Capítulo • 24
*Capítulo Revisado*
Meus passos são lentos em direção ao quarto dele. A confusão tem se tornado algo constante na minha vida, e depois de tudo aconteceu essa noite; tudo apenas piorou. Aquele homem tentando matá-lo, suas palavras proferidas em forma de ameaça, fraturar meu antebraço e o mais chocante... o beijo especial e doce que recebi do Diogo.
Mesmo que eu tenha tomado a iniciativa, quando Diogo me puxou novamente, por alguns segundos senti como se fosse a primeira vez beijando alguém, fui teletransportada para minha adolescência e o selinho que um menino roubou no ensino médio mas que igualmente encheu a minha barriga de borboletas. Contudo, beijar Diogo me trouxe uma certa paz, seu toque e devoção ao me beijar mostraram que em nenhum momento suas palavras e ações são falsas.
Posso estar equivocada ou talvez Diogo seja um bom ator, entretanto, meu coração murmura quase tímido que ele está sendo verdadeiro com seus sentimentos recém despertados. Nossa última conversa antes de sair do quarto com Alaric ecoou sem parar na minha cabeca.
— Estarei aqui, sempre te esperando — sussurrou e meus olhos marejaram.
— Promete? — perguntei intensamente, pois minha pergunta nada tinha a ver com minha volta do médico; minha pergunta ia além.
— Prometo — respondeu sem pensar duas vezes.
Essa simples palavra, com um significado importante e verdadeiro por trás, confortou meu coração. Um sorriso genuíno repleto de felicidade brota em meus lábios, mas infelizmente quando meus olhos recaem no meu braço direito imobilizado com tala e gesso, meu sorriso cai um pouco.
— Agora tenho que ficar com essa porcaria por um mês — resmungo baixinho.
O atestado em minhas mãos me diz que estarei um mês afastada do trabalho; algo que não achei necessário. Eu poderia ao menos estar supervionando os estagiários, mas Marcus foi irredutível quanto a esse afastamento do trabalho. Por mais que eu tenha tentado argumentar, ele me venceu em todos os argumentos que eu achava viáveis naquele momento.
— Até ficar sentada o dia todo lendo os prontuários não o convenceu — resmungo mais uma vez baixinho. — Pelo menos posso ficar de olho na dona Ana e assim tentar afastar aquela assombração que ela chama de neto.
— Safira, falou comigo? — pergunta, Alaric.
Fecho meus olhos e respiro fundo, o grito ficou preso na minha garganta ao lembrar que estou em um ambiente hospitalar. Merda. Tinha esquecido que ele estava atrás de mim. Quando Marcus saiu do consultório, e fiquei apenas com a enfermeira aplicando uma medicação para aliviar a dor, ele foi atrás do Marcus. Imaginei que não voltaria, estava saindo do consultório quando ele surgiu dizendo que iria me acompanhar até o quarto Diogo, mesmo que eu não tenha dito uma palavra que iria até ele.
— Não — murmuro, sem me virar para ele.
— Tudo bem — diz, e o ouço se afastar alguns passos falando algo que não compreendo.
Ao me virar noto que o mesmo está com o telefone no ouvido. Volto a caminhar e não vou muito além, quando esbarro em alguém. Ao erguer a cabeça sinto vontade de bater na pessoa com o meu braço imobilizado, para tentar arrancar esse sorriso irônico de seu rosto.
— Se machucou, Safira? — pergunta Lorenzo ironicamente.
— Não, Lorenzo, estou apenas testando como é ficar um tempo com tala e gesso para saber como os pacientes se sentem — respondo no mesmo tom, e seus olhos cintilam de raiva.
Idiota!
— Safira... — Estala a língua como se estivesse repreendendo uma criança. — Não sabe com quem está mexendo.
— Você que não sabe com quem está mexendo, Lorenzo — rebato. — Posso parecer ingênua, mas você não me conhece. Então faça uma coisa útil, me deixe em paz.
— Sua...
— Sua o que? — Minha voz se ergue alguns tons.
— Está tudo bem, Safira? — Uma voz forte ecoa perto de nós.
