03
Estava com jisung de pé na sua frente, o sangue que escorria por seu nariz tinha sido estancado pelo mais novo e agora ele tratava dos outros cortes que se espalhavam por seu rosto.
Escutaram a porta do quarto sendo aberta de súbito, a figura do Bang parou na sua frente com a maior cara de desespero. O han ainda estava concentrado no seu trabalho de limpar os machucados do moreno quando chan se aproximou apressadamente, tropeçando no sapato do moreno que tinha sido deixado por qualquer lugar no cômodo pela agonia do mais novo em deitá-lo na cama.
- me disseram que você estava todo machucado. - chan parecia querer tocá-lo, verificar se tinha algum lugar fraturado ou sangrando, mas jisung se manteve firme em frente ao moreno, não deixando que ele interferisse em seu trabalho.
- você tá espantado por quê? - indagou, sentindo dor ao mexer a mandíbula. - tô sempre machucado.
- binnie...
- onde você esteve?
- biblioteca. - ele pareceu apressado ao responder, changbin teve que controlar a vontade de revirar os olhos. Chan era um péssimo mentiroso.
- a verdade, christopher. - era rara as vezes que seu nome de nascimento era usado, principalmente por changbin ou jisung. Saber que aquilo resultava em algo ruim fez o bang hesitar mais ainda em contar a verdade.
- eu estava... dando aulas particulares pra nayeon. - jisung sem querer acabou pressionando o machucado do canto do lábio do seo, tendo sua camisa puxada com força pela dor. Tinha pedido para o moreno segurar em sua camiseta e apertá-lo caso abusasse da força na limpeza dos ferimentos como forma de avisá-lo.
- merda. - changbin xingou baixinho, tanto pela dor quanto pela resposta do australiano. - justa ela, christopher?
- espera, o que você quer dizer com "justa ela"?
- Jaehyung bateu no changbin como forma de aviso pra você parar de encontrar com a namorada dele. - jisung respondeu.
- mas eles nem namoram! - o bang protestou, nitidamente indignado.
- quem se importa? O changbin se machucou por isso, então trate de parar de ver essa garota. - disse seriamente, jogando fora o algodão sujo de sangue dentro do saquinho plástico que o moreno segurava no colo, pegando outra bolinha de algodão e um pouco de remédio que ele tinha pego na enfermaria a fim de finalizar a limpeza no machucado do lábio do menor.
- não é tão simples assim.
- que merda você acabou de dizer? - jisung virou bruscamente para o bang, juntando as sobrancelhas em confusão.
- a gente tá se ajudando, não posso dispensar ela do nada.
- olha aqui, seu filho da puta. - jisung deixou a bolinha de algodão com o remédio cair ao puxar o bang pelo colarinho da camisa, abaixando o torso do maior em sua direção. - changbin foi espancado por causa dessas suas aulinhas e você não pode dispensar a nayeon!? - exprimiu as palavras com desdém, segurando com força na roupa do mais velho.
- jisung, solta ele. - demorou certo tempo até acatar ao pedido do seo, voltando para sua tarefa anterior.
- me desculpa. - chan dirigiu suas palavras ao moreno sentado na beirada do colchão.
- esquece isso. - jisung segurou firme em seu queixo, forçando ele a erguer a cabeça, passando cuidadosamente o algodão por cima do ferimento que ainda expelia um pouco de sangue. - faz o que você quiser, eu não me importo. Não é a primeira surra que eu levo sem motivo, então não precisa esquentar a cabeça.
Ele ainda ficou lá de pé sem dizer uma palavra enquanto o mais novo cuidava dos machucados de changbin, e do mesmo jeito súbito que entrou no quarto, chan saiu batendo a porta. Jisung aspirou o ar pelo nariz com força, soltando devagar, como um mantra para manter a calma.
(...)
Não foi o fato de estar todo machucado e dolorido que tirou seu sono naquela noite, nem mesmo seus sonhos estranhos, mas sim a notícia que o australiano estava se encontrando com uma garota.
Justamente ele que tinha feito aquela promessa a três anos atrás, um juramento que mesmo intencionalmente changbin cumpria. Não sentia a menor vontade de conhecer ou se relacionar com as garotas naquele instituto, estava bem sendo apenas ele, jisung e chan, mas parece que somente ele seguia aquele juramento estúpido. Sabia que o han era colega de quase todo mundo daquele lugar, e bom, chan era o exemplo de pessoa a ser seguido no orfanato, todos pareciam adorar os dois, já changbin era apenas o delinquente que tinha amizades boas demais para ele.
