21
— você precisa ir mesmo? — jisung indagou cabisbaixo, acompanhando o australiano com os olhos, ele andava pelo quarto ajeitando a camisa azul de botões.
Era cedo e chan estava saindo mais uma vez para o tal cursinho preparatório para o vestibular. E mais uma vez o han estava ficando sozinho durante os últimos dias desde que o menor entre eles tinha saído do orfanato.
Não mentiria, estava morrendo de saudade do seu baixinho briguento. Não podia medir sua preocupação com o estado do garoto, todos os dias pedia aos céus para protegê-lo. Queria que ele voltasse bem hoje, não via a hora de reencontrá-lo. Queria que chan também pudesse ficar para esperar por changbin, mas as coisas não iam do jeito que o pequeno garoto bochechudo queria.
— desculpa bebê, não posso faltar. — chan enfim parou de andar em círculos apenas para arrumar a bolsa. Jisung se manteve sentado na cama dele, o travesseiro sobre o colo e o cabelo bagunçado, não queria que ele fosse, mas seria egoísmo insistir naquilo. Sabia que o maior estava se esforçando por ele e changbin, pelo futuro dos três.
Em uma jogada rápida, jisung puxou o castanho pelo braço, e chan se deixou levar, se abaixando rente ao garoto. Seus olhos se fixaram e o australiano sorriu pequeno para acalmá-lo, mesmo que não fosse o suficiente. Ele colocou uma mecha grandinha atrás da orelha de jisung, se ajeitando entre suas coxas, seu rosto foi suavemente avançado contra o dele, seus lábios roçaram delicadamente e sem pressa. O han contornou o pescoço de chan com os braços, aprofundando o beijo com cuidado. O australiano suspirou contra seus lábios e sorriu, dando um selinho demorado nele antes de ficar de pé. Insatisfeito, ele continuou puxando o maior para cima, tentando deitá-lo na cama e talvez prendê-lo de alguma forma para não deixá-lo sair, mas chan era forte em comparação com seus braços finos, então resistiu sem muito esforço. No fim, ele soltou o maior aos poucos, recebendo beijos aqui e ali.
— fica só hoje aqui. — o olhou suplicante.
— não posso, ji. Você sabe. — ele fez bico. — eu realmente queria ficar pra esperar o bin, mas preciso estudar. A gente já conversou sobre isso.
— eu sei.
— não fica bravo.
— não tô bravo. — resmungou virando o rosto e cruzando os braços.
Chan revirou os olhos e sorriu, indo até ele novamente. O deitou na cama com cuidado, seu corpo por cima de jisung, os olhos pidões e grandes que sempre adorou observar pareciam mágicos e bonitos de perto, cintilantes como a lua no meio do breu. Chan sempre amou olhá-lo, como um admirador não tão secreto. As coisas se desenrolaram melhor quando o han descobriu sobre seus sentimentos, realmente não sabia direito quando começou a amar jisung, apenas aconteceu. Talvez fosse pelo jeito ele notou como o moreno era fofo e ao mesmo tempo forte, afinal, viver metade da infância na rua não era para qualquer um. Chan o admirava assim como admirava changbin, eles eram um tipo de exemplo que ele queria ser quando era criança. Queria ser forte como eles, queria protegê-los do mesmo jeito que eles sempre fizeram consigo, mas era fraco, sua saúde era tão debilitada quanto sua força física, então ele sempre foi quem era protegido e não quem protegia. Algo que detestou por vários anos.
Talvez fosse a diferença de idade falando ou seu senso de proteção, mas queria ser um pilar para que eles pudessem descansar, alguém para quem confiar seus pensamentos negativos e segredos doloroso. Algo como um ombro amigo que poderia falar sobre qualquer coisa. Por isso, tentou substituir sua falta de força por sua compreensão, aprendeu a ser um melhor ouvinte e dar atenção aos menores. Ainda era fraco e ingênuo, mas queria que eles ficassem do seu lado, mesmo que não pudesse protegê-los dos perigos que aquele orfanato trazia.
— se comporte. — sussurrou para jisung, mas suas pernas fecharam ao redor da cintura do mais velho. Chan riu baixinho, beijando o lóbulo da orelha dele. — preciso ir. — desfez o aperto do menor e ficou de pé.
— vou convencer o binnie a te dar um pé na bunda e ficar só comigo. — implicou ainda deitado na cama, as orelhas quentes e o estômago embrulhado.
— tenta a sorte, gatinho.
Jogou o travesseiro nele, mas chan já tinha pegado a bolsa e saído, apenas sua risada ecoando pelo quarto foi deixada para trás, além de um jisung irritado e carente.
Ele deitou novamente, olhando pela janela e esperando que algo acontecesse, uma chuva talvez ou um vendável, mas era improvável, o sol reluzia lá de cima e o clima estava até um pouco quente. A última coisa que aconteceria hoje era chover.