Ao me virar noto que Alaric encerrou a sua ligação, e com poucos passos chega perto de nós. Sua costumeira expressão séria que o deixa bem assustador, está em seu lugar. Quando volto meus olhos para Lorenzo sinto vontade de soltar uma gargalhada ao vê-lo engolir em seco.
Ora, ora... Onde está a coragem agora?
— Tenho que ir — balbucia, e simplesmente quase corre para longe de nós.
Babaca!
— Obrigada, Alaric.
— Não precisa agradecer, Safira. Esse homem é um idiota. — Aponta com a cabeça o quarto do Diogo. — Vamos?
Apenas afirmo com a cabeça antes de caminharmos os poucos passos que faltavam para chegar ao quarto do Diogo. Inspiro e solto o ar lentamente antes de abrir a porta, ao visualizar o interior do quarto, encontro Eleonor sentada na cama conversando baixinho com o filho, no canto do quarto um homem estranho está parado que nem uma estátua.
— Sean, irei assumir o posto agora, pode vigiar o corredor — ordena, Alaric.
Ao ouvir sua voz, Eleonor e Diogo notam a nossa presença, e ante seus olhares me sinto imensamente tímida.
— Oi. — Abro um sorriso amarelo.
— Safira. — Eleonor sorri ao se levantar da cama e caminhar até mim. — Como está se sentindo?
— Cansada e com dor — respondo sinceramente. — A medicação que Marcus prescreveu para a dor após a enfermeira aplicar aliviou muito, mas ainda está aqui me incomodando.
— Entendo, querida. — Acaricia meu rosto, seus olhos estão nublados pela preocupação. — Fico aliviada por estar melhor, nem que seja um pouco. Acho que alguém está mais aliviado ainda. — Se vira em direção ao filho, e o mesmo revira os olhos após a mãe lhe entregar.
Quando seus olhos encontram os meus, sinto como estivesse em meio a uma fogueira, embora as chamas não me machuquem, apenas sinto o calor. Através dos seus olhos, consigo notar dor, alívio, preocupação e algo a mais que desconheço. A dor é a emoção que mais me incomoda. Meus olhos recaem nos seus braços sob o lençol, um está com um simples curativo, e no outro colocaram o acesso venoso mais uma vez.
Coitado.
Se não fosse pelas medicações intravenosas que necessita tomar até receber a alta, ele poderia ficar sem o acesso. Ao me lembrar do que ele fez para impedir aquele homem de furá-lo com a seringa... Fiquei chocada com a sua tamanha força. Meu corpo se arrepia com uma sensação ruim apenas em me lembrar daquela cena, sinto que isso será algo que estará enraizado na minha mente, principalmente as palavras cruéis daquele homem.
— Irei deixá-los a vontade.
Desperto com a voz da Eleonor, a mesma segue até Alaric que havia tomado o posto do outro homem e o puxa em direção a porta. Meus lábios se curvam um breve sorriso ao presenciar essa cena, pois Alaric segue Eleonor sem sequer pestanejar.
— Minha mãe tem todos enrolado em seu dedo mindinho. — Dou um pulo ante a voz do Diogo. — Desculpa, te assustei.
Não brinca, Sherlock.
— Tudo bem, eu que me assusto fácil. — Me aproximo da cama com passos receosos.
— Não me encara assim, parece um cordeirinho pronto para o abate — provoca. — Pode se aproximar, anjo, eu não mordo.
— Muito engraçado. — Me sento após arrastar a cadeira para perto da cama. — Como você está?
— Não fica assim.
— O quê? — pergunto confusa.
— Sua face nesse momento é como um livro aberto, anjo — diz suavemente. — Eu sei o que está pensando, quando você me encarou pude ver tudo através dos seus belos olhos. — Sua mão se vira em um convite, e não penso duas vezes antes de pegá-la. — Estou bem, meu anjo. Mas você... — Seus olhos recaem no meu braço, sua face se contorce levemente indicando sua revolta. — Não pude evitar que se machucasse.
— Não se culpe, Diogo — repreendo. — Estou bem, estamos bem. Não quero nem pensar no que teria acontecido se eu não tivesse chegado naquele momento crítico.
— Você não estaria machucada — rebate.
— E você estaria morto — replico.
Sinto meus olhos arderem ao pensar na possibilidade dele ter quase morrido esta noite. Algumas lágrimas escorrem, e não me sinto fraca por demonstrar isso na sua frente. Estou me sentindo tão esgotada emocionalmente. Fecho meus olhos, contudo os reabro ao sentir seu toque em meu rosto enquanto limpa delicadamente as lágrimas que escorreram. Seus belos olhos me encaram com pesar.
— Me desculpa — sussurra, e continua acariciando meu rosto, acabo me perdendo na intensidade do seu olhar. — Não deveria ter descontado minha frustração em cima de você. Apenas não aguento vê-la machucada e saber que o motivo fui eu! Isso me fere, Safira. — Bate em seu peito. — Sinto que estou prestes a sucumbir eternamente a dor causada pela culpa.
— Diogo...
Seu nome sai como um sopro pelos meus lábios, apenas consigo pronunciar seu nome após sua explosão. A intensidade da sua culpa, está o ferindo mais do que a dor física imposta pelo acidente e o que ocorreu há poucas horas em seu quarto. Essa é mais uma prova de que não estou errada ao tentar nos dar uma chance.
— Não fale nada — pede suavemente. — Apenas não afaste de mim. Sei que não sou um bom homem... Merda. Só eu sei o que tem guardado aqui dentro. — Aponta para o seu peito. — E não é bonito... Ao menos me deixe ter uma chance.
— Calma, não irei me afastar.
Essas palavras certeiras selam o meu destino. Com cuidado encosto minha testa na sua, apreciando esse simples gesto repleto de significados, mas que igualmente traz um certo conforto ao meu coração. Ao me afastar admiro esse homem que apareceu tão de repente na minha vida, e mesmo assim se tornou algo marcante. Sua intensidade com as palavras, gestos e olhares me enroscaram em sua teia.
Apenas temo que meus traumas possam o afastar, meu cérebro ainda está tímido com suas escolhas em alguns momentos, entretanto, meu coração em outros momentos age loucamente. O medo de me machucar ainda está a espreita, como se estivesse enraizado na minha alma, e torço para que Diogo possa o desenrolar de mim, assim me libertando totalmente para cair de cabeça em um novo amor.
[...]
— Tem certeza que não quer ir para casa? — pergunta mais uma vez.
Desde que avisei que ficaria até o plantão acabar essa deve ser a sétima vez que ele faz a mesma pergunta.
— Tenho, Diogo. — Reviro os olhos. — Minha certeza não irá mudar, não importa quantas vezes você refaça essa pergunta. A não ser que você queira que eu vá embora... — provoco, e ameaço me levantar da cadeira.
— Não — diz tão rápido que me arranca uma risada. — Não ria do desespero de um homem. Isso é maldade.
— Maldade é vocês homens fazerem brincadeiras com as mulheres e acharem que estão no direito — rebato levemente.
— Merda... Desculpa, anjo. — Passa a mão pelos cabelos, antes de abrir um sorriso sem graça. — Não queria falar desse jeito. Na verdade... — Morde o lábio e meus olhos automaticamente se tornam atentos ante esse gesto. — Apenas queria minha mulher aqui.
E... o momento de encanto acabou com sucesso.
— Diogo...
— Eu sei — interrompe. — Vamos com calma.
— Obrigada.
— Que mulher séria. Onde está aquela enfermeira boazinha que cuidou de mim? — Faz um bico, e meus lábios tremem enquanto tento bravamente segurar o sorriso. — Olha aí! Ela quase sorriu.
— Bobo.
— Um lado meu é egoísta por querer que fique no hospital. — Seus olhos recaem no meu braço. — O outro lado está morrendo de preocupação e quer que vá para casa, e assim descansar adequadamente.
— Estou perfeitamente bem. — Ante seu olhar cético, completo. — Ainda estou sentindo dor, claro, fraturei o antebraço. Contudo, isso não me impede de ao menos visitar meus pacientes. Vou ficar um mês desligada do hospital, Diogo! — profiro indignada.
