20
Quando voltou para casa já no final do dia, o assunto sobre os possíveis namorados de changbin já tinha sido deixado de lado temporariamente. Algo lá no fundinho da mente do baixinho dizia que jeongin não ia desistir tão fácil de arrancar a verdade dele.
O yang se dispôs a mostrá-lo toda mansão, desde o andar térreo onde havia um corredor embaixo da escada que levava para um tipo de sala de jogos com alguns computadores e uma enorme televisão acoplada na parede cinza, não havia janelas e o ar condicionado era ligado no máximo, apenas por entrar lá changbin se sentiu dentro de uma geladeira. Depois dali, eles subiram até o primeiro andar, onde o escritório do seu avô e a sala de costura e bordado de siyoung se encontravam, eles apenas olharam e saíram rapidamente, jeongin dissera que seus avós tinham ciúmes daqueles cômodos. Depois, no andar que eles dormiam, o yang explicou que ali era somente onde os quartos de hóspedes ficavam, um extenso corredor com quatro portas da direita para esquerda, todas brancas e com maçanetas iguais.
Jeongin mostrou seu quarto no final do corredor, a porta tinha adesivos e desenhos rabiscados, explicou que tinha feito tudo aquilo quando era mais novo, entre seus dez e doze anos — atualmente o garoto tinha quinze. Ele mostrou o cômodo a changbin, talvez o menor que já tenha visto hoje, às paredes eram azuis como seu quarto, uma cama de solteiro junto a parede com uma janela grande em cima, do lado esquerdo, uma cômoda de quatro gavetas branca e um notebook ocupava uma extremidade. Fora a televisão na parede, o moreno notou o videogame no chão com controles e sacos vazios de pipoca, o quarto em si era bem bagunçado e meio fedido, mas o menor não quis citar.
Juntos, os meninos seguiram rumo ao último andar — o terceiro. Changbin ficou ansioso por saber que era uma área restrita, jeongin afirmou que não tinha problema eles irem lá, afinal, eram netos dos donos. Mas não era o suficiente para acalmar os nervos do moreno que não tinha boas lembranças das vezes que quebrou regras ou passou por cima da autoridade de alguém. Sabia que ali seus avós não o castigariam com palmadas ou punições humilhantes, porém era inevitável não sentir sua barriga formar um nó e suas pernas fraquejarem, as mãos coçava apenas por lembrar de tudo que já tinha passado.
O corredor em si era tão extenso quanto o de baixo, paredes brancas e com quadros espalhados, changbin escutou atentamente o mais novo explicar sobre cada pintura e fotografia. Ali ele viu desde obras renomadas de artistas famosos até fotos da sua família reunida. Eram poucas pessoas, tinham rostos familiares e um ar divertido em seus sorrisos, pareciam harmoniosos e felizes nessa época, seu pai estava na foto, sorridente e alegre, vestia uma camisa florida e shorts jeans, seu braço estava por cima de quem escutou ser o pai do yang, ele tinha o rosto de mandíbula marcada e olhos pequenos, iguais de jeongin. Vendo melhor, os dois eram idênticos. Ao decorrer do corredor, mais e mais fotos surgiam, changbin se sentiu admirado, era como uma sala de exposição, com quadros que deveriam ser postos em um museu.
— vovó não gosta que estranhos venham pra cá porque é uma parte da casa importante. — jeongin explicou. — é como se ela voltasse no tempo antes de ir pra cama, entende? É muito especial pra ela essas fotos.
Changbin manuseio a cabeça levemente, olhando todas as fotografias emolduradas.
— um dia, uma foto sua também vai vir pra cá. — o yang afirmou com um sorriso, mostrando lá no final uma foto dele com seus pais e seus avós.
Changbin abaixou sua guarda e deixou um sorriso vacilar, seu peito cheio de um fascínio estranho que não aparecia há bastante tempo. Lembrou do seu avô falando que o apoiaria em qualquer coisa, independente de quem ele fosse escolher ser no futuro. Parecia uma promessa séria e o moreno acreditava nele, como também acreditava em todo carinho que siyoung tinha por ele.
Jeongin sorriu ao seu lado, dizendo que precisavam voltar para o andar debaixo, mas não sem antes abrir um pouquinho a única porta do corredor, bem no centro, mostrando apenas fagulhas da suíte que seus avós dormiam. Depois, os dois desceram rindo abobalhados, como se alguém pudesse ter visto suas aventuras pela residência enorme e de paredes níveos.
