CAPÍTULO 04 ✨
Estou assustado e até mesmo com medo daquela mulher. Ela parece totalmente descontrolada, sem pudor algum. Nunca presenciei tanta falta de educação. Tudo bem que nosso casamento é uma farsa, mas ela poderia ao menos demonstrar um mínimo de respeito por mim. Eu não queria estar preso a essa situação. Sou tão vítima quanto ela, e, mesmo assim, não ajo como um lunático.
— Caralho, você vai casar com aquele furacão? — Elliot aponta para trás de nós enquanto caminhamos em direção à sala de estar.
— Vô — aproximo-me do meu avô, que está de pé ao lado da porta de entrada da sala —, você realmente vai me forçar a casar com aquela mulher?
— Ela é perfeita para você — ele responde, virando-se e segurando meu rosto entre as mãos. — Perfeita, meu neto.
Ele beija minha testa e sai cantarolando, como se estivesse tão bêbado quanto ela. Dou uma olhada para Elliot, que solta uma gargalhada. Balanço a cabeça, incrédulo, e sigo atrás do meu avô.
— O senhor deve estar louco — passo por ele e o encaro, bloqueando sua passagem. — Ela arremessou uma taça na parede, vô! Ela vai me matar.
— Como você é dramático, Killian — ele dá dois tapinhas no meu ombro e passa por mim, ainda cantarolando. — Ela é perfeita para você — repete, subindo as escadas enquanto ri.
— Estou ferrado... Ela vai arrancar minha cabeça no primeiro dia.
Elliot apoia as mãos nos meus ombros, rindo ainda mais. — Para de rir, seu idiota.
— Ela vai virar seu mundo de cabeça para baixo, pode anotar — ele arqueia as sobrancelhas e passa por mim. — Nos vemos amanhã. Boa noite.
— Boa noite — murmuro, deixando meus ombros caírem ao pensar naquela selvagem com quem terei que me casar. — Estou morto.
Subo para o meu quarto. Assim que entro, me sento na cama, soltando um longo suspiro. Retiro o paletó e o jogo no chão. Então, deito de costas e respiro fundo, encarando o teto.
Eu me reviro na cama, a indignação crescendo dentro de mim. Como vou lidar com uma mulher tão irresponsável? Só hoje ela quebrou uma taça, fez um escândalo… e eu sequer comecei a contar o resto das loucuras.
Penso no sorriso dela, quase debochado, como se não se importasse com nada. Ela é imprevisível, um verdadeiro furacão, e eu sou só… eu. Metódico, quieto, disciplinado. Mas, pelo visto, o destino está decidido a me punir, e não duvido que vou sofrer horrores nesse casamento.
O pior é que minha própria família está contra mim! Meu avô, rindo e me provocando, convencido de que ela é “perfeita” para mim. Elliot rindo mais ainda, como se isso tudo fosse uma grande piada. Claro, eles não precisam viver ao lado dela, não vão precisar encarar os dias de tempestade, os gritos… e seja lá o que mais ela inventar para me atormentar.
Respiro fundo e fecho os olhos, mas tudo o que vejo é o rosto dela, com aquele olhar atrevido. Ela vai fazer da minha vida um verdadeiro caos, sei disso. E, no fundo, tenho um pouco de medo… medo de acabar sendo arrastado por essa loucura.
Eu sei que estou ferrado.
Me levanto da cama, soltando um suspiro longo e pesado. Tudo o que preciso agora é de um banho quente, algo que, pelo menos por alguns minutos, alivie a confusão que ela trouxe para a minha cabeça.
Caminho até o banheiro, tirando a gravata e deixando-a cair no caminho. Abro o chuveiro e deixo a água correr, esperando que o vapor preencha o ambiente antes de entrar debaixo da água.
Assim que a água quente toca meus ombros, sinto um leve alívio. Fecho os olhos, tentando não pensar nela... mas não consigo. Tudo o que eu quero é um pouco de paz, mas mesmo aqui, no silêncio do banheiro, aquela mulher insiste em ocupar minha mente.
