21 Estragos De Inverno
Manhã de quinta feira. Hoje o dia ainda está lindo, e por mais que o clima não esteja tão quente quanto ontem, o sol ainda brilha do lado de fora das cortinas. Ontem, antes de dormir, deixei um monte de mensagens para o Lucas. Expliquei meus motivos sobre tudo, e disse que entendo os seus. Ele viu cada uma delas, e sequer respondeu. Isso parte meu coração. Queria que ele estivesse aqui. Queria poder levá-lo para a casa da minha mãe hoje depois do café, mas isso não vai ser possível. Lucas foi embora por minha causa. Eu queria também me enganar e dizer que tudo isso está me fazendo bem, que a ida dele não está me causando nada... mas como eu disse, eu não consigo me enganar. Ontem a noite eu senti a falta dos braços dele envolta de mim, eu senti a falta do seu te amo antes de adormecer. E até senti falta da respiração profunda dele por cima da minha orelha. Como causa disso tudo, eu demorei a adormecer, e acordei agora mais cansada ainda.
Estar apaixonada é uma merda, as vezes... quando se ama alguém que não é o Fabrício.
Eu: Oi, Thi. Não quero interferir no que você esteja fazendo na suas férias, mas você não pode ir ver o Lucas e me dar notícias?
E lá vou eu!
Thiago Lindão: Aconteceu alguma coisa que eu não sei?
Eu: Brigamos de novo pra variar
Respondo essa mensagem com um peso saindo pela respiração.
Eu: Que grande ideia a sua de me mandar ele aqui.
Thiago Lindão: Tá fumada? Não mandei ninguém a lugar nenhum, não.
Eu: Se não foi você. Quem foi?
Thiago Lindão: Não sei. Essa ideia parece mesmo coisa minha, mas dessa vez, eu juro, não tenho culpa nisso. Juro de mindinho.
Se não foi o Thiago, só tem uma pessoa que pode ter feito isso. E seu nome está gritando na minha cabeça nesse momento. Mesmo depois de tudo isso, eu não creio que a Fran ainda não desistiu de nós. Eu devia ligar para ela agora e mandá-la parar, e dar atenção aos sentimentos pelo meu pai.
Contei ao Thiago tudo que aconteceu por mensagem. Disse que o Lucas apareceu no sábado no começo da tarde e que foi embora ontem a noite. Eu tentei sim não contar todos os dias maravilhosos que tivemos juntos, mas ele deduziu que como eu não mandei ele ir embora no mesmo dia tava rolando um lance. Me levanto e começo a terminar de arrumar todas as minhas coisas, mas entre elas encontro algo que não estava aqui antes. O colar com entalhe de safira com que presenteei o Lucas a alguns meses. Eu não acredito que ele deixou aqui. Me olho no espelho de Fabrício e o coloco em mim. Bom, se ele não quer, eu quero. Da última vez que eu o tinha visto foi com a mãe dele usando. Acho que o pediu de volta.
Dobro os cobertores em seguida e deixo a cama impecável. E antes de sair, olho com atenção cada detalhe do quarto do Fabrício. Estar aqui é sentir que ele ainda vive, de alguma forma aqui ele vive. Os objetos pessoais dele estão aqui, a vida dele ainda consiste nesse ambiente. Quero que continue assim para sempre…
Fecho a porta e desço as escadas.
Tomo um café bem rápido e começo a me despedir de todos começando pela Jô. Pedi-a para me fazer companhia no tempo que durou. O Lucas foi embora, e ficar sozinha na sala de jantar me traz fantasmas. Fantasmas de dois garotos que nunca se viram, mas se conheceram um melhor que o outro. E depois de me despedir de todo mundo, o José coloca minha bolsa no banco de trás de seu Fiat Cronos. E assim que partimos ele quis saber o que aconteceu ontem, porque o Lucas pegou o carro e foi embora transtornado. Abro a janela do carro para admirar o máximo de detalhes possíveis antes de ir e poder respirar com o peso dessa conversa. O símbolo A de Albuquerque bem entalhado nos portões, ainda está impecável. Uma vez que eu o elogiei, Brício disse que foi ideia dele simbolizar a família não tão grande, mas cheia de amor.
— Brigamos — digo em resposta enquanto deixamos a entrada da propriedade para trás.
— A Mariana contou. — Imagino que ela tenha contado tudo. — Ela não contou tudo — responde parecendo ler meus pensamentos.
