Era impossível não se encantar com sua própria aparência. Os traços eram harmoniosos, os cabelos caíam em cascatas brilhantes, e os olhos... Ah, os olhos! Um tom único, como se o azul de um oceano profundo houvesse sido capturado e moldado em suas íris. Safira, como ela agora se chamava, observava-se no espelho, sentindo uma satisfação quase embriagante. Anos de dor, trabalho, e perseverança culminaram naquele exato momento. Finalmente, ela havia se tornado a mulher que sempre desejou ser.

Seu antigo nome já não tinha significado. Abandonara a identidade de uma menina frágil e insegura para renascer como Safira. Era irônico, pensou, como seus pais insistiram em dar às filhas segundos nomes de pedras preciosas. Na época, parecia uma excentricidade, mas agora, o nome ressoava com um significado novo e poderoso. O colar com o pingente de safira, presenteado em sua infância, ainda estava guardado, como uma lembrança de uma vida que ela estava prestes a enterrar para sempre.

Agora, enquanto segurava em mãos os documentos que oficializavam sua transformação, Safira sentiu uma mistura de alívio e excitação. A mulher no espelho não era mais uma vítima. Era uma arma, afiada e pronta para ser usada. Sua vingança não seria apenas uma doce satisfação pessoal; seria um espetáculo.

— Olá, como está minha paciente favorita? — perguntou o médico, entrando no consultório com um sorriso profissional.

— Ansiosa — respondeu Safira, sem tirar os olhos do espelho.

— Pelo quê? — Ele inclinou a cabeça, curioso.

— Por como serei recebida — disse ela, girando lentamente para encarar o médico. O sorriso dele se alargou.

— Sem dúvida, você é a imagem da perfeição. Eu nunca fiz um trabalho tão impecável. Claro, espero que esteja como você desejava. E seus olhos, então... Estão absolutamente impressionantes.

— Depois de tanto tempo, estou cansada das mudanças, para ser sincera — confessou ela, cruzando os braços e olhando de volta para o espelho. — Mas o importante é que valeu a pena.

Safira deu um passo para mais perto do espelho, analisando cada detalhe com uma precisão quase cirúrgica. Sim, tudo estava exatamente como ela sonhou. Não havia imperfeições, nada que pudesse trair a nova identidade que ela havia criado para si. Cada linha do rosto, cada curva de seu corpo, cada detalhe havia sido meticulosamente ajustado.

— Valeu a pena — murmurou para si mesma, seus olhos brilhando com um misto de satisfação e um fogo interno que o médico não podia compreender.

— Alguma preocupação? — perguntou ele, notando o silêncio que se seguiu.

— Não. — Ela deu um sorriso que, embora encantador, era também carregado de intenção. — Apenas planejando os próximos passos.

O médico assentiu, satisfeito. Ele não sabia dos detalhes de sua vida, e isso era exatamente como Safira queria. Sua transformação não era apenas física. Ela havia passado anos planejando cada aspecto de seu retorno, cada movimento que faria para expor e derrubar aqueles que a haviam ferido. Os insultos, as humilhações, as risadas cruéis ecoavam em sua mente, não como feridas abertas, mas como um lembrete do motivo que a levava adiante.

Ao sair do consultório, a luz do sol tocou seu rosto. Safira ergueu o queixo, sentindo-se invencível. A cidade ao seu redor parecia diferente agora; não era mais um lugar onde ela se escondia ou temia ser vista. Era um palco, e ela estava pronta para protagonizar seu grande retorno. 

Agora era o momento de voltar para sua cidade natal e desta vez sozinha, já que sua família havia ficado na Turquia, enquanto ela passava os anos na coreia para chegar a perfeição.