Ele observou a cama ao lado, desejando que changbin voltasse logo. Não era uma certeza absoluta que o menor retornasse naquela tarde, mas esperava que fosse apenas paranóia da sua cabeça. O moreno não os deixaria, certo? Ele, chan e changbin ainda eram uma família, apesar de que agora o seo tivesse uma de verdade, com pessoas que compartilhasse do seu sangue.
Apesar do desejo em permanecer deitado, jisung deu um longo suspirou e pegou o colete do seu uniforme pendurado atrás da porta, o vestindo antes de sair. Não era necessário a vestimenta do orfanato hoje, no entanto o han tinha um trabalho a fazer e a enfermeira desejava que ele estivesse adequadamente vestido, ainda que odiasse usar gravata e colete. Observou as outras crianças correndo para suas aulas extracurriculares, desejando poder subir as escadas até o teatro, sentia falta de ensaiar com eles e tocar violão, mas tinha decidido tentar ajudar a enfermeira e talvez se tornar um no futuro. Não podia ficar parado de pernas cruzadas e observar chan se matar de estudar e trabalhar para conseguir um futuro agradável para ele e changbin, também precisava agir e mostrar que não era um inútil, por mais que as vezes se sentisse assim.
Detestava incomodar seus amigos com os sentimentos confusos que guardava, mas às vezes — bem às vezes — sentia que era um completo estorvo. Claro, nenhum dos dois rapazes tinham noção disso, e esperava que continuasse assim, não gostava de falar sobre o que sentia e achava baboseira. Tinha noção que era apenas sua insegurança falando mais alto que a razão, porém queria ser útil para eles, não apenas o han jisung bobinho que os fazia rir quando estava tudo dando errado. Queria se mostrar forte e necessário. Um adulto responsável, apesar de ainda ter dezessete anos e um medo absurdo de fantasmas.
Ele chegou no andar da enfermaria, seguindo adiante até a penúltima porta corrediça do corredor largo e espaçoso. Jisung cumprimentou a enfermeira, kim mijun, uma mulher de aproximadamente quarenta anos e cabelo curtinho na altura dos ombros, ela tinha a pele cheia de pintinhas e possuía uma personalidade doce mas ainda assim forte e irrefutável quando queria, principalmente com seus pacientes problemáticos. Ela havia convidado jisung para virar seu aprendiz na vez que o pegou roubando ataduras e remédios para os machucados de changbin, ele prometeu pensar sobre, apesar de nunca ter se visto seguindo aquilo como carreira. Não negava que gostava de cuidar das pessoas e se sentia realmente útil com aquilo, entretanto resumia esse sentimento de felicidade apenas por changbin ficar grato quando ele o ajudava com suas feridas nas mãos depois de longas horas sendo punido.
No entanto, depois de começar a ver chan se empenhar tanto para entrar numa faculdade boa e ser um advogado excelente, pensou que poderia dar uma chance para a enfermeira. Nunca teve nenhum tipo de pavor com sangue ou machucados graves, afinal aprendeu a se cuidar sozinho desde muito novo. Antes do conselho tutelar achá-lo quase morto de fome na rua e levá-lo até o orfanato, jisung lembrava vagamente de sempre estar se metendo em brigas para conseguir algo para comer. Aos seis anos ele já tinha adquirido tantos machucados que nem sabia como passou daquilo tudo vivo e sozinho. Seus pais? O moreno não fazia ideia de quem eram. Não tinha uma lembrança clara da sua infância antes de estar nas ruas, zanzando por aí atrás de um lugar para dormir e uma refeição decente.
Jisung gostava de lembrar daquela época desagradável como uma experiência que superou por ser forte, embora não houvesse muito com o que se vangloriar, se não fosse pelos policiais fazendo patrulha perto do banco onde dormia o menino ainda estaria na rua completamente perdido e sozinho. Talvez até mesmo estivesse morto.
Evitava falar sobre tudo que passou na rua para chan e changbin, não queria que eles tivessem pena. Jisung odiava que as pessoas o tratassem como um pobre coitado. Por isso, depois que foi mandado para o orfanato, prometeu que sempre seria forte e suportaria tudo calado, porque essa era a ideia de um homem forte para o han, alguém que era capaz de passar por toda tempestade sem fraquejar, mesmo coberto de machucados.
Enquanto guardava os frascos de remédios e estudava seus nomes e propriedades, o han pensou em changbin novamente. Não ter notícias do seu garoto deixava ele aflito, embora soubesse que o baixinho era durão, quase nada era capaz de abalá-lo. Estava com tanta saudade das reclamações do outro que seus últimos três dias tinham sido entediantes, ainda que chan estivesse por perto sempre que dava. Queria que ele pudesse ter ficado. Desde que changbin foi passar um tempo fora, ele e o australiano tinham se aproximado, embora o mais velho ficasse fora do orfanato pelo restante do dia, uma vez que seu curso ia até o anoitecer.
