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Capítulo 4 : Professora idealista e falida

Até que a cabeça não estava coçando muito... Desconfiava que a culpa era do colchão tomado de ácaros. Claro que ela tinha de ser alérgica a ácaros. Ou pelo menos pensava que fosse. Tonta de sono, Fernanda virou de lado e viu que o despertador estava tocando há muito tempo... Cerca de dez minutos. Ela saiu da cama com o coração martelando no peito. Quase teve um ataque parecido com os da mãe (estava pagando a língua). Tratou de se acalmar e vestiu-se às pressas. Colocou a primeira muda de roupas que encontrou, amarrotada e usada no dia anterior. Paciência. Por sorte tomou banho à noite, porque não teria tempo nem para comer, quem dirá se lavar.

E o bafo matutino?

Paciência.

Agarrou os livros, a carteira, então saiu como um tufão pelo corredor. Desceu as escadas até o térreo só para se lembrar de que não havia trancado a porta. Voltou correndo, tirou a chave de dentro, colocou pelo lado de fora e trancou, mas teve dificuldade de arrancar a chave da fechadura. Respirou fundou, contou até três e puxou com mais delicadeza. Resmungando e xingando, desceu as escadas novamente. Quando estava saindo pela porta, passaram dois ônibus, um atrás do outro. Quando chegou ao ponto, não passou mais nenhum. Ela ficou meia hora parada, esperando.

O próximo que passou era mais caro que a linha que costumava pegar, mas ela teve que embarcar para não correr o risco de chegar atrasada.

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Chegou ao centro e deu uma corridinha de dois quarteirões até o Centro de Educação. Estava virando a esquina quando o sinal soou. Ela deu mais uma corridinha e entrou na secretaria. A mulher do balcão levou longos cinco minutos para terminar de atender a pessoa que estava na frente, para só então se dignar a olhar para ela por trás dos óculos "fundo de garrafa".

-Oi – disse Fernanda, ainda sem fôlego.

A mulher não respondeu, apenas analisou aquela loira desgrenhada, com o rosto lambido, cara de sono, e testa suada. Além da roupa amassada...

-Em que posso ajudar? – perguntou, sem paciência, trocando o peso de um pé para o outro a fim de aliviar a dor das varizes.

O sorriso de Fernanda vacilou um pouco.

-Eu sou Fernanda, a nova professora de Artes.

-Oh – a mulher mediu-a com os olhos novamente. Desta vez, bem devagar.

-Está atrasada. - Otacília tirou uma pasta do escaninho com o nome de Fernanda Quintella, matrícula 62719-9, contendo vários papéis. Foi explicando cada um como uma britadeira, sem lhe dar tempo de assimilar:

-Aqui estão os seus horários, os diários de classe das turmas e a lista de documentos que deve apresentar ao diretor, assim que possível. – Ela fez uma pausa e sua sobrancelha se alteou. – Assim que possível quer dizer, para ontem.

-Certo – Fernanda pegou os papéis e virou para a porta, depois virou para a mulher novamente.

-Eu...

Otacília suspirou, como se estivesse lidando com uma criança muito, mas muito lenta.

-Corredor em frente, vire à esquerda, depois a primeira à direita, suba as escadas, final do corredor, sala 402-A. É a sua primeira aula do dia que, por sinal, consta nos seus horários. É só ler... – sugeriu, azeda. - A propósito, seus alunos não vão esperar muito antes de começarem a fugir da escola.

Fernanda piscou uma, duas vezes, então saiu correndo.

-Novatos – resmungou Otacília, sentando-se atrás do computador.

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O primeiro dia de aula poderia ter sido descrito como "um pesadelo real durante um sonho de Dante em seu inferno". Confuso? Nem tanto, se você conhece o funcionamento de uma escola pública e como o professor se torna um peão em meio à insanidade geral. Um peão que nem pode ser classificado como bóia fria, mas que se torna alvo de todas as coisas, de todas as frustrações alheias e de todos os problemas. Enfim, um joguete mal pago que tenta lecionar, quando tem vocação e compromisso com a formação de seus alunos.

Na educação de jovens e adultos - EJA, em particular, existia um desafio – motivar alunos que desistiram de estudar por inúmeros motivos; e também existia um preconceito - que dizia para não se deve cobrar do aluno adulto, como se ele não merecesse mais do que o feijão com arroz. Fernanda não acreditava em nada disso. Ela achava que o desafio de superação deveria ser a meta para os seus alunos. Logo os colegas iriam classificá-la como uma tola idealista.

Ao final da última aula da noite, depois de três turnos lecionando com pausa apenas para lanches rápidos, no lugar do almoço e da janta, ela agora se arrastava de volta para seu quarto & banheiro - o único lugar barato que coube em seu orçamento de professora falida. Mas chegar em casa não seria tão fácil, nem tão rápido assim. Ela ainda teria de embarcar num ônibus lá no terminal (que ficava longe do CEJA) e atravessar a ponte para o continente. Então, foi só perto da meia-noite que ela deitou a cabeça no travesseiro com um suspiro de alívio, pronta para mergulhar no mundo delicioso dos sonhos...

...Só para ser chacoalhada pelo batuque insuportável que saía das caixas de som do boteco da esquina. O som fazia pulsar as paredes, a cama e a cabeça de Fernanda. Alguém deve ter chamado a polícia. Com certeza, deve...

Bem, se chamou, ninguém apareceu. A polícia só veio às três da manhã, com muita má vontade, ou sem vontade alguma. Os policiais mandaram que o proprietário encerrasse a festinha de bêbados. Pelo menos era o que ela deduziu, espiando pela janela. Assim que a polícia foi embora, a batucada recomeçou. Quase que como um deboche... Só teve fim às cinco e quarenta e cinco, horário em que Fernanda finalmente conseguiu dormir. Ela obteve uma hora exata de sono.

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Otacília jurava que tinha uma loira zumbi a sua frente. Ou no mínimo, a loira fantasma do banheiro... Desta vez, a professorinha de Artes não estava desgrenhada, mas os olhos esverdeados destacavam-se em meio às olheiras, que nem um quilo de maquiagem conseguiria esconder. Divertindo-se intimamente, a secretária ficou imaginando se a loira arranjou uma profissão alternativa que precisava virar a madrugada.

Afinal, o magistério pagava tão mal que tudo era possível.

Com evidente desgosto, ela observou Fernanda estender os documentos que o diretor requisitou.

Antipática, pensou, com desdém, sem atinar que Fernanda teve a mesma impressão dela, no dia anterior.

Otacília poderia mandá-la entregar pessoalmente. Afinal, não era sua babá, mas ela os pegou, mesmo assim. Talvez porque sentiu um pouco de pena daquela garota, imaginando que seu dia só iria piorar se ela ainda tivesse que lidar com o galinha do diretor... Observou-a partir para a sua primeira aula da manhã sem dizer uma palavra – ombros um pouco caídos, os pés arrastando. The walking dead, ela não pode evitar a comparação e riu...

-Do que está rindo? – perguntou Armando, o técnico auxiliar. Ele tinha acabado de chegar e estava pendurando a bolsa com o notebook na sua cadeira ortopédica de pobre (cadeira ortopédica de pobre era aquela doada, com remendos, já que o empregador não pagou pela correta, exigida pelo seu médico ortopedista).

-Nada, nada – desconversou Otacília. – Só fico imaginando quanto tempo a carioca vai durar.

-Ah, está falando da professora nova... Ninguém apresentou a moça pro pessoal, né? – Ele fez uma careta. – Que chato!

-E o que você esperava do Bataglin?

Armando pensou por um momento.

-Um processo por assédio sexual? – ele chutou, pensando o mesmo que Otacília sobre as provações futuras da nova professora.

Os dois riram, querendo estar por perto para assistir.

-E aquela série do Netflix com o cocô de lobisomem? – perguntou Otacília, mudando de assunto. – Chegou a assistir?

-Nem me fale naquele cocô, que você me deixou traumatizado. Eu nem quero ver! – Armando riu pra valer. – Imagine, uma série em que o lobisomem literalmente come a loira e depois caga a loira.

-Querido, é a realidade. Se você come, por algum lugar tem que sair. E o cocô que fizeram é tão realista, com aquele fio de cabelo loiro bem em cima...

Os dois escutaram alguém limpar a garganta. Otacília sabia quem era antes de se virar, por isso, fez questão de dizer:

-Mas tem cocôs piores e mais fedidos por aí – e com um sorriso, virou-se para encarar o diretor Bataglin. – Bom dia, diretor.

O homem estreitou os olhos. Era alto, musculoso, mais para o atarracado... Usava seu cabelo escuro todo penteado para trás, a fim de esconder a calvice que já se insinuava. Já foi um homem bonito, um dia, do tipo bonitinho, mas ordinário. Agora, concluiu Otacília, parecia... usado.

-Eis a papelada da nova professora – disse ela, antes que começasse a rir na cara dele.

As sobrancelhas de Bataglin se ergueram levemente.

-Ah, é mesmo... E como ela é?

