Capítulo único
3400 palavras
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Zona rural de Cananéia, SP, 1894
— Vem comigo, Raiana? Venha comigo para o futuro?! – Os olhos dele me encaravam, cheios de expectativas que fui obrigada a quebrar.
— Um lugar onde as mulheres podem usar calças? Seria perfeito! — A recusa reverberava em meu tom de voz e ele percebeu, pois seu sorriso murchou.
Eu não podia abandonar Rebeca. Minha irmã era tudo que me restava no mundo e eu era tudo para ela. Simples assim. Ou pelo menos havia sido, até um certo forasteiro cruzar meu caminho...
Era a primeira manhã da primavera quando o encontrei na mata, perto do nosso casebre, dentro de um compartimento de metal que nunca vira antes.
Avistei o estranho objeto quando subi na jaqueira do pomar para colher as frutas que vendíamos na praça aos sábados, Rebeca estava do outro lado da casa, cuidando das hortaliças. Vencida pela curiosidade, fui investigar de perto aquela coisa. Com um sobressalto, descobri que havia uma pessoa lá dentro e percebi que alguns ramos estavam bloqueando o que, possivelmente, seria uma porta. Quando consegui removê-los, a imensa caixa de metal se abriu, revelando um rapaz com olhos castanhos apavorados, os cabelos escuros estavam desalinhados. Sua pele adquiria um brilho dourado diante dos raios de sol do amanhecer e suas vestes elegantes pareciam recém saídas do alfaiate. Isso me fez pensar sobre minha própria aparência, eu usava um vestido puído, tinha plena certeza de que meus cabelos vermelhos pareciam um ninho de pássaros, os cachos sempre atraiam e prendiam diversas folhas quando eu teimava em subir nas árvores, constrangida, mirei meus próprios pés. Para completar o desastre, eu estava descalça. Decidi que era melhor voltar os olhos para o rapaz.
— Muito obrigado, você me salvou! — agradeceu ele, num fio de voz.
Em seguida, parecendo recuperar a capacidade de falar, ele se apresentou: seu nome era Hugo. A caixa de metal era a embarcação que o trouxera aos arredores de Cananéia. Ele chegara ontem, ao entardecer, mas a porta emperrada o impediu de sair e ele passou a noite toda aprisionado ali.
Chegada a minha vez de falar, disse apenas que me chamava Raiana Gonçalves, pois ele ainda não me inspirava confiança.
Depois de uma pausa, Hugo revelou que viera de um lugar distante para se encontrar com o senhor Frederico Arantes. Hesitei ao ouvir tal nome. O senhor Arantes era considerado um lunático e vivia isolado há anos em sua chácara.
Porém, Hugo foi persistente e lembrei-me de papai dizendo que ele fora um homem fantástico antes de se tornar tão recluso. No final das contas, o levei até Frederico.
Quando ele se encaminhou para a entrada, fiquei esperando à sombra de uma mangueira, o que ele tinha para conversar com Frederico, fosse lá o que fosse, parecia demasiadamente confidencial.
Observei enquanto ele se afastava, empunhando a pequena bagagem de mão que trazia consigo e, enquanto aguardava seu retorno, passei a remexer as folhas secas sob meus pés, eu apreciava o farfalhar suave, o contraste entre elas e a maciez da terra. Sabia que, além de ser um desrespeito às famigeradas convenções sociais, sair por aí com os pés descalços me deixava mais suscetível às cobras venenosas que rondavam a região — elas já haviam roubado minha mãe de nós e só de pensar naqueles seres rastejantes meu corpo se arrepiava — mas ainda assim eu detestava estar presa dentro de sapatos apertados.
***
Hugo não demorou muito para aparecer e, para minha surpresa, ele não só foi recebido como também foi convidado a se hospedar na casa de Frederico por seis meses!
Ele encontrou quem procurava e tinha um lugar para ficar. Pronto, estava feito! Eu tinha ajudado aquele forasteiro, meu dever estava cumprido. Podia voltar para casa e esquecer-me desse episódio.
Entretanto, não foi isso que eu fiz.
A residência de Frederico Arantes era relativamente próxima do casebre onde eu morava, de forma que o acaso não tinha muito trabalho ao arquitetar nossos encontros. Aos poucos, percebi que Hugo despertava algo dentro de mim, uma espécie de curiosidade insana. Eu queria conhecê-lo, desvendá-lo.
