| Capítulo 21 | Se sente que é uma faísca, então saia do escuro
A última semana de setembro anunciava a aproximação das sombras que pairavam sobre meus pensamentos, como uma tempestade iminente. No entanto, naquele momento, não era apenas o futuro acadêmico que me consumia, mas também a viagem de formatura do ensino médio.
Durante o intervalo da aula de orientação vocacional, acompanhava a discussão que agitava meus dois amigos em um aplicativo de mensagens, onde as palavras eram carregadas de incompreensão e desejos conflitantes. Após ouvir os áudios, concluí que Lu se recusava a viajar, enquanto Marcelo tentava contornar a situação. Resolvi gravar uma mensagem de voz, expressando minha insatisfação com o valor cobrado pela viagem.
Em poucos segundos, Marcelo enviou duas gravações seguidas. Apertei o play para ouvi-los.
"Gente, a opção escolhida foi essa. Sei que vocês não gostaram e estão no direito de expor as opiniões. Mas pensem pelo outro lado... é essa viagem que vai marcar o final da nossa etapa."
"E quanto ao valor, eu posso conversar com meus pais e pagar pra vocês."
Afastei o celular do ouvido e digitei uma resposta, apoiando a ideia. Agora só faltava a Lu se manifestar. Após enviar a mensagem, bloqueei a tela.
— Caramba, que discussão de vocês, hein? — Elisa comentou.
Pousei o aparelho sobre a mesa do refeitório e suspirei.
— Espero que você e as meninas não passem por isso ano que vem.
— Qual o destino da viagem?
— Morretes. É um pacote que inclui várias coisas. Primeiro, vamos de trem, depois exploramos os pontos turísticos da cidade. Teremos direito a almoço e a um café colonial à tarde. O passeio vai durar só um dia e está marcado para o final de novembro — expliquei.
— Nunca fui pra lá, mas deve ser um lugar incrível. Eu não conheço muitas cidades turísticas do Paraná, o máximo que visitei foram os litorais — revelou.
— E pelo menos conhece os pontos turísticos de Curitiba? — questionei.
Ela bebeu um gole do suco de laranja e, depois, repousou o copo sobre a mesa.
— Sendo bem sincera, conheço alguns. Fui uma vez ao Jardim Botânico e ao Museu Oscar Niemeyer, ambos em excursões no primário. Na região central, conheço a Rua XV, as praças e o Largo da Ordem. Até tive oportunidade de visitar outros lugares, mas rejeitei, pois não gostava de sair de casa e tinha muita vergonha.
Naquele instante, uma ideia começou a tomar forma na minha mente, crescendo incontrolavelmente.
— E que tal visitarmos outros pontos turísticos? Tipo Praça do Japão, Parque Tanguá, Bosque do Alemão... E podemos voltar ao Jardim Botânico, já que você foi quando era criança.
— Gostei da proposta, vai ser um passeio legal.
Inesperadamente, a ideia se consolidou, pronta para ser posta em prática.
— E aí eu faço seu ensaio fotográfico! Tenho uma câmera profissional em casa e sei manuseá-la — sugeri, empolgada.
Elisa arregalou os olhos, pousando as mãos sobre o colo.
— Só tira a parte do ensaio fotográfico. Detesto tirar fotos, não fico bem em nenhuma. Vai ser perda de tempo.
Corrigi minha postura na cadeira.
— Você vai mesmo dizer não pra uma ideia dessas? Ainda mais agora que tá começando a sair desse jeitinho mais fechado? Eu sei que dá um frio na barriga, mas aposto que você vai se surpreender com o quão incrível vai ficar nas fotos. Além disso, vai ser super divertido e uma forma muito legal de guardar memórias especiais!
Ela suspirou, desanimada.
— Agradeço pelas palavras, Lana, mas não é tão simples assim. Não levo jeito pra fazer poses, ainda me sinto desengonçada e nada do que faço parece bom o suficiente.
Coloquei as mãos sobre a mesa e limpei a garganta, buscando argumentos.
— Elisa, eu super entendo como você se sente. Muita gente fica insegura antes de um ensaio fotográfico, é normal. Mas olha, o que importa não é fazer poses perfeitas, e sim capturar quem você realmente é. Prometo que vai ser algo bem simples, e eu vou te ajudar com as poses, então não precisa se preocupar com isso. Todo mundo tem uma beleza única, e sério, você tem uma luz especial que merece ser registrada. Vai ser super leve e divertido. Acho que você pode se surpreender com o resultado e perceber o quão incrível você é, exatamente do jeitinho que você é. O que acha?
Ela ficou cabisbaixa, refletindo. Pouco tempo depois, seus olhos voltaram a me encarar com esperança.
— Tá bom, vamos fazer isso. Mas, se eu ficar feia nas fotos, você vai ter que excluir.
Gritei de comemoração, agitando os pés. Pouco me importei com os outros alunos que assistiram à minha reação.
— Vamos no domingo à tarde, quando o trânsito é mais tranquilo. Primeiro, vou à sua casa para prepararmos os looks e fazer sua maquiagem. Depois, seguimos para os lugares.
Ela concordou com a cabeça e tomou mais um gole do suco. Após a conquista de sua resposta, meus anseios saltitavam dentro de mim, como uma dança eufórica e confiante.
Apreciei o resultado após me dedicar à maquiagem. Estiquei a mão, alcancei o espelho e o mirei no rosto de Elisa. Quando constatou a finalização, ela abriu os olhos lentamente, encarando seu reflexo.
— E não é que você conseguiu dar um jeito? Nossa, fiquei bem diferente — admitiu, estupefata, enquanto admirava sua imagem. — Quero aprender essas técnicas de maquiagem.
— Um dia te ensino, ou você pode aprender com os tutoriais do YouTube... Fico feliz que tenha gostado, até porque foi a primeira vez que maquiei alguém.
A maquiagem foi discreta, como Elisa pediu. Cobri seu rosto com uma leve camada de base e pó facial, seguido por um toque suave de blush. Apliquei um delineado estilo gatinho para destacar seus olhos, junto com uma sombra suave e rímel para alongar os cílios. Finalizei com um batom de cor sutil, apenas para realçar os lábios.
Já havíamos separado as roupas e as colocado em uma mala, faltava apenas iniciarmos o deslocamento.
— Agora já podemos ir. Vou chamar um motorista de aplicativo — avisei.
Elisa conectou a chapinha na tomada ao lado da cama e assentiu com a cabeça.
Adicionei o endereço e o primeiro ponto turístico no aplicativo, mas o valor da corrida não correspondia às minhas expectativas. Acessei outro aplicativo em busca de uma opção mais acessível. Presumi que o preço alto era por conta do horário, então resolvi esperar alguns minutos na esperança de que o custo diminuísse.
Assim que Elisa terminou de alisar o cabelo e desligou a chapinha, atualizei o preço da corrida. A decepção moldou meu semblante.
Bufei, insatisfeita.
— Más notícias, o aplicativo tá cobrando muito caro. Temos que visitar quatro pontos turísticos e não vamos conseguir bancar o valor total.
— E agora? — indagou, apreensiva.
— Eu vou dar um jeito. — Coloquei a mão no queixo, pensando em alternativas.
Saí do quarto e desci as escadas, enquanto buscava uma solução. Ao chegar à sala de estar, abri a porta e saí para fora.
Meus olhos se concentraram na garagem, onde Michel estava dentro de um veículo Gol quatro portas, envelopado com a logo da empresa em que trabalha, Help Desk. Por impulso, me aproximei.
— Problemas no rádio? — perguntei, apoiando a mão na porta entreaberta.
Assim que me viu, Michel interrompeu a remoção do rádio no painel frontal e se virou.
— Essa porcaria vive travando, então tenho que desconectar e reconectar — explicou.
Observei o interior do veículo, e uma ideia surgiu imediatamente.
— Vim te pedir um favor. Prometi à Elisa que faríamos um ensaio fotográfico pelos quatro pontos turísticos de Curitiba, mas o aplicativo de transporte está cobrando muito caro. Será que você poderia nos dar uma carona?
Ele se espreguiçou no banco do motorista e suspirou.
— Cinquenta reais — pediu.
Arregalei os olhos com a proposta. Como ainda dependia dos meus pais, não tinha condições de pagar tanto, então tentei negociar.
— Te dou dez reais e um mangá de sua preferência. É pegar ou largar. — Cruzei os braços.
Ele deu de ombros.
— Fechado.