— Ciúmes — conto. —, mas não quero falar sobre isso, tá? — pensar nisso só me deixa mau. O Lucas ainda não respondeu, e acho que ele nem vai. Já faz muito tempo desde ontem a noite. Eu também desisti de esperar que ele me mande algo. No momento mesmo eu só estou esperando três respostas. Primeiro da dona Mariana, já que me despedi por mensagem. A segunda é do Thiago, e quero muito que ele possa me mandar notícias boas do Lucas. Eu espero que ele diga que o viu por aí desfilando com um carrão lindo e charmoso. Estou mesmo muito ansiosa para ler que ele está se divertindo. E a terceira, é da minha irmã. Antes de sair perguntei se ela já estava lá na casa da minha mãe. Mas até agora, nenhum dos três ousou em me responder.
Quando o José pega a rua de casa, eu me sinto muito mais ansiosa. Faz muito tempo que eu não venho nesse bairro. As casinhas continuam iguais. A pequena moradia de frente com a minha, nunca construção eterna, e no final da rua a pequena igrejinha. O boteco do seu Isaías continua lotado faça chuva ou faça sol. E quando o clima tá bom, aquele lugar enche de aposentados bebendo e jogando dominó. Eu não tinha dado tantos detalhes do meu bairro naquele dia que eu fui embora, eu tava apressada e a única coisa que eu consegui ver aquele dia foi a piranha da Paula.
José desliga o automóvel logo que estaciona, e olho para o portão velho, e então para José. Ele até que fica charmoso sorrindo com esse bigode grisalho. Chegou a hora de nos despedirmos.
— Obrigada por tudo, Zé. — Me antecipo em abraçá-lo e ele me abraça de volta. — Diga a dona Mariana que a amo muito.
— Mariana, Emily, é Mariana — ele me corrige em tom de brincadeira.
— Mariana — me corrijo sorrindo como boba.
— Se cuida, mocinha — pede acariciando meus ombros. — E não demore a aparecer outra vez.
— Pode deixar — refuto deixando o homem recuperar o fôlego.
— E tenta não ficar brava com o Lucas o tempo todo. Ele e um cara bom — sou forçada a concordar com ele. Contudo, me nego a entrar no assunto Lucas. Primeiro porque sempre que ouço seu nome me bate uma certa angústia por não saber notícias dele. E depois porque me magoa saber que eu fui a causadora disso tudo.
— Tá bom. — saio do carro, e pego minha mala no banco de trás. — Tchau, Zé. Até mais.
— Tchau, mocinha. — o homem liga o carro e eu me afasto enquanto ele arranca e vai embora. Acompanho-o com os olhos até que desapareça no final da rua. E então noto que alguma pessoas estão me olhando. O Isaías e a esposa um pouco mais afastados. Aceno para eles, e para os meus vizinhos gatos que moram na casa de baixo da construção. Respiro fundo e me volto para a casa da minha mãe. Acho que você quer conhecer os vizinhos gatos. Não sei. Não vou falar muito deles. O mais velho tem a idade da minha irmã com cabelos escuros e olhos castanhos. Te apresento o Gustavo, o primeiro crush da minha vida. Eu tinha uns dez anos na época. Mas ele acabou partindo meu coração quando se tornou o meu primeiro cunhado. E o mais novo, porém ainda é mais velho que eu. Tem quase a mesma aparência do irmão com alguns traços físicos próprios. Este é o Bernardo. Ele também era caidinho pela minha irmã naquela época. Mas quando eu fui embora no início do ano, lembro que o Gustavo era um bad boy, e o Bê estava ficando com uma garota.
Empurro o portãozinho de ferro e entro. Como posso explicar? A energia dentro daqui é diferente. Tudo nessa cidade é. A cada passo que me aproximo da porta é como se eu visse uma imagem minha saindo por ela. Estou destruída, chorona e não durmo a dias. Foi a semana que ele se foi. E se eu não tivesse conhecido o Lucas, se eu não amasse o Lucas eu diria que estou ficando louca. Me aproximo da porta, e antes que eu toque a maçaneta a porta se abre. Minha mãe sai para fora de imediato. Acho que ela já estava me esperando antes mesmo de chegar. Está completamente diferente daquele dia no jantar. Seus cabelos estão presos, mas as roupas são mais simples.
— Mãe — digo. Ela então me abraça, e eu a abraço de de volta. Respiro seu aroma delicioso e protetor. Eu queria que ela pudesse abraçar o meu coração dessa forma. Queria que essa energia boa pudesse derreter a camada fria que o tomou por completo. Seria incrível se ela pudesse destruir toda essa força sombria que se coloca em mim por tanto tempo. Assim que minha mãe me solta, consigo ter o vislumbre de outra moça com sardas e cabelos vermelhos. — Isa! — chamo-a feliz, e me entrego a ela. Eu a abraço com tanta força que minha irmã resmunga algo. Mas eu não ligo.
— Eu também senti saudades, pirralha — exclama enquanto me abraça. Seguro minha irmã por dez, vinte, trinta segundos e até mais um tempo, até que ela mesma me peça para soltar. — Vem, vamo entrar.
Antes da porta ser fechada minha mãe acena para alguns dos vizinhos que se juntaram para contemplar a reunião da família que já não acontecia a muito tempo.
— Onde tá o Ian — indago sentindo falta daquela cara com tamanho de jogador de basquete.
— Ah — a alegria no olhar da minha irmã se desfaz. Merda! — Ele não veio. E acho que não quero ver ele nunca mais. — Ele aprontou. — E o Lucas? A mãe disse que ele estava com você.
— Ele foi embora ontem a noite. — torço para que nem minha mãe e nem minha irmã peçam mais detalhes. E a medida que suplico mentalmente caminho pela pequena casa, voltando a me pegar surpresa com os poucos detalhes diferentes do último dia que estive aqui. A tv na sala é a mesma, e o sofá também. E além do aroma agradável de carne cozida, os cômodos da casa não tem mais a mesma aura negra de quando eu estava aqui a seis meses atrás. Apoio a minha bolsa no chão, e minha mãe diz que eu nunca mudo, e que vou ser sempre a mesma. Ela vem até aqui e pega a minha mala. E em uns segundos, seus passos ecoam enquanto sobe a escada. Me sento no sofá, e pago meu celular. Tenho uma nova notificação e meu coração palpita. Mas não é do Thiago. Dona Mariana me desejou um ótimo resto de semana.
— Então o Lucas veio aqui, teve dias legais com você e foi embora ontem — Isa tenta resumir a medida do que soube. — Ele não quis vir pra cá?
— Isa, não quero falar sobre isso. — Ela não quer falar do Ian, e eu não quero falar do Lucas.
— Iiiih, tá com problemas no paraíso.
— Que paraíso?
— O seu. — Isa coça a nuca.
— Não tenho um paraíso.
— Tá, tá bom — devolve. Minha irmã se senta ao meu lado. — Sem Lucas, e sem Ian. Vamos fazer um final de semana só de meninas.
— Por exemplo? — quero saber.
— Ir no shopping, comprar maquiagem e roupas. Essas coisas de menina — responde. Nem ela mesma sabe o que é fazer coisas de menina. Acho que comigo na verdade, já que quase nunca fizemos essas coisas.
O dia passou bem rápido. No início e durante a tarde tudo o que fizemos foi ajudar a nossa mãe a colocar uma ordem bem grande na casa. Eu e a Isa. Minha mãe trabalha como garçonete agora, então ela tem um turno de trabalho. Ela chega as onze em casa. E como não tem muito tempo, minha irmã me chamou para dar essa força. E quando terminamos já quase seis horas, Isa começou a fazer outro cozido para o jantar. Eu fui para o nosso quarto e comecei a ouvir músicas. Muitas horas depois abrir a mensagem da minha sogra. Me desejou um ótimo resto de semana. E disse que vai sentir minha falta, e falta do Lucas também. O Thiago não mandou nada desde cedo, e a Isa... como nos encontramos não preciso mais esperar a resposta dela.
Depois do jantar, Isa contou como anda a vida em Minas. Está procurando um trabalho melhor, que pague melhor. O emprego de babá não consegue custear tanta coisa que ela precisa comprar. Fiquei sabendo que minha irmã está precisando de um livro caro para as aulas de direito administrativo e penal. Fora que está procurando um estágio por muito tempo e não consegue algo. Eu poderia usar agora o cartão que a dona Mariana me cedeu. Eu não estaria gastando para algo fútil, e isso é justo. E minha irmã está precisando muito. Então eu disse que iria comprar para ela que coloriu todo os cantos da casa, como sempre fazia antes.
Depois foi a minha vez de falar sobre a minha vida. Acho que pelo fato de eu estar no ensino médio o meu assunto são garotos. Eu gostaria que elas perguntassem se eu estou procurando trabalho, ou se estou focada nos estudos assim como a Isa na minha idade. A Isa perguntou do Lucas, se ele me tratava bem e tals, e minha mãe disse que ele é um cara bacana. Eu não disse muita coisa, apenas concordei com a maioria, já que elas conversaram entre si sobre ele, e eu assisti fingindo estar participando. E muitas horas depois do jantar, já na cama com tudo escuro, finalmente ele respondeu. 23h30. O Thiago deve estar bêbado para estar me ligando essa hora. No mínimo fumou um.
— Oi — digo em sussurro quando atendo. — Só um momento.
Levanto da cama e atravesso o quartinho na ponta dos pés para não incomodar minha irmã. Saio pela porta e tenho descer as escadas sem fazer nenhum ruído, o que por sinal, não dá muito certo. Abro a porta e saio para fora.
— Oi — digo mais alto agora. — Falou com ele?
— Não quer saber primeiro como eu tô? — Thiago pergunta brincando.
— Thi!
— Tá, tá bom, menina apaixonada. — Reviro os olhos. — Eu fui lá no Lucas, mas não vi ele não. A mãe dele disse que ele saiu bem cedo de carro.
Suspiro incomodada enquanto olho o pessoal da casa da frente fazendo uma fogueira.
— Liguei pra ele, mas ele me ignorou o dia todo. — Não acredito que o Lucas está agindo como uma criança. — Você pegou pesado dessa vez, Emy.
Suspiro fundo. A angústia no meu peito bate forte. Eu peguei pesado mesmo. Queria poder retrucar, afinal, eu não sou uma menina que ouve esse tipo de coisa e deixa quieto. Mas eu nao posso me negar que realmente, eu sou culpada disso tudo.
— Foi mau — Thi se desculpa. — Não consegui falar com ele. Mas pelo fato dele atender o celular e desligar na minha cara, a gente sabe que ele tá vivo, né?
Respiro fundo outra vez em resposta.
— Obrigada, Thi — agradeço. — Desculpa por atrapalhar suas férias.
— Que isso? O Lucas também é meu amigo. Eu me preocupo com aquele cabeça de vento.
O Lucas não sabe quanta sorte ele tem por ter alguém com o Thiago se importando com ele. O Thiago sempre foi a minha barreira protetora. Ele amenizou tudo que me aconteceu. Por causa dele, talvez eu ainda esteja viva.
— Beijos — digo e desligo o telefone. Por um momento encaro toda a festinha que parece estar rolando do outro lado da rua na fogueira. Só os irmãos na verdade, mas com tantas vozes parecem ter muito mais gente do que aparenta. Sinto o vento bater em meu rosto por baixo do céu escuro e estralado. Será que agora o Lucas está em casa? Será que ele pode me atender? Será que quer conversar comigo? Abro minha agenda no celular e ligo para ele. Espero até que toque. Uma, duas, três vezes até que ele atende — Luke — falo, mas ouço um tuu, tuu, tuu em seguida. Ele desligou. — Droga! — resmungo. Vou ligar outra vez. Não, não vou. Se ele desligou na minha cara agora, não vai mudar se eu ligar outra vez.
Coloco o telefone no bolso do meu shortinho de dormir e me sento na varanda de casa. A lua está tão bonita hoje, por mais que o clima esteja esfriando. Ela brilha e ilumina o quintal. Eu deveria voltar para a cama e tentar dormir, mas se me conheço bem, isso não vai acontecer. E então a porta atrás de mim rui, e bate outra vez.
— Tá tudo bem, mana? — respiro fundo e olho para a minha irmã de pijama. Seus cabelos estão por baixo de uma touca.
— Quem sou eu pra falar que sim? — tento sorrir com um pouco de ironia.
— Deixa eu imaginar. — ela se aproxima e se senta ao meu lado. Apoio as costas no parapeito de madeira. — Lucas.
Fico em silêncio.
Eu não vou ser insincera com ela. Essas reuniões estão tão raras que eu prefiro ser verdadeira com a minha irmã e com minha mãe. Ou só com minha irmã, porque minha mãe acaba se preocupando muito.
— Ele não quer falar comigo — lamento.
— O que aconteceu entre vocês? — indaga preocupada.
Olho para a minha irmã. Ela não parece ser muito mais experiente que eu. Está puta com o Ian, e desde que me conheço por gente, a minha irmã nunca fica com um cara por mais de oito meses. Eles sempre aprontam, e ela sempre se magoa.
— E o Ian? — refuto com outra pergunta. — O que aconteceu entre vocês?
Isa se encolhe. Minha irmã se apoio no outro parapeito, e juntas as pernas e abraça os joelhos. Ela revira os olhos e algo me diz que ela está se contendo para não mostrar fraqueza para mim. Eu não gosto quando isso acontece. Ela sempre quis ser muito forte, mas algumas vezes já a ouvi chorando nas várias noites que tivemos aqui antes de ela viajar. Eu tive um grande exemplo de como ser durona, mas a verdade entre mim e minha irmã, é que nós duas somos duas falsas valentonas.
— Ele ficou com outra — ela diz com calma e inexpressiva, como se isso não lhe causasse nada. Que canalha cretino! — Foi no sábado passado. Eu fiquei no trabalho a noite toda… rolou uma festa e… — seu peito sobe e desce com força. Ela está respirando fundo, mas isso é só um estado para poder se recuperar. — Eu me entreguei demais. Desde o início ele me disse que não tínhamos nada sério, e eu acabei achando que podíamos evoluir. Eu odeio esses caras que bagunçam comigo.
— Não tamo tão diferente então. — Os irmãos começam a alimentar mais a fogueira do outro lado da rua. — Eu também odeio os caras que bagunçam comigo.
— O que aconteceu com o Lucas ontem? — quer saber.
— Eu encontrei um cara e conversamos um pouco. Ele viu e não gostou. — Isa me olha com atenção. Não sei bem o que ela está achando de mim nesse instante. Nunca tivemos uma conversa sobre garotos antes. Eu nunca precisei ter antes. — E por acaso esse cara é o Otávio.
— Otávio, Otávio. — Isa revira os olhos tentando lembrar de algum Otávio que eu tenha falado antes. — Ah, aquele menino que o Fabrício não gostava, né?
— Exatamente. — Faço uma pausa. — Eu mandei o Lucas embora, Isa. Nos discutimos feio, e eu nunca tinha visto ele falar daquela forma. Aí eu mandei ele sumir.
— Homens são complicados, né? — Assinto. — Mas sabe, mana, todos os dias eu agradeço porque pelo menos uma de nós tem sorte no amor. — Nos entreolhamos. Mas como assim, eu não tenho sorte no amor. — Você namorou seu amigo de infância por um bom tempo, e agora encontrou um cara que não tem problema de mostrar que tem ciúmes de você. Um cara que gosta de você de verdade. Eu daria de tudo para ter essa sorte que você tem. — me corta o coração pensar que a Isa sofre tanto por amor, e ainda mais por lembrar que os meus amores sempre foram sinceros.
— Não é tão simples, Isa. Lucas e eu já passamos por coisa demais. Somos completamente diferentes.
— Para, Emily — pede. — É isso que justamente equilibra a relação. — Como assim? Quero perguntar. — Você é a estourada, e o Lucas é mais calmo. A diferença torna isso especial. Equilibra tudo. Mas ninguém é calmo o tempo todo.
— É, isso é verdade. O Lucas é... complicado.
— Já tava na hora não acha? — pergunta. Hoje a Isa está muito misteriosa. — Você sempre teve um amor fácil, um sentimento forte que não podia ser quebrado pelo Fabrício, mas foi fácil. O Lucas é complicado mesmo. Eu notei isso na primeira vez que vi ele aparecer na porta do pai. Os olhos dele dizem isso. — ela faz uma pausa e fecha os olhos como se curtisse a brisa da noite. — Tem uma coisa naqueles olhos. — E eu não sei? — É uma barreira difícil de ultrapassar... Mas sabe o que mais tem naqueles olhos? Amor. — ela faz outra pausa que soa um pouco dramática. — O Lucas é como deserto e o oasis. Toda a complicação vale a pena para se banhar no carisma daquele olhar.
— Entendi... um pouco.
— Um pouco? — pergunto entre um sorrisinho irônico. — Então entenda por completo. O Lucas é difícil, mas no fundo daquela parede nos olhos dele existe amor, e é forte. Ele te ama, eu não deixei de perceber o jeito que ele te olhava lá na casa do pai. E sério, mana, eu adoro que você tenha sorte no amor. Todos os dias eu queria ter sorte no amor, e se o preço a pagar é que você tenha sorte no amor, eu não ligo. Não ligo nenhum pouco se você tiver que ter um cara como ele, que te ame e que te proteja como você merece ser.
— Eu estraguei tudo de novo — lamento.
— Estragou mesmo. — Gosto da sinceridade dela. — Mas você tá de férias. Férias é estragar tudo… as vezes. Semana que vem vocês conversam.
Ou não.
— Vamos na fogueira? — Minha irmã se levanta e me espera. — Vamos, faz tempo que não falamos com o Gu e com o Bê.
— Tá, vamos lá.
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