Não raramente, após terminar meus afazeres cotidianos, me sentava junto a ele nas margens do riacho que cortava os fundos das duas propriedades e conversávamos por horas a fio. Rebeca, embora notasse minha ausência, não exigia que eu lhe contasse nada. Hugo era meu segredo, assim como o novo editor do jornal para o qual papai costumava escrever seus textos abolicionistas era o segredo dela.
Eu não sabia como nosso tio reagiria ao saber disso, Rebeca envolvida com um rapaz que ele designava como “jornalista medíocre” e eu cada vez mais encantada com um jovem negro. Papai era um homem à frente de seu tempo, sentiria orgulho de nossas escolhas, mas o irmão de nossa mãe era um homem rígido e conservador ao extremo. Havia nos acolhido em sua fazenda num inesperado gesto de misericórdia, quando papai morreu. Estava grata por ele nos oferecer proteção e um teto, além de nos permitir colher os frutos do pomar e o cultivo de uma horta, para garantirmos nossa subsistência. Porém, eu sabia o quanto ele queria que aceitássemos sua oferta de nos mudarmos para a casa grande e aprendermos a nos comportar “como duas damas”, algo que jamais aconteceria. Por sorte, ele sabia que Rebeca e eu, suas únicas parentes vivas, daríamos um jeito de sumir no mundo caso ele tentasse nos obrigar.
— Raiana!
Hugo me despertou de meus devaneios.
— Você está atrasado. — comentei.
Acidentalmente, havíamos estabelecido um horário padrão para nossos encontros.
— Foi por uma boa causa! — declarou tirando as mãos das costas e estendendo-me um suporte de madeira que sustentava algumas bolinhas coloridas e pequeninas, suspensas em grandes anéis de arame. — Esse é um modelo do sistema solar, sobre o qual conversei com você outro dia.
Instintivamente, segurei o objeto com empolgação. Embora soubesse ler, escrever e fazer cálculos básicos, nunca pude me aprofundar no campo das ciências. Rebeca, que era mais afeita aos livros, chegou a ler sobre assuntos como astronomia, estrelas e planetas, mas, para mim, estudar sobre isso sempre pareceu muito maçante. Até que Hugo começou a discursar sobre coisas que me pareceram fascinantes e percebi que o céu guardava muito mais mistérios do que eu poderia supor.
Apontando para o suporte de madeira, ele explicou o que cada peça representava e eu ouvi como se estivesse bebendo suas palavras. Ao final, ele pegou o objeto das minhas mãos e abaixou-se para depositá-lo sobre a grama. Quando se ergueu novamente, segurou minhas mãos entre as suas e cravou os olhos nos meus.
— Raiana, talvez pareça loucura, mas... eu preciso te dizer, antes que seja tarde demais, você é o sol em torno do qual eu quero orbitar até o fim dos tempos!
Suas palavras me pegaram de surpresa. Porém, saber que meu afeto era correspondido era como flutuar entre nuvens e estrelas.
Eu nunca esperei encontrar alguém, todos na cidade me viam como uma aberração, além da minha “falta de modos” eu morava sozinha com minha irmã e tinha de trabalhar para me sustentar. Tais aspectos eram inaceitáveis aos olhos de qualquer possível pretendente. Hugo, no entanto, me via pelo que eu realmente era, eu percebia isso a cada vez que estávamos juntos.
— Não é loucura! Eu... eu me sinto da mesma forma em relação a você. — afirmei, inclinando-me em sua direção.
— Não. — Ele se afastou abruptamente, soltando minhas mãos como se elas estivessem em brasas.
— Antes de qualquer coisa eu preciso te contar a verdade.
Aquele foi um golpe que me acertou de jeito. Eu pensei que ele seria incapaz de mentir, seu semblante sempre me perecera tão fácil de ler. O pior de tudo é que eu tinha me apaixonado pela pessoa que achava que ele era.
A tensão tomava conta do ambiente e a expressão preocupada de Hugo chegava a doer em meus ossos, mas eu não sabia se era sincera. Ainda relutante, a decepção cobrindo meu coração como a cerração gélida de uma manhã de inverno, preparei-me para escutar o que ele tinha a dizer.
