CAPÍTULO 12 ✨
Que saco! Eu me sinto uma inútil aqui na StreamAura. Entre meus irmãos, sou quem ocupa o cargo mais insignificante, mesmo que ainda seja considerado alto. Tá, eu admito que falto bastante, mas isso não significa que eu não queira dar ordens também.
- Pode entrar - murmuro quando ouço batidas na porta. Logo, um pigarreio se faz presente, indicando que a porta foi fechada.
Tiro minha máscara de dormir e, ao ver meu avô e Levi juntos, não consigo evitar um sorriso. Rapidamente, tiro os pés da mesa e escondo o cobertor embaixo dela, tentando disfarçar minha preguiça.
- Querida - meu avô balança a cabeça em reprovação -, você poderia ao menos se esforçar mais para disfarçar.
- Não dormi bem à noite, vovô - faço um biquinho, tentando apelar para sua compaixão. Ele se aproxima com Levi, que claramente está segurando uma risada. - Estou tão cansada...
- Pode ser gravidez - Levi sugere com um sorriso sarcástico que só ele sabe fazer. Juro que o mataria por isso.
- Eu não sabia que você e o Killian já estavam... - Meu avô gesticula com as mãos, o rosto vermelho como um tomate.
- O quê? Claro que não! Eu e o Killian nunca vamos fazer atos libidinosos, querido vovô - afirmo, pegando minha lixa de unha e apontando para os dois, indignada.
Meu irmão ri, satisfeito com a confusão que criou, enquanto meu avô apenas suspira, provavelmente tentando entender como esse assunto começou.
- Voltando ao assunto principal. - Meu avô se aproxima, puxa a cadeira em frente à minha mesa e se senta. - Vim pessoalmente lhe dar uma notícia.
Levanto imediatamente, batendo palmas com animação. Provavelmente é um carro novo, já que estou usando o carro reserva da Maelle, desde que meu avô confiscou todos os meus bebês.
- UM CARRO! - Dou alguns pulinhos animados, enquanto Levi balança a cabeça em negação. Olho para o meu avô, que apenas nega com um balançar firme de cabeça. - Então... um helicóptero novo?
- Sua demissão - Pisco várias vezes, encarando-o com a boca aberta em um exagerado "O".- Parabéns, Anahí. Você foi demitida.
- O quê?! - Minha voz sai mais alta do que o esperado, justo quando as funcionárias da limpeza abrem a porta da minha sala. - Mas, vovô, eu sou sua neta!
- Ah, querida, claro que é. Mas isso não me faz cego para o péssimo trabalho que você está fazendo - Bato o pé no chão, sentindo a indignação subir por cada célula do meu corpo.
- Ma... mas eu estou melhorando! Pergunte ao Nicolas! Eu até participei de uma reunião na semana passada!
Meu avô se levanta, impassível, enquanto as funcionárias começam a colocar minhas coisas em caixas de papelão.
- Vovô, eu comecei a ler os documentos da empresa! - Corro de salto atrás dele, que caminha tranquilamente em direção à porta. Passo por Levi, que, claro, está se divertindo com a cena. Belo irmão que eu tenho.
- Não faça isso comigo, vovô! - Dou a volta e paro na frente dele, juntando as mãos em súplica.
- Infelizmente, não posso ignorar sua falta de profissionalismo, Anahí. Isso aqui é uma grande empresa. Não posso fazer vista grossa só porque você é minha neta.
- Mas o senhor sempre fez! Por que está abrindo os olhos justo agora? - Cruzo os braços e bufo, irritada. - O senhor não gosta de mim, né? Eu sempre soube disso!
- Não comece com o drama agora, Anahí. - Ele tenta passar por mim, mas sinto as mãos começarem a suar de tanta raiva.
- Não é drama! - Disparo, obrigando-o a parar. - Eu não quero ficar desempregada, vovô... - Choramingo, mas ele apenas suspira e se aproxima novamente.
- Anahí, está na hora de você parar de trabalhar em algo que não gosta. Procure algo que não te faça dormir no meio do expediente. - Ele aponta para a cadeira atrás de mim, e eu faço um biquinho. - A StreamAura não é o seu sonho, e você sabe disso.
- Que saco! - Passo por ele, indo em direção ao corredor que leva ao elevador.
Entro no elevador com passos pesados, sentindo cada batida do salto ecoar como um tambor no corredor vazio. Aperto o botão do térreo com tanta força que quase parece que quero esmagá-lo. Como se isso não fosse suficiente, continuo apertando o botão repetidamente, sem paciência para esperar as portas se fecharem.
- Vamos, vamos, vamos! - resmungo, frustrada, enquanto aperto o botão de novo.
Finalmente, as portas se fecham. Assim que estou sozinha, grito, inclinando o corpo para frente e batendo os pés no chão como uma criança birrenta.
- QUE INFERNO! - Meu grito ecoa no pequeno espaço.
Respiro fundo, tentando me acalmar, mas é inútil. Passo as mãos pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais, enquanto meu coração parece bater no ritmo do caos dentro de mim.
Eu não sei fazer outra coisa... Eu nem sabia fazer o que já fazia aqui! O pensamento me atinge como um soco, roubando o ar dos meus pulmões.
Encosto as costas na parede fria do elevador, sentindo o metal gelado me trazer uma gota de lucidez. Tudo bem, Anahí, você foi um desastre como funcionária. O cargo que meu avô me deu era mais simbólico do que prático, e, mesmo assim, eu não conseguia dar conta.
Mas será que ele precisava me humilhar assim? Me demitir na frente do Levi? E aquelas funcionárias da limpeza?! Será que agora toda a empresa vai rir de mim?
Cruzo os braços, mordendo o lábio inferior enquanto sinto a pressão de lágrimas vindo.
Se nem na StreamAura eu consegui me sair bem, onde mais eu vou conseguir um emprego? Meu avô está certo... Eu não tinha paixão por isso. Mas então, o que eu realmente quero fazer?
Aperto os olhos, tentando segurar o choro. A verdade é que eu não tenho ideia.
Saio do elevador com passos firmes, quase como se cada pisada pudesse esmagar a frustração que sinto. O hall da empresa passa como um borrão diante de mim, mas não me importo com os olhares curiosos. Meu único objetivo é chegar ao estacionamento, onde posso finalmente respirar longe desse caos.
Ao cruzar o espaço vazio do estacionamento, percebo, com um frio na espinha, que não tenho as chaves do carro. Minha bolsa? Ficou em algum lugar na sala. Meu celular? Provavelmente abandonado na mesa. Eu saí às pressas, deixando tudo para trás, incluindo a última centelha de dignidade que ainda tinha.
- Que droga de dia. - Chuto a porta do carro, mas acabo me desequilibrando e caindo de bunda no chão. - Merda.
Fico ali, sentada no chão frio, tentando respirar fundo enquanto a raiva e o cansaço me consomem. Então, ouço passos se aproximando, e, antes mesmo de levantar o olhar, reconheço a presença de Killian. Ele está à minha frente, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça e aquele olhar confuso e tímido que parece ser sua marca registrada.
- Você não parece bem.
- Não me diga. - Reviro os olhos e apoio as mãos no chão para tentar me levantar. Antes que consiga, sinto duas mãos firmes envolvendo meus braços e me puxando para cima.
Killian me coloca de pé com tanta facilidade que fico imóvel por um instante, encarando-o em puro espanto. Como ele fez isso? Foi como se eu não pesasse absolutamente nada.
- O que aconteceu? Você parece brava e triste.
Me encosto no capô do carro, soltando um suspiro pesado, e passo a mão pelos cabelos, jogando-os para trás.
- Meu próprio avô me demitiu. - A verdade escapa dos meus lábios, e vejo a surpresa estampada no rosto de Killian. - É, senhor Beaumont, até mesmo os familiares lhe abandonam.
- Você quer ir pra casa? - Killian pergunta, e eu confirmo com um aceno de cabeça - Vamos, estou de carro. - Ele faz um gesto para que eu passe à frente.
Caminho alguns passos e vejo um carro esportivo acender os farois. É claro que é dele. Me aproximo devagar, abro a porta e entro, afundando no banco de couro macio. Coloco o cinto antes que Killian tenha a chance de começar seu famoso discurso sobre segurança.
- O que aconteceu para você ser demitida? - Ele pergunta enquanto liga o motor. - Ou foi só um corte de custos?
- Foi crueldade. - Respondo, batendo com a unha no painel em um gesto nervoso. - Crueldade do meu próprio avô. Eu não sei como vou pagar minhas contas, meus cartões de crédito... Como vou pagar as faturas?
Apoio as mãos na testa, frustrada, e deixo escapar um choramingo. O som abafado de uma risada ao meu lado me faz erguer os olhos, encarando Killian, que está focado na estrada, mas claramente se divertindo às minhas custas.
- Por que está rindo? - Pergunto, piscando algumas vezes, sem entender. - Qual é a graça?
- Anahí, quem paga seus cartões é o seu avô - Abro a boca para rebater, mas nada sai. Ele está certo. Meu avô sempre pagou tudo.
- Ninguém me entende. - Cruzo os braços, irritada, e volto a olhar pela janela. - Ninguém gosta de mim. Eu devo ter cometido pecados horríveis na minha vida passada.
- Você é sempre tão dramática assim? - Killian pergunta, e meu queixo cai em indignação.
- Eu...
- Você deve ter economias guardadas. E, sem esquecer, você é casada comigo. Eu posso muito bem pagar suas contas sem problema algum.
- Nem mesmo você me entende, Beaumont. Estou cercada pelos meus odiadores! - Balanço a cabeça em negação e fecho os olhos, soltando mais um choramingo. - Isso é uma lástima.
(...)
Seguro o pincel com delicadeza, passando-o pela tela branca à minha frente. Traço linhas que surgem na minha mente, quase como se fossem guias invisíveis para o que quero criar. Misturo as tintas com calma, explorando novas cores e dando vida ao quadro com pinceladas suaves e cuidadosas.
Passei a tarde inteira no meu pequeno estúdio de pintura, escondido no sótão da casa. Antes, pintar era um passatempo leve, uma diversão inocente. Depois do acidente dos meus pais, tornou-se algo completamente diferente. Pinto por desespero, por saudade, por tristeza. Acho que já terminei uns cinquenta quadros, quase todos são homenagens a eles, aos bons momentos que vivemos, à dor de perdê-los cedo demais.
Nunca vou esquecer o choro do meu avô no dia do acidente. Perder um filho deve ser devastador, ainda mais sabendo que ficaria com quatro netos para criar sozinho. Naquela época, eu tinha apenas doze anos. Foi como se alguém tivesse arrancado meu coração e o deixado vazio para sempre.
Eles estavam voltando de uma pequena viagem. Chovia muito. Um barranco deslizou e desabou sobre o carro, soterrando-os. O que me dói mais é saber que eles sofreram para morrer, presos e sufocados, sem que ninguém pudesse ajudá-los.
Meus pais eram pessoas bondosas, sempre dedicados e amorosos. Não mereciam um fim tão cruel. Quando recebi a notícia, fiquei em choque. Nícolas, por outro lado, perdeu o controle, quebrando tudo ao nosso redor. Ele era o mais próximo do papai, sempre orgulhoso em dizer que era seu melhor amigo. Levi se isolou no quarto, recusando-se a ir ao velório. E Maelle... Maelle chorava sem parar, agarrada ao vovô como se ele fosse sua última âncora.
Aquele foi o pior dia da minha vida. Tenho certeza de que também foi para os meus irmãos. Éramos uma família feliz, completa. E, em uma única noite chuvosa, tudo acabou. Como num passe de mágica, mas sem encanto algum. Apenas dor.
Me afasto, olhando a pintura que ainda não terminei. Na tela, um carro está meio soterrado ao fundo, com os faróis ainda ligados, iluminando a chuva pesada que cai, formando linhas tortas, como se fossem lágrimas. As gotas escorrem pela lataria amassada e pelas janelas, misturando com o resto do cenário.
Na frente, uma pessoa de costas, usando um casaco escuro, olha para o carro. Os ombros estão caídos, carregando uma tristeza que dá pra sentir só de olhar. O céu é cinza e pesado, e as árvores ao redor estão sem folhas, parecendo tão vazias quanto a cena toda.
A pintura está incompleta, com pinceladas soltas e partes borradas, como memórias que aparecem e desaparecem. Parece que o momento está preso ali, naquele pedaço de tela, sem nunca acabar.
Respiro fundo, me levanto do pequeno banco e apoio o pincel sobre a mesinha. Limpo a tinta nos dedos com um pano já manchado de cores. Retiro o avental, todo sujo de tinta, e o penduro em um gancho.
- Termino você depois. - Me alongo, sentindo o corpo pedir um bom banho e o estômago gritar por comida. Acabei me esquecendo de comer.
Saio do sótão e desço as escadas de madeira que dão acesso ao corredor, que conecta a sala de jantar à cozinha. Ao entrar na cozinha, tudo está no lugar. Abro a geladeira e pego uma jarra de suco de uva, depois me abaixo para pegar um pedaço de bolo de chocolate.
Coloco tudo sobre a ilha da cozinha e vou até o armário pegar os talheres. Quando me viro para a ilha, me assusto ao ver o Killian ali.
- Porra, você está em todo lugar! - Coloco a mão no peito, ainda me recuperando do susto. - Assovia quando estiver chegando.
- Não almoçou e vai comer bolo de chocolate? - Ele pergunta, com a sobrancelha arqueada. - Isso vai te fazer mal.
- Eu não sei cozinhar, e não vou incomodar as meninas que trabalham aqui. - Dou de ombros, corto um pedaço generoso de bolo e coloco no prato. - Aceita um pedaço?
- Não, obrigado. - Ele nega e se senta. Faço o mesmo - A Prime Home Realty, a empresa de imóveis da minha família, vai dar uma festa em comemoração ao aniversário da empresa.
- Eu amo festas! - Batuco minhas mãos sobre a ilha. - Quando vai ser? Preciso mandar fazer um vestido.
- Em duas semanas. - Concordo, tomando um gole do suco. - Está animada para uma festa de empresa?
- São as melhores! - Pisco para ele, que desvia o olhar. Me concentro no delicioso bolo, lambendo a colher suja de chocolate e limpando os cantos da boca onde o chocolate escorre.
Ouço o Killian soltar um murmuro e, em seguida, sair da cozinha sem dizer mais nada. Fico olhando para a porta e balanço a cabeça em negação.
- Bipolar... - Murmuro, e volto a devorar meu bolo. Estou morrendo de fome.
🌟 Boa tarde meus amores 💙
🌟 Será por que o Killian saiu assim da cozinha?
🌟 Anahí sendo demitida, a bichinha não tem um dia de paz ksksk
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