Era um tipo de rotina que manteve perante os últimos dias, sempre que anoitecia, jisung avisava que estava saindo para jantar e mijun o liberava mais cedo, porém, ao invés de seguir até o refeitório, o bochechuda corria até os portões do orfanato e guardava pelo australiano ansiosamente. Às vezes minho trazia chan até o instituto e às vezes ele vinha no ônibus que haeri providenciava para ele e o restante dos estudantes que fazia o tal cursinho preparatório. Era como uma recarga instantânea de insulina, o castanho surgia e jisung se sentia estupidamente feliz. A dupla passava as noites conversando e chan lia para ele enquanto o sono estava quase se apossando da sua mente, os poemas que o bang lia eram realmente tranquilizantes, não julgava o seo por sempre dormir ao ouvi-lo, tinha adquirido o mesmo costume que ele.
Havia momentos em que jisung queria fazer o mundo parar apenas para ter um pouco mais de tempo com o australiano. Não negava que antes sentia que precisava competir com o bang para ter a atenção de changbin no passado, mesmo que o baixinho sempre se mostrasse disponível aos dois. Entretanto era diferente aos olhos de um jisung que nunca teve muita atenção quando menor, ele queria changbin somente para ele, então tentou afastar chan várias vezes, mas o garoto de fios marrons era persistente e grudento como uma pulga, e em algum momento aquele mesmo han jisung que queria mandá-lo embora aos gritos, acabou cedendo pelo jeito adorável que chan sempre se comportou quando ficava empolgado com seus livros de palavras difíceis e frases complicadas. Então, em algum momento da sua bagunça de autoconhecimento, ele acabou se apaixonando pelo australiano tanto quanto já era apaixonado por changbin.
Até alguns anos atrás — lê-se até seus treze anos — jisung não sabia de nada sobre sexualidade e coisas referentes. Tinha noção da atração que sentia pelos seus amigos, mas nunca se importou de verdade sobre eles serem garotos, afinal, na sua cabeça juvenil, amar alguém do mesmo gênero não era um problema. Mas então ele foi introduzido a um ciclo social de adolescentes medíocres que menosprezaram os outros, não soube como foi parar lá, mas eles faziam aula de teatro também, um grupo de no mínimo três garotos e duas garotas. Como sempre foi muito comunicativo, jisung quis fazer amizade com esse grupo novato, porque, para ele, os meninos pareciam boas pessoas. Mas aí aqueles mesmos garotos de sorrisos gentis e olhos amorosos mostraram suas garras, despejando comentários preconceituosos sempre que possível sobre algum garoto que — na opinião deles — agiam como verdadeiras bichas.
Não negava que na época ele começou a se sentir retraído quanto ao que sentia por conta daquelas "opiniões", apesar de nenhuma delas ser direcionada a ele. Jisung pela primeira vez teve medo de ser gay aos treze anos, e viveu com isso o assombrando até os quinze, onde acabou tendo uma conversa a respeito daquilo com o bang e ele o tranquilizou dizendo que, independente de quem fosse atacá-lo no futuro por amar alguém do mesmo gênero, chan o protegeria. E jisung tinha noção que o castanho era um franguinho assustado quando o assunto era briga de verdade, mas aquelas palavras fizeram uma grande diferença para ele e mudou seu ponto de vista perante o mundo..
Teve poucos momentos que jisung sentiu medo de verdade, e uma delas foi quando changbin disse que gostava dele e do australiano. Ele teve medo pois o moreninho parecia assustado, uma vez que sabia como era temer a si mesmo e ao que sentia. Mas foi um receio passageiro, changbin decidiu aceitar seus sentimentos com calma e com ajuda dos dois garotos. Naquele dia jisung estava estupidamente feliz, só não saiu cantarolando pelo mundo que finalmente tinha sido retribuído cem por cento pelas duas pessoas por quem sempre foi apaixonado porque sabia que chan surtaria de vergonha e changbin o mataria. Mas podia esperar o tempo que fosse necessário para mostrar a todos que era um cara sortudo por namorar duas beldades.
Apesar de que eles ainda não estivessem oficialmente namorando.
Sempre era liberado na hora do almoço para comer algo e voltar meia hora depois, então aproveitou para comer bem e passear um pouco a fim de fazer digestão. Jisung observou as crianças e adolescentes ao redor, elas pareciam bem com a vida que levavam, afinal, nunca tinham passado por nenhuma punição ou castigo, uma vez que haeri mantinha aquele tipo de coisa somente para crianças indisciplinadas, e changbin estava no topo da lista dela. Sendo honesto, o han nunca viu outra criança sofrer o mesmo que changbin, não na mesma intensidade, algumas eram apenas punidas segundo o tratamento de comportamento, onde elas eram obrigadas a escrever centenas de vezes algo que a diretora queria. Mas com changbin era diferente, completamente diferente.
