Capítulo Três 🔍
"As belas mentiras, a verdade feia.
O dia em que morri chegou,
Então descobri que me tornei viva"
- Teen Idle, Mariana and the Diamonds
— Aurora, por favor, fala comigo, eu vou dar um tapa no seu rosto, vou contar até três, um, dois... Dois e meio, dois vírgula noventa e nove, três.
Olho incrédula para Peter, ele realmente acaba de me bater.
— Foi para o seu bem estar.
— Tinha uma foto da minha mãe morta lá, e depois meu nome estava escrito com o sobrenome do tio Robert. Estou tentando achar a lógica disso, tinham várias pastas de pessoas mortas lá. — Conto para Peter.
— Talvez sua tia seja uma grande colecionadora.
— Isso é estranho demais, quem deixou a merda do bilhete no meu casaco? Eu lembro de ter tirado em uma hora, mas eu o coloquei logo.
— Ei, vamos com calma, amanhã pensamos mais nisso.
— Acho que você tem razão.
— Vai contar para sua tia?
— O que você sugere?
— Que você incorpora o tipo princesa Mulan agora e não Aurora. Você vai ter que se infiltrar em uma guerra.
— Isso soou patético. — Confesso e ele dá de ombros. — Vou pensar.
— Tenho que ir, terminar o trabalho para segunda, você fez?
— Aham.
— Você realmente não sabe mentir.
Peter me abraça e eu o acompanho até a saída do prédio, ele vai embora com sua moto, sinto o frio percorrer meu corpo, sento na calçada a fim de tentar me distrair observando as pessoas conversando, me impressiono ao ver o menino que fumava na escola, ele está sentando em um banco conversando com um grupo de amigos, seu cabelo castanho está bem penteado, veste uma calça jeans cinza e uma blusa branca, abaixo de seus pés encontra-se um skate. Fico prestando atenção em seus movimentos por um bom tempo até ver que ele percebeu a minha figura, não ligo muito e continuo com minha análise, ele fala mais algo com os amigo e se levanta.
Parabéns Aurora, agora ele vem aqui.
Não é como se eu me importasse, porque não me importo, sempre me socializei melhor com meninos, já tentei ter amigas, acabei me isolando porque elas me acharam diferente demais, voltei correndo para o colo de Peter.
— Está frio demais para você estar vestida assim. — Ele comenta sentando ao meu lado.
No caso estou de camiseta, calça moletom e pantufa do Mickey.
— Realmente não me parece um problema.
— É solitária? Estava pensando na vida? — Ele pergunta.
— Estava refletindo sobre as possibilidades de eu nunca ter sido filha da minha mãe.
— Consegui sentir o peso de suas palavras.
— Você está realmente fedendo a cigarro.
— Não saí preparado, geralmente eu carrego uma muda de roupa e perfume para o caso de achar meninas de pijama refletindo sobre as artimanhas da vida, mas... — Ele mexeu no bolso e retirou algo. — Eu sempre saio com algo que eu possa oferecer a alguém que pareça interessante.
Ele abre a mão e posso ver um pingente em forma de rosa, okay, Deus, já pode parar.
— Eu não tenho uma rosa de verdade, mas essa eu posso te dar.
Pego o pingente e o aperto com força, em seguida pego o pequeno brinco de minha orelha que contém uma carinha sorrindo e entrego a ele.
— Você acabou de me deixar assim.
— Okay, você é estranha.
— E você tem uma orelha furada, enfia logo isso aí.
— Não, vou usar em uma ocasião que seja muito significativa para mim.
— Não esqueça de me avisar, como é o seu nome?
— Christopher Gordon.
— Você estuda na Elite? — Pergunto ainda passando o dedo pela pequena rosa.
— Quase isso, então você estuda lá.
— É. Você estava em um estado deplorável.
— Foi o treino. — Ele diz. — Boxe.
— Boxeador, Skatista, o que mais?
— Eu jogo xadrez muito bem.
— Conheço quem o vença. — Falo penando em Danny.
— Vai ter que me apresentar.
— Segunda?
— Pode ser. — Encaro os olhos azuis de Chris querendo saber muito mais sobre ele, infelizmente minha tia ainda toma meus pensamentos e nossa, eu tenho um trabalho para entregar. — Eu vou entrar.
— Até segunda. — Ele segura seu skate pronto para ir embora.
— Aqui está a sua rosa, você deve fazer isso com todas. — Brinco entregando o pingente.
— Não, é seu. Eu faço coleção de pingentes, esse é repetido.
Depois eu que sou estranha.
— Obrigada, eu acho.
— Não precisa agradecer, Aurora.
Chris já atravessa a rua quando enfim percebo que não disse meu nome a ele.
