24
— vocês são completamente loucos!
Changbin e jisung riram com a declaração ofegante de christopher, que deitado na beira do riacho, tentava recuperar o fôlego perdido. Eles tinham conseguido despistar o vigia, dando voltas entre as árvores, e quando tiveram certeza que não estavam mais sendo seguidos e a voz do homem apenas ficou para trás como um guincho de um pássaro, o menor do trio os guiou pelo caminho certo, já que era o único que sabia andar por ali com toda aquela escuridão.
— aceito um obrigado, sabia? — changbin brincou, se sentando ao lado do rapaz de fios castanhos.
— como você conseguiu? — jisung indagou cansado, ainda de pé.
— venho muito aqui a noite.
— o que você faz aqui sozinho?
— penso.
— em que?
— na vida, nos problemas ou só deito aqui e observo o céu. — balançou a cabeça em direção às estrelas, como se mostrasse o óbvio. Aquela hora, longe das luzes, o céu estava limpo como um dia o oceano fora, brilhante e poderoso. Changbin gostava daquilo, se sentia conectado e em paz, sua mente sempre se esvaziava quando vinha procurar consolo longe do orfanato.
Jisung assentiu, mesmo que não entendesse o real significado por trás daquela atitude do garoto. Ele andou até uma das árvores frutíferas, pegando a mochila que tinha deixado pendurada num galho baixo. Chan ainda estava ofegante quando sentou e olhou na direção de jisung, abrindo a bolsa e tirando um par de lanternas, cravando uma delas no solo seco e pendurando outra em um galho, usando barbante. A luz refletiu nos rostos deles e na água cristalina do riacho, iluminando tudo ao redor. Changbin olhou para o han maravilhado.
— eu pensei em tudo. — ele disse piscando, feliz pela reação de espanto dos dois garotos.
— o que vocês pretendem fazer? — chan perguntou cruzando as pernas, apenas observando os dois menores se amontoando perante a bolsa para organizar algo. — ei, o que vocês estão aprontando?
Eles nada responderam.
Chan tentou bisbilhotar atrás do ombro de changbin, mas não conseguiu ver nada além do cabelo brilhante de jisung. Então desistiu, esperando até que eles decidissem falar. O que não demorou. Junto com um clássico parabéns, os dois meninos ficaram de pé e marcharam na direção do castanho batendo palmas e cantarolando a tradicional música de aniversário, os dois surgiram com um pequeno bolo e uma vela branca em cima, nada especial, o bolo era simples de chocolate e a vela de cera que você compra em supermercado, porém, chan se sentiu tão emocionado que lágrimas brotaram em seus olhos castanhos, escorrendo pelas laterais do seu rosto enquanto changbin e jisung chegavam ao fim da sua cantoria.
— feliz aniversário, hyung. — eles disseram em uníssono, se abaixando rente ao garoto com as bochechas úmidas.
Changbin riu ao esfregar a manga do casaco na bochecha de christopher e ele fungou antes de juntar as mãos e fazer um pedido. Jisung gritou eufórico quando ele assoprou a vela, deixando o lugar meio escuro, uma vez que changbin tinha desligado as lanternas.
Chan ainda chorava quando os dois meninos sentaram ao seu lado e colocaram o bolo em seu colo.
— como se sente agora sendo maior de idade? — jisung brincou, fechando a mão para recriar um microfone. — fala pra gente.
— vocês são inacreditáveis.
— inacreditavelmente bons ou ruins?
— bons. Com toda certeza. — ele sorriu ainda com os olhos marejados, pincelando um selar na testa deles. — obrigado pelo bolo e por tudo. Realmente não tenho palavras pra descrever o quão feliz eu tô.
— um beijinho seria ótimo. — jisung cantarolou para o vento.
— jisung!
— o que? — olhou para changbin com os olhos levemente arregalados, como se estivesse sendo acusado de um crime. — a gente preparou tudo isso, até teve vela! Sabe a dificuldade que foi pra arranjar essa vela? A tia pensou que eu ia tacar fogo em alguma coisa, eu tive que garantir que era pro bolo e somente pra isso! Por que todo mundo pensa que eu sou um incendiário? Não é justo, ok? Só aconteceu uma vez, e eu era criança! — ele realmente parecia indignado. — eu mereço um beijo por isso.
