Capítulo • 9
*Capítulo Revisado*
Começo a despertar quando um maravilhoso cheiro de comida faz meu estômago roncar. Abro os olhos lentamente e o quarto está escuro, viro a cabeça em direção a janela e confirmo que está de noite. Pelo jeito a Jade deve ter chegado tem um bom tempo. Suspiro e me sento na cama.
Realmente o cansaço estava demais, praticamente dormi o dia todo e ainda sinto sono. Bocejo e alongo meu corpo para tentar espantar o sono. Me levanto e ando até o banheiro, ainda sinto meu corpo cansado como se eu não tivesse dormido suficiente.
Acho que não dormi mesmo, mas como precisamos realizar nossas necessidades humanas básicas, não posso ignorá-las e continuar dormindo. Saio do banheiro após realizar minhas higienes e molhar um pouco o rosto para tentar despertar. Em vez de ir até o guarda roupa, pego uma camiseta e um short de malha que lavei e não guardei, apenas os deixei em cima da cadeira.
Após me sentir um pouco apresentável, não que isso importe para Jade, saio do quarto enquanto faço um coque no meu cabelo. Aquele maravilho cheiro de comida que me acordou ganha intensidade quando passo pela sala indo em direção a cozinha.
Coloco a mão na boca para abafar a risada quando encontro Jade de costas para mim mexendo em algo que cheira deliciosamente bem no fogão enquanto dança ao mesmo tempo. Pela sua performance deve estar escutando uma de nossas músicas favoritas que é Juicy Wiggle do cantor Redfoo.
Essa música é bem animada, estilo aquelas que quando se escuta não consegue se manter parado de tão contagiante que é a música. Mas o melhor é assistir a Jade dançando ela, nunca me canso e sempre rende boas gargalhadas da minha parte.
Adoro ameaçá-la dizendo que uma hora ainda a irei gravar dançando para colocar no YouTube. Mas como sou uma excelente amiga, fico apenas na vontade.
Como ela está com os fones e muito concentrada no que está fazendo, nem percebe a minha presença. Ando devagar para não me delatar e seguro no seu ombro a assustando. Sinto que talvez Washington inteira deve ter ouvido o seu grito, me afasto rindo tanto que lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Mas meu riso vai morrendo aos poucos quando ela se vira com uma cara de quem está prestes a assassinar alguém, no caso eu mesma. Mas ao ver uma colher de madeira na sua mão apenas torna tudo ainda mais engraçado, para minha tristeza, pois ela começa a querer vir na minha direção enquanto dou alguns passos para trás.
— Safira Rothwell! Você não fez isso! — Rosna.
Ela acabou de rosnar mesmo para mim?
— Fiz sim e foi muito divertido — afirmo e é o mesmo que balançar um pano vermelho na frente de um touro enfurecido, não que isso seja o motivo de os deixar nervosos.
Dou leves passos para longe dela, e quando ela ameaça correr, eu corro para longe dela com a mesma atrás de mim ameaçando até minha vigésima geração. Paro de um lado do sofá e ela está no oposto, mesmo assim não seguro a gargalhada.
Como eu amo ela!
Não sei o que faria sem a minha amiga, melhor dizendo, sem a minha irmã mais velha.
Apenas esse momento de brincadeira basta para esquecer qualquer coisa. Inclusive ele. Estava tão melancólica antes de dormir, confusa por essas emoções até então desconhecidas para mim. Mesmo sem a Jade saber ela está me ajudando, como sempre fez desde o orfanato.
Ela ameaça pular o sofá, mas hoje estou com sorte. A campainha toca e levanto uma sobrancelha lhe provocando, deixando a mesma ainda mais enfurecida.
— Teve sorte, querida Safira! — Rosna de novo.
Doida!
— Te amo, querida Jade.
Apenas isso basta para que ela mude sua feição antes enfurecida para emocionada. Sempre é assim quando falo que lhe amo, ela me disse que depois que tudo aconteceu para que fosse parar no orfanato, achou que nunca mais iria receber amor ou carinho de outra pessoa.
Ando com passos lentos até a porta, olho mais uma vez para a Jade e a vejo limpar uma lágrima rapidamente, ao achar que não estou vendo o quanto ela fica emocionada quando falo que a amo.
Abro a porta com um breve sorriso achando que é a dona Ana. Quando tenho o vislumbre de quem é a pessoa quase tenho um infarto.
Como ela descobriu onde moro? – penso assustada.
Parada na minha frente está Thea McDemott me olhando com um misto de medo e ansiedade. Noto seu nervosismo quando torce seus dedos e seu olhar me diz com clareza o sentimento que está sentindo.
Medo que eu a mande embora.
Meu coração se aperta ao constatar isso. Abro um sorriso caloroso e vejo esse medo sumir um pouco de seu belo olhar, acho que um dia um homem irá se perder nesse olhar azul como o céu que a deixa parecendo um anjo de tão delicada.
— Olá Safira, posso entrar? — pergunta tímida.
— Pode Thea — Percebo um pouco mais atrás, dois homens grandes parados no corredor. — E eles? — Aponto com a cabeça.
— Vão ficar aqui fora vigiando o corredor — responde baixinho. — Isso é um problema?
— Não, está tudo bem. Entre querida. — Lhe dou espaço para entrar antes de fechar a porta atrás de mim. — Como descobriu onde eu moro?
— Amei o apartamento. Bem aconchegante — elogia enquanto observa ao redor. — Respondendo sua pergunta, foi um meio necessário. Minha família não deixaria de descobrir onde mora os profissionais que estão cuidando do meu irmão. É um meio de segurança. Me desculpe, Safira.
Se antes eu estava com medo dessa família imagina agora então?