Quando era mais novo, e as punições do seo era bem mais frequentes, já se pegou imaginando arrombando aquela porta da "sala do castigo" e tirando changbin dali a força, mandando a mulher mais velha e tudo ao redor para o inferno, mas não tinha força para competir com haeri na época e ele sabia que o baixinho odiava quando ele se intromete em seus castigos. Sabia que chan também fazia o máximo para convencer a diretora em diminuir os castigo do seo, tinha noção que o castanho fazia isso até os dias atuais, apesar de que a última vez que viu changbin sendo arrastado até a sala do castigo ambos tinham dezesseis anos.
Quando decidiu entrar nos prédios e cessar sua caminhada, passou em frente aos portões do orfanato, de lá viu quem mais esperou o dia inteiro. Jisung correu para se esconder atrás de uns arbustos grandinhos que foram postos perto da mureta dos guardas, abaixado ali ele esperou changbin se despedir da sua mãe e de hyunjin, seu coração martelava no peito como se estivesse sendo golpeado no estômago, tão ansioso que seus ouvidos zumbiam. Vamos, pensou ainda escondido, não demore tanto.
Então o baixinho pegou sua mala das mãos do hwang e o abraçou, entrando de vez no orfanato após atravessar os portões de ferro. O lugar estava completamente vazio, uma vez que todos estavam ocupados com seus clubes e coisas referentes, até mesmo os guardas estavam almoçando naquela hora. A hora perfeita. Quando o seo passou perto do conjunto de arbustos que jisung estava escondido, ele estendeu a mão em direção ao menino e o puxou pelo braço com força, fazendo ele se desequilibrar e cair em cima do seu corpo.
Ele tampou a boca do seo quando ele estava prestes a gritar, vendo ele franzir as sobrancelhas e erguer a mão para bater na sua cabeça.
— seu idiota, você quer me matar de susto!? — resmungou saindo de cima do garoto, se sentando ao lado do corpo dele. Jisung riu tomando postura. — que ótima abordagem, hein. Da próxima vez te enfio a porrada.
— também senti saudade, hyung. — jogou-se em cima de changbin, o abraçando. — fiquei com medo de você não voltar. — assumiu num sussurro, deitando a cabeça no ombro dele.
— se eu não voltasse, quem ia separar suas brigas com o chan hyung? — olhou para jisung, deixando um sorriso crescer. — também senti saudade, hannie. — acariciou o topo da sua cabeça.
— posso te beijar, binnie?
— agora?
— sim?
— e se alguém ver?
— e daí? — jisung sentou na sua frente, se esgueirando para tentar ver se tinha alguém por perto. Nenhum sinal. — não tem ninguém olhando, provavelmente todo mundo deve estar muito ocupado pra ficar bisbilhotando a gente.
Changbin também olhou ao redor, os arbustos grandes cobriam suas cabeças e realmente não tinha ninguém olhando, as janelas do primeiro e segundo segundo andar estavam todas fechadas, indicando que não possuía alguém ali. Jisung esperou até que o baixinho estivesse seguro daquilo e aproximou-se lentamente dele, primeiro acariciando sua bochecha levemente rubra, depois notando o quão coradinho ele parecia, sua pele um pouco mais bronzeada que antes. Seu cabelo escuro como petróleo brilhava perante o sol, e o han sentiu vontade de acariciar com a ponta dos dedos, tão cuidadosamente que temia machucá-lo.
Seus lábios se encostaram lentamente, igualmente seus olhos se fecharam. Jisung suspirou no meio do beijo quando changbin apoiou a mão em seu pescoço, tocando e massageando em círculos a área do seu pomo de adão. Fazia leves cócegas. Eles não tardaram no ósculo, na verdade, tinha uma certa excitação naquele medo febril de estarem no ar livre, onde qualquer um que passasse ali facilmente os veria aos beijos. E jisung gostou daquilo, como também gostou quando o moreno arfou e apertou a mão ao redor do seu pescoço, o fazendo ficar quente de repente.
Eles escutaram vozes e se separaram às pressas. Os guardas tinham voltado do almoço. De mãos dadas, o han puxou changbin na direção contrária dos portões, onde os homens ficavam fazendo ronda, e seguiram pelos fundos do orfanato.
— precisamos fazer isso mais vezes. — jisung disse baixinho, se encolhendo para passar perto da cantina, onde havia uma porta para os fundos.
— nunca. — changbin exprimiu. — não sei porquê ainda confio em você.
— você gosta.
Changbin não respondeu, mas não era necessário, jisung sabia a resposta.
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