Changbin ainda o olhava como se ele estivesse pedindo um absurdo, mas chan riu para amenizar a situação, se sobrepondo a jisung e o beijando profundamente, de uma forma que fez o han cair mole e ofegar após o ósculo. E assim que o australiano se virou para o moreno, changbin o olhou um pouco hesitado, mas chan sabia o que fazer. Ele colocou o bolo de lado e segurou no rosto de changbin, tão delicadamente que o toque era como um roçar leve de uma pena, changbin fechou os olhos e seu coração acelerou quando os lábios macios de christopher tocaram os seus, tão suavemente que nem mesmo parecia que ele tinha acabado de nocautear jisung. O beijo durou pouco, mas o suficiente para deixar o moreno com as pernas formigando e as mãos curiosas, a vontade de puxá-lo para perto invadindo sua mente e fazendo sua barriga borbulhar.
Changbin teve que se apoiar nele depois que o beijo foi finalizado e jisung ainda estava deitado no chão de terra, olhando para o céu em silêncio.
— vocês vão querer o bolo? — chris indagou sorridente, olhando para os menores.
(...)
Jisung cortou o bolo com o canivete que sempre estava guardado em seu bolso — tal qual foi devidamente limpo usando a água do riacho. Eles comeram em silêncio e logo após deitaram no chão, que estava coberto pelo lençol que o menino de fios pretos e olhos grandes trouxera. O trio não disse uma palavra desde que chan apagou a vela de aniversário, provavelmente já eram mais de onze horas e o céu ainda parecia um show de luzes, o silêncio ensurdecedor da floresta era capaz de acalmar o coração inquieto de changbin. Aquilo cheirava a despedida, como um último momento, mas ele não queria admitir isso para si mesmo.
— obrigado. — chan agradeceu, talvez pela sétima vez desde que eles chegaram ali. Changbin estava deitado numa ponta do lençol e jisung na outra, deixando que o aniversariante ficasse no meio, eles não se olhavam, apenas o céu e a lua eram seus pontos de fixação.
— se você agradecer mais uma vez, te jogo nesse riacho. — jisung ameaçou.
— mas é sério. — ele insistiu. — todo ano vocês lembram do meu aniversário, até mesmo quando só quero fingir que esse dia horrível não existe, mas vocês sempre lembram.
— não é um dia horrível, hyung. É um ótimo dia. É o dia que você nasceu, não tem nada de ruim nisso. — changbin se intrometeu, mesmo que ainda preferisse ficar quieto.
— não sei se isso é tão bom. — proferiu baixinho, querendo esconder o rosto nas mãos. — mas ainda assim, eu gosto quando vocês lembram. Não me importo quando os outros me dão parabéns, parece que todos são falsos e só vocês são realmente sinceros. Vocês estão felizes porque eu tô aqui e isso parece real.
— é real, chan. — jisung disse. — somos felizes com você, mesmo você sendo mandão às vezes.
— também sou feliz com vocês, mesmo o changbin sendo brigão e você um ladrãozinho.
— ei! Não sou ladrãozinho! — ele se indignou novamente, erguendo o corpo do chão. — eu só… eu apenas pego as coisas emprestadas! Não tem nada de errado nisso.
— você literalmente arrombou uma porta para roubar bolinho. — chan relembrou com graça. Changbin não fazia a menor ideia de como não descobriram que fora jisung, ele era o único capaz de fazer aquilo, mas todos esqueceram aquilo depois de um tempo e seguiram em frente.
— isso não vem ao caso! — se defendeu. — você não vai dizer nada, binnie?
— ele tá certo, eu realmente sou brigão. — admitiu colocando as mãos atrás da cabeça, fechando os olhos para aproveitar a brisa que soprou em seu rosto. Aquele cheiro de frutas misturadas com de eucalipto era relaxante. — e por ser o brigão aqui, queria que pudéssemos ficar de boa sem discutir por bobagem.
Jisung ia reclamar, mas decidiu acatar ao pedido do garoto. Ele voltou a se deitar e encarar o céu, respirando fundo para espantar toda tensão em seus ombros.
— ano que vem… — chan começou a falar, porém foi interrompido pelo seo.
— a gente não precisa falar sobre o ano que vem. — changbin disse. — não quero que isso pareça uma despedida.
Os dois garotos olharam para changbin, ele tencionava a mandíbula, mostrando que lutava contra seus sentimentos. Ele queria chorar de repente, exigir que chan não fosse a lugar nenhum em alguns meses, queria prendê-lo e escondê-lo de todos, para que pudessem ficar juntos por mais algum tempo. Mas não podia fazer isso.
— não é uma despedida, chang. — chris garantiu, afagando o cabelo dele. — eu só queria falar que no ano que vem, vocês precisam ficar bem. Os dois. — olhou para jisung amuado no canto, evitando o olhar amoroso de chan. Tinha certeza que choraria se encarasse ele.