Agradeci com um sorriso e corri de volta para dentro da casa.
— Elisa! Teu irmão vai nos levar! Pega as coisas e vem! — gritei, animada.
— Tá bom, já tô indo! — respondeu, em voz alta.
O barulho da porta do quarto se abrindo revelou a presença de Abel.
— Se vocês vão sair, quero ir junto.
— Não sei se é uma boa ideia, vô — Elisa avisou, enquanto descia as escadas com cuidado, carregando a mala e a case da câmera. — Só vamos visitar alguns parques e a Lana vai tirar algumas fotos minhas.
Ela me entregou a bolsa com os equipamentos e a coloquei no ombro.
— Deixa disso, Elisa. Quanto mais companhia, melhor. Sem falar que você vai se sentir mais à vontade — incentivei.
Elisa concordou com a cabeça e seguimos em direção ao veículo. Logo que entramos, Michel colocou o cinto e girou a chave na ignição. Naquele instante, senti que cada ideia iluminada me guiaria para criar momentos que ajudariam Elisa a se libertar de suas inseguranças.
O clima ensolarado iluminava aquela tarde de domingo. Michel conseguiu estacionar na avenida, a um quarteirão do local.
Meus olhos se encheram de encanto ao avistar a Praça do Japão. Parecia que eu havia sido transportada para um cenário de serenidade e beleza asiática. Conforme caminhávamos pelos jardins meticulosamente planejados, sentia-me imersa na tranquilidade proporcionada pelos elementos naturais e arquitetônicos que a definiam.
À minha frente, o lago espelhava o céu azul, adornado por carpas coloridas que deslizavam graciosamente pela superfície. As pontes vermelhas, típicas da arquitetura japonesa, conectavam ilhotas de vegetação exuberante, criando um caminho que convidava à contemplação. Ao redor, lanternas japonesas tradicionais eram suavemente iluminadas pela luz do sol, filtrada pelas copas das árvores. Entre os jardins de pedras e musgos, pequenos torii vermelhos marcavam pontos de transição, simbolizando a passagem para um espaço de paz e harmonia. Havia bancos de madeira estrategicamente posicionados, convidando os visitantes a momentos de pausa e reflexão. Eu admirava não só a beleza natural, mas também os detalhes cuidadosamente cultivados que refletiam a essência da cultura japonesa.
Enquanto avançávamos pela praça, aproveitei a paisagem para registrar a primeira foto. Orientei Elisa a se posicionar em frente ao Memorial Japonês, que se destacava com sua arquitetura típica, realçada pela cor amarela que cobria toda a estrutura.
Posicionei a câmera até obter o ângulo ideal, mas, após o clique, percebi que o resultado não era o que eu esperava.
— A primeira saiu desfocada — menti. — Vou tirar outra.
— Elisa, seja mais espontânea — aconselhou seu avô.
— Relaxe os ombros, não fique tão tensa — acrescentou Michel.
Elisa suspirou, desanimada.
— Viu, Lana? Eu te disse que não ia dar certo — reclamou.
— Peguem leve com ela — murmurei para os dois. — Tudo bem, isso acontece. Vou te ensinar algumas poses e você vai tentar reproduzi-las. Você consegue — a incentivei.
Comecei a mostrar poses mais simples. Aos poucos, Elisa foi se soltando, e as fotos começaram a capturar sua essência jovial e autêntica. Observei pela pequena tela da câmera e o resultado estava ficando muito melhor.
O local e a escolha das roupas realçavam as fotografias, capturando a atmosfera de serenidade e encanto que permeava cada canto da praça. O equilíbrio entre a natureza e a presença de Elisa nas imagens transmitia uma harmonia que me deixou satisfeita, e percebi que, de alguma forma, sua luz interior irradiava cada vez mais.
Com o último clique, sinalizei que era hora de partirmos para o próximo destino.
O trajeto rumo ao Jardim Botânico durou cerca de vinte minutos. Devido à quantidade de veículos que lotavam o estacionamento, Michel encontrou uma vaga um pouco distante do local. Para garantir a privacidade de Elisa enquanto ela trocava de roupa dentro do carro, ajudei a cobrir as janelas do banco de trás e o para-brisa traseiro com blusas.
