09 Esse É O Seu Passado
Minutos depois descubro para onde garotos me levaram. É um bairro diferente, mais fino que o bairro do Thi ou do maldito estuprador que detonou minha vida. Paramos de frente com um salão onde já tem alguns carros bem legais, como o do Thiago.
— Hey, espera. — Biel me intercepta antes que eu saia do carro. Ele sai primeiro e abre a porta para mim com delicadeza e cavalheirismo. — Você merece. — diz sorrindo para mim. Eu até consigo mostrar um sorriso sincero depois de tudo que já aconteceu comigo hoje. A música de rap que inundou o fundo do meu telefone, agora parece bem mais próxima. Vozes masculinas de todos os jeitos tomam o ar frio do enoitecer. Pela primeira vez me pergunto se o Thiago não está sentindo frio, o Gabriel pelo menos está com um casaco. Thi lança as chaves para o Gabriel por cima do carro, Biel as coloca no bolso da blusa que parece ser um sobretudo. Meu melhor amigo atravessa pela rua até a calçada e empurra um portão de ferro que é um pecado no meio de tanta luxuosidade. Ele entra primeiro, e Biel o segue depois. Por mais que o som esteja correndo por aquela garagem suja e mau cuidada, não consigo ver ninguém e então me sinto estranha em querer entrar ali.
— Não precisa ter medo — declara Thi com mão apoiada ao portão. — É todo mundo amigo aqui. — ainda sinto meu corpo protestando em se mover.
— Tem mulheres também — manifesta Biel, e é onde consigo me sentir mais calma. O que seria de mim no grupo onde só haveriam homens. Tudo já está um caos, e estar em um ambiente sem progesterona me deixa mais nervosa. Com passos mais calmos eu entro, e Thiago fecha o portão. — Vem. — Gabriel pega minha mão e me carrega com ele e com primo por um corredor onde se pode ver um rapaz moreno com um violão na mão. Eu não vou falar que ele "parece" feliz, pois a felicidade é muito evidente no brilho do castanho de seus olhos. E entramos na vista de todos uns segundos depois.
— OUUUUL!!! — Thi profere com animação. Ele toca na mão do tocador de violão, e na mão de outros rapazes. Um branquelo com uma pinta em baixo do olho direto, outro que é um pouco mais moreno que o primeiro, e dois gêmeos idênticos. Um com uma camisa oversized rosa, e o outro com cabelos arrepiados, os dois são gatos mesmo com a diferença. E mais um outro que com certeza é o mais velho do grupo. Ele também é moreno e um pouco mais forte que o Thiago, bigode bem feito e olhos mais claros. Os seis rapazes me olham como se eu fosse um bichinho estranho chegando na natureza e dizendo "oi" bem alto. — Pessoal, essa é a Emily... — Thi mostra um sorriso bem colorido para a galera. — Ela é a emergência que eu fui buscar. — dessa vez ele me olha e aponta cada um deles dizendo seus nomes. — O do violão é o Leandro, o moreno ali atrás é Renan, esse branquelo feio pra caralho é o Oscavo. — Oscavo mostra o dedo do meio para o Thiago e ele ri. — Os gêmeos são Erick e Ezequiel. E esse monstro aqui é o Ramon.
— Uau — digo. Procuro em volta do quintal espaçoso procurando mais alguém. A uns sete metros tem um casa, e ela não parece tão chique e rica quanto as outras do mesmo bairro. A luz está acesa, e na janela tem um garota com alguns copos na mão. Ela é bonita e tem olhos verdes, cabelos de dread, pircings e tatuagens no rosto.
— Aquela ali na janela é a Emili. — Thi torna a apresentar a menina que nem me notou ainda.
— Emili? — indago.
— Isso mesmo, ela é sua chará. — Thiago se abaixa e fica na altura do meu ombro. — Ela é uma garota muito foda!