— eu tô com medo. — o han admitiu num fio de voz. — tenho medo que você vá embora e nunca mais volte. Tenho medo que você se apaixone por outra pessoa e nos deixe. Tenho medo que você perceba a dificuldade que vai ser ficar com a gente e escolha alguém mais fácil, talvez uma mulher com quem você possa ter filhos ou um cara mais tranquilo e com a vida normal. Nós somos complicados, e você não merecia ter que passar por tanta coisa pela gente. — changbin se sentou, afastando a mão grande do bang do seu cabelo, ele se virou e evitou olhar para os dois, sentia a pressão das lágrimas nos olhos e a garganta fechando.
Chan olhou para os dois, como se uma muralha se erguesse entre eles. Eles estavam o afastando, antes mesmo dele ir embora. Aquilo não trouxe uma boa sensação para seu peito, o que o fez desagradar mais ainda da sua ida. Ele também não queria ir embora, ele também sentia medo de perdê-los. Apesar de se mostrar forte com aquela nova fase da sua vida, christopher estava tão assustado que mal conseguia dormir. Temia o mundo lá fora, através dos portões do orfanato. Temia perder o amor deles pelo tempo, mesmo que quisesse acreditar que tudo ficaria bem, ele teria tempo para visitá-los sempre que possível, a faculdade ainda era um sonho que o garoto iria alcançar, e quando conquistasse, voltaria até seus amados para celebrar, e eles ainda seriam changbin e jisung, os meninos pelo qual sempre foi apaixonado.
Porém, tudo passava de um sonho, uma imaginação. Ele sabia que o tempo fazia as pessoas mudarem, ele sabia que changbin podia virar outra pessoa em alguns meses, e ele sabia que jisung amadurecia e tomaria outro rumo. Só não queria ser deixado para trás, como uma lembrança alegre dos dias felizes.
— se eu pudesse escolher. — ele iniciou, ainda sendo evitado pelos dois. — ficaria com vocês dois aqui, mas não posso. Tenho que ir embora, estão me forçando a isso. Eu também tenho medo disso tudo, tenho medo que vocês deixem de me amar porque eu não posso ficar. Se vocês são complicados, imagina eu? Nem mesmo sei quem sou, porque estou aqui. Vocês são a única coisa que me mantém lúcido, se vocês me deixarem… o que vai sobrar? Por que eu vou continuar lutando? Estou fazendo isso pela gente, para que vocês percebam que eu sou merecedor de ficar com vocês. Mesmo que machuque, eu tenho que sair daqui e conquistar algo lá fora, não posso viver em paz sabendo que não tenho condições de dar uma vida confortável e feliz a vocês.
— já somos felizes com você. — jisung proferiu, a voz esganiçada pela dor. — eu sou estupidamente feliz com você e o changbin, vocês são tudo que eu tenho e os únicos por quem eu continuo tentando melhorar. Eu sei que sou todo errado e meu passado é uma merda, e as pessoas tem medo que eu vire um criminoso, mas eu só queria viver uma vida feliz e simples com vocês. — ele juntou os joelhos perto do peito e fungou contra os braços, abraçando suas pernas. — por que precisa ser tão difícil? Eu não quero viver assim. Eu não quero ter medo de perder vocês. — desta vez ele se desmanchou em lágrimas, seus soluços irrompendo entre as árvores e arbustos, inundando os arredores e enchendo o coração dos dois mais velhos de aflição.
Chan o envolveu em seus braços, o puxando pela cintura. Abraçou seu corpo encolhido pelas costas, sussurrando para ele parar de chorar, mas seus próprios olhos o traíram, voltando a inundar suas bochechas com água salgada, se misturando com uma dor aguda que crescia em seu peito. Changbin engatinhou sobre o lençol que separava eles do chão de terra, se espremendo entre a dupla para ganhar um abraço. Com o menor no meio, eles criaram um vínculo, deixando transparecer o quão cansados estavam com toda aquela situação que foram expostos. Changbin não chegou a chorar, mesmo que quisesse, as lágrimas simplesmente não vinham, mas ele sentiu a dor dos seus amigos, tão fortemente e angustiante que seus olhos se encheram, porém aguentou tudo calado, desejando que isso fosse apenas uma mudança, algo simples que passaria logo, mesmo que soubesse que um ano não era pouca coisa.
— vamos ficar bem. — chan garantiu, a voz embargada e falha. — tudo vai ficar bem se continuarmos juntos. — os dois menores assentiram em silêncio, abraçando o australiano.
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