É como se já estivesse me perseguindo. Eu, que sempre soube exatamente o que fazer, estou completamente sem controle agora. Pior ainda, sei que ela vai causar ainda mais problemas. Cada gota que cai sobre mim parece um lembrete de que minha vida tranquila está prestes a virar de cabeça para baixo.
Tento afastar o pensamento, mas ele volta, ela vai bagunçar tudo, e eu já posso sentir que vou perder a cabeça com as loucuras dela.
(...)
Na manhã seguinte, acordo com uma dor latejante na cabeça, como se martelassem minhas têmporas. Me sento na cama, massageando-as em uma tentativa inútil de aliviar a dor. Respiro fundo e, resignado, me levanto e vou até o banheiro, ciente de que minha rotina de exercícios será adiada hoje. Não tenho energia sequer para pensar em academia.
Escovo os dentes, tentando ignorar o cansaço, e ligo o chuveiro para um banho gelado. A água fria escorre pelos meus ombros e costas, despertando meu corpo aos poucos, mas minha mente ainda está imersa no peso da responsabilidade que esse casamento traz.
Saio do banheiro e vou até o closet, escolhendo uma calça de alfaiataria azul-marinho, impecavelmente passada. Visto um suéter branco de tecido leve e confortável, e nos pés calço um par de tênis azul-marinho, combinando com a calça. Coloco uma fina pulseira de ouro puro no pulso, acompanhada por um relógio de design minimalista e uma corrente fina de ouro ao redor do pescoço.
Ao descer para a sala de jantar, sou recebido por um ambiente calmo e silencioso, e começo meu café da manhã em paz. O aroma de café fresco se mistura com o leve perfume de frutas frescas e pães quentes, criando um momento quase perfeito... até que meu avô surge, quebrando a tranquilidade com sua chegada e a de cinco pessoas que o acompanham.
Olho para eles, estranhando a presença daqueles desconhecidos em trajes que mais parecem de um desfile de alta-costura. Dois homens vestem ternos elegantes e bem ajustados, com cortes e detalhes que chamam atenção. As três mulheres, igualmente exageradas, exibem vestidos sofisticados e maquiagem impecável, como se cada traço do rosto tivesse sido planejado com cuidado.
Franzo o cenho, mas meu avô rapidamente chama minha atenção.
— Killian, essa é a equipe que está organizando seu casamento. Eles vieram te fazer algumas perguntas.
Seguro um suspiro de tédio, limpando a boca com o guardanapo e respirando fundo. Percebo o olhar repreensivo de meu avô, e me vejo sem escolha a não ser ceder. Levanto-me e os acompanho até a sala de estar, onde me sento em uma poltrona, ainda pouco à vontade.
O líder da equipe, um homem de olhar perspicaz e sorriso controlado, começa com perguntas sobre os meus gostos para a cerimônia. A princípio, penso em dar respostas evasivas, mas noto a impaciência no rosto de meu avô e resolvo colaborar.
— Minhas flores preferidas são lírios — digo, já sentindo o peso da formalidade. — Minha cor favorita é azul.
Ele anota cada palavra com atenção, enquanto outra integrante da equipe me pergunta sobre música.
— Gosto de músicas clássicas — respondo, visualizando uma cerimônia mais sóbria.
Cada pergunta traz mais certeza de que estou mergulhando em um mundo que nunca imaginei para mim.
Após o interrogatório interminável, observo as cinco pessoas desconhecidas se despedirem e saírem da casa, me deixando a sós com meu avô. Aproveito o silêncio para respirar fundo, tentando assimilar o que acabei de passar, mas ele logo acaba com qualquer alívio ao lançar uma bomba.
— Vamos passar o dia com a família da sua noiva. Convidei todos para o clube — Sinto meus olhos se arregalarem, e viro para ele, atônito. Ele apenas sorri, como se estivesse me dando a melhor notícia do mundo.
— Eu... eu não vou. Tenho muitas coisas para fazer e...