***
Com espanto, descobri que Hugo vinha do futuro.
Mais especificamente do ano de 2034. Ele tinha estudado ao longo de anos com uma equipe de físicos, antes dele sua mãe trabalhara nisso também e ele prometeu que daria continuidade ao legado dela. Suas pesquisas se baseavam em escritos deixados por Frederico Arantes e agora ele viera até aqui para agradecê-lo e para confirmar que ele tinha razão em suas proposições.
Quando questionei sobre como algo assim seria possível, Hugo explicou que duas vezes ao ano ocorre um fenômeno chamado equinócio, quando as duas metades da terra recebem a luz do sol na mesma intensidade. Ele e sua equipe investigaram a fundo a possibilidade levantada por Frederico, de acordo com ele, nessas ocasiões ocorria um rasgo no véu do tempo. Hugo se debruçou ainda sobre até lenda japonesa, que lhe forneceu a resposta acerca da hora exata em que a fresta se abria: o fenômeno acontecia durante o crepúsculo.
Com uma precisão admirável, Hugo conseguiu cruzar essa brecha, que ocorria em uma fração de segundo. Além disso, ele foi capaz de programar e alinhar a imensa caixa de metal de forma que ela fosse capaz de chegar até aqui.
Fiquei boquiaberta diante de tudo que ouvi, comecei a cogitar que Hugo era um maluco. Mas ele tinha evidências incontestáveis que provavam tudo que estava dizendo. Não bastasse a imensa caixa de metal, ele tinha fotos, com cores vivas e vibrantes, de coisas que eu jamais teria imaginado que pudessem existir um dia. As imagens estavam repletas de geringonças que ele chamava de "celular" e "computador", havia também cidades com construções imensas e ruas pavimentadas, repletas de pessoas entre as quais eu pude ver diversas mulheres usando calças!
Levantei-me do local onde havia sentado quando ele começou seu relato e me despedi da maneira mais seca que consegui e passei uma semana inteira evitando qualquer coisa que fosse além de um cumprimento educado, quando o avistava na estrada a caminho da cidade. Porém um dia ele ficou a minha espera no riacho, alegando que não sairia de lá até que eu me dispusesse a ouvi-lo mais uma vez.
Resolvi ceder.
Atropelando-se entre as palavras, ele revelou que chegara o dia da sua partida e que não poderia ir sem o meu perdão. Descobrir que ele vinha guardando um segredo tão grande havia me machucado muito, mas, de certo modo, eu compreendia as razões que o levaram a agir assim. Portanto, assegurei a ele que não guardaria nenhum rancor.
Porém, seria impossível fugir da nova ferida se abria: Hugo estava indo embora.
— Isso é uma despedida? Não vamos nos ver nunca mais? — Indaguei.
— Sinceramente, eu não sei. É tudo muito incerto ainda. — O cenho franzido mostrava que ele, de fato, não possuía uma resposta sólida para me oferecer. — Mas... se você estiver de acordo, eu prometo que tentarei voltar.
Hugo me encarava apreensivo.
— Eu estou de acordo. Quero muito que você volte, não consigo imaginar uma existência na qual você não faça parte da minha vida. — Confessei.
Então ele se aproximou, até eliminar toda a distância que havia entre nós, e tocou os lábios nos meus. Hugo fez tudo vagarosamente, de modo que eu poderia impedir a qualquer momento caso não quisesse que aquilo acontecesse. Mas eu queria, com todo o meu coração.
Quando terminamos o beijo, ele propôs me convidou para ir junto com ele, rumo ao futuro. Mas entendeu minha recusa.
Assim como eu entendi suas razões para não poder ficar: Ele me amava, mas precisava provar o que tinha feito e seu desaparecimento seria encarado como um fracasso na missão pela qual ele se dispusera dar a vida.
Após remover os ramos que estavam encobrindo a máquina do tempo e entrar no compartimento, o crepúsculo em seu ápice, Hugo tornou a prometer que reencontraria a brecha.
Enquanto a caixa metálica desaparecia no espaço, um pedaço do meu coração era arrancado do peito.