Percebeu que naquela madrugada jisung não desceu do beliche para a cama do Bang, talvez ele estivesse tão indignado com a traição do australiano quanto ele. Mas seria da mesma forma como changbin se sentia? Era estranho pensar aquilo, mas só de imaginar que o castanho estava se relacionando de forma íntima com aquela garota deixava changbin com náuseas.
Esperava que jisung se sentisse da mesma forma, odiaria saber que era o único enciumado com aquilo. Ciúmes, aquela era outra palavra que lhe deixava com o estômago embrulhado. Esfregou o rosto no travesseiro a fim de espantar toda aquela confusão.
Estava pensando demais e sabia que aquilo nunca acabava bem.
Quando acordou horas mais tarde, não precisou ficar de pé às pressas, era fim de semana e podia ficar de preguiça na cama até a hora que bem entendesse, não participava de nenhuma aula extracurricular por preferência, mas seus dois amigos participavam; jisung fazia teatro e chan jogava futebol.
Ambos tinham sido convocados para aquelas aulas por professores ou pela própria diretora. Por ser imperativo e falante, teatro era uma boa alternativa de explorar aquilo em jisung e chan tinha um ótimo porte físico e era veloz como ninguém, o professor careca de educação física viu aquela oportunidade de tentar encaixá-lo no time uma boa sacada. O moreno apenas acompanhava tudo de longe, um dos motivos de não querer participar de nada era saber que sua presença era indesejada por outros alunos e até mesmo por alguns professores.
O único que ainda tentou persuadi-lo a participar de alguma aula extracurricular fora o de educação física, mas nunca foi com a cara do velho e já tinha brigado com metade do time de futebol no passado, entrar naquela quadra era pedir para ser espancado novamente.
Quando viu que ficar naquele quarto o dia todo olhando para o teto não ia fazer sua dor sumir, ficou de pé com dificuldade e decidiu sair para pegar um ar fresco e comer alguma coisa. Os olhares que eram direcionados em sua direção eram um misto de pena e curiosidade, não era novidade para nenhum antigo órfã daquele lugar ver o seo ferido, seja por brigas ou punições. Ignorou os cochichos referente ao roxo forte em sua bochecha e seguiu caminho até a cantina, colocando seu almoço sem encarar ninguém.
Sentou na mesma mesa que jantava ou tomava café da manhã com jisung e chan, mas desta vez sozinho, comeu calmamente, todos os músculos do seu rosto estavam doloridos, vindo descobrir que tinha mordido a língua em um dos socos que levou na região do queixo enquanto mastigava o pedaço de algum legume. Seu coração até mesmo errou o compasso meio rítmico quando avistou chan adentrando ao refeitório espaçoso com nayeon, a garota era dona de longos cabelos pretos e brilhantes, tinha uma altura mediana e vestia roupas leves. Chan estava rindo ao seu lado, vestia um shorts folgado preto e uma regata qualquer, seus cabelos castanhos estavam bagunçados e seu rosto um pouco úmido pelo suor do treino recente, eles pareciam um verdadeiro casal, e aquilo fez changbin afastar a bandeja que estava almoçando para o meio da mesa.
Tentou não ficar olhando para os dois curiosamente, mas fora inevitável. Eles pegaram algo para almoçar e se dirigiram até uma mesa longe de onde o seo estava, incapacitando que ele ouvisse a conversa que estavam tendo. Changbin queria ser uma mosca para saber do que tanto eles riam.
- será que eles estão mesmo juntos? - tomou um baita susto quando jisung empurrou o corpo pra cima do seu por trás, seus braços caindo entre seus ombros e indo em direção a sua barriga.
- você me assustou, praga. - virou a cabeça na direção do rosto do han, que riu baixinho e se afastou.
- foi mal, docinho. - mordeu o lábio pelo apelido irritado que de uns tempos para cá o garoto insistiu em lhe chamar. Jisung sentou na cadeira ao seu lado, também olhando na direção que chan e nayeon estavam. - eles parecem felizes, não gostei. Vamos lá sentar com eles e acabar com essa palhaçada. - ele de repente ficou de pé, mas changbin o segurou.
- não vamos fazer nada, senta aí. - contragosto o outro moreno sentou de volta na cadeira com os braços cruzados. - ele ainda não notou a gente aqui então só vamos ficar quietos.
- o chan é nosso, ele não tem que ficar com aquela garota. - torceu um bico inconformado, nitidamente desgostoso da situação. Changbin se sentia do mesmo jeito, apenas não queria demonstrar tão abertamente.