— Já dei uma olhada no seu calendário, neto. Desmarquei tudo por um mês inteiro. Você está de férias — ele anuncia, como se fosse uma grande gentileza.
Fecho os olhos, tentando controlar o impulso de gritar. Tudo dentro de mim quer desistir disso, largar tudo e sumir.
— Querido neto, vamos? O clube fica a poucos minutos daqui, e não queremos deixar nossos familiares esperando — Meu avô se aproxima e bate de leve no meu ombro.
— Era o que me faltava — Murmuro, frustrado.
Ele ignora meu desânimo, levanta-se animado e, no instante seguinte, o celular dele toca. Ele me faz sinal para segui-lo, como se eu já tivesse aceitado sem questionar.
Saímos de casa, e, no caminho, fico em completo silêncio, enquanto ele continua a falar sobre o quanto esse encontro será bom para mim. Tento controlar a ansiedade que começa a se acumular. A ideia de passar o dia cercado de gente, socializando, é um pesadelo. Nunca gostei disso e, agora, me vejo obrigado a encarar uma maratona de interações com pessoas que nem conheço direito.
Respiro fundo, tentando me preparar para o que vem pela frente, já sabendo que será um longo e exaustivo dia.
No carro, meu avô me observa e solta uma frase típica dele.
— Sorria, Killian, você vai se casar com uma mulher linda — Finjo um sorriso que mal passa de uma careta e volto a olhar pela janela.
Minha cabeça já está cansada só de pensar em como será esse dia. Respiro fundo, tentando me acalmar, mas meu avô insiste em continuar:
— Você verá que tudo isso é para o seu bem, Killian. Tudo que faço é por você — Reviro os olhos, incapaz de segurar a irritação.
— Pensando em mim? — rebato. — Você está me forçando a casar com uma mulher de quem eu nem sei o nome — Meu avô se ajeita no assento, e com a voz firme, responde.
— Anahí Monteverdi. Tem 25 anos e é... um pouco maluquinha — Solto uma risada sarcástica e me viro para ele.
— Um pouco? Ela é completamente doida. Você viu o show que ela deu no jantar — Ele apenas balança a cabeça, parecendo se divertir com o meu desespero.
— Exatamente por isso, Killian. Você precisa de alguém assim, que tire você da sua zona de conforto.
— Ela não vai só me tirar da zona de conforto, vô. Ela vai me tirar da órbita inteira! Aquela mulher é completamente descontrolada — Meu avô apenas sorri, parecendo se divertir ainda mais com minha indignação.
— Ah, Killian, é disso que você precisa. Alguém que traga um pouco de cor para essa sua vida tão... previsível — Reviro os olhos, sem paciência para mais essa filosofia dele. Claro, fácil para ele dizer. Ele não vai ter que lidar com os escândalos, as loucuras e a imprevisibilidade de Anahí. O que ele enxerga como "cor" eu vejo como um furacão prestes a varrer minha paz.
— Não sei se consigo ver cor nisso tudo. Só vejo caos — resmungo, voltando a encarar a janela — Mas meu avô ignora minha reclamação e segue em silêncio, com aquele ar satisfeito. E eu, cada vez mais ansioso, começo a me preparar mentalmente para o furacão Anahí Monteverdi, que provavelmente já está armando mais uma das suas.
Ao chegarmos ao clube, passamos direto pela entrada, sem necessidade de apresentações. O lugar, um refúgio luxuoso para poucos, exala sofisticação em cada detalhe. Seguimos por um corredor elegante, com paredes revestidas em mármore claro e decoradas com obras de arte discretas, até a sala de café da manhã, que se abre para uma vista deslumbrante.
O espaço é amplo, banhado pela luz natural que entra pelas enormes janelas de vidro, proporcionando uma visão magnífica de um lago tranquilo logo à frente. Cisnes deslizam pela água de forma serena, criando um contraste perfeito com o verde das árvores ao redor. A elegância do ambiente, com móveis de madeira escura polida e arranjos de flores frescas em cada mesa, é um cenário digno de uma pintura.