— Que foda — digo. Todos eles tem estilos próprios e isso parece bem legal mesmo, mas a garota que ainda não me notou parece que não vai gostar de mim. Eu uso sapatilhas e meu cabelo é sedoso, não que o dela não seja, mas temos estilos diferentes e acho que ela pode não gostar de mim.
— Sem marra — pede Thiago lendo os meus pensamentos. — Tenta se enturmar, o pessoal vai gostar de você.
— É.
Depois de tudo que aconteceu na minha vida hoje, acho que estou mesmo precisando fazer novos amigos. Olho para o rosto animado do meu amigo na lateral do meu, enquanto ele mira Emili bem sorridente.
— OH, EMILI! — grita para a menina na janela, e ela se volta para ele bem rápido. — A EMILY QUER TE CONHECER! TRAZ A PATY TAMBÉM.
Juro que eu não sei o que deu na cabeça do Thiago.
— Vai lá. — ri na minha cara dando um empurrãozinho nas minhas costas. A minha chará já está me olhando da janela, como se estivesse guiando meu caminho até a porta da casa. Com isso eu não posso dizer que não vou. Vai, Emily, permita-se ter um momento em paz antes da grande batalha. Faça amigos, você pode, você é capaz. O que tem de errado comigo atualmente? Eu nunca fui tão insegura de nada. E isso anda acontecendo muito comigo. — Faça amigos.
Me dirijo um pouco acanhada em direção da porta que fica literalmente do lado da janela, por onde Emili me olha. O vento gelado da noite me empurra pelas costas para lá.
Será que são pessoas legais?
Já tenho um sorriso amigável no rosto quando alcanço a entrada da moradia.
— Oi! — cumprimento com vergonha. Emili me olha e estreita os olhos enquanto me mede de cima a baixo, mas não é um encaro ruim, ela apenas está analisando meu jeito de chegar, mas enfim:
— Oi! — responde no mesmo tom, e nos segundos seguinte estamos as duas rindo como bobas. — Eu sou Emili.
— Eu também sou Emily — refuto maravilhada com a capacidade dela de se enturmar. A voz da Emili é doce do jeito que você consegue imaginar, e pura carisma. Ela parece uma daquelas pessoas que não tem nenhum problema na vida, e é feliz sempre.
— Vem, entra. — me chama com um aceno de cabeça. — Eu vou te apresentar a Paty, ela também é bem doidona! PATY, VEM AQUI!!! — berra para a outra moça que com certeza se chama Patrícia. — Você é amiga do babacão do Thiago, né? Ele é mó mané!
— Ah, eu gosto dele — defendo-o.
— Ele já tentou comer você? — indaga como se fôssemos super amigas já a um bom tempo.
— Não. Ele nunca tentou.
— Deve ser por isso que você gosta dele — Emili sorri numa boa altura. Ela é linda, com dread nos cabelos, e o piercing na sobrancelha são apenas charme. Mas na verdade sem toda essas tatuagens no rosto ela ainda seria maravilhosa. Toda enfeitada com pulseiras de bambu e multicoloridas. — Eu tô fazendo caipirinha, quer um pouco? — Emili se volta para a pia de alumínio na sua frente.
— Não, obrigada — pretendo não me embebedar hoje, mas pensando bem acho melhor engolir muitas doses antes de ver o meu pai amanhã. — Na verdade eu quero sim. — Emili coloca açúcar na mistura, tampa e chacoalha várias vezes e me serve um pouco.
— Vê se tá boa. — ela me entrega o copo com a bebida espumosa. — Aqueles filhos da puta lá fora nos colocaram pra fazer a caipirinha. Mas eles que me aguarde... eles que me aguarde! — a cada palavra covinhas nascem na lateral dos lábios. Ela está ironizando com tudo, quando o meninos começam a tocar Dexter. — Como vai seu mundo, eles amam essa música. Já é a terceira vez que cantam hoje.
Molho os lábios com a caipirinha para provar. Boa, boa, está, só não está perfeita. Mas mesmo assim não consigo esconder que está forte.
— Tá óóóótima — Emili arrasta a palavra ao perceber a cara feia que tentei esconder. — É assim que eu gosto!
É nesse instante que Patrícia adentra o ambiente. Pelo nome eu imaginava uma moça magricela, patricinha cheia de pircings e pulseiras com salto alto e tudo. Mas Patrícia é muito diferente do que eu imaginava que ela fosse. Paty e baixinha, e mais gordinha. Mas o que chama atenção não é sua estatura e sim toda a sua maquiagem. seus cabelos são um pouco abaixo das orelhas com uma exótica coloração azulada bem indiscreta. Os alargadores em suas orelhas são maiores que um anel, contando com o do nariz da pra somar quatro pircings, e sua maquiagem é pesada. O lápis de olho e sombra deixam seus olhos bem chamativo, e o blush nas bochechas realçam as maçãs rechonchudas do rosto.
— Quem é ela? — pergunta me encarando, como os rapazes encararam a pouco.
— Paty, está é a Emily, ela é nova. A amiga que o Thiago nunca quis comer — Emili passa o braço por cima do meu pescoço me apresentando com entusiasmo. Patrícia ainda me analisa como um ratinho de laboratório. Se a Emili gostou de mim, essa garota com certeza não vai gostar. Paty ainda estreita os olhos, e reviro os meus, corando com o comentário nada sútil da minha chará.
— O que você tem de especial pra ele não querer comer você? — Acho que dentro desses muros noções íntimas não existem.
— Eu não sei — respondo séria, assim como a Patrícia. Eu não entendo porque isso vem a ser relevante agora.
— Emily também? — indaga a punk. Emili assente, e então eu assinto. — São duas agora?
— Sim, agora somos duas Emilis. — A Emi de dread se apoia por cima dos meus ombros com um sorriso enorme colorindo seu rosto. Encaro Paty ainda apreensiva com a sua impressão sobre mim.
— De quê casa de boneca você saiu, princesa? — indaga para mim. Patrícia se direciona até aqui, e me rodeia como se analisasse uma modelo antes do concurso. — Você é muito perfeita. — Vejo quando um sorriso animalesco se coloca em seus lábios carnudos e bem negros. — O que acha da destruir tudo isso um pouco? — pergunta para Emili.
— Isso ia ser muito foda! — Emili refuta em meio uma boa golada em sua caipirinha. — E você, o que acha, Emily?
Talvez seja a carinha perfeita que Paty falou, que faz com que meus amigos adorem me transformar. Ou talvez as pessoas gostem mesmo do comando por trás de tudo isso.
— Eu tô bem assim — tento sorrir enquanto respondo. Não quero ser transformada. Eu não quero ser penteada e maquiada por duas garotas que eu acabo de conhecer, e ter que desfilar para um bando de rapazes que eu nem sei como entraram na minha vida ainda.
— O seu cabelo está embaraçado — exclama Paty sem nenhum tom de maldade. — E definitivamente esse uniforme da lojas de cd do Léo não é apropriado para noite, queridinha. — Patrícia pega minha mão e me arrasta para um interior mais fundo da casinha. — Vem comigo.
— Como assim? Você conhece o Léo? — Depois de tudo que eu ouvi, é a única coisa que eu consigo proferir. Eu pedi para o Thiago me salvar, não para me entregar a uma garota hipster, e uma punk que agora quer me transformar. Por outro lado é culpa minha eu estar aqui. Eu poderia ter escolhido o Lucas, eu tenho certeza que ele me levaria a praia e caminharíamos juntos. Não falaríamos nada porque estamos saturados, mas curtiríamos a companhia um do outro.
— Claro que eu conheço o Léo — responde como se fossem os melhores amigos do mundo. — O Léo é um cara muito bacana. Não sabia que tinha contratado uma pessoa nova. — na certa ela conhece a outra, a Olívia que pediu demissão já faz um tempo.
A pequena moradia não aparenta só ser, ela é simples. Tem sofá, e uma tela plana com uma mesinha de centro que eu imagino que os meninos apoiem os pés em dias de jogos ou em dias de sessão de filmes, se eles fizerem sessões de filmes. Passando pelo pequeno corredor Patrícia me joga para dentro de um quarto. Eu disse que elas não eram femininas? O ambiente é totalmente dedicado a uma moça. O guarda roupas e a cama é rosa com branco. Do lado cama tem um abajur com rostinho de um vampiro, que eu imagino tenha sido escolhido por ela. O azulejo no chão é branco e tão bem cuidado que consigo ver o meu próprio reflexo. E tem até uma escrivaninha com um estojo de maquiagem com todas as possíveis cores que existem.
— Me desculpa pelo rosa choque do guarda roupa e da cama — diz com a vergonha aparente. — Meu irmão quis me sacanear e comprou muito Barbie pra mim. Parecem que foram feitos pra você!
Ou pra Natalia que é o único ser tão perfeito assim no mundo!
— Mas eu não sou uma Barbie — protesto me permitindo criar um elo com ela.
— Seu rostinho perfeito diz outra coisa. — O sorriso amigável de Paty me convida a ser mais relaxada e não estar tão preocupada o tempo todo. Depois do baile tenho imaginado e visto o perigo em todos os cantos, mas aqui, como o Thiago disse, só tem amigos. A moça mais baixa que eu, me estende uma mão num pedido que eu me aproxime, e eu dou a volta na cama e fico mais perto de onde ela está. Patrícia abre a porta do guarda roupas e me coloca de frente com ele. Em seguida estamos nos duas analisando minha imagem em um espelho. — Viu? Olha essa pele, garota, você é muito perfeita. — Paty passa as mãos sem inveja alguma pelo meus fios de cabelos, e os joga por cima dos ombros. — Olha a cor maravilhosa desses cabelos.
— Ah, eles nem sempre foram loiros — me intimo a contar. — É meio vergonhoso, mas são oxigenados.
— Ah, sério? — declara com tom de surpresa. — Minha nossa! — trocamos olhares através do espelho e consigo ficar animada com o tom chocado dela. Se ela soubesse a história por trás dessa coloração talvez pirasse. — E qual é a cor natural deles? — inquire curiosa enquanto brinca com meus fios. Se ela não tem maldade nenhuma, eu não preciso me sentir ameaçada.
— Castanhos, quase ruivo — respondo prontamente. — Algo entre castanho e ruivo.
— Uau. — É um assunto comum entre meninas. Não lembro a última vez que falei de cabelos com outra garota. Eu fico animada quando ela pega uma escova dentro de uma bolsinha, e começa a passar com maciez nos fios. — Então não é uma cor muito natural. Deve ser bem difícil de se encontrar.
— Minha mãe sempre me dizia quando eu era criança. Os cabelos da minha irmã são completamente vermelhos idênticos aos da minha mãe. Já os meus acabaram puxando mais o lado do meu pai, mas ainda tem um tom ruivo. — Pai. Sinto um aperto no coração ao lembrar que meu pai precisou ser medicado para poder descansar depois de tudo que descobriu sobre mim, mas afasto esse pensamento e me permito viver um pouco. — É sim uma cor mais exótica.
— Senta aqui. — minha nova amiga, ou colega, não sei; coloca uma cadeira de frente com seu espelho e ainda continua me admirar de frente com ele. — Sua horta deve tá cheia de caras — comenta. Por um momento eu paro e penso, tento lembrar de algum cara que tenha chovido na minha horta atualmente. Lucas e Gabriel? Acho que apenas eles... Dou mais algum momento antes de começar a rir, e rio e gargalho. — O que foi?
— Nenhum cara chove na minha horta — sou sincera. — Acho que você deve ter mais que eu.
— Eu? — Paty gargalha quando me pede para fechar os olhos. — Eu tenho mesmo, toda semana eu pago um cara diferente.
— Isso deve ser bacana — comento. A última pessoa que eu beijei foi o Kevin, só de lembrar que foi o Kevin o meu último beijo já me desanima de tentar novamente. Agora de pensar que eu teria outro cara me segurando, e me tocando torna toda a animação da conversa em terror. Meu sorriso deixa o meus lábios no mesmo instante.
— É super — retruca animada enquanto desliza o lápis de olho na minha linha d'água. — Não se move agora, Emily. Não quero borrar a minha primeira destruição numa boneca perfeita. — com maestria sinto a ponta do lápis causando cócegas em meu olho, mas faço o que ela pede. Nenhum movimento feito. — Pisca — pede, e eu faço. — Bom, muito bom. Mas vamos melhorar nesse estrago. Agora vou fazer o segundo olho. — Alterna os lados e me olha no espelho. A diferença entre dois olhos já está evidente. Patrícia não está passando o lápis com sutileza, ela quer marcar, mas não que esteja errando. Seu reflexo toma minha visão no espelho e tento ficar o mais quieta possível para ela terminar.
— Você veio com o Thiago, né? Vocês tem um lance?
Remexo na cadeira. Pela cara com qual os meninos me olharam lá fora, de certo foi essa a impressão que tiveram de nós. Eu sou a peguete do Thiago.
— Não — respondo rápido. — De onde você tirou isso?
— Não sei, parece. — Paty sorri para o meu reflexo no espelho.
— Somos só amigos mesmo.
— Do Estevão? — Assinto. — Eu era aluna lá, mas fui expulsa.
— Jura? — indago chocada. — Por quê?
— Pessoas erradas — conta enquanto olha o contorno que está terminando de fazer. — Eu coloquei uma bomba no banheiro feminino. — Agora estou duplamente chocada.
— Foi lá que conheceu o Thi?
— Thi? — indaga. Acho que só eu chamo ele assim para ela achar estranho. — É, eu era da turma dele.
— E a Emili?
— Ela estudou lá também, mas faz anos que ela fugiu da escola. — Os amigos do Thiago são realmente muito doidos. — Foi a melhor época quando a gente tava lá. Eu, Thiago, Emili e a vadia da Alexia.
— Conhece a Alexia? -— indago triplamente chocada.
Nos entreolhamoos pelo espelho. Sua expressão me pergunta por que tanto estardalhaço?
— Quem não conhece aquela perua? — Fecho os olhos quando ela começa a deslizar com delicadeza um lenço pelo meu rosto, e conserta alguns erros em volta dos olhos. — Aquela vaca ainda tá lá?
— É, ela tá. Aquela desgraçada. — a minha nova amiga para o que está fazendo outra vez e me encara com um sorriso zombeteiro nos lábios.
— Ela aprontou com você, aposto. — Apostou certo. Diante disso não vejo porquê não contar nossa história para ela, mas acho melhor ficar quieta. — Você não gosta dela, né? — Nego, e recebo uma piscadela e um sorrisinho de volta. — É das minhas. Pois é, eu já fui amiga daquela coisa. — Escolho não responder para não ter que acabar contando sobre a minha amizade com a Alexia.
— As pessoas gostam de me maquiar — solto evitando um clima tenso. Eu nunca entendi muito porque elas gostam. Talvez seja porque eu não sei fazer uma maquiagem descente. Nunca precisei disso. Em festas mais cultas a dona Mariana que fazia uma obra de arte em meu rosto. A perua da Alexia e até o Pedro e a Fran já tiveram sua chance.
— Ai que miiiimo — declara com o branco do sorriso sendo contrastado pelo negro dos lábios. O que ela pensaria se soubesse que a Alexia já esteve no seu lugar? — É porque você é muito princesa, imagino eu. Mas hoje te quero uma vampira. — Quando tenho tempo de olhar no espelho observo que meus dois olhos estão idênticos com a tonalidade preta. — Uma vampira sanguinária. — Olho para seu reflexo sorridente no espelho enquanto ela me mostra a sombra que será a próxima a ser aplicada. — Fecha os olhos. — Com suavidade ela passa a sombra pro cima e por baixo dos meus olhos.
Eu não deveria nem estar sentada nessa cadeira de frente com o espelho. Eu sei que quando sairmos daqui todos vão notar. Vou atrair mais atenção do que venho desejando atualmente, mas fazer o quê? É tudo por novos amigos! Mas tentar mentir para mim não funciona comigo. Na verdade eu só quero me sentir linda de novo. Quero poder sentir a beleza que o Kevin arrancou de mim com aquela atrocidade.
— Vocês querem um gole? — a voz doce de Emili invade pelo quarto quando ela entra. Nesse momento, Paty está passando uma segunda cor de sombra por cima dos meus olhos. Ainda me pergunto se elas foram mesmo amigas da Alexia, elas não parecem nenhum pouco fazer o estilo daquela vaca psicótica.
— Não, agora não, Emili — ela nega segurando minha cabeça e olhando as cores com minuciosidade.
— Emily, é o uísque.
— Mais tarde eu prometo tomar um gole — prometo sem querer prometer.
— Okay, talvez não vá sobrar pra vocês duas. — Encaro Emili pelo reflexo do espelho e nem dá tempo de me ver antes que minha maquiadora rouba o reflexo com as coxonas. E o som da porta se fechando toma o ambiente por uns segundos.
— Estamos quase acabando. — Paty aplica com cuidado o pó compacto sobre cada parte do meu rosto. Ela é ótima no que faz. Consegue passar o pó sem comprometer o que já foi feito antes. Em seguida veio o blush cor de pêra para dar um bom contraste nas maçãs do meu rosto. E quando a aplicação do blush é finalizada, toca o próprio queixo com o dedo. Acho que faltou algo. — O que acha de um batom vermelho bem escuro? Vai ficar perfeito em você. — Paty bagunça a bolsinha em busca do batom. Ela tem tantos, e vários com cores vermelhas, claras, escuras. Como ela consegue notar a diferença se são todos iguais? O escolhido foi um vermelho forte quase preto. — lábios. — faço um bico. O batom corre pelos meus lábios com calma enquanto ela pede que eu troque as posições.
A minha nova amiga, que odeia a Alexia, passou o batom nos meus lábios três vezes, e corrigiu algumas outras. Eu soube que estava pronta no momento em que ela tapou o batom, e me deixou olhar no espelho.
A Emily que vejo no espelho não parece a mesma garota que entrou aqui hoje. Meus olhos brilham por baixo da maquiagem pesada. O equilíbrio de cores na sombra fazem sincronia, é uma realçando a outra, e ambas o tom castanho dos meus olhos. O blush e o pó ressaltam com muita força o vermelho bem escuro nos meus lábios que parecem mais carnudos que de costume. Eu nunca achei que fossem tão grandes, e bonitos!
— Eai? Gostou do meu estrago? — inquire curiosa para saber a minha opinião. Ainda estou sem palavras. Ela chama isso de estrago? Eu chamo de lapidação. Patrícia passa a mão pelos meus cabelos e os joga por cima dos ombros. — Essas ondas no seu cabelo tem que ficar por cima dos ombros sempre. Os garotos vão morrer aos teus pés.
— Eu não quero que os garotos morram aos meus pés — respondo com rapidez. — Eu amei!
— Só faltou uma roupa melhor, vampira. Mas eu não tenho nada pro seu tamanho aqui, então vem. A nossa noite vai começar agora!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro