Us
Por Emily
Sabe quando você acorda e pensa que o dia amanheceu diferente e parece que o hoje será melhor do que ontem? Isso é muito bom e foi a primeira coisa que pensei quando acordei. Londres ainda está chuvoso, nuvens escuras, mas o tempo cinzento combina com as cores da cidade. Amo esse lugar, não me imagino morando em qualquer outro. Os tons vermelhos dos ônibus que passam vez ou outra, as famosas cabines telefônicas, elas combinam perfeitamente com esse tempo chuvoso meio branco escuro e cinza.
Levanto e como sempre vou direto me arrumar, preciso visitar o Harry hoje pela última vez de manhã, já que amanhã voltarei pra escola e vou só à tarde. Visto uma calça grossa de moletom, uma blusa fina com um casaco por cima. Pentio meu cabelo e dou uma olhada nas mensagens do meu celular.
- Bom dia - digo sentando na mesa ao lado do Thomas e Elena.
- Bom dia - os dois respondem juntos.
- Olha só quem parece está mais feliz hoje - Elle comenta e sorrio pegando uma panqueca e uma xícara de café.
- Não é feliz, só com um pouco mais de esperança - corrijo e dou uma mordida na panqueca maravilhosa da tia Mary que está se sentando ao nosso lado também.
- Você vai visitar o Harry hoje com o Peter de novo? - Thomas pergunta.
- Sim, algum problema?
- Não, nenhum, só perguntando mesmo - ele diz e continua comendo também.
- Bom, já vou indo, beijinho pra vocês - dou tchau e saio, pela minha surpresa vejo que o Peter já tinha chegado. - Nossa, por que não me ligou? Tá aqui esperando a quanto tempo? - Questiono entrando no carro.
- Cheguei agora, sem problemas - dá partida em direção ao hospital. - Ontem na hora que os pais dele foram visita-lo, eles disseram que viram a mão do Harry mexer - Peter comenta e quase dou um pulo da poltrona do carro.
- O que?
- É, eles informaram aos médicos e eles falaram que isso pode ser bom, mas também pode ser apenas espasmos musculares - ele fala sem animação.
- Não podemos pensar negativo, se ele mexeu temos que pensar que ele tá acordando - pela primeira vez tenho pensamentos bons sem as pessoas ficarem mandando.
- Sim - ele sorri leve pra mim e continuamos o caminho em silêncio.
Chegamos no hospital um tempo depois e o povo de lá já conhece a gente, então entramos sem problemas na área de CTI. Falamos com a médica responsável pelo Harry e ela autorizou nossa visita.
- Fizemos os últimos exames no Harry hoje bem cedo - ela começa a falar analisando o prontuário - ele está sim se mexendo um pouco, o que pode ser animador, ou não. - Eu e Peter nos olhamos e respiro fundo - temos um pouco mais de confiança no caso dele porque não faz nem uma semana.
- Então quer dizer que ele pode simplesmente continuar tendo espasmos e não acontecer nada de mais? - Pergunto interrompendo a fala dela.
- Infelizmente sim, mas ele já passou por tantas coisas, queremos acreditar que ele passará por isso também, estamos fazendo o possível - ela sorri simpática. - Podem ficar a vontade, mas lembrem que um de cada vez - ela aponta pra porta do quarto dele e sai logo após.
- Posso ir primeiro hoje? - Peter pergunta assim que ela sai.
- Claro - digo me sentando em frente ao quarto e ele vai.
Por Peter
Entro naquele quarto que já estou acostumado, me aproximo do meu amigo e analiso sua expressão de sempre. Seguro sua mão e fico em pé sem falar nada por um tempo.
