_ Vá para o carro, rápido! Ele precisa de um médico! _ A camisa de Will está ensopada do sangue de Brutus.

Corro até a casa, pego as chaves, a bolsa e um cobertor. Will não para um instante. Rapidamente chega ao veículo e se acomoda no banco traseiro com o cão no colo. Envolvo Brutus com o cobertor.

_ Ele salvou a minha vida. Tomou o tiro em meu lugar porque saltou na frente. _ Os olhos de Will estão vermelhos e brilhantes de lágrimas.

_ Calma. Ele vai ficar bom. Brutus é muito forte. _ Fecho a porta traseira e me acomodo no banco do motorista dando partida em seguida.

_ O desgraçado que fez isso vai pagar. Vamos dar um jeito nele. Aguenta firme, amigão. _ Olho pelo retrovisor com o coração partido enquanto Will conversa baixo com o cão que choraminga fraco em seu colo...

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Estou sentada em uma das cadeiras da recepção da clínica veterinária em torno de quarenta minutos desde que Will entrou no consultório carregando Brutus. Assim que ele atravessa a porta sozinho, meu estômago se revira.

_ Como ele está? _ Salto da cadeira.

_ Fraco. Perdeu muito sangue. O médico disse que a bala não está alojada em local de difícil remoção, mas não pode garantir que recupere todos os movimentos após a cirurgia. _ Will está muito abatido.

Ele ama demais esse cão. Por muito tempo foram só os dois. É o melhor amigo dele.

_ Não se desespere. Tenha um pouco de fé. Vamos aguardar a cirurgia acabar. Venha cá. _ Envolvo seu braço e o conduzo a uma cadeira...

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A cirurgia foi bem sucedida. Mas segundo o médico, Brutus precisará ficar alguns dias em observação antes de receber alta. Will preferiu se hospedar em um hotel próximo ao hospital veterinário de Jasper East do que fazer a viagem de ida e volta à Robson todos os dias.

No segundo dia de internação de Brutus, enquanto saímos do hotel, trombamos com Nolan na calçada em frente.

Quase pude ler os pensamentos de Will quando reconheceu o filho do prefeito.

_ O que está fazendo aqui? Veio ver o resultado de seu estrago?_ Will dispara para cima de Nolan.

_ Ei, ei, ei! Ficou maluco?!_ Nolan reage puxando a mão firme em seu pescoço.

_ Will! Não temos certeza se foi ele. Não tome nenhuma atitude precipitada. _ Toco em seu braço.

_ Melhor ouvir ela e me soltar, Belanger. Estamos em local público e não me custa nada acionar a polícia por agressão. Pensa que está nas montanhas onde se comporta feito o louco selvagem que é? _ Nolan ameaça Will.

Os dois se encaram.

_ Will, solte-o. Tem que estar em liberdade para cuidar de Brutus. Ele precisa de você. _ Digo baixo.

Will ainda mantém Nolan preso encostado em um poste.

_ O que veio fazer aqui? _ Cerra os olhos desconfiado.

_ Não tenho que lhe dar satisfação alguma. _ Nolan responde entredentes.

_ Nolan, não dificulte as coisas. Fale logo o que está fazendo aqui. E se denunciar Will, também terá que dar explicações à polícia sobre Livy. _ Interfiro na discussão.

Nolan empalidece ao ouvir o nome da garota.

_ Livy?! Não tenho nada a ver com essa garota! O que a linguaruda andou falando por aí. _ Nolan disfarça tão bem que quase me convence.

_ Então, vamos ver o que a polícia tem a dizer sobre sua amizade com uma menor de idade. Será um prato cheio para a mídia. O tipo de escândalo que paparazzis adoram. Principalmente por se tratar do filho de um prefeito. _ Will ameaça apertando mais o braço em seu pescoço.

_ Chega disso. Largue-me logo. Não tenho tempo para esse tipo de coisa. _ Nolan empurra Will, que cede um pouco sem se afastar totalmente.

_ Meu pai está internado no Hospital Geral. Não tem andado bem de saúde. O coração está fraco. _ Nolan nos observa com rancor. _ Portanto, parem de fazer suposições e arranjar problemas. Ele não pode se aborrecer.

_ Que ironia. Se há algum causador de problemas aqui é o mentiroso do seu pai. _ Will rebate.

Nolan cerra os olhos e os punhos.

_ Melhor parar de falar sobre o que não sabe, Belanger. Não admitirei que difame a imagem de meu pai. Nunca fomos grandes amigos, mas não aprovava as besteiras que o povo falava sobre você.

Will puxa o conto da boca com escárnio.

_ Quanta consideração. _ Will dá um passo a frente. Nolan encosta no poste novamente. _ Melhor não estar envolvido nessa sujeira que tem se espalhado, porque se eu descobrir que teve alguma coisa a ver com o ferimento de Brutus, vou atrás de você e provarei que nem tudo que o povo diz é besteira.

Nolan arregala os olhos.

Will diz quase rosnando e se não o conhecesse bem, acho que também me assustaria.

_ Will, vamos. _ Puxo seu braço e dessa vez ele me acompanha...

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Brutus recebeu alta após dois dias. Precisará fazer fisioterapia para recuperar os movimentos. O médico não nos garantiu nada. Disse que tudo dependerá de um trabalho conjunto de esforço e dedicação, afinal o cão já não é tão jovem. Mas conservamos a esperança.

Procuro apoiar e dar forças a Will como posso, quando o pego pensativo observando seu amigo deitado encolhido no cantinho da sala ao lado da lareira meu coração se despedaça um pouco. Brutus não pode o abandonar agora.

A separação é inevitável, eu sei. Mas justo agora que Will voltou à terapia, uma perda como essa pode ser crucial em sua recuperação. Brutus tem sido a única família que Will teve nos últimos anos.

_ Ele vai se recuperar. Você vai ver. _ Toco seu ombro.

Will desperta. Suspira, acena a cabeça e beija minha mão.

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_ Sinto muito pelo cão. _ Hunter comenta quando o visito para anexar os últimos documentos do dossiê que entregarei ao doutor Velásquez.

_ Will, está arrasado. Mas segue confiante de que Brutus vai se recuperar. Em breve, o levará para a fisioterapia. _ Declaro.

_ Tudo o que aconteceu e vem acontecendo em nossas vidas é uma tremenda merda. As pessoas dessa cidade são podres, Malu. Assim que conseguirmos desmascarar os verdadeiros culpados pretendo ir embora. Aconselho a fazerem o mesmo. _ Hunter diz desgostoso.

_ Obrigada por confiar em nós e compartilhar tudo o que sabia. Essas informações ajudarão muito.

Hunter acena a cabeça com modéstia.

_ Estamos nos ajudando mutuamente. Não tinha certeza de nada, mas nunca acreditei que William Belanger foi o causador daquela explosão. Afinal, ele tinha pai e irmão lá dentro.

_ Também acredito na inocência de Will. Sei que não seria capaz de fazer mal a alguém. Em breve desmascararemos o verdadeiro culpado.

Hunter concorda. Despeço-me com um aceno e saio da loja de conveniência.

_ Tá brincando?! Quer dizer que hoje veio sem sua fera de estimação? _ Ross desencosta de uma bomba de gasolina assim que atravesso o posto.

Solto o ar dos pulmões cansada e mal-humorada.

_ Qual o seu problema, heim? Por que tem que ser sempre esse babaca desagradável? Por que implica tanto com Will? Que mal lhe fizemos?! _ Aumento o tom de voz.

Ross arregala os olhos e me encara surpreso.

_ Não tenho nada contra você. _ Ergue o queixo e funga. _ Mas seu namorado, ele sim é o verdadeiro babaca aqui.

_ Por que diz isso? Will mal fala com você?

_ Exatamente. Você pensa que ele é perfeito, mas não é. _ Ross aponta o indicador em minha direção. _ É um egocêntrico. Um insensível. Vive no mundinho dele. Nunca teve interesse em conhecer o próprio sobrinho, mesmo sabendo que foi a única família que lhe restou. _ Ross está quase bufando quando termina de falar.

Paraliso em dúvida de ter ouvido direito.

_ De quê sobrinho está falando? Pensei que não havia restado ninguém da família de Will.

_ Do filho do irmão dele, ora! Minha irmã estava grávida de Adam quando ele morreu. William Belanger sabia disso. Os dois eram como unha e carne.

Encaro Ross não acreditando no tamanho mal entendido que armaram por conta da falta de comunicação.

_ Will poderia até saber da existência desse sobrinho, mas esqueceu. Por isso não o procurou!

_ Como é que é?! _ Descrente, Ross põe a mão na cintura.

_ É sério, Ross! Will perdeu a memória depois do acidente...

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