Nem sei o que falar, apenas me calo com os pensamentos a mil. Mas Thea me interrompe antes que eu possa pensar em falar alguma coisa.
— Que cheiro maravilhoso, atrapalho alguma coisa? — pergunta com receio.
— Safira quem é? — grita Jade da cozinha e aparece no corredor. — Quem é você?
Delicada como um coice. Essa é a minha irmã Jade, fala o que pensa, sem se preocupar com palavras bonitas.
Confesso que amo o jeito dela, a sinceridade é algo raro nos dias de hoje. Ter a Jade na minha vida com seu jeito de ser é um alívio, pois sei que ela nunca mentiria para mim.
Ao contrário de você que não falou direito do Diogo para ela – repreende minha consciência.
Cala a boca consciência!
Vou acabar ficando louca por falar comigo mesma!
— Sou Thea, irmã do Diogo — Thea responde antes que eu possa ter a chance de falar.
— Irmã do Diogo — repete Jade me olhando seriamente com um olhar que diz: Tem muito o que explicar mocinha. — Olá Thea, sou Jade Layton, amiga dessa doida aqui. Também trabalho como enfermeira no hospital em que seu irmão está.
Não passa despercebido por nós que ao tocar nesse assunto tão delicado seu rosto se contorce em dor ao lembrar que nesse momento seu irmão está em uma cama de hospital em coma induzido. Antes que falemos alguma coisa ela mascara sua mágoa e abre um pequeno sorriso.
— Achei seu nome lindo Jade, e nossa, muito legal vocês morarem juntas. O apartamento é incrível! Mas espero não ter atrapalhado nada — diz receosa e me pergunto de onde vem esse medo de rejeição.
Da sua família eu tenho certeza que não seria, pelo pouco que os conheci eles não me pareceram uma família fria, pelo menos foi isso que percebi quando tratam o assunto do Diogo. Presenciei muitas famílias do mesmo meio que eles tratarem o caso de algum ente com tédio ou nojo por estarem em um hospital.
Odeio esse tipo de pessoa.
— Imagina linda. Estava terminando uma lasanha para a janta. Quer se juntar a nós? — convida Jade, e sinto que esse jantar não vai prestar.
— Se não for atrapalhar, gostaria sim. — Thea nos encara com um brilho no olhar, como se nunca tivessem feito esse pedido.
A cada minuto que se passa, quero desvendar essa menina e saber o que a amedronta tanto. Sinto que nem sua família sabe dessa sua insegurança. Pensar nisso desperta uma dor dentro de mim, ao perceber que talvez ela sofra sozinha guardando tudo para si mesma.
— Atrapalha nada, estou louca para saber como vocês se conheceram. — Jade me lança um olhar sério.
Apenas levanto a sobrancelha como em pergunta: O que foi?
Será um longo jantar. Suspiro ao ver as duas sumirem em direção à cozinha. A Jade vai dar uma de FBI e interrogar a Thea para saber como nos conhecemos.
Gemo interiormente ao pensar nisso, prevejo uma dor de cabeça chegando apenas em pensar como será esse jantar. Entro na cozinha e me assusto ao vê-las conversando como se fossem amigas há anos e não apenas terem se conhecido há poucos minutos.
Esse susto vai embora ao ver um sincero sorriso da Thea. Me conforta presenciar isso, ela está alheia a minha presença, mas a Jade me vê e me lança um olhar triste. Sei que notou o jeito da Thea. Balanço a cabeça rápido e aponto ela, hoje será o momento dela aqui conosco, ela precisa disso.
— Vem Safira — chama Jade. — Thea estava me contando como vocês se conheceram.
— Mesmo? — Sorrio com um falso medo que faz Thea rir.
— Ela até me mostrou uma foto do irmão e nossa que lindo. Com todo respeito é claro — diz e olha para Thea. Depois se vira pra mim apenas movimentando os lábios: Quero saber de tudo.
Apenas balanço a cabeça, sabendo que não tenho como escapar. E nem tem nada de mais nisso, pelo menos é com esse falso pensamento que tento me confortar.
— Então Thea, me fale sobre sua família — instiga Jade, fazendo jus ao papel de FBI.
— Tenho mais três irmãos Jade. Dominic, Jonathan e Mia — conta.
— Esses seus irmãos são lindos igual o Diogo? — pergunta como quem não quer nada e eu não sei aonde enfiar a cara depois dessa pergunta.
— Jade! — repreendo, morta de vergonha.
— O que? Foi apenas uma pergunta inocente — responde, e sei que de inocente não teve nada.
— Não tem problema Safira estou acostumada. Mas gostei de vocês, e Jade, vou te mostrar a foto da família. Veja por si mesma. — Sorri divertida e mexe um pouco no celular para a seguir o virar na direção da Jade.
— Sangue de Cristo! É muita beleza em uma só foto! Seu pai também não está nada mal.
Se eu jogar algo bem pesado nela serei presa?
Sinceramente não sei o que a Thea vai pensar de nós duas. Irá achar que somos igual as outras que perguntam sobre sua familia. Reviro os olhos ante seu exagero ao ver a família dela, tenho em mente que são todos bonitos, mas beleza não é tudo na vida.
Você acha o Diogo bonito! – rebate minha consciência.
Inferno!
Nesse momento tudo que eu queria era que outra pessoa tivesse sido encarregada para cuidar dele. Assim eu permaneceria alheia a sua existência e nunca o teria conhecido. Pelo menos é isso que eu acho.
Mas tenho certeza que eu estaria bem melhor sem essa confusão dentro de mim.
Muito melhor!
Suspiro ao pensar nisso.
Por que você teve que aparecer tão de repente na minha vida Diogo McDemott?
Revisado
23/05/2020
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