- E aí, cara - digo finalmente - que dias longos, em... Não importa o que aquela médica tá dizendo, eu sinto que você está melhorando, sinto que está perto de você voltar, pois aquele apartamento sem você é uma merda - rio baixinho. - Seu irmão só reclama das suas coisas, eu sei que sempre reclamei também, mas não vejo a hora de você está volta deitado naquele sofá sendo grosso comigo - fiquei com medo de ser só impressão, mas tenho quase certeza que senti a mão dele apertar levemente a minha. - Se você estiver me ouvindo agora saiba que você é o melhor irmão que eu poderia ter, já falei isso muitas vezes, mas tenho que dizer de novo - repenso o que ei falei. - Pensando bem, esquece, você é chato pra caramba, não ache que vou ser fofo com você só por está doente - sorrio imaginando a cara que ele faria agora.
Sinto lágrimas nos meus olhos, então enxugo, engulo seco e volto a falar com ele.
- Tá, vamos falar de coisas boas - começo em um tom mais descontraído. - Sempre soube que você acharia a garota certa, ela com certeza é a Emily - sorrio lembrando dela. - Você foi bem idiota de não ter percebido isso antes. Ah, você acredita que o advogado do vagabundo que fez isso com você tá pedindo fiança? Nunca vou deixar isso acontecer, ele não vai apenas pagar uma fiança por quase matar meu amigo e ficar por isso mesmo - fico com raiva só de pensar. - Mas você não precisa se preocupar com isso, eu mesmo estou resolvendo tudo e ele nunca mais fará mal a ninguém, pois ninguém machuca minha família e fica por isso mesmo.
Falei pra ele mais algumas coisas até ver que meu tempo estava acabando, a Emily tem que vir ainda, então me despeço e saio do quarto. Assim que saí ela entrou e fechou a porta.
Por Emily
Entro no quarto e sem perder tempo me aproximo e puxo a poltrona como sempre. Seguro sua mão e dou um beijinho nela.
- Oi amor - falo encarando seu rosto calmo. - Estou com tanta saudade da voz, não vejo a hora de escuta-la novamente. Ontem meu dia foi melhorzinho do que os outros - lembro de algumas coisas. - Seria muito melhor com você, mas pra isso preciso que você melhore logo - tenho um susto ao sentir o polegar dele apertando minha mão. - O que é isso? Você tá melhorando, não está? Está acordando, tenho certeza! Ainda não está na hora de você me deixar, nós passamos tão pouco tempo juntos e felizes.
Levanto pra ficar mais perto dele, com a outra mão começo a acariciar seu cabelo e cantar baixinho a música "Us", do James Bay. Termino um trecho e não consigo mais cantar, estou chorando muito.
- É sério, você tem que ficar bom logo, eu não aguento mais - engulo e enxugo meu rosto. - Ontem meus amigos foram me visitar, me falaram várias coisas da escola, cantamos e comemos cupcakes que eles levaram - minha mão vai descendo até seu peito e sinto ele subindo e descendo por causa de sua respiração lenta. - Você uma vez me disse que toca violão e nunca me mostrou isso, será que minha voz ficaria bonita com você tocando? - Tento parecer mais relaxada.
- Ela é linda sempre - escuto como um sussurro, tenho um susto, olho pra ele e pra aqueles olhos semiabertos, pisco várias vezes pra ter certeza que não estou vendo coisa. - O que? Eu estou tão ruim assim? - A voz dele sai falha e rouca, mas começo a chorar compulsivamente de alívio.
- Harry - digo entre lágrimas. - Ai meu Deus, Harry - aperto o botão da emergência ao lado da cama dele, já que eles recomendaram que façamos isso caso ele acorde. - Harry - ele da um pequeno sorriso ainda com os olhos quase fechados e abraço ele. - Eu te amo, me desculpe não ter dito isso antes.
- O que aconteceu? Por que tem uma ruma de médicos vindo pra cá? - Peter abre a porta do quarto de vez e segura na parede quando o Harry vira um pouco a cabeça pra ele. - Ai meu Deus - ele coloca a mão cobrindo a boca e se aproxima. - Harry - ele vai pro outro lado e segura a mão dele e eu não solto ele por nada.
Chegam vários médicos e entram todos de uma vez, começam a tirar a gente de lá.
- Vocês precisam sair, temos que examina-lo - um deles diz com uma lanterninha daquelas no olho do Harry. - Saiam.
- Vem cá, Emily, eles precisam cuidar dele - Peter me abraça por trás querendo me tirar de lá.
- Não, ele acordou, eu tenho que ficar aqui! - Digo me segurando na cama dele.
- Tudo bem - ele fala novamente bem baixo pegando na minha mão.
- Eu estou ali fora, tá? - Falo e saio com o Peter. - Eu já volto - digo olhando ele antes de sair totalmente.
Assim que saio Peter pega dois copos de água, um pra mim e outro pra ele, ficamos sentados em frente ao quarto e ele começa a ligar para os amigos deles e para família do Harry. Eu faço o mesmo, começo a ligar para Elena, Sara e para meus amigos.
Pouco tempo depois a família dele chega ao hospital e a Elena também que logo vem em minha direção e me abraça fortemente. Chegam também outros dois policias que abraçam o Peter, acredito que sejam amigos do Harry.
- Não acredito que deu tudo certo - falo abraçando ela ainda meio em choque.
- Eu te disse que ia dar - ela diz me olhando e enxugando meu rosto. - Pronto, o pior já passou.
- Espero que sim - respondo e abraço ela de novo. - Ele falou comigo - rio dizendo e ela sorri comigo. - Ele segurou minha mão, ai eu não acredito, ainda bem - olho pra aquela grande parede de vidro e percebo o sol lá fora, até o tempo ficou mais bonito. Me aproximo mais e sinto a ela aquecida por conta dos raios solares.
Tempo depois os médicos saem do quarto, a maioria vão para o outro lado e os dois principais ficam com sorrisos no rosto.
- Não sabemos direito como isso é possível, mas o Harry acordou e pela surpresa de todos sem nenhuma sequela, todos os órgãos funcionando normalmente - todo mundo comemora e eu abraço a Elena de novo. - Ele ficará mais um tempo em observação para termos certeza de tudo e realizar alguns exames necessários, mas se continuar assim logo irá sair da CTI. Bom, mas infelizmente você todos não poderão visitar ele agora, ele ainda está no tratamento intensivo e muitas visitas não é o recomendado, então perguntamos quem ele queria ver ele falou - ela da uma olhada em um papel. - Emily Marin ainda está aqui? - Diz e olha ao redor, eu fico surpresa e percebo um sorriso no rosto do Peter que bate a mão dele na minha. - Por agora apenas ela, mas nas próximas visitas vocês podem se organizar, tá bem? - Todos assentem e agradecem.
- Ele deveria ver os pais - a mãe dele reclama.
- Me desculpe senhora, mas respeitamos o pedido do paciente - o outro médico responde. - Lembrando que ele ainda está meio atordoado, é normal algumas perdas de memória momentâneas, raciocínio mais lento, entre outras coisas, mas em suma, ele está muito bem.
- Posso ir vê-lo, doutor? - Pergunto e ele assente com a cabeça, então eu entro fechando a porta atrás de mim.
Entro e pela primeira vez aquele quarto parece mais feliz, colorido e com mais vida. De longe vejo aqueles olhos penetrantes e sorriso perfeito, ainda meio fraco, mas igualmente perfeito. Me aproximo devagar e ele me segue com os olhar. Nem sei o que dizer, só seguro sua mão e dou um beijo nela.
- Nunca mais me dê um sustos desse - falo olhando pra cada centímetro do seu corpo mais vivo.
- Eu só queria te salvar e faria tudo de novo sem pensar duas vezes - ele diz ainda com a voz mais baixa que o normal, mas agora um pouco melhor que antes.
- Espero que não precise nunca mais - digo sorridente.
- Também espero - me analisa por completo, como se estivesse decorando cada detalhe meu. - Os médicos disseram que dormi por uns quatro dias, o que teve nesses quatro dias? - Sem soltar a mão dele puxo um pouco a cadeira pra mais perto, sento e começo a falar.
- Sinceramente, nada de mais, não conseguia parar de pensar em você, na possibilidade de te perder - desvio o olhar dele nessa parte. - Harry, eu não sabia como você era importante pra mim até ver você quase morrer na minha frente, nunca mais vou ter medo de mostrar meus sentimentos pra quem amo, não sabemos até quando vamos poder fazer isso - uma lágrima rola pelo meu rosto.
- Tudo bem, não chore mais, já passou - diz em um tom transmitindo calma.
- Ok, não vou mais chorar - enxugo meu rosto e sorrio e ele retribui.
- Tem uns buracos na minha mente, do dia, de como aconteceu.
- Os médicos disseram que é normal - repito o que eles falaram lá fora.
- É, eles me disseram também, mas lembro de você, do seu rosto - ele passa sua mão pelo meu rosto. - Me desculpe pelas vezes que fui babaca com você.
- Não pede desculpa por nada, eu estou muito feliz por você está bem e isso é a única coisa que importa - passo meus dedos em seu cabelo.
- Fica mais perto de mim - ele pede e obedeço, me escoro na sua cama e começa a acariciar minha mão e minha perna mais próxima dele agora. - Obrigado por estar aqui comigo - diz focado em sua mão em meu corpo.
- Sua mãe que não gostou muito de você ter me chamado em vez dela - digo rindo e ele sorri também.
- Eu precisava ver você, espero que ela entenda depois.
- Ela vai - lembro do irmão dele e de quando o conheci. - Eu vi seu irmão, não gostei dele, é chato.
- Ah, que bom que não sou só eu que acho - Harry responde. - Ele também me odeia - fala e rimos.
- Oi - uma enfermeira simpática entra no quarto e me afasto um pouco da cama dele. - Me desculpem atrapalhar, mas preciso medicar o paciente - ela se aproxima.
- Tudo bem - digo.
- Olha, você tem muita sorte, sua namorada quase não saiu desse hospital nesses dias - ela fala mexendo em uns aparelhos ao lado do Harry e fico sem graça com o que ela fala.
- Eu... eu não... - Harry me interrompe.
- É, eu tenho muita sorte mesmo - fala e pisca pra mim.
- Olha só, isso vai te dar um soninho, tá? - Ela coloca algo no soro dele. - Mas relaxa, pode descansar, vai ser muito bom pra você.
- Posso ficar mais um tempinho aqui com ele? - Pergunto.
- Pode - ela olha o relógio. - Mas por pouco tempo, antes que a doutora Altman descubra - ela sussurra a última parte fazendo nós dois ri.
Ela sai nos deixando só novamente.
- Não quero que fique direto aqui - ele diz assim que ela sai. - Vá para escola, cante com seus amigos, eu já estou bem.
- Não pode me impedir de vir te visitar todos os dias.
- De jeito nenhum, venha por favor, mas vá fazer suas coisas também - ele olha pra o local do soro. - Esse negócio é forte mesmo - sorrio e me aproximo dele.
- Te amo - falo dando um beijo na testa dele.
- Aí não - ele diz e arqueio a sobrancelha sem entender. - Na boca - reviro os olhos com o comentário e me aproximo da boca dele. - Te amo, minha linda - lhe dou um beijo lento que termina com um sorriso dois dois.
- Eu volto amanhã à tarde, ok? Acho que o Peter vem mais tarde também - digo.
- Tá - ele pausa e pisca os olhos já pesados. - Vai cantar James Bay de novo pra mim?
- Sempre que você quiser - dou um selinho rápido e uns dois minutos depois ele dorme com meus dedos entrelaçados em seu cabelo.
Ah, eu não via a hora disso acontecer. O que acharam desse momento? Deixem o feedback de vocês, estou ansiosa pra ler cada comentário. Até a próxima.
- Xoxo
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