18
Tinha sido levado até o quarto por Olivia — a mulher que havia recepcionado sua chegada à mansão —, ela o deixou em um dos vários quartos de hóspedes do segundo andar. Se bem changbin contou, havia mais um subindo, um no qual somente seus avós e pessoas autorizadas podiam ir. Ele tinha perguntado isso à mulher quando teve um ímpeto de curiosidade que conseguiu superar sua timidez.
Tanto siyoung quanto doyun se recolheram quando aquele assunto sobre seu pai e a morte dele chegou ao fim, a mulher de fios amendoados estava arrasada e seu marido tentava manter a linha para conseguir consolá-la. Changbin apenas observou tudo com o rosto neutro, ele quis dizer algo para sua avó, talvez falar algo de apoio ou apenas se manter por perto, mas entendia que ela precisava de um tempo sozinha, não era algo fácil de lidar.
O moreno nunca pensou que precisaria lidar com o luto tão rapidamente, em nenhum momento chegou a imaginar um dos seus amigos mortos ou coisa do gênero, mas agora ele tinha alguém para quem deveria prestar homenagens e chorar por ela não estar mais entre os vivos. Era estranho.
Ele observou o quarto que foi mandado, era um lugar amplo e arejado, as paredes eram azuis e havia uma enorme cama de casal no meio, com cômodas nas laterais. Na frente da cama, uma televisão estava acoplada à parede, fora uma porta que descobrirá rapidamente que era o banheiro. Só aquele espaço era bem maior do que o quarto que vivia normalmente no orfanato, changbin não podia deixar de estar encantado com aquilo. Para um menino que nunca tinha visto nada tão grandioso, o mínimo que poderia estar agora era perplexo e admirado. Imaginou como jisung ficaria ao ver um lugar tão espaçoso e confortável para dormir, ou como chan ficaria contente pela paisagem bonita das árvores que conseguia ver pela janela. Queria que eles pudessem ter essa visão um dia.
Deixou a mochila sobre a cama e olhou ao redor, ainda era cedo e não tinha nada que pudesse fazer. Curioso, changbin subiu na cama e se arrastou até a cômoda ao lado que continha um abajur, lá ele achou dois controles, um da televisão e outro do ar condicionado. Meio cauteloso ele ligou a televisão, uma variedade de canais infantis e outros de séries saltaram em sua direção. Ele escolheu algo do seu gosto e deitou no colchão macio para aproveitar, abraçando um dos travesseiros espalhados pela cama.
Não estava exagerando ao dizer que realmente não fez nada durante o dia todo, vez ou outra Olivia aparecia para perguntar se ele queria comer alguma coisa, e mesmo que negasse alegando que estava bem ela mandava um dos vários empregados até o quarto do menino para entregá-lo algum lanche ou doce, por mais simples que fosse. Quando anoiteceu, changbin estava cheio até a tampa, nunca tinha comido tão bem em toda sua vida. Sentia que podia deitar no chão e rolar como uma bola de futebol. Desligando a televisão e aumentando um pouco o ar, ele caçou uma roupa dentro da mochila e depois a deixou jogada nos pés da cama, indo até o banheiro.
Podia afirmar com certeza que aquele banheiro era duas vezes maior que qualquer outro cômodo que já havia visto. O lugar era simplesmente enorme de forma exagerada. Havia um chuveiro e uma banheira acoplada, sendo a banheira exageradamente grande. Fora isso, tinha uma privada ao lado da pia e um grande espelho junto, o chão era de cerâmica branca e havia uma janelinha ali para arejar o local. Changbin pegou uma toalha no armário embaixo da pia, deixando sua roupa por ali mesmo, ele se despiu calmamente e entrou debaixo do chuveiro, ligando até que a banheira estivesse parcialmente cheia. Ele afundou dentro e deixou apenas seu nariz e a parte superior do seu rosto para fora, tentando relaxar enquanto era comovido pelo silêncio do ambiente. Era tudo tão calmo que chegava a ficar assustado.
Não soube o porquê mas o assunto de mais cedo surgiu novamente em sua cabeça. Siyoung tinha falado muitas coisas sobre a sua mãe, em como ela era egoísta e possessiva com seu pai. Changbin não tinha uma opinião formato quanto sora mas podia ver que ela não era exatamente como imaginou, quando a viu pela primeira vez jurava que era apenas uma mulher comum que vivia sua vida de solteira de forma solitária, mas depois de passar um dia com ela, viu que podia ser tudo apenas uma fachada. Ela não parecia com quem realmente queria mostrar a changbin. O moreno não podia dizer que conseguia compreender facilmente as pessoas ou descrevê-las de forma límpida, mas sora era uma pessoa confusa que estava tentando achar algo para se apossar, seja isso material ou não.
Não queria ser uma pessoa ruim que deduzia coisas maldosas das outras, mas não confiava em sora apenas pelo jeito irresponsável que ela tinha agido no dia anterior. Além do mais, seu comportamento deixava o moreno com a pulga atrás da orelha.
Ele se banhou calmamente e depois esvaziou a banheira, se vestindo enquanto seu cabelo pingava ainda encharcado. Após estar devidamente vestido, changbin secou o cabelo com a toalha e saiu do banheiro, se sentindo uma nova pessoa. Se assustou ao ver um garoto provavelmente mais novo sentado na sua cama, ele ainda vestia o uniforme da escola que era idêntico ao que hyunjin estava usando mais cedo, ele olhou para changbin com um sorriso enorme, as pecinhas do aparelho transparente reluzindo em seus dentes.
— oi? — changbin iniciou, ainda travado perto da porta do banheiro.
— oi. — ele respondeu ainda sorrindo. — sou seu primo, yang jeongin. — jeongin saltou da cama, indo até o moreno para apertar a sua mão. — nossa, você é bonitão. Tem alguma namorada? — atônito pelo bombardeio de perguntas, changbin apenas agiu no automático, apertando a mão do garoto com uma expressão boba no rosto.
— não, não tenho.
— que desperdício, você é realmente bonito. — o elogiou, dando passos curiosos pelo quarto. Changbin balançou a cabeça, indo até sua mochila para guardar a roupa que tinha usado durante o dia, lavaria quando tivesse a oportunidade. — você é o changbin, né? Filho do tio chunghee.
— é, acho que sou.
— acha? — jeongin parou ao seu lado, se encostando na cama. — espera aqui, vou pegar uma coisa. — tão de repente como chegou, o garoto de cabelo preto e liso saiu, deixando para trás um seo totalmente confuso.
Foi o tempo de pentear o cabelo e passar desodorante, e lá estava jeongin novamente, mas dessa vez ele carregava uma revista aparentemente antiga. Ele jogou sobre a cama de lençóis brancos de changbin, subindo nela logo em seguida com suas meias de corações.
— olha, esse é o tio chunghee. — ele abriu a revista e mostrou a changbin. A fotografia de um homem de terno surgiu, ele parecia ser alto e tinha um rosto naturalmente bonito, o cabelo dele era preto e bastante brilhante. Changbin tocou a imagem com a ponta dos dedos, o sorriso que seu pai tinha era exuberante, como se nada no mundo pudesse tirá-lo, mesmo que sua pose para foto tivesse que passar uma impressão séria. Tinha que assumir, ele era estranhamente parecido consigo. O formato do rosto, a boca, e até mesmo o nariz era igual. Se sentia esquisito por ver alguém tão parecido consigo mesmo. — ele é bonito, né?
— sim, ele era. — jeongin o encarou brevemente, agora sério e um pouco preocupado. Era difícil lê-lo.
— a vovó me contou que essa foto é de dias depois que você nasceu, ela disse que o tio estava tão feliz que não conseguia tirar fotos sério. — changbin passou as páginas da revista e comprovou o que ele disse. Chunghee parecia tão contente que changbin sentiu vontade de chorar. — dá pra ver que ele te amava muito. — jeongin sorriu complacente, colocando sua mão sobre o ombro de changbin.
Não queria se tornar tão sensível com aquele assunto, mas no fundo quis lembrar dos momentos que tiveram, mesmo que soubesse que era impossível. Boa parte das lembranças da sua infância foram apagadas, tanto os momentos bons quanto os ruins. Atualmente changbin não conseguia dizer se o que lembrava era verdade ou apenas um sonho lúcido muito ruim, mas nunca chegou a realmente se importar com aquilo, pensava que poderia fazer lembranças melhores no futuro, então seu passado não era importante. Mas agora, ele quis lembrar do seu pai e de tudo antes do orfanato, mas era impossível. Aquilo frustrava o menino em um nível absurdo.
— mas não vamos ficar falando sobre esse assunto, você já teve ter ouvido muito com a vovó e o vovô mais cedo, então vamos usar esse tempo para nos conhecer. — jeongin rapidamente mudou de assunto, deixando que changbin ficasse com a revista. Quando estivesse a sós, a guardaria em sua mochila. — então changbin hyung, o que você tá achando da casa? Já foi na piscina? Já viu a sala de jogos? Também tem uma biblioteca enorme no andar de cima, posso te levar lá se você quiser.
