Capítulo 1 - Malu
_ Está sendo precipitada com esse noivado.
Dalmo Brandão, ex-atleta de basquete e um dos comentaristas esportivos mais admirados da TV brasileira, joga o guardanapo na mesa com impaciência durante o café da manhã.
_ Estou pronta para dar esse novo passo agora que minha carreira jornalística está finalmente se consolidando. Deveria estar orgulhoso e me apoiar. _ Largo a xícara na mesa e encaro meu pai.
Temos os mesmos olhos negros expressivos com sobrancelhas e cílios fartos. Minha pele é de um tom mais claro que a dele por conta dos genes de minha mãe que é branca. Ela costuma dizer que essas misturas sempre dão certo e que filhos de casais interraciais são lindos.
Modéstia à parte, amo minha cabeleira longa e farta. Os cachos naturais e bem cuidados soltos me proporcionam um estilo livre e marcante.
_ Fiquem calmo vocês dois. A semana está apenas começando. _ Minha mãe, suspira exasperada do outro lado da mesa.
_ Tornou-se impossível ter um café da manhã tranquilo nessa casa desde que sua filha cismou em casar com aquele sujeitinho oportunista do Gael Matozzo.
_ Dalmo, ela também é sua filha. Tentem conversar civilizadamente.
Natalice Nunes Brandão sempre foi o elo que manteve a harmonia da família. Trabalhou como modelo quando era mais jovem. Hoje dedica-se apenas à casa e administra uma linha de roupas e cosméticos com sua marca. A N&N Beauty é vendida nas mais conceituadas lojas de departamentos do país.
_ Conversa civilizada? _ Sorrio sarcástica e empurro a cadeira para me levantar. _ O temido Dalmo Brandão não sabe o que isso significa. Não consegue ser flexível. Para ele só existe uma opção, ser obedecido.
_ Está sendo injusta com seu pai, Malu.
Dalmo Brandão sempre foi excelente pai e esposo. O problema é que temos personalidades parecidas e por conta disso temos algumas divergências por não conseguirmos ceder nas discussões.
_ Sinto muito, mãe. Mas a sensação que tenho é que por mais que me esforce, ele nunca reconhece meus méritos. Sempre critica minhas escolhas.
_ Sente-se! _ A voz de meu pai ecoa como um trovão no cômodo.
Nos entreolhamos em silêncio.
Apesar dos vinte e seis anos e da total independência financeira, sinto-me presa a um elo de superproteção da parte de meu pai.
Sento e o encaro.
_ Sabe que isso não é verdade. Sempre tive muito orgulho de você. _ Ele respira fundo e apoia as mãos grandes na borda da mesa. _ Droga, Maria Lúcia! Você é minha única filha. O bem mais precioso que possuo junto com sua mãe.
Estica o braço e segura minha mão sobre a mesa.
_ Todos sabem o quanto vibro quando te vejo na TV cobrindo uma reportagem, fazendo aquilo que gosta e agora prestes a ser promovida por se destacar.
Fecho os olhos e respiro fundo.
Me orgulho por estar seguindo uma trajetória de sucesso no jornalismo sem a influência de meu pai desde que me formei. Estou construindo minha história com talento, dedicação e muito esforço como ele um dia fez.
Malu Brandão vem se tornando um nome respeitado na TV brasileira. A repórter de campo que vai atrás das notícias, investiga a fundo e aborda os problemas da sociedade com seriedade dando um toque humano com sua irreverência e carisma.
_ Sou contra a esse relacionamento porque sei quem é Gael Matozzo. Ele é igualzinho ao pai, um trapaceiro da pior espécie.
Puxo minha mão.
_ Continua julgando Gael movido por essa rixa ridícula que sustenta por décadas pelo pai dele. Estou cansada disso. É tão injusto carregarmos o fardo de vocês.
Levanto novamente. Dessa vez caminho até o arco que separa a sala de jantar da sala de estar.
_ Renan Matozzo sempre foi um mentiroso. Um homem sem escrúpulos. Tenho certeza de que ensinou o filho a ser igual a ele. Uma hora descobrirá isso...
Não ouço o fim do discurso. Saio pela porta da frente...
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