu e esse imbecil — Apontou para o menino de pé, que mostrou a língua ofendido. — Nunca, nunquinha, jamais vamos te julgar ou te abandonar só porque você ainda não conquistou o que deseja. A gente tá junto nessa, não é? A gente vai se ajudar.
— Além do mais — Jisung sentou na outra ponta, a mão acariciando as costas do atual loiro, num vai e vem devagar. — O único rico aqui é esse nanico, a gente tem que explorar ele, não você. — Chan riu, e Changbin revirou os olhos, se negando a acreditar que Jisung realmente era permitido de caminhar pela terra sendo tão idiota. Como eu acabei namorando esse cara? Se perguntou em pensamento, mas sabia que nunca conseguiria ter outro alguém no coração que não fosse ele e Chan. — Vou ficar orgulhoso de você independente das coisas que você conquistar, sejam grandes feitos ou pequenas coisas. Você é meu namorado, esqueceu? E acima de tudo, meu melhor amigo, quando deixei de te apoiar? — Chan não soube responder, Jisung sempre esteve lá com Changbin o apoiando, seja nos seus hobbies ou interesses pessoais que o levaram a querer cursar direito.
— E também — Chan olhou para Changbin. — Se você quiser, na verdade, se vocês dois quiserem — Se corrigiu rapidamente. — A gente pode morar em um dos apartamentos que meu pai deixou.
— Te falei que esse nanico é rico. — Jisung deu um tapinha no ombro de Chan.
— Continuando o que eu estava dizendo. — Decidiu ignorar Jisung, se virando completamente para Chan, e com delicadeza, pegou as mãos calejadas dele, de dedos pálidos e longos, e trouxe para perto do colo. — Sei que você é orgulhoso e quer nos dar tudo de bom e do melhor por mérito próprio, mas eu também quero que vocês tenham a melhor vida possível. Se vocês dois quiserem, podemos morar em um desses apartamentos, meus avós já falaram que as casas são minhas, e eu faço o que quiser com elas. E eu quero morar com vocês dois em um lugar confortável, mas isso não significa que vou bancar vocês dois ou algo do tipo, tá Jisung? — Olhou para o menino atrás. Jisung estava abraçando Chan pelas costas e usando o ombro dele como apoio para o queixo, ele ouviu aquelas palavras de Changbin e fez sua melhor expressão de tristeza, crescendo o bico e fingindo um choro. — Meu avô também é advogado, eu poderia falar com ele para, sei lá, te arranjar um estágio no escritório dele, mas só vou fazer isso se você quiser e permitir. Não vou tomar decisões sem consultar vocês dois.
Changbin continuou segurando as mãos de Chan, preocupado com o que ele poderia achar. Percebeu que ele estava pensando numa resposta, e aguardou com paciência. Changbin já pensou milhares de vezes em falar com Doyun em relação a Chan, incontáveis vezes, mas sabia que ele era orgulhoso, tanto quanto Jisung, e não queria deixá-lo chateado ao tomar aquela decisão sem consultá-lo primeiro, por isso, aguardou até seu retorno para conversar com ele pessoalmente. Eles ficaram em silêncio por um tempo considerável, lá fora, o céu ainda escuro esfriava cada vez mais, a luz exterior que iluminava o quarto piscou e apagou, deixando os três garotos em um breu. Chan tirou o celular do bolso e ligou a lanterna, deixando a luz virada para cima enquanto apoiava o celular na cama, era uma fonte de luz consideravelmente fraca, mas o bastante para iluminar seus rostos e Changbin perceber que ele não parecia chateado com sua ideia, nem ele e nem Jisung.
— Se eu não conseguir um lugar bom, a gente pode dar uma olhada nesses apartamentos. — O rosto de Changbin se iluminou feliz, e ele quis abraçar Chan até sufocá-lo de felicidade. — E sobre seu avô… não quero parecer um aproveitador pra ele, Binie.
— Você é meu namorado, não um cara qualquer. — Changbin disse. — Tá, eles ainda não sabem sobre o nosso namoro, mas eu, Innie e Jinie estamos pensando numa maneira de contar para eles. Meus avós não são preconceituosos, mas eu preciso estar pronto primeiro para sair do armário para eles.
— Será que essa é uma das poucas felicidades de ser órfão? Não precisar ter medo de se assumir para os pais? — Jisung indagou para si mesmo ainda agarrado em Chan. — Os dilemas da vida.
— Você tá com sono, não é? — Chan indagou para o menino, que balançou a cabeça, concordando.
— Mas quero ficar acordado com vocês.
— Descansa um pouco, amanhã você tem que acordar cedo para ir a enfermaria. — Changbin deu espaço para que Jisung deitasse no canto da parede. Ele se encolheu lá, embalado no cobertor que tinha o cheiro de Changbin, e estendeu a mão para Chan.
— Só pra ter certeza que você não vai embora quando eu fechar os olhos. — Sussurrou, os olhos sonolentos quase se fechando automaticamente. Chan segurou a mão dele, o sorriso tímido ainda nos lábios.
— Você não precisa se assumir para eles se não se sentir confortável — Chan retomou ao assunto anterior, segurando na mão de Changbin com a canhota, sem soltar a de Jisung. — Sabe disso, né?