— ei, mocinhos. — Olivia surgiu bem no instante que eles colocaram os pés no segundo andar. Ambos meninos travaram na frente da mulher alta de terno sempre justo e alinhado ao corpo. Seu ar profissional deixava changbin nervoso. — onde estavam?
— andando por aí. — jeongin disse. — precisa da gente pra algo?
— só o changbin. — ela virou a atenção para o garoto de olhos finos e cabelo rebelde. — a senhora siyoung quer falar com você no quintal.
Ele assentiu, se despedindo ligeiramente de jeongin enquanto descia mais alguns lances de escada até o andar debaixo. Passou pelos rapazes simpáticos da cozinha os cumprimentando educadamente, indo em direção a porta corrediça de vidrom. O quintal em si era enorme, havia uma piscina bem no meio da grama e espreguiçadeiras espalhadas pelas bordas, uma churrasqueira residia no canto esquerdo numa área mais elevado do piso normal, lá também tinha uma mesa de seis cadeiras e uma pia com balcão incluso, para o preparo da carne quando acontecesse alguma festa ou algo do gênero. Changbin seguiu pelo caminho de pedras brancas até uma das espreguiçadeiras, ele notou sua avó deitada sobre uma delas com um guarda sol grande aberto bem acima da sua cabeça, ao longe o céu ia escurecendo, o laranja mesclando com o azul celeste, a brisa suave trazia um cheiro agradável de mel, como se ali perto tivesse uma colmeia gigante sendo cheia por abelhas trabalhadoras, ou somente alguém da cozinha preparando o jantar com esse ingrediente.
Siyoung estava bela com um conjunto modesto de shorts de academia e um top-blusa um pouco transparente, parecia ter acabado de voltar da academia ou de algum exercício físico, descansava brevemente com os olhos fechados, deixando que o vento bagunçasse seu cabelo cor de caramelo. Changbin parou ao seu lado, e não precisou nem mesmo chamá-la, ela abriu os olhos devagar, os cílios como plumas elegantes abrindo espaço para seus olhos castanhos.
— a senhora queria falar algo comigo? — indagou com um embrulho persistente na barriga. Queria correr para o banheiro, mas era apenas sua ansiedade falando mais alto, então tratou de se manter onde estava e firme.
— sente aqui um pouco. — ele tomou postura e cruzou as pernas em cima da espreguiçadeira, o moreno ocupou o espaço que sobrou, mantendo as mãos sobre o colo, tentando evitar a mania de apertá-los pelo nervosismo. — está com fome?
— não, comi na rua com os meninos.
— oh, certo. Se divertiu, filho? — ele balançou a cabeça afirmando. Siyoung sorriu amável, sua mão pequena e macia indo até o braço de changbin, apertando devagar para provar que ele era real. O moreno não recuou por educação, mas realmente não era o maior fã de contato físico com pessoas mais velhas. — changbin, tenho uma pra falar a você. — ele esperou ela prosseguir. — eu e seu avô pensamos em te adotar. Quero dizer, você é nosso neto, é nosso direito tê-lo conosco. Então pensamos em conversar com a dona do orfanato e ver se ela consegue abrir uma exceção e deixar você vir morar com a gente de vez.
O coração de changbin vacilou pela proposta, não negava, até mesmo cogitou em aceitar, mas lembrou de jisung automaticamente. Se fosse embora, quem ficaria com ele? No ano seguinte chan seria enxotado de lá por conta da idade, e somente no ano posterior o han seria dispensado. Ele não teria ninguém por perto, e deixar jisung sozinho era perigoso, ele não sabia se cuidar. Sempre precisava de alguém para acordá-lo de manhã e convencê-lo a descer para tomar café da manhã, alguém tinha que ir buscá-lo na sala e levá-lo no teatro aos sábados para ensaiar com o clube. Se ele ficasse sozinho, não saberia lidar com isso, já ouvira muitas vezes ele murmurar enquanto dormia pedindo para não ser deixado sozinho novamente.
Não fazia a menor ideia de qual era o passado do han antes dele ir morar no orfanato, mas tinha uma vaga noção que não fora nada fácil. Ele falava das ruas como tanto pesar que changbin nem mesmo queria imaginar o que ele já tinha passado até o dia que alguém o levou para um lugar seguro.
Por isso, aceitar ser adotado por eles não seria justo da sua parte. Provavelmente haeri não permitiria que jisung também fosse adotado, aquilo geraria uma confusão sem tamanho em todo instituto e temia perder o mais novo nesse processo.