Ao baixar os olhos, mesmo com a visão turva, vi uma cascavel à minha espreita, eu não temia muitas coisas na vida, mas tinha verdadeiro pavor das cobras. Comecei a correr para me afastar dali o mais rápido possível e cometi o erro de olhar para trás uma última vez. Meus pés descalços continuaram em movimento. O resultado disso foi que escorreguei nas folhas que revestiam a trilha e perdi o equilíbrio, em questão de segundos, fui de encontro a uma pedra afiada.
A dor que me envolvia era tanta que eu quis gritar, mas não encontrei forças. O cheiro frio do sangue quente que corria pelo meu rosto invadiu minhas narinas.
Enquanto o azul do dia se misturava às sombras da noite, eu caía na escuridão.
***
Acordei cerca de quinze dias depois, com a cabeça pesada e dolorida. Estava na minha cama e minha irmã, sentada na cadeira ao lado, tinha lágrimas nas bordas dos olhos arroxeados. Ela passara os dias e as noites em vigília, assolada pelo medo de que eu não acordasse mais. Alguns trabalhadores me encontraram caída na trilha quando voltavam da lida. Rebeca disse que, no dia da queda, alguns trabalhadores me encontraram caída na trilha quando voltaram da lida. De acordo com os médicos, eu tive uma concussão séria.
Bastaram apenas alguns minutos de conversa com minha irmã para que eu percebesse que algo estava errado. Havia um imenso buraco nas minhas lembranças. Acordei convicta de que estávamos em pleno inverno e não recordava absolutamente nada do que tinha vivenciado na primavera ou no verão que, ao que parecia, já haviam terminado.
Após ser examinada, fui diagnosticada com “perda parcial de memória nenhum dos médicos que visitei soube me dar uma solução. Eles diziam que as recordações provavelmente iam voltar com o tempo, mas alertavam para o fato de que, em alguns casos, aquela condição era permanente.
Passei cerca de três anos tentando contornar essa grande lacuna e evitando falar no acidente. No entanto, certo dia, ao voltar da cidade trazendo alguns pães frescos, resolvi entrar pelos fundos e ouvi vozes na sala. Distingui que uma das pessoas que falava era minha irmã, a outra possuía uma voz masculina diferente de todas que eu já ouvira antes. Por alguma razão, aquele som fez meu coração acelerar.
Rebeca deve ter percebido o barulho da porta se abrindo e o ruído dos meus movimentos ao colocar o cesto de quitandas na mesa, porque veio apressada ao meu encontro.
— Há um forasteiro procurando por você. Ele disse que a conheceu na primavera de 1894. O nome dele é Hugo, consegue se lembrar? — Um olhar interrogativo passeia por seu rosto.
Aquele nome fez com que algo se agitasse dentro de mim.
Contudo, ainda não tinha uma resposta para Rebeca, não antes de vê-lo.
— Vou até lá.
Ao cruzar o batente da porta, deparei-me com um rapaz deslumbrante, sua pele parecia dourada devido aos raios de sol que atravessavam a janela da sala.
Ele me olhava como se não acreditasse que eu era real. Havia fascínio, admiração e medo nas íris escuras que me encaravam, um reflexo dos sentimentos que tamborilavam dentro do meu peito.
— Sua irmã me contou sobre o acidente e... você realmente não se lembra de nada do que aconteceu na primavera ou no verão de 1894? — ele disse finalmente.
À contragosto, balancei a cabeça. Vi a frustração cruzar seus olhos, mas ele não disse nada sobre isso, apenas sentou-se no sofá que se encontrava próximo à janela e começou a narrar uma história da qual eu não me lembrava: eu o havia socorrido na última primavera e nos tornamos grandes amigos, porém ele precisara resolver certas questões em sua terra natal e só agora conseguira voltar. Quando eu menos esperava, ele apontou para o modelo de sistema solar que repousava na estante e afirmou que havia sido um presente dele. Eu não sabia qual era a origem daquele objeto, mas desde o acidente eu sentia certo conforto ao olhar para ele.
Era estranho que Rebeca nunca tivesse mencionado nada sobre Hugo, até onde eu sabia, nunca tinha escondido nada dela. Ele estaria mentindo?!
Mas suas palavras pareciam tão sinceras...
Comecei uma minuciosa análise da figura à minha frente, concedendo-me o direito de ser indiscreta. Ele era um rapaz garboso, pouco mais velho do que eu. De repente, meus olhos pararam em sua boca e instintivamente toquei meus lábios que queimavam. Eu o conhecia, percebi, por mais que não pudesse explicar, eu sabia que ele estava dizendo a verdade e queria continuar aquela conversa. Por isso, quando ele anunciou que precisava partir, concedi que voltasse mais vezes.
No dia seguinte ele estava à minha porta. E no outro também. Ele me convidava a caminhar pelas margens do rio e conversávamos sobre todo tipo de coisa ao longo do percurso. Eu não me cansava de ouvir sua voz, era como uma daquelas melodias que ouvimos em um momento marcante da vida e que tocam fundo, trazendo aconchego à alma toda vez que escutamos novamente.
À medida que os dias passavam, nos tornamos cada vez mais próximos. Rebeca chegou a questionar se ele estava me cortejando, ressaltando que eu teria de enfrentar uma fera, isto é nosso tio, se fosse esse o caso. Ela, inclusive, se prontificou a me ajudar em qualquer batalha que estivesse por vir. Apressei-me em negar com veemência, afinal, nunca tínhamos mencionado nada de caráter romântico um ao outro.
Pelo menos, não até o dia em que fomos assistir ao nascer do sol nas margens do rio.
Estávamos sentados na grama, sem nos importar com as gotas de orvalho que molhavam nossas roupas. A aurora resplandecente coloria o céu e as águas em tons suaves de laranja.
— Você é como um sol para mim. — sussurrei.
— O quê?
— É que você enche meus dias de luz. — declarei com mais força na voz.
Talvez eu estivesse me precipitado ao dizer aquilo em voz alta. Mas era exatamente o que eu sentia.
Hugo chegou um pouco mais perto de mim, o suficiente para segurar meu rosto em suas mãos.
— Posso beijar você? — perguntou enquanto afastava uma mecha de fios ruivos que pousara sobre minha bochecha.
— Pode.
O beijo foi suave, mas cheio de significado. Quando precisei me afastar para tomar fôlego, seus olhos escuros procuram os meus.
— Você é o sol em torno do qual eu quero orbitar até o fim dos tempos.
Era o momento em que as sombras se dissipavam, cedendo lugar à luz do sol.
— Hugo! — pronunciei com todo o afeto que se revolvia dentro de mim.
— Você se lembrou, não foi?
— Sim. Minhas lembranças ainda navegam por águas turvas, mas.... O breu se foi! É inacreditável que todo esse tempo eu senti saudade de alguém que nem ao menos sabia que tinha perdido.
Após um sorriso genuíno, ele me abraçou, depois voltamos a nos encarar, extasiados demais para dizer qualquer coisa.
— Você cumpriu sua promessa! — conclui enfim. — E ainda fez com que eu me apaixonasse de novo... Ah céus! A quem estou querendo enganar! Meu coração sempre soube quem você era. — Após uma pausa, lembrei-me de uma questão importante. — Me diga, o que você fez com suas descobertas? Há mais forasteiros como você por aí, vindos de outra época?
— Não! Eu e minha equipe juramos guardar segredo sobre tudo isso, apenas eu viajei. Registramos cada passo do processo que me permitiu fazer isso, como num diário, mas não o tornamos público. A humanidade do meu tempo ainda não está preparada para isso.
— E não é frustrante manter o trabalho de toda a sua vida escondido?
— Foi uma medida necessária. Na verdade, eu temia que minha existência se tornasse um imenso vazio, sem nenhum sentido, quando concluísse minhas pesquisas. Porém, agora percebo que tudo isso foi como uma grande manobra do destino, nunca acreditei muito nessas coisas, mas... Se me dediquei tanto a descobrir um modo de viajar no tempo foi porque, embora eu não soubesse, eu precisava estar aqui. Precisava conhecer você, e ser preenchido por esse amor imenso, capaz de ultrapassar tudo... seja as tramas do tempo ou as entrelinhas confusas da memória. O elo que nos une é...
— Sublime. — declaro antes de colar meus lábios aos dele outra vez.
Eu ainda não sabia quanto tempo teríamos dessa vez, mas estava disposta a aproveitar ao máximo cada instante que a eternidade nos concedesse.
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