— eu ainda não andei pela casa toda, só fui na sala e na cozinha. — respondeu ainda acanhado pela presença animada do menino mais novo.
— sério? Você precisa conhecer os outros cômodos. Posso te levar lá amanhã, que tal?
— pode ser.
— sabe, amanhã eu não tenho aula, então por que a gente não sai junto pro shopping? O hyunjin pode ir também.
— você conhece o meu irmão?
— ele é o meu melhor amigo. — changbin se recordou do hwang falando que o moreno era primo do seu melhor.
— então tudo bem.
— você tem amigos no orfanato? Como é morar lá? Não deve ser igual nos filmes, mas ainda deve ser divertido. — ele ficou pensando por um instante, algo que changbin achou adorável. Ele parecia tão ingênuo e curioso, era algo que o moreno tinha inveja, a inocência de jeongin era tão bonita, torcia para que ele ficasse assim por bastante tempo, crescer era horrível.
— você faz muitas perguntas, não consigo decidir qual responder primeiro. — foi honesto, e jeongin riu.
— okay, vamos por parte. — ele se ajeitou na cama, se virando totalmente para changbin. — você tem amigos lá?
— tenho.
— como é morar em um orfanato?
— normal, é como morar em uma casa só que com regras e uma escola dentro. — não queria expor o lado ruim de tudo aquilo, o garoto era muito novo para ouvir as barbaridades pela qual já foi submetido. — mais alguma pergunta, Senhor Curioso? — brincou, arrancando risadas dele.
— você realmente não namora ninguém lá? — changbin não entendia porquê ele estava tão curioso quanto aquilo, mas quando iria novamente negar, Olivia surgiu abrindo a porta, olhando para os dois garotos com uma interrogação na testa. Jeongin sorriu embaraçado, como se estivesse sido pego no flagra.
— então era aqui que você estava se escondendo, seu pestinha? — ela entrou no quarto, indo até o yang para puxá-lo pela orelha. Resmungando, jeongin saiu da cama. Changbin ficou preocupado e até mesmo iria afastar a mulher do menino, mas desistiu quando notou que ela não o machucava, apenas estava segurando levemente. — ele estava te incomodando, senhor? — Olivia olhou para changbin.
— não, estávamos só conversando. — explicou.
— por que você chama ele de senhor e eu não? — jeongin indagou com um bico enorme.
— porque ele é novo e você é um pestinha que não gosta de tomar banho. Agora vai pro banheiro ou eu vou contar pra sua mãe que você não quer tomar banho de novo. — resmungando ainda mais, jeongin se livrou do aperto da mais velha e saiu pisando forte.
Changbin riu divertido com a cena, ainda sentado no meio do colchão com as pernas dobradas. Olivia balançou a cabeça, parecendo cansado daquele jogo de jeongin, ela olhou para o menor e sorriu exaurida para ele. Changbin podia dizer que a compreendia, às vezes jisung agia dessa maneira.
— desculpe novamente pelo incômodo.
— não se preocupe, só estávamos conversando mesmo. E o jeongin é divertido.
— imagino. — ela endireitou a coluna, puxando o blazer para baixo. Changbin não sabia como ela aguentava o dia todo com aquele terno quente. — enfim, se o senhor precisar de alguma coisa, não hesite em pedir a qualquer um dos empregados, okay? Não precisa ter vergonha. E caso não se sinta confortável com eles, pode me pedir.
Changbin apenas acenou, vendo ela se retirar em seguida.
Caiu na cama exausto, talvez tivesse feito mais um amigo. Realmente queria se aproximar mais de jeongin, tanto quanto queria ficar próximo de hyunjin, sentia que eles eram bons garotos.
Guardou a revista com as fotos do seu pai dentro da mochila, queria levar de recordação. Changbin desligou as luzes do quarto e subiu na cama, se enfiando debaixo dos lençóis, pensou em ligar a televisão novamente, mas ficou com preguiça de pegar o controle do outro lado da cama. A janela ficou aberta por descuido, mas ainda assim foi uma boa distração até seu sono chegar, tinha muitas estrelas no céu naquela noite, tantas que changbin nem conseguia contar. Pensou novamente em jisung e chan, se eles também estavam vendo aquele amontoado de constelações brilhantes.
Estava com tanta saudade deles.
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