— eu adoraria ficar com vocês aqui, de verdade mesmo, mas não posso. — a expressão de siyoung não mudou, ela parecia compreensiva e gentil. — vou fazer dezoito anos em breve, eles não me deixariam ir embora antes do prazo certo.
— tudo bem, eu entendo. — ela não parecia chateada, talvez um pouco amuada. — mas saiba que vamos sempre te visitar. E se por acaso você estiver passando por alguma situação difícil, fale com a gente, okay? Não precisa ter medo, changbin.
Ele novamente assentiu em silêncio, nem um pouco pronto para dizer tudo que já tinha passado em sua infância. Ela o deixou ir depois de conversar mais um pouco sobre coisas bobas do seu dia, changbin a ouviu e às vezes comentava acerca de algo interessante que viu no comércio.
Estava exausto quando finalmente entrou em seu quarto, se assustando mais uma vez por ver jeongin sentado na sua cama vestido com um pijama de animais, ao seu lado carregando uma mochila, hyunjin estava de pé com um sorriso arteiro no rosto.
— nós vamos dormir com você! — eles exclamaram juntos, alto o suficiente para changbin querer dar meia volta e ir dormir no sofá da sala.
(...)
Seguidamente de um bom banho, changbin se juntou aos mais novos em sua cama, vestiu um dos pijamas que tinha comprado com jeongin. Depois dele praticamente sair correndo envergonhado pelo tanto de perguntas constrangedoras, eles foram no fliperama e compraram mais roupas, desta vez tanto o hwang quanto o yang focaram em somente inaugurar um novo vestuário agora o mais velho. Changbin não reclamou e nem protestou, eles pareciam felizes demais fazendo aquilo.
Agora, além da única mochila que trouxe, estava levando também uma bolsa de viagem que tinha comprado cheia de roupas e acessórios que provavelmente não seria autorizado a usar. Regras de vestimenta do orfanato.
Em cima dos lençóis brancos, jeongin tinha distribuído lanches, como pizza, enroladinhos de salsicha e bolinho com recheio de queijo. Fora os doces variados que sobrou do café da manhã. Assim que hyunjin voltou do banheiro já com um conjunto simples de calça e camisa cinzas e cabelo meio molhado pelo banho, a "noite dos garotos" se iniciou. No dia seguinte, changbin precisaria voltar para o orfanato e não saberia quando retornaria a casa dos seus avós ou quando veria hyunjin e jeongin novamente, mesmo que siyoung tenha afirmado que eles sempre irão vê-lo quando o orfanato permitisse. O que era difícil, mas o seo não queria pensar nisso agora.
Sora não tinha mandado nenhuma notícia por hyunjin, ele apenas disse que a mulher estava bem e que provavelmente apareceria na manhã seguinte para levá-lo de volta. Changbin optou por não pensar naquilo, se pudesse, nem mesmo queria vê-la na manhã posterior. Tinha algo com toda aquela história dela ter ido buscá-lo após tanto tempo que incomodava seriamente o baixinho, mas ele não sabia exatamente o que era e não queria deduzir algo errado, mas ainda assim havia muita coisa por trás de tudo aquilo.
A noite seguiu animada no segundo andar, eles usaram o karaokê e pularam animadamente com a música de um cantor que hyunjin gostava muito, depois viram filmes de terror e comeram todas as guloseimas e salgados da cama. Changbin se viu responsável em limpar toda bagunça junto com Olivia quando ela surgiu irrompendo a porta e pedindo para eles irem dormir pelo horário. O trio escovou os dentes e foi para cama assim que as luzes foram apagadas e os lençóis já não tinham farelo de pizza de calabresa e chocolate.
Jeongin ficou no meio enquanto os dois garotos ocupavam as beiradas, hyunjin no canto direito e changbin no esquerdo, cada um com seus cobertores e seus travesseiros.
— não tô com sono. — jeongin comentou.
— acho que tem muita açúcar no meu sangue. — hyunjin disse rindo sozinho depois, como um lunático.
— eu disse pra vocês não comerem tanto doce. — changbin relembrou.
— binnie hyung. — o yang chamou, virando o rostinho em sua direção. Hyunjin que estava atrás olhou para o moreno também, como se soubesse o que vinha a seguir. — como é seus namorados?
Changbin sentiu o colchão sumir embaixo do seu corpo. Se estivesse de pé, com certeza pularia pela janela apenas para fugir deles.
— eu não tenho namorados, jeongin. — balbuciou hesitante.
— e as correntinhas?
— é para os meus amigos, eu já disse.
— se você tá com medo de dizer a verdade, saiba que a gente não vai te julgar e nem nada. — hyunjin proferiu, sua voz distante e calma. Ele parecia sonolento. — meu pai namorava um homem antigamente.
— minha mãe antes de casar com meu pai tinha um tipo de namoro escondido com uma mulher. — changbin olhou para jeongin descrente. — ela disse isso uma vez quando ficou bêbada, é uma história engraçada. Mas o que eu quero dizer é, você vai ser aceito pela gente se estiver namorando um cara, ou dois, tanto faz. Você feliz, a gente feliz e ponto final.
O moreno ficou quieto pelos próximos segundos, absorvendo as palavras de jeongin. Desde pequeno, cresceu em um ambiente onde relações amorosas ou qualquer tipo de contato físico entre pessoas do mesmo gênero — ou até diferentes — era visto como algo hostil e ruim. Por isso, qualquer intimidade que já chegou a ter com outra pessoa o moreno simplesmente descartava, mas quando notou que já tinha ignorado demais seus sentimentos por seus amigos, a coisa simplesmente saiu do controle e ele se viu como um ratinho encurralado na parede. Ficou realmente aliviado quando soube que era recíproco, não suportaria a ideia de ter perdido as únicas pessoas no mundo que o fizeram sentir algo de verdade apenas por ser um completo louco apaixonado.
— jisung e bang chan.
— o que? — os dois meninos ergueram seus rostos na direção do moreno.
— é o nome deles.
— dos seus namorados? — hyunjin indagou com um sorriso maior que o rosto, talvez feliz que seu irmão estava se abrindo para eles. Changbin deu de ombros, tímido o suficiente para suas bochechas ficarem rubras.
— nós somos só… amigos com benefício? Não sei exatamente o que a gente é.
— e como eles são? — jeongin se interessou, afundando o rosto no travesseiro macio para observar parcialmente o rosto do seo coberto por uma fina camada de timidez, um carmesim bonito por cima da sua pele acobreada.
— chan é um pouco maior que eu, tem o cabelo igual o da senhora siyoung, só que curto e cacheado. Ele é australiano e a gente se conhece desde criança. Ele é do tipo espertalhão que você vai querer ficar por perto no dia da prova, ele também é dedicado e ama desenhar e pintar. Um dia, se ele deixar, mostro a vocês os desenhos dele, são realmente bonitos. — parou um pouco para respirar, tinha um sorriso no rosto que apenas surgiu ao decorrer das suas palavras. Ao seu lado, a dupla o escutava com atenção, impressionados pelo jeito diferente que a voz de changbin ficava por falar dos seus amigos, o tom era mais leve e suave, delicado e cuidadoso. Como se interpretasse um poema. Ele logo prosseguiu depois de umedecer os lábios. — tem o jisung também, ele é completamente diferente do chan, e eles vivem brigando por conta disso. Bom, o jisung é baixinho como eu, mas alguns centímetros de nada maior, tem o cabelo curtinho e preto, tipo o meu. Ele leva jeito pro futebol mas prefere ficar no clube de teatro, passa bastante tempo também na enfermeira porque a enfermeira gosta da ajuda dele. Jisung é popular e social, faz amizade até com as borboletas se brincar, ele sabe tocar violão mas tem vergonha de cantar em público. As notas dele são péssimas, mas se destaca estranhamente em química e biologia. Ele e o chan gostam de apostar coisas bobas como quem termina primeiro o almoço, ou brincar de briguinha no nosso quarto. A gente se conheceu quando era criança e estamos juntos desde então. Eles são meus únicos amigos e… talvez os únicos caras por quem eu já senti atração na vida.
Estranhou o silêncio e quando olhou para o lado, os dois meninos dormiam pesadamente. Changbin riu baixinho e os cobriu corretamente, vendo que já tinha falado demais. Era hora de dormir, amanhã provavelmente nesta horário já estaria com eles, então não precisaria ficar recitando tudo que já tinham vivido, porque logo estaria de volta em casa. Logo estaria de volta a eles.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
oi gente, o que vocês estão achando da história?
ainda tem muita coisa pra acontecer, então quero a opinião de vocês.
até o próximo capítulo !
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro