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CAPÍTULO 21 ✨


— Eu não consigo. — Respiro fundo, tentando fazer o que Anahí pediu. — Não posso simplesmente mandar uma mensagem?

— Nem pensar. Você precisa ligar e fazer o pedido. — Ela me devolve o celular, e eu fecho os olhos, desanimado e um pouco envergonhado. — Eles não estão vendo você, neguinho.

O "primeiro passo" de Anahí é eu ligar para uma pizzaria e pedir uma pizza. Parece simples, mas para mim é um pesadelo. Se eu não consigo fazer isso, como vou deixar de ser esse introvertido lunático?

— Você consegue, Killian. — Ela aperta o número e coloca para chamar, depois me entrega o celular. — Fica calmo, você vai conseguir.

— Boa noite, Maple Pizza House. — Arregalo os olhos ao ouvir a atendente do outro lado da linha.

Anahí gesticula com as mãos, indicando que eu devo falar.

— Boa noite.

— Continua, Killian! — Ela abana as mãos, mas eu fico travado, apenas encarando-a. Ela olha ao redor e então me lança um sorriso maroto. — Me agradeça depois.

Antes que eu pudesse reagir, ela começa a me fazer cócegas, e uma risada involuntária escapa dos meus lábios.

— Boa noite, eu gostaria de uma pizza de pepperoni! — Digo de uma vez só, ainda rindo.

Anahí para com as cócegas, e eu puxo o ar com força, aliviado.

— Ah, ok. É para entrega? — pergunta a atendente, parecendo um pouco em dúvida.

— Se você não responder, vou fazer de novo. — Anahí balança os dedos com um sorriso perverso.

— Não precisa! — protesto desesperado. — Não precisa, eu vou buscar. Tampo o rosto com a mão, sentindo o calor subir até as orelhas.

— Hum... certo, pode vir buscar em uma hora.

A ligação termina, e Anahí solta uma gargalhada.

— Viu como foi fácil? — Ela balança a cabeça triunfante.

— Fácil? Aposto que ela acha que sou louco. — Suspiro, apoiando o celular na coxa.

Anahí segura minhas mãos e me faz olhá-la nos olhos.

— Kill, foi só o primeiro teste. — Ela acaricia meu rosto, e eu fecho os olhos com seu toque. — Não se cobre tanto. Vamos respeitar seus limites.

— Tudo bem. — Tento sorrir, mesmo envergonhado.

— Agora precisamos buscar essa pizza. E eu vou junto, caso alguma mulher fique de olho em você — Ela aperta minhas bochechas, rindo.

— Como se alguém fosse olhar para mim. — Solto uma risada abafada. — Você foi a primeira a me enxergar, Ana.

— Você realmente não sabe o poder que tem, Kill. — Ela acaricia meu rosto, e eu abro um sorriso tímido. — Você chama atenção por onde passa.

Anahí beija minha testa antes de se levantar.

— E agora? — pergunto, levantando as mãos em rendição.

— Vamos treinar seu caminhar. — Ela segura meu queixo, erguendo minha cabeça. — Postura, ombros para trás, cabeça erguida.

— Vão achar que sou esnobe.

— Eu sou a professora aqui. — Ela arruma minha postura com firmeza. — Nada de cabeça baixa.

Respiro fundo, desconfortável.

— Não precisa levantar tanto a cabeça. — Ela sobe no sofá e ajusta meu ângulo. — E não estufe tanto o peito.

— Nossa, é difícil ser descontraído. — Murmuro, e ela beija minha bochecha, pulando do sofá — Esse beijo foi um bom incentivo.

— Concentração, neguinho. — Ela aponta para mim com um sorriso decidido. — Ande como se fosse dono do mundo. Sorria só para os íntimos e acene com a cabeça para o restante.

Caminho pela sala tentando seguir todas as instruções da Anahí: ombros para trás, cabeça erguida, sorriso controlado. O problema é que me sinto um completo idiota. Minhas pernas estão rígidas, como se eu estivesse marchando para uma inspeção militar.

— Meu Deus, Killian! — Anahí explode em risada, se jogando de costas no sofá. — Não precisa andar com as pernas travadas!

Solto um suspiro frustrado e paro, passando a mão pelo rosto.

— Isso é humilhante... — resmungo, antes de me jogar na poltrona ao lado.

Anahí ainda está rindo, os ombros sacudindo. Quando finalmente se acalma, levanta-se e vem até mim, sentando no meu colo sem cerimônia.

— Você gosta de torturar seus alunos, não é? — brinco, deslizando minha mão pelos cabelos dela.

— Só os especiais. — Ela sorri, ajeitando os fios atrás da orelha.

— Sou um aluno desastrado... vai precisar ter muita paciência comigo.

Anahí inclina o rosto e beija meu queixo suavemente. O toque dela é leve, mas me desarma por completo.

— Não tem problema — diz entrelaçando os dedos nos meus. — Eu gosto de alunos trabalhosos.

Sorrio de canto, sentindo o peso da tensão esvair-se. Ela sempre tem esse efeito em mim, transformando meus momentos de desconforto em algo quase... leve.

Após dar o tempo necessário para buscar a pizza, Anahí e eu nos dirigimos até a pizzaria, que fica a cerca de quinze minutos de casa. Ao descer do carro, sinto uma leve ansiedade e meu coração acelera.

— Vamos lá — murmuro, enquanto Anahí segura meu braço e caminhamos juntos até a entrada do lugar.

O cheiro de massa assando e molho de tomate fresco invade o ambiente, preenchendo cada canto. Respiro fundo, apreciando o aroma delicioso.

— Boa noite, em que posso ajudar? — pergunta a atendente, com um sorriso simpático, dividindo o olhar entre mim e Anahí.

Não posso gaguejar agora. Preciso me manter firme. São apenas algumas palavras, não é como se eu estivesse sendo interrogado por um crime que cometi. Vamos, Killian, diga algo. Abra essa maldita boca e fale.

— Kiil — Anahí me chama, fazendo-me piscar várias vezes, saindo dos meus devaneios. — Responda, querido.

Respiro fundo, enfrentando o olhar impaciente da atendente, o que só piora minha ansiedade. Minhas mãos suam, e sinto gotas de suor se formarem na testa.

— E…eu vim buscar a pizza que encomendei — digo, tentando soar natural, embora a gagueira inicial me denuncie. A mulher assente, com um sorriso amarelo.

— Ok, vou buscar — responde, antes de se afastar.

Anahí se coloca na minha frente, batendo palmas animadamente.

— Você conseguiu! — diz, apontando para mim com um sorriso radiante. Sinto o alívio inundar meu peito.

— Você foi incrível, neguinho — Me inclino, e ela me dá um selinho rápido.

Pegamos a pizza e, antes de sair, ainda consigo agradecer à atendente sem gaguejar, mesmo que meu coração ainda esteja um pouco aflito.

A viagem de volta para casa é tranquila. O aroma da pizza recém-saída do forno preenche o interior do carro, e Anahí canta baixinho uma música antiga que toca no rádio. Eu a observo de canto de olho, achando graça do entusiasmo dela.

Ao chegarmos, entramos pelo portão lateral e seguimos direto para o jardim. A noite está fresca, e a brisa suave faz as folhas da enorme árvore balançarem levemente. Caminhamos até a pequena mesa de piquenique que fica sob a árvore, iluminada por grandes luminárias fixadas no chão.

— Aqui é o melhor lugar para comer pizza — Anahí comenta, colocando a caixa sobre a mesa.

— Concordo — digo, sorrindo, enquanto abro a caixa e pego uma fatia.

Comemos enquanto conversamos sobre assuntos banais. Ela me conta histórias constrangedoras da escola, detalhando cada situação com entusiasmo. As risadas fluem naturalmente, leves, preenchendo a noite tranquila.

— Eu definitivamente ganhei a aposta da história mais vergonhosa — ela afirma, vitoriosa, limpando a boca com um guardanapo.

— Tenho que concordar — rio, sentindo meu corpo relaxar ainda mais.

Por um momento, ficamos em silêncio, apenas ouvindo o farfalhar das folhas ao nosso redor. Então, Anahí inclina a cabeça para mim, com aquele olhar curioso que conheço bem.

— O que aconteceu para você ser tão introvertido? — pergunta, sem rodeios.

A pergunta me pega de surpresa. Limpo as mãos com o guardanapo e encaro a mesa por alguns segundos, buscando uma resposta que não destrua o clima descontraído entre nós.

— Meus pais costumavam exigir demais de uma criança que mal sabia conversar — começo, tentando manter a voz firme. — Quando as coisas não saíam como eles queriam, descontavam as frustrações em mim.

Ela franze o cenho, mas permanece em silêncio, me ouvindo.

— Quando brigavam, eles gritavam aos quatro ventos que, se se separassem, nenhum dos dois iria querer ficar comigo.

Sinto a mão dela pousar sobre a minha, quente e acolhedora.

— Cresci pensando que, se eu ficasse invisível, não teriam motivos para me humilhar. E se nem meus pais gostavam de mim, por que outras pessoas gostariam? Preferi me esconder a ser ainda mais humilhado.

Anahí respira fundo e aperta minha mão com firmeza.

— Você não precisa se esconder de mim, Killian — diz suavemente. — Eu gosto de você exatamente como você é.

Meu peito aperta com a sinceridade das palavras dela. Inclino a cabeça, encostando minha testa na dela, deixando o momento falar por nós.

— Obrigado por isso — sussurro, sentindo algo dentro de mim se libertar — E obrigada por não ter fugido no dia do nosso casamento.

— Eu pensei bastante nessa possibilidade — Diz com ar de riso e a sigo rindo da sua ideia maluca.

Ficamos ali, em silêncio confortável, sob a luz suave das luminárias, onde o mundo parece, por um instante, perfeito.

(...)

— Elliot? — chamo pelo meu amigo, que caminha pelos corredores do clube com óculos escuros. — Elliot!

Acelero o passo até ele, mas ele continua andando sem olhar para trás. Seguro seu ombro, forçando-o a se virar. Ele abre os braços dramaticamente.

— Ah, lembrou que tem amigo? — cruza os braços e desvia o olhar, teatral. — Mas agora não sei se quero ser seu amigo. Com licença, senhor Beaumont.

— Elliot, preciso da sua ajuda. — Ele tira os óculos e me encara, franzindo o cenho. — É importante.

— Você está estranho. — Segura meu rosto entre as mãos, analisando meus olhos com seriedade. — Geralmente sou eu quem precisa da sua ajuda. Você é o cara que resolve tudo sozinho. Bem... quase tudo.

— Quero comprar um presente para Anahí, mas não sei o que comprar. — Seguro seu ombro e o balanço levemente de um lado para o outro. — Me ajuda.

— Tudo bem. — Ele suspira, fingindo tédio. — Mesmo eu não sendo fã daquela furacão Karina.

— Já disse que você é o melhor amigo do mundo? — pergunto, divertido. Ele revira os olhos, mas passa a mão pelo cabelo com um sorriso exibido — Quais as sugestões?

— Vamos sentar. Preciso tomar algo para liberar minha genialidade. Concordo e o puxo em direção ao bar do clube.

Assim que entramos, aceno para o garçom. Elliot pede um whisky com gelo, enquanto eu opto por um suco natural de abacaxi. 

Elliot batuca os dedos na mesa, o olhar perdido em pensamentos.

— Jóias. — Ele sugere, levantando uma sobrancelha. — Compre uma joia.

— Ela já tem muitas. — Balanço a cabeça. — E eu já fiz isso antes.

Ele suspira, volta a bater os dedos na mesa e, de repente, estala os dedos como se tivesse tido uma ideia brilhante. Aponta para mim com entusiasmo.

— Já sei! Você pode dar um carro a ela, já que está sem — Estalo a língua no céu da boca.

— Nossa garagem já está cheia.

— Porra, ela tem tudo! — Ele joga o corpo para trás na cadeira. — Qual presente faria ela flutuar de emoção?

Elliot trava, os olhos arregalados. Em seguida, abre um sorriso enorme. Franzo o cenho, confuso.

— O que foi? — Ele estala os dedos, animado.

— Flutuar, entendeu? — diz como se fosse óbvio, batendo uma palma. — Um barco com o nome dela gravado! — Reviro os olhos e suspiro, desanimado — O que foi? Não gostou? É genial, Killian!

Nego com a cabeça, e nossos pedidos chegam.

— Obrigado — Agradecemos ao garçom, que assente e se afasta. Tomo um gole do meu suco, ainda pensando no presente ideal.

— O nome dela podia ser pintado à mão, por algum pintor famoso. — Elliot completa, depois de dar um gole no whisky.

Uma ideia se acende na minha mente. Estalo os dedos, empolgado.

— Um estúdio de pintura. — Sorrio. — Ela só precisa de um empurrão para trabalhar com o que ama.

— O quê? — Elliot pergunta, confuso, enquanto me levanto da cadeira. — Ei, vai me abandonar outra vez?

— Desculpa, amigo, mas no momento minha esposa é mais importante — Aceno para ele e caminho em direção à saída.

Esse será o incentivo perfeito para Anahí começar seu próprio estúdio de pintura. Quem sabe até fazer uma exposição.

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