A nova combinação de roupas de Elisa se harmonizava perfeitamente com a paisagem natural. Ela usava um short jeans de cintura alta, uma blusa branca estilo ciganinha, tênis branco e óculos escuros.
Antes de iniciar as novas fotografias, decidimos explorar os arredores. Assim que entrei no Jardim Botânico de Curitiba, fui transportada para uma realidade onde a beleza e a serenidade se entrelaçavam, e a natureza e a arquitetura coexistiam em perfeita harmonia. A imponente escadaria de pedra, que conduzia ao portão principal, estava adornada por canteiros floridos, exibindo um espetáculo de cores vibrantes que destacavam a primavera. Quando alcancei a estufa principal, fiquei maravilhada com a estrutura de vidro e metal, inspirada no Palácio de Cristal de Londres. Dentro, um pequeno lago com carpas e uma ponte de madeira compunham um refúgio de tranquilidade e contemplação.
A estufa abrigava uma variedade de plantas tropicais, incluindo espécies raras e exóticas que capturavam minha atenção. Subimos as escadas até o segundo andar, onde uma passarela de metal, pintada de branco, permitia aos visitantes observar o jardim de diferentes ângulos. Ao redor da estufa, gramados extensos e canteiros geométricos convidavam a passeios contemplativos. As flores, organizadas em padrões artísticos, criavam um quadro vivo sob o céu de Curitiba. Caminhei entre os canteiros, sentindo a brisa suave e o aroma das flores, e absorvi a experiência exuberante que o local proporcionava.
Era como um poema escrito pela natureza.
O cenário inspirou uma onda de ideias, e logo pensei em novas abordagens para as fotografias.
— Elisa, senta nos degraus perto da estufa. Vamos aproveitar a boa iluminação — pedi.
Ela se aproximou hesitante.
— Não dá pra irmos a outro lugar? Aqui tá muito movimentado, não gosto quando tem muita gente olhando — confessou, a insegurança evidente em sua voz.
Chamei Michel e Abel para se juntarem a nós.
— Venham, fiquem ao lado dela — sugeri.
Posicionei a câmera e enquadrei os três, em frente à estufa. O flash capturou o momento e eu sorri, vendo como o apoio da família ajudava Elisa a relaxar.
— Fica tranquila, Elisa. Aqui é comum ver outras pessoas fazendo ensaios fotográficos. Finja que ninguém está aqui e se concentre em você mesma — aconselhei.
Abel pediu para tirar uma foto com a neta, e fui responsável por registrar o momento. O semblante sereno de ambos refletia a faísca de autoconfiança que Elisa tanto precisava.
Conforme o tempo passava, o passeio se tornava cada vez mais agradável. Continuamos a registrar momentos que demonstravam o progresso de Elisa. Exploramos o Jardim das Sensações e o Museu Botânico, onde capturei imagens de Elisa que transmitiam uma conexão profunda com o ambiente. As cores vibrantes, a luz suave do sol e a harmonia entre o espaço e sua presença irradiavam um brilho especial.
Após explorarmos cada detalhe do Jardim Botânico, encerramos o passeio. A sensação de realização encheu meu coração, pois cada momento se tornou uma celebração da harmonia entre a paisagem e a luz que brilhava cada vez mais dentro de Elisa.
Quase meia hora depois, o Parque Tanguá surgiu no horizonte. Com o carro parado em uma subida, Elisa realizava mais uma troca de roupa. Sua nova combinação exibia um estilo moderno: saia rodada média na cor preta, regata de alcinha rosê e um par de sapatilhas. Seu penteado meio preso conferia coerência à escolha das vestimentas.
Subi os poucos degraus da entrada do parque, e a paisagem encantadora convidava a mergulhar em um cenário natural de rara beleza. O Parque Tanguá é um dos principais oásis verdes de Curitiba. Com o enorme chafariz e os dois mirantes amarelos ao fundo, a natureza se revelava em toda a sua exuberância. A atmosfera exalava tranquilidade e harmonia, e as construções ao redor reforçavam essa sensação pacífica. Era como se a própria natureza me acolhesse em um abraço verdejante.
Conduzi Elisa para que fizesse uma pose e registrei a fotografia. Ela permaneceu imóvel, sentada à beira do chafariz, com as pernas cruzadas e as mãos apoiadas nos joelhos. Aproximei a lente da câmera e a captura foi realizada com êxito.
— Vou sentar com o vô em um dos bancos de madeira, ele está cansado de ficar em pé — Michel avisou.
Eu e Elisa retomamos nosso passeio, e a câmera continuava acumulando registros. Após tanto incentivo, percebi que ela havia, finalmente, escapado de suas inseguranças, abraçando a luz que aquecia sua determinação.
Era tudo o que eu precisava ver.
Adentramos as trilhas sinuosas, guiadas pelo canto dos pássaros e o murmúrio da água corrente. As árvores majestosas, com seus galhos entrelaçados, formavam um teto verde que filtrava a luz do sol, criando um mosaico de sombras e clarões. As poses espontâneas e os sorrisos de Elisa transpareciam diante da câmera, revelando sua crescente confiança.
Atravessamos uma ponte de madeira e chegamos à margem do lago, onde a água refletia a beleza ao redor, criando uma ilusão de infinito. O rugido imponente das quedas d'água formava uma leve névoa ao seu redor. A paisagem me fascinava, enquanto a melodia das águas preenchia o ambiente com serenidade.
Quase uma hora depois, retornamos ao ponto de partida. Michel e Abel se levantaram simultaneamente, parecendo recuperar o entusiasmo para conhecer o último ponto turístico.
O Bosque do Alemão exibia seu encanto ao combinar a natureza espetacular com elementos culturais e históricos. Logo na entrada, pelo Oratório de Bach, me senti imersa em um horizonte que mesclava a tranquilidade da natureza com a riqueza das tradições germânicas. Enquanto caminhava vagarosamente pela calçada de pedra, admirava a construção de madeira e a preservação do local histórico.
— Alana, quero uma foto aqui — Elisa pediu.
Sorri por vê-la tomar iniciativa, e por notar que a empolgação afastava seus receios.
Apontei a câmera até encontrar um ângulo favorável. Em poucos segundos, o registro revelou a combinação perfeita entre o ambiente e sua vestimenta. Seu estilo casual destacava-se: short jeans de cintura alta na cor marrom, camiseta preta de manga curta, óculos de sol e coturnos pretos.
Seu irmão e o avô optaram novamente por descansar nos bancos de praça, já que Abel não estava em boas condições de locomoção. Continuamos explorando as paisagens que o bosque oferecia. Passamos pela confeitaria Erika e depois seguimos pela trilha formada por passarelas e escadarias de madeira. Atendi aos pedidos de Elisa, fotografando-a em cada local. Chegamos à Torre dos Filósofos, um mirante que oferecia uma vista espetacular de Curitiba, encantando nossos olhares. Após descer alguns degraus, seguimos pelo Bosque Encantado, uma trilha pavimentada com caminhos de pedra, com placas que contavam a história de João e Maria, dos irmãos Grimm. No meio do percurso, encontramos a Casa da Bruxa, que funcionava como uma biblioteca infantil.
O trajeto terminou no portal alemão, uma construção que reproduzia a fachada da Casa Milla. Parecia uma réplica da igreja presbiteriana, em estilo neogótico, destacada pela cor amarela e pelos detalhes brancos que realçavam as molduras das janelas. As fotografias se tornavam cada vez mais espetaculares, e um sentimento de realização me invadiu ao perceber as etapas concluídas, refletindo um brilho de conquista.
— Elisa, as fotos estão incríveis! Em casa vou editá-las, adicionar alguns efeitos, fazer recortes e... — Parei ao perceber uma presença não muito distante, o que me deu uma nova ideia. — Segura minha câmera, já volto. — Entreguei o equipamento e acelerei os passos.
Aproximei-me de uma mulher loira, de baixa estatura, que distribuía balões metalizados em formato de estrelas douradas, cheios de gás hélio. Pedi duas unidades e segurei firmemente os fitilhos. Sorri em agradecimento e voltei ao encontro de Elisa, que me esperava em frente ao portal.
— Para que esses balões? — perguntou, confusa.
— Para as nossas fotos. Precisamos registrar um momento juntas — respondi.
Entreguei os balões à minha amiga e tirei o tripé da bolsa. Cuidadosamente, montei o equipamento, já que ele pertencia ao meu pai. Posicionei-o no chão, ajustei os travamentos, encaixei a câmera e regulei o nível e a direção. Por fim, configurei o temporizador para dez segundos e ativei o flash.
A contagem regressiva começou, e corri em sua direção.
— O portal será nosso cenário. Me dê um balão e vamos fazer poses do nosso jeito — expliquei rapidamente.
— Alana e suas ideias malucas — brincou.
Nos posicionamos. Logo, a luz vermelha anunciou o disparo do flash. Dedicamos os segundos seguintes a criar registros divertidos, capturando a essência de uma amizade jovem e eufórica. Sorrisos, caretas, estilo e cores destacavam a harmonia criativa e a liberdade de celebrar quem éramos.
Após aproveitarmos aquele momento, avô e neto se juntaram a nós, comunicando que era hora de partir.
Deitada na cama, com o notebook no colo, meu empenho só aumentava à medida que editava cada foto. Usei algumas ferramentas, focando nos presets e no recorte, sempre prezando pela naturalidade da imagem. No intuito de me desviar do sono naquela noite, deixei a música encarregada de manter minha atenção. A canção Scars To Your Beautiful ressoava nos meus ouvidos por meio dos headphones. Somente minha presença habitava o quarto, pois minha irmã tinha ido ao cinema com alguns colegas do colégio.
Depois de algumas horas, minhas pálpebras começaram a se render ao cansaço. Contudo, o ruído da porta se abrindo anunciou a chegada de Flavia. Reduzi gradualmente o volume da música e corrigi minha postura na cama. Como minha concentração era visível, ela não ousou me interromper, tanto que sequer trocamos palavras.
Felizmente, todas as edições foram concluídas. Espreguicei-me e suspirei de alívio. Alinhei o notebook sobre minhas pernas esticadas e selecionei as fotografias para anexá-las ao corpo do e-mail. Quando todas as imagens foram inseridas, o envio marcou a conclusão de mais uma etapa. Fechei o notebook, pausei a música e desliguei os headphones. O primeiro som que ouvi após tirar os earcups foi o do chuveiro ligado, indicando que Flavia estava no banheiro.
O toque do celular quebrou o silêncio. Peguei o aparelho da escrivaninha, presumindo que fosse uma mensagem. No entanto, era uma notificação do calendário:
"23:00h: Realizar a inscrição para os vestibulares."
Um arrepio percorreu minha pele e a angústia dominou minhas emoções.
Liguei a tela do notebook e acessei os sites de quatro universidades, abrindo cada um em uma aba do navegador. Segui a ordem e cliquei na opção para me inscrever no vestibular de verão. O prazo terminava à meia-noite, e as provas seriam em outubro.
Preenchi os campos com minhas informações pessoais e, finalmente, cheguei à parte crucial: a seleção do curso desejado. Eram tantos caminhos para alguém sem rumo. A pressão era como uma tempestade prestes a desabar, e cada opção parecia um universo indecifrável. Sentia meu coração palpitar no peito, temendo errar, enquanto a enorme lista de cursos me sufocava.
A aflição era uma sombra constante, que me abraçava com dedos frios. Sentia-me tão frágil e insignificante diante de escolhas tão grandiosas. A incerteza era como um labirinto sem saída, e meus pensamentos giravam em um redemoinho de dúvidas.
— E agora, Alana? E agora? — sussurrei, frustrada, para mim mesma.
Desistir estava totalmente fora de cogitação, depois de tanta espera desde o primeiro ano. Era uma expectativa que cultivei e essas raízes também envolviam meus pais. Eu tinha um compromisso de devolver o orgulho que eles sentiam, após todo o esforço que fizeram para me conseguirem uma bolsa integral.
Então, num impulso, como quem busca desesperadamente por uma chave em meio a tantas portas fechadas, inscrevi-me no curso de Relações Internacionais. Após os cliques finais em cada site, minha inscrição estava concluída. Consegui respirar parcialmente, interrompendo o turbilhão interno. E, embora a incerteza ainda me rodeasse, senti a esperança me aquecer, mesmo que de forma tênue. Resolvi me apegar ao pouco que restava.
Notas da autora: E as ideias malucas da Alana atacam novamente! O ensaio fotográfico foi maravilhoso!
E Elisa está reagindo em cada etapa :)
E sobre o vestibular... Ah, Alana... não sei se você fez a escolha certa.
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