🌹
O suor escorre pelo meu rosto e a menina continua a gritar sem parar.
— Você não vai conseguir me pegar.
— Clair... Eu... Não gosto mais... De você. — Digo ofegante e paro de correr.
Ela volta correndo pelo grande campo e fica dando voltas ao meu redor, o cabelo escuro grudado ao pescoço.
— Você não sabe brincar. — Ela me informa do que já sei e entra em sua casa.
Casa no campo.
Casa na cidade.
Casas em outro país.
Casa de praia.
Sem necessidade! Pelo menos minha tia está se divertindo de verdade, posso vê-la sorrir enquanto conversa com uma manicure, a jovem já aparenta tédio. Volto para dentro da casa para comer algo, meu celular tocar.
— Oi tio Fred. — Atendo o irmão de meu pai.
— Oi Aura. — Ele encurta meu nome como de costume. — liguei para lhe convidar para um almoço em comemoração ao aniversário do Edward aqui em casa, a noite ele pretende sair com alguns amigos, então você pode trazer alguns, tem bastante espaço aqui.
— Ah claro, vou conversar com tia Kelly e lhe dou uma resposta assim que puder.
— Tudo bem, que Deus a abençoe filha.
Como meu pão com queijo devagar, penso na diferença, a família de minha mãe é séria enquanto a de meu pai é barulhenta e acolhedora, parece ser uma escolha fácil de se fazer, mas a verdade é que não me identifico com nem uma das duas, talvez se houvesse um meio termo...
— Aurora, arrume suas coisas, logo iremos embora. — Tia Kelly avisa entrando na cozinha.
— O tio Fred acabou de ligar, pediu que eu vá na cada dele.
— Creio que não será possível.
— Por que? Eu não faço nada.
— Eu tomei a liberdade de lhe inscrever em algumas tarefas que irão ser de grande serventia para o seu futuro.
— Que tarefas?
— Semana que vem você saberá.
— Tia, — Resolvi arriscar. — e se eu não quiser, e se eu preferir fazer coisas de minha escolha e ainda ir para a casa do tio Fred?
— Você não manda na sua própria vida Aurora, não enquanto eu estiver viva, você não acha que essa é uma boa vida porque seus pais não lhe deram a educação devida, é por isso que você terá aulas de como ser uma dama, lembra-se de Felipe? O rapaz em que você bateu?
— Lembro. — Respondo curta para não mostrar a raiva que sinto.
— A mãe dele dará aulas de etiqueta a você, você aprenderá tudo o que é preciso para viver corretamente em nosso mundo. Não se preocupe, eu mesma ligarei para o seu tio.
Ela faz porque me ama, tento dizer a mim mesma mas tudo soa como uma bela mentira. Talvez Peter esteja certo, talvez eu deva me infiltrar mais na vida de tia Kelly, para descobrir se eu vivo ou não dentro da realidade.
Nos despedimos dos outros familiares e vamos para casa, finalmente término o meu trabalho, me empenho então em dar uma checada na agenda de meus tios, chego a conclusão de que a vida deles é mais fútil que a minha, a não ser nas vezes em que tia Kelly precisa estar prestando auxílio aos funcionários de alguma das filiais, lembro também que ela costuma fazer varias viagens a fim de achar locais apropriados para compras. A cada pensamento que tenho sobre o que fez meu nome estar modificado la, mais percebo o quanto estou ficando paranóica, eis minhas especulações:
01 - Minha mãe nunca foi minha mãe de verdade.
02 - Tia Kelly quer roubar o lugar que era de minha mãe.
03 - Eu devi estar na lista da morte.
No entanto, quando a noite chega e tia Kelly vem beijar minha testa, sinto qualquer tipo de desconfiança desaparecer. Eu sou muito grata a essa mulher.
...
— Você perdeu, o Peter ficou com muitas garotas. — Justin fala animado.
— Foram duas. — Peter corrige.
Justin revira os olhos e se volta para mim.
— Espero que você vá na próxima, quero ver se você dança bem.
— Não sei se eu danço bem, mas eu sei que estarei de salto nesse dia e não hesitarei em acertá-lo no seu lindo rosto se encostar em mim. — Ameaço cansada.
— Lindo rosto? — Justin sorri.
Antes que eu responda algo o professor de Educação Física entra na quadra e leva o apito até a boca, ao ouvirmos o som rapidamente nos arrumados em uma fila.
— Hoje temos um convidado especial que nos ajudará no treino, ele estará prestando auxílio por um tempo nesta escola, o motivo não importa a vocês, pode entrar, Christopher Gordon.