- é uma decisão dele. - aquela simples frase saiu meio amarga em sua boca, o forçando a beber um pouco do suco da caixinha que tinha pego enquanto colocava seu almoço.
- decisão dele o meu pau. - parecia que o australiano enfim notou a presença dos dois rapazes em algumas mesas de distância, desviando logo o olhar em seguida. Aquilo deixou jisung fora de si. - você viu aquilo, bin? Ele olhou pra gente e ignorou!
- vamos sair daqui. - pegou a bandeja pela mesa e se dirigiu até o lixo, jogando tudo lá e saindo com jisung em seu encalço.
Fez questão de passar pela outra saída só para não ter que olhar para aquela cena repulsiva do bang sorrindo para a morena, seguindo seu caminho com jisung tagarelando sem parar sobre o ensaio que teve para nova peça.
Voltou para o quarto quando jisung foi ensaiar novamente, até mesmo cogitou a ideia de aceitar e ir ver o han atuando, mas mudou de opinião rapidamente quando percebeu que lá também não era bem vindo.
Enquanto vagueava entre um pensamento e outro, chegou a conclusão que não tinha um lugar naquele orfanato onde seria bem vindo. Biblioteca, sala de aula, quadra, o pequeno teatro no terceiro andar do segundo prédio, em todos eles tinha algo que impedia o seo de entrar. Às vezes se sentia um intruso até mesmo dentro do próprio quarto.
Sentiu o monótono do dia lhe pegar com força, notando que a única coisa que fez naquele dia foi almoçar. Quando o horário para o jantar chegou, apenas deu de ombros e decidiu que não iria descer, não queria ver a cena do bang conversando tão confortavelmente com alguém que não fosse ele ou jisung. Na verdade, nunca se sentiu daquela forma quando o australiano conversava com outro garoto, se sentia mais ameaçado quando se tratava de uma garota. O moreno podia se sentir melhor que qualquer outro rapaz daquele lugar, mas não podia competir com uma menina. Elas eram sempre tão bonitas e notáveis, e changbin era apenas ele. Não tinha nada de atrativo que pudesse chamar atenção, nem mesmo era alto ou tinha ombros largos, era apenas um garoto qualquer cheio de hematomas e cicatrizes.
Detestava se sentir pra baixo com algo tão estúpido, mas odiava a ideia de estar possivelmente perdendo o australiano para uma garoto, caso jisung também começasse a ignora-lo apenas para ficar com uma menina o moreno sem dúvidas perderia as estribeiras.
Voltou totalmente ao mundo real quando o trinco da porta foi aberta e ela rangeu daquela forma costumeira ao se empurrada, jisung entrou no quarto equilibrando dois pratos fundos em uma bandeja de plástico, junto aos pratos também tinha dois copos de suco de limão e talheres.
O moreno se apressou a ficar de pé e ir ajudá-lo, fechou a porta primeiro antes de pegar a bandeja das mãos desajeitadas do garoto, sentando de volta em sua cama colocando a bandeja no espaço entre eles.
- você não desceu para jantar, fiquei preocupado. - changbin pegou um dos pratos e colocou sobre o próprio colo.
- preocupado ou com medo de comer sozinho?
- um pouco dos dois. - aquela afirmação fez o moreno rir baixo, cruzando as pernas em cima do colchão e começando a comer em silêncio. - chan tava lá com ela de novo. - jisung parecia magoado, mexia na comida com o garfo mas sem realmente comer, seu olhar estava baixo e sua voz desanimada.
- ele te viu? - o moreno balançou a cabeça, afirmando.
- ele passou por mim e não disse nada. - encarou changbin nitidamente melancólico. - você também não vai achar uma garota e me deixar, né?
Foi inevitável para o moreno não rir naquele momento, sendo obrigado a tomar um longo gole do suco para ajudar a comida descer por sua garganta.
- jisung, olha pra mim. - jisung fixou os olhos na figura pequena ao seu lado. - você já me viu ao menos conversar com uma garota? - o moreno balançou novamente a cabeça negando. - então você devia ter noção que isso é impossível de acontecer.
- pensava que o chan também não seria capaz de fazer isso, mas olha ele agora.
- eu não sou o chan.
- ainda bem, não suportaria ter que lidar com dois mauricinhos ao mesmo tempo. - os dois riram baixo. - se o chan pulou fora, vai ser só nós dois agora?
- acho que você tá sendo um pouco precipitado.
- não acho.
- sim. - jisung o encarou confuso. - se ele realmente tiver esquecido a promessa ou deixado ela pra lá, vai ser só nós dois.
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