Claro que ela sabia que ele estava esperando uma descrição física. Fez questão de frustrá-lo.

– Não saberia dizer, ela começou ontem.

Mordendo o lábio, o diretor se afastou pelo corredor. Com nojo, a secretária voltou para sua mesa. Ela e Armando trocaram um olhar significativo.

-Cocô de lobisomem – Armando disse.

Os dois riram.

-Ei, qual foi a piada? – perguntou Milton, o professor de educação física. Esse sim era um belo espécime, concluiu Otacília. Alto, moreno, forte, educado e gentil com todos.

-Nada não meu querido. Do que você precisa?

-Preciso que imprima outro diário – pediu, com um sorriso torto.

A partir dali, Otacília não pensou mais em outra coisa que não nos seus afazeres.

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No caminho para as salas, Fernanda encontrou Jussara, professora de português com quem fez amizade logo de cara. Não uma amizade como tinha com Yara, mas as duas se entenderam bem. Jussara revelou-se prestativa desde o início, ajudando-a com as coisas que ela não entendia ou não conhecia.

As duas seguiram juntas para as salas de aula.

-Nossa! Desculpa, mas você está um caco – disse Jussara.

-Obrigada – respondeu a outra, azeda.

Jussara deu uma risadinha.

-O que houve? Não se acostumou ainda à nova cama?

-Não sei dizer – a outra respondeu, ausente. – Talvez sejam os ácaros, ou o boteco na esquina que funciona até altas horas, e não me deixa dormir.

-Credo, amiga – o sorriso de Jussara esmoreceu. – Como você foi parar numa roubada dessas?

A outra lhe lançou um olhar atravessado.

-Pouco tempo para assumir, sem tempo para procurar, lugar barato... – ela contou nos dedos. - Sacou a combinação?

-Na verdade, o que eu saquei... é que o barato sai caro, amiga. - Jussara parou diante da porta da sua sala. – Eu vou ver o que posso fazer para te ajudar a encontrar um lugar melhor. O seu aluguel é com contrato?

-Não, pago por mês.

Jussara revirou os olhos.

-Que roubada hein? – disse.

Fernanda jurou tê-la ouvido resmungar, enquanto se afastava: – E os cariocas se dizem tão espertos.

Agora foi a vez de Fernanda revirar os olhos. Mais de indignação do que qualquer coisa. Porque será que o pessoal tinha que achar que carioca era sempre malandro e descolado? Que preconceito!

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Os dias se sucederam e Fernanda descobriu mais distrações indesejáveis em torno do seu quarto & banheiro. No quarto ao lado, morava um casal cujo marido trabalhava à noite. Ele voltava às 2:00 da manhã e, religiosamente às 2:35, o casal começava a transar na cama encostada à parede do quarto de Fernanda. Se fosse apenas pela batida da cama contra a parede, tudo bem... Mas não era esse o único problema. Eles gritavam durante quinze ou vinte minutos. Pareciam gatos sendo estrangulados.

Depois que tudo acabava, como se tivesse sido ensaiado, a batucada do boteco em frente aumentava exponencialmente na rua silenciosa. Ela comprou tapas-ouvido, mas não resolveu muito... Serviu para fazê-la acordar com um zumbido nos ouvidos.

Mas o quarto colado a outra parede de Fernanda não ficava atrás. Também era interessante, porque lá vivia um casal que a esposa amanhecia cantando às 5 ou 6 da manhã. Fernanda já conhecia todo o seu repertório de músicas sertanejas ao longo daquelas primeiras semanas. Um dia a jovem não acordou cantando, mas chorando.

Fernanda só entendeu no final do dia, quando estava chegando em casa e surpreendeu o casalzinho aos tapas no corredor. Parece que o marido traiu a esposa com sua melhor amiga. Então, esse devia se o motivo de ter acordado chorando ao invés de cantando. Ela chamou a moça para tomar um café. A garota desabafou, e quando o marido reapareceu, pedindo perdão, ela o aceitou de volta e virou a cara para Fernanda, sem motivo aparente. O homem apontou o dedo pra ela, como quem diz: "estou de olho em você". Isso que dá se meter em briga de marido e mulher. Mas, caramba! Tudo o que ela fez foi oferecer um café... e aconselhá-la a não aceitar o marido de volta. Por isso era tão certa a máxima que pregava: Em briga de marido e mulher, não se deve meter a colher.

Não ofereça nada! Não aconselhe ninguém! – disse-lhe a voz da razão. Simplesmente, entre muda e saia calada. É isso o que todo mundo faz.

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