Ao entrar, avisto os Monteverdi reunidos em volta de uma mesa central. Eles conversam animadamente, parecendo completamente à vontade. Olho de relance para cada um, mas minha atenção é imediatamente capturada pela mulher ao centro, Anahí Monteverdi, minha “noiva”. Ela está sentada com uma postura despreocupada, um brilho divertido no olhar, e, para meu completo espanto, ao seu lado, um dálmata ocupa uma cadeira como se fosse mais um convidado.
Sinto meu corpo enrijecer e, num impulso, dou um passo para trás. Cachorro? Não… não pode ser. O instinto de fugir toma conta de mim, mas, antes que consiga, sinto a mão firme do meu avô segurando meu braço. Ele sorri de canto, ignorando minha expressão de pânico, e me arrasta em direção à mesa sem qualquer chance de escapatória.
Minha respiração se acelera enquanto me aproximo, e, mesmo tentando disfarçar, meus olhos vão e voltam para o dálmata, que parece completamente à vontade.
— Um cachorro... — murmuro, e meu avô passa o braço pelos meus ombros, tentando me tranquilizar. — Ela tem um cachorro.
— Acalme-se, Killian — ele pede, enquanto o senhor Monteverdi nos avista. Respiro com dificuldade; eu odeio cachorros. Droga... essa mulher está me torturando. — Bom dia, Monteverdi.
— Bom dia, Beaumont — ele se levanta e nos cumprimenta com um aperto de mão, sorrindo.
— Sinto muito pela confusão de ontem à noite. Anahí estava nervosa e acabou perdendo o controle — ele gesticula com as mãos, visivelmente envergonhado. — Espero que isso não tenha assustado vocês.
Com certeza assustou, penso, mas não sou louco de dizer isso em voz alta. Apenas aceno com a cabeça, e os irmãos da minha noiva também se levantam.
Nícolas, o irmão mais velho da minha noiva, se aproxima e me cumprimenta com um aperto de mão firme.
— Acho que hoje teremos chances de conversar um pouco mais — ele diz, me analisando com um olhar amigável.
Desvio o olhar rapidamente para o cachorro e respiro fundo, tentando manter a compostura. Respondo com um aceno de cabeça discreto, sem confiar na minha voz para soar normal. Em seguida, Levi me estende a mão e o cumprimento também.
— Muito bom ter vocês conosco. E desculpa pelo incidente de ontem — ele diz com um sorriso constrangido.
— Tudo bem, isso é... — começo a responder, mas, no mesmo instante, o dálmata boceja ao meu lado, me fazendo encolher e até prender a respiração por um segundo. Meu avô percebe meu desconforto e estala os dedos na frente do meu rosto, me trazendo de volta à realidade. Balanço a cabeça, tentando disfarçar.
— Aquilo foi passado — concluo rapidamente, meio sem graça.
Então, me viro para Maelle, a outra irmã. Antes que eu consiga dizer qualquer coisa, ela me envolve em um abraço inesperado. Fico rígido, completamente imóvel, sentindo meu rosto aquecer. Quando ela se afasta, me encara com um sorriso simpático, como se eu fosse alguém da família.
— Que ótimo que vieram — Ela diz simpática.
Finalmente, chega o momento de cumprimentar Anahí. Ela se levanta com um ar indiferente, os óculos empoleirados no topo da cabeça, o que dá a ela um toque misterioso. O olhar de tédio que ela me lança me faz ter certeza de que serei odiado durante todo esse casamento. Ela se aproxima e sinto meu corpo encolher instintivamente.
— Oi, noivo — ela diz, parando bem na minha frente e sorrindo.
Engulo em seco, sentindo o nervosismo tomar conta. Nunca estive tão perto de uma mulher como estou agora de Anahí, e isso me deixa desconcertado, sem saber o que fazer ou dizer.
Gaguejo um pouco ao tentar cumprimentar Anahí, cada palavra parecendo mais difícil de pronunciar que a anterior.
— E-eu... é um... prazer... v-ver você... de novo.