Ele está novamente em seu estilo despojado, o jeans preto rasgado, sandálias de borracha, usa a blusa azul para a aula de Educação Física, e o casaco de moletom está amarrado em sua cintura, nossos olhares se encontram mas ele não demonstra reação alguma. Eu estou sentindo meus batimentos cardíacos a mil.
— Seu príncipe desencantado. — Peter como se soubesse de meus pensamentos, fala.
— Esse garoto aqui, — O professor bate nos ombros de Chris. — é bom em todos os esportes que imaginarem, e é por isso que vamos separar as meninas dos meninos, o Christopher dará instruções para os meninos, mas antes vamos para os exercícios e para a parte teórica.
Blá blá blá.
Não presto atenção em nada, alguém me puxa e percebo que é Casey.
— Temos que nos alongar. — Ela avisa.
— Ah tá.
Estico braços e pernas com a maior lentidão possível, porque meu foco não está no professor, não está nem em Chris, está somente em uma orelha, uma orelha com um brinco onde um emoji sorri de volta para mim, Christopher Gordon está com o meu brinco. Até a orelha do cara é bonita.
Uma hora depois estou ofegante, pela primeira vez na vida eu gosto do cansaço, pela primeira vez na vida eu gosto de ter dado algo meu para alguém, porque sério, eu sentirei falta de usar os brincos. Espero o vestiário começar a esvaziar para que eu me troque, pego minhas roupas e entra as mesmas há outro bilhete:
" Aurora Lancaster,
A sua vida de princesa é uma farsa. Não sei se você nota, mas a verdade é que todo o nosso sistema capitalista, e toda a nossa vida é recheada de ilusões, mas a sua não é somente cheia delas porque a sua é a própria ilusão encarnada. Sei que você deve ter checado o quarto da sua tia, espero que você tenha percebido que há algo de muito errado com aquela mulher, não só com ela, mas algo de muito errado com toda a família Lancaster, preciso saber se posso contar com você para desvendar essa trama. Observarei você de perto, não fique com medo, não chame a polícia, eu sou maior que qualquer autoridade. "
— Aurora, quer que eu a ajude a trocar de roupa?
Guardo o papel rapidamente ao ouvir a voz de Justin, pego minha mochila com a mão tremendo, termino de me enfiar dentro da saia, estou tão nervosa que deixo meu celular escorregar de dentro do bolso, ele vai parar fora da cabine.
— Não se preocupe, eu peguei. — A voz é conhecida.
Termino de me arrumar de qualquer jeito e saio, Casey sorri e me entrega o celular.
— Está tudo bem? — Ela pergunta.
Eu não sei mesmo mentir.
— Creio que sim. — Falo firme tentando não gaguejar.
— Eu sei o que está acontecendo, as notícias correm rápido, é por causa das aulas de etiqueta não é?
— Sim. — Suspiro, de certa forma também é por isso.
— É fácil fácil. — A morena fala. — Eu fiz quando pequena, de certo modo, só faça o que a professora quer, depois viva a sua vida como quiser. É tudo questão de manter a aparência.
— Isso é idiotice. — Digo sem pensar.
— Vai servir para a sua vida.
— Aurora! — Justin entra no banheiro.
Os meus amigos devem amar me constranger.
— Justin, me espera lá fora. — Ordeno.
— Quem é a sua amiga? — Ele me ignora.
— Sou Casey, e você? — A menina estende a mão.
— Justin. — Ele a surpreende com um abraço.
— Justin, eu vou matar você! — Dessa vez quem entra é Peter seguido por um Danny também irritado. — Por favor, não entre nos banheiros femininos.
— Então, só você pode entrar? — Justin comenta em tom de deboche.
— As moças já podem parar com isso, vamos ter aula daqui a pouco. — Danny interrompe enquanto arruma o cabelo em frente ao espelho.
— Isso foi um pouco machista. — Casey fala.
— Ninguém perguntou pra você. — Peter diz para Casey, puxa minha mochila do chão e a apóia em seu braço. — Vamos Aurora, o tarado do banheiro está a solta. — Ele me arrasta do banheiro e eu não reclamo.
Não demora muito para estarmos de volta aos corredores, Danny corre como um louco até nos alcançar, já Justin, com certeza ficou para trás tentando conquistar Casey com suas piadas bestas.
— Espera... — Danny respira forte até conseguir descansar. — Peter, o Justin está começando a achar que você é apaixonado pela Aurora.
— Ele é muito infantil. — Pete retruca.
— Esqueça o Justin, eu recebi outro bilhete. — Tiro o papel do bolso e pego minha mochila de Peter.
Os dois garotos leem, ao fim Danny nos encara de forma interrogativa, Peter guarda o papel em seu bolso e me encara.
— Aurora, você está com sérios problemas.
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