— Eu sei. — Chegou mais perto dele. — Mas não quero que você e o Hanie sejam um segredo, igual é aqui. Pode não ser hoje, ou amanhã, mas quero falar com eles sobre mim mesmo.
— Você sabe que vai ter meu apoio, mas tenho medo que eles te machuquem.
— Eles não vão, confio neles. Um pouco. Ainda tô me acostumando com todo esse lance de ter uma família. Uma família biológica, com pessoas do mesmo sangue que o meu. Antes era só nós três, mas agora eu tenho um irmão, avós e um monte de gente, todo mundo com o mesmo sobrenome que o meu que realmente são da minha família. — Changbin tinha um sorriso pequeno nos lábios. — E caso eles não me aceitem, o que posso fazer? É quem eu sou, não posso mudar. E eu não quero ser diferente.
— Fico feliz que você esteja pensando dessa forma agora, Bin. — Acariciou o rosto dele com a mão disponível, afagando uma das bochechas usando a palma. Changbin quase ronronou com a carícia, incapaz de não derreter sobre o toque áspero e bom da mão de Chan. — Fico realmente feliz que agora você tenha uma família de verdade e pessoas que se importam com você.
— Mas antes deles, vocês são minha família. Vocês continuam sendo minha prioridade. — Chan sorriu, ciente disso. Sempre soube que Changbin sempre os colocaria em primeiro lugar em tudo, ele sempre foi assim. Changbin olhou em direção a janela que ainda estava aberta, e o céu estava começando a tomar tons mais claros. Não precisou olhar no relógio de pulso de Jisung para saber que daqui algumas horas iria amanhecer. — Você devia dormir um pouco, você vai ter que sair antes de amanhecer pra ninguém te ver. — Chan balançou a cabeça. — Deita com o Hanie, eu durmo no outro beliche. Não vai caber nos três como antigamente. — Falou consciente dos tamanhos que tinham agora. Porém, Chan não deixou que Changbin levantasse, o impedindo de ir até o beliche que posteriormente o pertencia, ele o segura pelo pulso e o traz para perto.
— Quero dormir com você também. — Disse baixinho, a voz em um tom rouco e cansado. Changbin engoliu em seco, um pouco abalado. — Você pode deitar em cima de mim. — Changbin piscou, em dúvida se ouviu certo. — O que? Tem problema?
— Eu estou pesado, hyung.
— Pra mim você parece ótimo.
— Sei não.
— Por favor? — Largou o pulso dele para rodear a cintura do Seo com um braço, o trazendo ainda mais para perto. De pé, Changbin abaixou o rosto e encarou aqueles olhos castanhos bonitos e talvez tenha ficado meio desorientado por meio segundo, incapaz de ter um pensamento lógico. Chan, ali, tão perto, com uma expressão tão inocente e hipnotizante, com aqueles olhos brilhantes, lábios cheios e rosados. Talvez Changbin não fosse tão diferente dos outros garotos que dizia ser tão inconsequente, porque de repente, ele quis não ser tão consciente das ações que tomava, quis ser imprudente e beijar aquele cara até deixá-lo tonto.
Changbin desistiu em lutar contra Chan e fez como ele quis. Nunca conseguiria ir muito longe quando ele tivesse o poder de persuadi-lo tão facilmente só com um tom rouco e rostinho bonito. Chan deitou na cama primeiro, o corpo dele ocupando todo o espaço que sobrava na ponta da cama, enquanto Jisung continuava dormindo pesadamente contra a parede, como se nada pudesse acordá-lo. Changbin hesitou por um momento, mas deitou sobre o peito de Chan, os corpos se encaixando como peças de um quebra cabeça. Changbin ficou tenso, sem saber como se mexer ou se podia se mexer, temeroso se estava fazendo muito peso em cima do rapaz, as vozes lá no fundinho da sua mente sussurrando que aqueles quilinhos incômodos que ganhou eram o motivo de Chan de repente respirar um pouco mais pesadamente, o peito dele subindo e descendo devagar, em um ritmo que Changbin temeu que fosse sua culpa. Erguendo o rosto, ele notou as orelhas vermelhas do homem e ficou preocupado, porém, quando fez menção que iria levantar, Chan não deixou, passando o braço pelas costas dele o mantendo no lugar.
— Hyung, eu tô muito pesado, vou deitar na outra beliche.
— Não tá. — Insistiu, sem soltá-lo. — Só sobe mais. — Com auxílio dele, Changbin se arrastou para cima, até estar confortável para os dois. Chan fez que ele deitasse a cabeça em seu peito, e acariciou os fios escuros, num cafuné dengoso que deixou Changbin molinho instantaneamente. — Dorme, você também deve estar cansado.
— Eu senti muito a sua falta, Chanie. — Sussurrou, cada vez mais perto de cair no sono. O som dos batimentos cardíacos dele, o vai e vem da respiração, o cafuné bom no cabelo, tudo isso fez Changbin dormir, poderia ficar assim para sempre que não reclamaria. Tudo seria bem mais fácil se tivesse isso todos os dias. Só mais alguns meses. Se aconchegou o melhor possível em cima de Chan, e se deixou descansar.
— Também senti a sua, amor.
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