Ela levanta uma sobrancelha, mas esconde o riso com um sorriso de canto e, sem dizer nada, estende a mão para mim. Respiro fundo e seguro sua mão, percebendo, para meu horror, que a minha está um pouco trêmula. A mão dela é surpreendentemente quente e macia, o que só piora o meu nervosismo. Depois de um aperto rápido, solto sua mão quase como se tivesse tocado em algo que queima e dou um pigarreio para me recompor.
— Vamos... vamos nos sentar, por favor.
Ela esboça um sorrisinho que me faz pensar que ela está se divertindo com o meu desconforto, e os outros assentem, se ajeitando em volta da mesa. Dou a volta na mesa estrategicamente para ficar longe do dálmata, que, para minha infelicidade, ergue a cabeça me encarando como se soubesse do meu pavor.
Sentado o mais longe possível dele, tento me focar nas conversas ao redor, mas meus olhos, contra a minha vontade, continuam sendo atraídos para o cachorro. Ele está sentado com as patas esticadas, bocejando, como se estivesse relaxado, mas para mim, aquilo parece uma provocação silenciosa. Sinto meu coração acelerar cada vez que ele mexe as orelhas ou dá uma olhada para mim, e tenho certeza de que ele pode sentir o cheiro do meu medo.
— Tudo bem, Killian? — ouço Maelle perguntar, e percebo que todos estão rindo de algo. Não faço ideia do que perdi na conversa, então apenas solto um “aham” desconfortável, sem desviar os olhos do dálmata, que agora resolveu erguer as orelhas e me observar de volta com um olhar desinteressado, mas que, para mim, soa ameaçador.
Quando ele começa a se lamber preguiçosamente, relaxo um pouco, mas quase dou um pulo quando ele se levanta para andar até o outro lado da sala. Meu avô, percebendo minha tensão, reprime uma risada. Não sou bom em esconder o medo, aparentemente.
Tento me concentrar, mas uma vez que o dálmata volta a se acomodar, deitado bem mais próximo de mim, é impossível não me encolher, olhando de soslaio para ele.
— Está incomodado com a Páris? — Anahí pergunta, atraindo a atenção de todos na mesa, enquanto me encara diretamente.
Antes que eu consiga responder, a cachorra salta da cadeira, e eu, num reflexo, me levanto também.
— Eu... preciso de ar — murmuro, erguendo as mãos em sinal de rendição.
Sem esperar resposta, me afasto da mesa e caminho a passos largos em direção à saída, tentando recuperar o fôlego.
Saio apressado, deixando a mesa para trás, e sigo pelo caminho de pedras que leva ao jardim. O ar fresco me atinge, trazendo uma sensação de alívio imediato, mas o cansaço parece pesar sobre meus ombros.
Caminho por entre arbustos bem cuidados, a vegetação ao meu redor abafando os sons do clube, e encontro um banco solitário debaixo de uma árvore florida. Sento-me, deixando o corpo relaxar, e solto um longo suspiro, apoiando as mãos nas coxas. Inclino a cabeça para baixo, fechando os olhos por um momento, como se pudesse deixar para trás todas as pressões desse casamento arranjado, das formalidades e da... cachorra de Anahí, que agora sei que é uma fêmea.
Fico ali, ouvindo apenas o som leve das folhas ao vento, sentindo a tensão aos poucos se dissipando. Mesmo sem querer admitir, estou exausto não só pelo dia, mas por tudo o que esse noivado exige de mim.
— Beaumont — Olho para o lado e vejo Anahí, a mulher com quem terei que me casar, me encarando — Posso falar com você? — Ela pergunta, indicando o espaço vazio ao meu lado.
— Claro — Ela se aproxima e se senta. No início, ficamos em silêncio, apenas ouvindo o vento nas árvores. Ela respira fundo e começa a gesticular antes mesmo de falar.
— Eu sei que você não é o responsável por esse noivado... muito menos por todo esse circo — ela diz, e concordo em silêncio, ainda olhando para as minhas mãos. — Me desculpe pelo que aconteceu ontem à noite. Às vezes ajo sem pensar, e ontem foi um desses dias.