— Não fique desse jeito, anjo. — Pega minha mão e acaricia o dorso. — Estou me sentindo ainda mais culpado por afastá-la do seu porto seguro. Me lembro vagamente de falar sobre o seu amor pela sua profissão. Isso é algo admirável, e imagino o quanto vai ser difícil passar um mês longe.
— Nem me fale. — Suspiro, e ao encará-lo sinto vontade de o sacudir. — Ei, pode parar de se culpar, Diogo McDemott.
— Nossa, falando assim até lembrou minha mãe.
— Aprontando muito, Diogo?
— Minha mãe diz que eu e meus irmãos somos os culpados pelos cabelos brancos dela — diz baixinho, como se temesse que a mãe fosse surgir do nada.
— Não duvido nada. — Por alguns segundos, talvez minutos, apenas nos encaramos, e ao ver algo em seu olhar logo resmungo. — Pare com isso, Diogo. Não se culpe pelo que aconteceu comigo. — Antes que possa controlar as minhas ações, encosto meus lábios nos seus em um breve selinho, pois me afasto rapidamente como se houvesse levado um choque.
— Isso não se faz, senhorita Rothwell.
— O que? — pergunto inocentemente.
— Você sabe muito bem.
— Realmente não sei, Diogo, poderia me explicar? — Mordo o lábio para evitar um sorriso.
— Não se faça de inocente, senhorita Rothwell.
— Não fiz nada.
— Você não pode me provocar desse jeito enquanto estou como um refém dessa cama maldita. — Bufa.
— Que grande bebê resmungão. — Solto uma gargalhada quando ele faz uma careta.
— Muito engraçado.
Não resisto, escosto meus lábios nos seus mais uma vez. Contudo dessa vez sou pega em sua armadilha, quando sua mão segura minha cabeça e Diogo pega para si o controle do beijo. Um gemido baixo escapa pelos meus lábios ante a intensidade desse beijo, que despertou o meu corpo.
— Desculpa. — Ouço uma voz divertida, e isso é como um balde de água fria.
Até que ponto você chegou, Safira!
— Mãe — resmunga, Diogo.
— Eu iria adivinhar que você estava atacando a pobre moça?!
Sinto meu rosto esquentar violentamente após ela dizer isso, meus olhos se voltam para o Diogo e o mesmo não esconde o descontentamento em ter sido interrompido pela mãe.
O safado nem disfarça!
Como se você fosse inocente – retruca minha consciência.
— Tenho que ir. — Diogo perde a expressão emburrada, e me encara com pesar. — Ordens médicas. Marcus foi claro em dizer que apenas posso ficar no hospital se descansar corretamente até acabar meu plantão.
— Tudo bem, linda. — Seus lábios formam um pequeno sorriso que não condiz com o brilho triste em seus olhos.
— Eu volto amanhã.
— Estarei te esperando. — Acaricia minha bochecha.
— O amor é lindo.
— Mãe — resmunga Diogo novamente.
— Não fiz nada. — Revira os olhos.
— Pode chamar o Alaric para mim, Safira? — pergunta Diogo.
— Claro.
Me despeço mais uma vez deles antes de sair do quarto, encontro Alaric e o outro segurança conversando baixinho.
— Boa noite — cumprimento ambos, e recebo apenas grunhidos e não um boa noite completo. — Diogo pediu para que eu o chamasse — aviso Alaric.
— Obrigado, Safira.
Apenas aceno com a cabeça, antes de me afastar com um breve sorriso por causa de suas ações. Alaric parece ser um homem tão sério, e Diogo apesar de certos momentos agir com raiva e frieza, também têm seu lado divertido. Me pergunto como Diogo age com Alaric, se lhe dá muita dor de cabeça.
— Que confusão você foi se meter, Safira — falo baixinho quando me lembro da conversa com Diogo.
Mesmo em coma ele causou uma grande bagunça na minha vida. Agora acordado, isso apenas piorou pois não esperava ficar cara a cara com esse Diogo, eu esperava um homem diferente.
Apenas espero que ele não dilacere meu coração.
Revisado
24/07/2020
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