CAPÍTULO 08 ✨
(DOIS DIAS DEPOIS)
- Eu não acredito - murmuro, meus olhos fixos na mesa impecavelmente posta no jardim da casa do meu avô.
- Você é insuportável - Elliot resmunga ao meu lado. - Sua despedida de solteiro vai ser... um jantar no jardim do seu avô. Que emocionante.
Eu me viro para encará-lo, percebendo seus braços cruzados e o semblante cheio de julgamento.
- Melhor que uma balada barulhenta, não acha? - pergunto com sarcasmo, sabendo que ele preferiria mil vezes estar em uma boate.
- Prefiro nem responder - ele rebate, descendo os degraus em direção à mesa. - Ah, eu convidei seus dois cunhados.
- E eles vão vir? - pergunto, enquanto o acompanho, ainda admirado com a elegância simples da mesa.
- Claro que sim. Eles querem te agradar. - Ele ergue as sobrancelhas de forma teatral antes de se sentar. - Inclusive, eu gosto deles.
- Eu também. Não são bajuladores. - Sento-me à mesa, relaxando ao perceber a tranquilidade do ambiente. - Não querem nada em troca.
- Exatamente. - Elliot concorda enquanto pega a garrafa de vinho no balde de gelo. - Mas eu odeio abrir garrafas de vinho.
- Você odeia muitas coisas - comento, tamborilando os dedos na superfície da mesa de madeira. - Acho que hoje vou tomar um gole desse vinho.
- Tem certeza? - Ele me encara, segurando a garrafa com hesitação. - Não se sinta pressionado a beber.
- Não é isso... - respiro fundo, passando a mão pelos cabelos. - Só quero experimentar pelo menos um vinho antes de me casar.
- Tudo bem. - Ele dá de ombros, mas sinaliza para um dos seguranças que patrulham o jardim. - Chame as meninas para abrirem essa garrafa.
O segurança acena e leva a garrafa em direção à entrada lateral da casa, que dá acesso à cozinha.
Poucos minutos depois, ouço vozes graves e risadas vindo da entrada principal. Me viro para ver Nicolas e Levi, meus futuros cunhados, caminhando em nossa direção com passos firmes. Elliot e eu nos levantamos para cumprimentá-los.
- Killian - Nicolas diz, apertando minha mão com força e um sorriso fácil no rosto. Levi repete o gesto, mais discreto, mas igualmente cordial.
- Obrigado por virem - digo, tentando parecer mais à vontade do que realmente estou.
- Claro, não podíamos faltar - Levi responde. - Afinal, estamos falando do futuro marido da nossa irmã.
Elliot ri baixo, me lançando um olhar divertido antes de apertar a mão dos dois.
- Vamos nos sentar - sugere Nicolas, puxando uma cadeira.
Nós quatro nos acomodamos ao redor da mesa, o ambiente iluminado pelas luzes amareladas que pendem sobre o jardim.
- Então, Killian - começa Levi, inclinando-se ligeiramente para frente. - Como está se sentindo com o casamento chegando?
Sinto meu corpo tenso por um instante, mas respiro fundo e busco uma resposta.
- Bem, eu acho - respondo, tentando soar seguro. - É tudo muito... rápido, mas estou me adaptando.
- Isso é verdade - Nicolas concorda, pegando um dos copos dispostos na mesa. - Mas nossa irmã é uma mulher incrível. Tenho certeza de que vocês vão se dar bem.
- É claro que vão - Elliot intervém, com um sorriso malicioso. - Killian é só um pouco... reservado. Mas no fundo, ele tem seu charme.
Os três riem, e eu consigo forçar um sorriso, embora ainda me sinta um pouco deslocado.
- Falando sério - Levi continua. - Sei que esse casamento foi arranjado, mas nossa família tem boas expectativas. E, acima de tudo, queremos que nossa irmã seja feliz.
- Eu também quero isso - respondo, sincero. - Pode não ser uma escolha tradicional, mas vou fazer o meu melhor.
Nesse momento, a empregada retorna com a garrafa de vinho aberta e começa a servir cada um de nós.
- E aqui está o momento que todos esperávamos - Elliot diz, levantando a taça com entusiasmo.
Eu seguro a minha, hesitante, mas Elliot me encoraja com um aceno de cabeça.
- Não precisa beber muito. Apenas aproveite.
Dou um pequeno gole, deixando o sabor seco e encorpado do vinho se espalhar pela boca. Não é tão ruim quanto imaginei.
- E aí? - Levi pergunta. - Gostou?
- É... diferente - admito, e os três riem.
O clima se torna mais leve depois disso. O assunto muda para histórias engraçadas de infância e do trabalho. Elliot fala sobre um desastre culinário que tentou encobrir no dia anterior, arrancando gargalhadas de todos.
- A irmã da sua namorada é famosa - Elliot comenta, apontando para Nícolas, que apenas confirma com um gesto de cabeça. - Conheci ela em um evento em Nova Iorque. Muito bonita, por sinal.
- Bonita e mau caráter, né? - Levi rebate, com um tom ácido. - Diferente da Killye, é claro.
- Já disse que pode ter sido um erro de comunicação - Nícolas tenta justificar, mas Levi apenas estala a língua no céu da boca, demonstrando impaciência.
- Ela fechou um contrato conosco, recebeu o pagamento e não apareceu. Tinha fãs esperando por ela! - Levi apoia sua taça na mesa com firmeza. - E nunca mais deu qualquer explicação.
- Isso é péssimo. Ela deveria, no mínimo, ter dado uma justificativa - me intrometo, incapaz de esconder o desdém por atitudes como essa. Odeio pessoas sem caráter. - Sua namorada sabe disso?
- Claro que não. Para a Killye, a irmã é um anjo. Jamais aceitaria que alguém dissesse algo negativo sobre ela - Nícolas gesticula com as mãos, parecendo cansado da situação. Concordo com um aceno lento.
- Situação complicada - comento, tomando um gole do vinho e sentindo o sabor seco e encorpado invadir meu paladar. - Mas acho que você deveria contar.
- Quem sabe um dia... - Nícolas dá de ombros, claramente desconfortável com o assunto.
- Um brinde às caloteiras! - Elliot ergue a taça com um sorriso debochado.
- Vocês dois são insuportáveis - Nícolas resmunga, dividindo o olhar entre Levi e Elliot, enquanto revira os olhos.
O riso deles ecoa pelo jardim, leve e descontraído, misturando-se ao som suave das folhas balançando ao vento.
Pego a garrafa de vinho sobre a mesa e sirvo mais um pouco na minha taça, observando o líquido rubi escorrer com elegância. O ambiente está leve, cheio de risadas, mas logo o som de passos firmes chama minha atenção. Ergo o olhar e vejo meu avô chegando ao lado do avô de Nícolas e Levi.
- Ora, parece que a festa está boa por aqui - diz meu avô, com um sorriso caloroso, enquanto se aproxima da mesa.
- Bem-vindos, senhores! - Nícolas se levanta imediatamente, com um sorriso despojado - Por favor, sentem-se.
- Não comece Nicolas - Oliver Monteverdi repreende o neto que faz uma reverência em tom brincalhão - Esses meus netos não cansam de me fazer passar vergonha.
- Desculpe me vossa majestade - Não seguro a risada quando o senhor Monteverdi puxa o neto pela gola da camisa - Tabom vô, não precisa me amassar.
- Não tem nada de errado em brincar - Meu avô dá risada assim como todos presentes.
Os dois se acomodam com tranquilidade, nas cadeiras vazias em volta da mesa. Elliot não perde tempo e enche as taças deles com o mesmo vinho que estamos bebendo.
- Vocês vão gostar. Esse é um dos melhores da adega - ele comenta, num tom brincalhão, enquanto Levi apenas sorri de canto, apreciando a cena.
- Espero que seja mesmo - o senhor Monteverdi brinca, com um tom brincalhão que faz Elliot apoiar a mão no peito.
Enquanto os pratos chegam à mesa, a conversa flui naturalmente. Risadas ecoam pelo jardim, histórias de outros tempos surgem. Dou pequenos goles no meu vinho e sinto o calor subir pelo meu rosto.
- E você, Killian? - a voz firme do meu avô corta a conversa, chamando toda a atenção para mim. - Está bebendo, é?
Congelo por um segundo e baixo o olhar para a minha taça, antes de encará-lo novamente. Sigo a taça pela borda com os dedos, tentando não parecer tão nervoso.
- Só um pouco, vô - respondo, com um sorriso amarelo. Ele estreita os olhos, mas acaba balançando a cabeça, como se estivesse se segurando para não rir.
- Isso é bom! - ele afirma, e eu apenas meneio a cabeça, tentando esconder o sorriso que surge em resposta ao olhar satisfeito que ele me lança.
- Enquanto você incentiva seu neto a beber mais, eu vivo implorando para que os meus parem por um tempo - Oliver Monteverdi comenta, juntando as mãos em um gesto exagerado de súplica.
As risadas ecoam novamente, preenchendo o ambiente com uma leveza descontraída. Levi, sempre imprevisível, decide esvaziar sua taça de vinho de uma só vez, deixando o avô boquiaberto.
- É o nosso dom, vovô - Nícolas brinca, com aquele sorriso travesso de sempre, enquanto o avô dele, horrorizado, faz o sinal da cruz três vezes seguidas, como se estivesse tentando afastar algum tipo de maldição.
- Não posso ficar bêbada - tampo minha boca com a mão quando Killye estende um copo de shot na minha direção. - Amanhã não posso ter ressaca.
- E você não vai - ela responde, balançando a cabeça como se tivesse total certeza disso. Suspiro, pego o pequeno copo e viro a bebida de uma vez.
- ISSO! Agora vamos! - Killye grita, animada, já puxando outra amiga para o embalo da noite.
- Isso é álcool puro? - pergunto, fazendo uma careta enquanto sinto a bebida queimar a garganta. Maelle ri da minha reação, mas logo se afasta quando uma música dançante começa a ecoar pelo bar.
- Vamos dançar! - Harper praticamente salta para cima de Killye, ambas já correndo para a pista.
Sou a única que continua sóbria, então permaneço sentada ao redor da mesa, observando as três dançarem como se não houvesse amanhã.
Bato palmas devagar, acompanhando o ritmo da música, enquanto dou um pequeno gole no meu whisky. O líquido desce quente, suave, e eu sinto o conforto da bebida enquanto observo as três na pista.
Killye, Maelle e Harper se movem com tanta confiança que é impossível não notar como chamam a atenção de quase todos no bar. Cada passo delas parece calculado para provocar sorrisos e olhares admirados.
Um sorriso surge no meu rosto sem que eu perceba. Elas estão radiantes, dançando com uma energia que contagia o ambiente. Então, de repente, Maelle e Killye acenam para mim, insistindo para que eu me junte a elas.
- Anda, Anahí! - Killye grita, enquanto gira no ritmo da música, o cabelo acompanhando o movimento.
Harper faz um sinal exagerado com as mãos, me chamando enquanto balança os quadris de forma provocativa. Não é surpresa que quase todos os olhares masculinos estejam fixos nelas.
Dou um riso baixo, ainda segurando a taça de whisky, e balanço a cabeça.
- Vou ficar aqui mesmo! - respondo alto o suficiente para que elas me ouçam.
Mas Killye não parece disposta a aceitar um "não". Ela aponta para mim com determinação, e, antes que eu perceba, começa a caminhar em minha direção com um olhar desafiador.
- Se você acha que vai escapar dessa pista, está muito enganada! - ela declara, estendendo a mão na minha direção. Sorrio e sem hesitar, a pego. Ela puxa-me para o centro da pista de dança, onde Maelle e Harper já estão me esperando, com olhares cheios de expectativa. Elas formam uma rodinha ao nosso redor, e logo sou inserida no meio da dança.
A princípio, fico um pouco hesitante, tentando me ajustar ao ritmo delas, mas logo a música começa a me envolver. Sinto o corpo relaxando, os movimentos se tornando mais naturais. Cada batida da música parece liberar qualquer tensão que eu ainda possa ter, e, depois de alguns minutos, estou completamente entregue à dança.
Surpreendentemente, não preciso de álcool para me soltar. Estou dançando como elas, com confiança e um sorriso no rosto, sentindo uma liberdade que há muito tempo não experimentava. O fato de estar me divertindo sem uma gota de bebida me faz perceber o quanto posso me divertir de uma maneira mais sóbria e responsável.
As risadas e gritos de empolgação das minhas amigas se misturam com a música, e, por um instante, o bar inteiro parece desaparecer. O único foco agora é a nossas danças e a sensação de estar completamente presente, aproveitando aquele momento ao máximo.
E, por mais estranho que pareça, me sinto bem. Eu não precisei de álcool para estar no auge da diversão.
- Eu te amo! - Harper abre os braços e me abraça, apoiando a cabeça no meu ombro. - E eu espero que você seja feliz, mesmo que se case.
- Eu também te amo, maluca. - Ela dá alguns pulinhos agarrada a mim, e eu rio quando Killye e Maelle se juntam ao abraço. - Todas vocês.
- NÓS TAMBÉM! - Elas exclamam em coro, me soltando e voltando a dançar animadas. Não consigo deixar de rir, vendo o quão soltinhas elas estão.
Essa noite, eu serei a babá. Isso me coloca em um patamar alto de responsabilidade, algo que eu jamais tive na vida.
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🌟 Beijo e até o próximo.
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