Assinto e levanto a cabeça. Ela surpreende ao segurar meu queixo, fazendo com que eu a olhe diretamente nos olhos. Meu rosto esquenta instantaneamente, sem que eu possa evitar.
— Sério, me desculpe por ter quebrado a taça na sua casa — ela faz uma careta, e uma risada curta escapa de mim.
— Tudo bem, a casa nem é minha — dou de ombros, e ela sorri.
— Que tal definirmos algumas regras para garantir o respeito entre nós? Mesmo que tudo isso seja um casamento forçado — Sugiro, para que tudo fique claro entre nós.
— Ótima ideia — concorda ela, pegando o celular do bolso do short e abrindo o bloco de notas. — Primeira regra, nada de sexo.
Concordo sem hesitar. Não quero criar qualquer vínculo com Anahí, especialmente num casamento que só existe por pressão do meu avô. Em dois anos, espero estar divorciado.
— Nada de adultérios — pontuo, olhando para ela. — Mesmo o casamento sendo falso, não quero meu nome envolvido em escândalos ou fofocas... e é pecado, afinal — Ela ri e me aponta, como se eu tivesse acabado de dar uma resposta incrivelmente sábia.
— Quartos separados — ela adiciona, como se fosse algo óbvio. — Em alas diferentes da casa — Concordo rapidamente. Era exatamente o que eu queria.
— Sem festas em casa, ou muita gente... me sinto sufocado com tanta movimentação — Ela franze o cenho, mas logo gesticulo com as mãos para esclarecer — Não estou falando da sua família.
— Certo — ela murmura, digitando tudo com agilidade. — Ah, e em hipótese alguma maltrate a Páris — Ela me olha fixamente, e sinto um calafrio — Você tem medo dela?
— Tenho pavor de cachorros — Ela ergue as sobrancelhas, parecendo surpresa, mas então estala os dedos como se uma ideia tivesse surgido.
— Páris ficará na minha ala da casa. Prometo que ela não vai invadir seu espaço — Concordo enquanto ela termina de digitar.
— Deseja acrescentar algo? — Ela pergunta analisando a lista.
— Não, só isso — Trocamos nossos números de celular para qualquer eventualidade, e eu me levanto, seguido por ela.
— Vou enviar essa lista de regras para você — diz Anahí. Concordo com um aceno, sentindo, pela primeira vez, um pouco de ordem em meio ao caos.
Nós nos encaramos por alguns segundos, sem dizer nada. Os olhos dela têm uma intensidade que me deixa desconfortável, e desvio o olhar antes que ela perceba.
— Precisamos voltar — digo, tentando parecer calmo. — Devem estar preocupados.
Anahí concorda e solta um pigarro leve, quebrando a tensão entre nós. Faço um gesto para que ela passe à frente, e ela me lança um olhar divertido antes de seguir em direção à sala.
Enquanto caminhamos de volta, fico pensando em como tudo isso parece estranho, esse casamento, as regras, até mesmo o jeito como estamos tentando manter a cordialidade. Assim que entramos na sala de café da manhã, noto que nossas famílias estão nos esperando, todos de olhares atentos. Sentamos em nossos lugares, e dou uma rápida olhada em volta, procurando sinais da Páris, a dálmata.
Para minha sorte, não a vejo em lugar algum, e um alívio imediato me invade. Meus ombros relaxam, e consigo até respirar melhor, sabendo que não vou ter que lidar com a cachorra no momento.
As conversas ao redor da mesa voltam a fluir, mas eu mal presto atenção, ainda digerindo o pequeno acordo que Anahí e eu acabamos de estabelecer. Mesmo que seja um casamento forçado, talvez, com um pouco de sorte, possamos torná-lo suportável.
🌟 Eu amo o jeitinho do Killian, meu Deus gente 😍
🌟O que estão achando do livro?
🌟 Votem e Comentem amores ❤️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro