01 Colocando As Cartas Na Mesa
Eu estou me segurando muito para não dar na cara dessa perua. Alexia parece rigozijar, pois está com um sorriso maligno enorme estampado nos lábios. Ela não sabe que arrumou a própria cama, e que já passou do momento de deitar nela. Alterno meu olhar entre ela e Lucas. Peço que nenhum deles se envolvam, eu quero que ela conte tudo, quero saber cada detalhe do joguinho sujo dela, e desejo muito que ele escute. O Lucas concorda, e David também parece não ter problemas. Então encaro ela para que não perceba a presença dos dois garotos.
— Eu vou te contar tudo. Incluindo os meus motivos pra isso. — A perua fecha os olhos se entregando a algum tipo de sentimento. — No tempo que eu comecei a gostar do Lucas. O Thiago tinha terminado comigo, e eu fiquei tão mau que eu não queria nem vir pra a escola. Eu era obrigada pelos meus pais a vir todos os dias, e olhar ele pegando outras meninas acabava comigo. — seu olhar se mira para distante como se peruas pudessem ter lembranças. — Teve uma vez que chorei... Eu... estava tão mau. O Lucas era o meu melhor amigo. Ele me ajudou tanto. Foi o único de verdade que sabia o que eu tava passando. Nós matamos a última aula naquela dia e fumamos um baseado. Ele me disse que o Thiago era um babaca, e que eu não devia perder minha pose por causa de um cara filho da puta. — Alexia fita Thiago enquanto faz uma breve pausa. — Ele disse coisas bonitas sobre mim... coisas que você nunca foi capaz de falar. Antes de irmos embora aquele dia, nós nos beijamos. Foi um beijo especial... sei lá. Foi então que eu comecei a me apaixonar por ele. — Seu rosto se ilumina ao pensar nele. — No começo eu fiquei pensando e me perguntando o que era aquilo que eu tava sentindo. — Seu tom de nostalgia até pode passar uma imagem que ela não é. Uma Alexia apaixonada, boa que se importa com o próximo. A mesma garota que um dia foi a minha amiga. — Eu tentei me aproximar aos poucos depois daquele beijo. Mas depois de um tempo, percebi que ele nunca iria me ver como uma possível namorada... Ele nunca viu nenhuma garota como namorada. — Seu olhar psicótico se volta para mim dessa vez. — Até você chegar... E você chegou com seu ar de garota misteriosa, meiga e purinha — conta. Alexia não sabe que não foi por isso que o Lucas me notou naquele dia. Nós sabemos o real motivo, eu e ele, e é algo que ela mau desconfia.
Respiro fundo para que eu não avance nela. Se acalma, Emily, tudo está correndo muito bem, só se controla.
Meu suspiro sooa mais alto do que eu imaginava. Troco os braços de posições com um gesto de impaciência, mas permito que ela continue:
— Eu notei o quanto você olhava pra ele. — Eu sei que sim. Depois do Pedro mencionar que também percebera, ela se aproximou um dia depois, e uns minutos depois o Thiago. Tenho certeza que não foram os únicos a notar. — A forma que ele te olhava era diferente da forma que ele me olhava, ou olhava pra qualquer outra... Ele praticamente te desejava muito. Eu daria tudo para que ele me olhasse daquela maneira. Eu tive inveja de você por isso. — Ouvir que Alexia sentia inveja de mim torna toda a situação melhor, e faz com que minha raiva diminua um pouco. — E foi então que criei o plano. — Alexia levanta a mão na altura do rosto deixando para todo a verem. — Cinco passos para ficar com ele. Foi isso que eu fiz. Agora será que eu posso ir? — indaga com desdém.
— Não — refuto com aspereza. — quero saber tudo. Cada detalhe, Alexia. Quando você terminar eu deixo você ir. — ou não. Quem sabe eu não a libere depois de uns bons tapas.
Alexia leva as mãos as têmporas, como se toda essa situação lhe causasse dor de cabeça.
— Tá bom, garota chata! Eu vou te contar os passos do plano. Só não me interrompe, okay? Eu não quero que isso leve mais tempo que o necessário. — Voltou a ser a mesma vadia de sempre. — Como eu já contei meu motivo, eu vou começar pelo primeiro passo. Vou ser rápida e sucinta.
Estou me segurando para não arrancar sua língua a cada palavra dita. Meus dentes estão colidindo na boca, e meus punhos já formigando nos dedos. Nem eu mesma sabia que tinha um bom auto controle das minhas emoções.
— Lembra quando você chegou? — Alexia respira alto pelo nariz enquanto desvia o olhar do meu. — Eu notei na época que você e o Lucas tinham se gostado. Eu tava mesmo precisando de você. E quando ele não parava de te olhar eu pensei: preciso ser amiga dessa garota. E foi então que eu me aproximei de você. E não foi apenas isso. O passo um foi aproximar vocês dois também. Eu sabia que você confiaria mais em mim se eu pudesse te apresentar o Lucas, que você confiaria mais em mim se eu enturmasse você, e foi o que eu fiz. — Alexia meneia a cabeça com ironia, como se não estivesse gostando de cuspir tudo na minha cara. — Levei você pra festas, te apresentei meus amigos, e o Lucas. — move os ombros com indelicadeza. — Naquela noite do luau aconteceu que ele tratou você mau, e eu cheguei a achar que não gostava mesmo de você. Naquele momento eu vi meu plano indo por água abaixo. — manifesta tristeza agora, e em seguida um sorriso. — E então, ele se aproximou de você na segunda feira seguinte. Sabe, Emily, eu sou a melhor amiga do Lucas, eu sempre fui. Naquela época ele estava tão encantado por você, que em nenhum momento parava de falar de você. — Como é? Ele falava de mim para a perua? — Ele gostava tanto de você que sempre me dizia quando vocês iam sair, me contava detalhes sobre o passeio de vocês. Ele me disse sobre o por do sol, do beijo que você deu nele no seu quarto. — Minha perplexidade parece deixá-la contente. A expressão em seu rosto mostra isso. — Tudo. E então quando eu aproximei vocês e me tornei sua melhor amiga... Quando fiz ele ser seu namorado, o passo um estava completo.
Nesse momento os burburinhos no ambiente não são tão fortes a ponto de tirar minha atenção dela, na verdade ninguém além de nós estamos ouvindo. Todos estão desatentos, e nesse momento que eu preciso de uma platéia, não tenho. Alexia é esperta, ela jamais assumiria algo assim na frente de muitas pessoas. Eu também não sei o que isso me causa além de raiva. Eu sabia que ela estava metida no nosso término, mas ter um plano completamente dedicado a isso é muito doentio. Estamos falando de Alexsandra Fontineli De Lacerda, ser doente é umas das suas maiores características.
— Eu nunca vi uma garota tão burra e ingênua quanto você. Você acreditou mesmo que eu era sua amiga? Acreditou mesmo que eu queria ser amiguinha da garota nova? — ela revira os olhos. Ter que aceitar isso me parte o coração. Eu estava triste, estava sofrendo pela morte do Fabrício, e aceitei a amizade que mais me convinha na época. Eu precisava me agarrar em algo para não enlouquecer, e esse algo foi ela. Eu fui mesmo muito burra, é ter que aceitar isso é duro.
— Pode parar de me xingar e continuar?! — ordeno com impaciência.
— Tá okay. — Alexia indica o segundo dedo na mão. — Vamos ao segundo passo. O passo dois foi eliminar do meu caminho a única pessoa que poderia prejudicar meus planos.
Alguém que poderia prejudicar seus planos? Quem seria essa pessoa?
— Quem? — inquiro, totalmente atenta à ela.
— Viu como você é burra?! — pergunta em tom ofensivo. Karen solta uma pequena gargalhada com a indagação da amiga. E olho para Lucas, ele continua na mesma posição de antes, porém, mais próximo. Quem é a pessoa que poderia acabar com os planos dela? E como se ele pudesse ler meus pensamentos:
— Eu — refuta Thi. Me viro na direção do meu melhor amigo. Thiago ainda não está bravo. Agora ele parece mais triste. — Era eu, né?
— Viu, Emily, diferente de você o Thiaguinho é um cara inteligente. — Alexia sorri na direção dele. Mas de que forma ele poderia prejudicar os planos dela? — Eu comprei um celular velho, daqueles sabe... bem antigo. E então dei pra Rebeca. — nesse momento as palavras de Rebeca ressurgem em minha mente. O momento em que ela disse que havia mandado mensagem para Natalia sobre os boatos. — Naquela época eu não sabia se era verdade sobre os boatos que o Thiago andava comentando. Nossa, Thiago, fofocar já é bem feio pra uma mulher, mas para um homem... Completamente ridículo e sem noção — complementa com caretas irônicas.
— Cala a boca e continua! — manda meu melhor amigo. Isso está conseguindo me atingir da forma que ela falou. Apenas de lembrar como tratei o Thiago naquele corredor do terceiro, faz mais uma vez o meu peito doer. Eu agi de forma absurda. Ele me pediu desculpas e eu fui muito indiferente a isso... Afastei a única pessoa que poderia desmanchar os planos dela.
— Vocês não sabem o quanto isso foi fácil. Eu tinha ouvido de umas garotas que estavam comentando sobre.
— Eu tinha comentado, mas não tinha dito nada. Tava defendendo o Lucas de um comentário idiota. — Thiago se defende pela primeira vez em questão aquilo. — Eu falei sim, eu disse alguns motivos do porque o Lucas não iria largar a Emily depois transar com ela. Era disso que eu tava falando!
— E as garotas espalharam. — Alexia bate palma. — Parabéns, Thiago, você era um fofoqueiro. Eu não sabia se era verdade, mas usei ao meu favor... Não custava tentar. E foi então que a Rebeca mandou a mensagem que eu queria para a Natalia, e boom! Natalia correu para bater pra Emily, e foi então, bye bye Emily e Thiago!
Sinto meu corpo trêmulo. Esse sarcasmo todo está me enchendo tanto que acho que antes do quarto passo eu já vou ter esganada essas duas garotas.
Se controla, Emily, ele está aqui. Vai com calma. Isso é tudo que você queria, tudo que você lutou para conseguir.
— E depois que o Thiago sumiu da sua vida, como você mesma tinha mandado, eu acabei me tornando sua única oficial melhor amiga. — rigozija. — Era tão chato ter que ser legal com você o tempo todo...
— Anda logo, piranha!
— Calma, amiga... Você pediu detalhes. — Meus olhos estão serrados em sua direção, talvez não aguente esperar por todos os detalhes. — E então chegamos no passo três. Esse com certeza é o maior de todos... Festa do Kevin.
Antes do baile, essa conseguia ser a pior noite da minha vida. Lágrimas me sobe os olhos apenas de ouvir seu nome. Sinto uma força insana se colocar em meus ombros em juntar tudo o que ele me fez, e o que sua festa me causou. Respiro fundo tentando relaxar os músculos tensos.
— Foi aqui que eu ganhei novos aliados. — Novos... aliados? Fecho os olhos e suspiro fundo. Controle-se, Emily. Aliados. Lembranças daquela noite me invadem com muita força. A gentileza, o bar, as bebidas que queimaram minha garganta, a doce que veio como uma calmaria para as outras. Ele é o novo aliado mencionado... Kevin. — O Kevin e o Nicolas. Eu sabia que o Kevin tinha uma quedinha ridícula por você desde que vocês conheceram, então ele se fez de difícil no começo, mas acabou aceitando. O Nicolas queria só se divertir com tudo isso então topou bem rapidinho. Essa parte eu precisei apenas te levar pra festa, e tudo em sí foi acontecendo.
— O Lucas se atrasou aquela noite — manifesto sentindo a garganta seca. Limpo uma lágrima importuna que sobe em meu olhar. Ela não merece me ver chorar, ainda mais por algo que ela mesma causou. Tanto Alexia, como Karen riem. As amigas se entreolham enquanto caem na gargalhada. Não, aquilo não foi um atraso. Fito uma e outra entorpecida por notar isso agora. Lucas esfrega o rosto com as mãos tendo que ouvir isso tudo. Ele tem as próprias lembranças daquela noite que não foi boa para ele também.
— O carro do pai do Nicolas sempre vivia morrendo na estrada, e então foi perfeito. O Lucas nunca ia notar porque ele sabia disso. Não foi nenhum pouco difícil forjar um probleminha com o carro. Tudo que eu precisava era de tempo, manter o Lucas afastado da festa. O Nicolas deu um jeito nisso por mim. Olha, Emily, sendo sincera, eu até senti pena de você quando ficou no lado de fora esperando por ele. A Karen ficava de tempo em tempo olhando pra ver se você ainda estava lá. Eu fiquei com pena porque ele não ia aparecer tão cedo, e você tadinha, tava lá, esperando por alguém que não ia chegar. — cruzo os braços quando uma sombra se coloca em seu rosto. Consigo lembrar daquela noite. Eu fiquei por um bom tempo na espera dele, até que desisti de aguardar sua chegada, e entrei. — E quando você desistiu o Kevin tava esperando por você.
Memórias de Kevin sendo gentil e me oferecendo uma bebida me assaltam aos pensamentos. E em seguida fecho os olhos quando as recordações dele se pressionando em mim voltam a me assolar. Suspiro fundo afastando esses pensamentos doloridos em meu peito.
— O que você fizeram comigo? — pergunto, mas já imagino qual a resposta.
— O que nós fizemos? — Alexia indaga como se eu a tivesse atingido. — Nós não fizemos, ele fez. O Kevin drogou você. Não foi difícil te dar uma bala. — Sabia disso também. Nos dias que seguiram algo que me dizia. Se não o próprio Kevin, aquele rapaz que serviu de barman, eu sabia. Isso não consegue me ser doloroso porque eu já sabia. O que será que acontece com várias outras garotas por aí que acordam em lugares inusitados, e não sabem nem o que aconteceu na noite anterior? Me atento quando Alexia dá continuidade: — Você é uma negação até pra drogas, Emily. Você não sabe o quanto foi fácil. — Faz outra pausa me deixando absorver as palavras duras. Como ela pode fazer isso? Como teve essa coragem doentia? Meu cenho está franzido e sinto minha raiva dando lugar ao nervosismo aos poucos. Eles me drogaram, me levaram para o quarto e me despiram. E o David? Será que ele faz parte disso tudo também? Será que ele também é um novo aliado?
— Como o David foi parar comigo na cama? — pergunto já sentindo o formigamento no peito. — Ele faz parte desse joguinho nojento seu?
— Ah, o David. Eu tava esquecendo dele. — Alexia revira os olhos, e então pela primeira vez a voz de Karen soa pelo ambiente:
— Nós drogamos ele também — retruca com uma leveza, como se fazer isso fosse algo natural de acontecer. — Mas o David é muito mais forte que você. Levou algum tempo até ele capotar.
— E então? — pergunta Thiago como se soubesse de mais algo que elas possam acrescentar.
— Eu transei com ele — assume Karen em um suspiro orgulhoso. Essas cobras não respeitam nem elas mesmas. A Rebeca tem um sentimento pelo David, e com certeza ver a melhor amiga transar com ele foi duro de ser engolido.
— Ele disse que transou comigo — refuto ainda com dúvidas. Mas fito David. Davi está com as mãos cruzadas atrás das costas, e parece muito desconfortável em ouvir seu nome ser mencionado na conversa.
Karen se força para não rir novamente, e sua amiga olha as unhas como se elas fossem mais importantes que essa situação. O que elas fizeram com a gente?!
— Eu transei com o David, e me passei por você. — Meus olhos crescem no rosto com a perplexidade que me toma. Minha respiração cessa enquanto encaro Karen. Ela fez o quê? — Ele tava fraco e drogado. Tenho que admitir que foi difícil fazer ele te ver, e foi chato também transar com ele não podendo ser eu mesma. — Karen está tão feliz quanto Alexia de resumir na minha cara a sua metade do plano. Rebeca estava certa, elas fizeram o David assumir que era eu... mais ainda, elas o fizeram acreditar que tinha transado mesmo comigo. Na manhã seguinte acordar com ele apenas solidificou sua crença que era eu na noite anterior. — Sabe, em certos momentos ele me chamava de Karen, mas eu dizia para me chamar de Emily o tempo todo. E como ele estava drogado e bêbado, acabou acreditando que era mesmo... você. — meneia a cabeça com leveza. Karen enrola uma mecha do cabelo quando o silêncio se coloca no ar. Nossa conversa parece está sendo bem descente dessa vez, não estamos chamando tanta a atenção dos alunos do Estevão. Lucas manisfesta a única fisionomia que eu consigo mostrar. Cobre os olhos com as mãos e morde o lábio inferior com indignação. Acho que depois de tudo os dois devem estarem se segurando muito para não se meter.
— Então vocês fizeram uma lavagem cerebral nele. — pergunta Thiago, mais como uma afirmação. — Vocês fizeram ele acreditar que era a Emily, mas não era.
— Não, não era. Tem algum problema? — inquire Karen se aborrecendo.
— Sem contar que vocês infligiram leis... problema nenhum.
— Tem como provar? — briga Karen, direcionando seu olhar venenoso na direção do Thiago.
— Thi, por favor — peço. Espero que ele não queira começar uma discussão agora. Não temos o dia todo, e ainda faltam dois passos para ser ouvido. Mas o que pode ser pior que drogar uma pessoa e fazer ela acreditar que tinha transado com alguém que nem estava lá?
— Elas fizeram lavagem cerebral nele, Emily, você acha isso pouco? — Thiago também está ficando aborrecido com os fatos, eu por outro lado ainda estou paralisada com o que acabo de ouvir.
— Não acho pouco. Mas não temos o que fazer agora.
— Verdade, Emizinha.
— E depois? — indago. Ao meu ver agora vem os dois últimos passos.
— E depois. — Alexia retoma a palavra. — Bom. Depois veio o passo quatro. O chato do David também iria quebrar meus planos futuramente, e eu precisava eliminar ele do meu caminho também... Por isso eu escolhi ele. E teve outro peso maior, mas até depois você vai saber. Depois que o David capotou, o Kevin nos ajudou a transferir ele de quarto, e nós despimos vocês dois, e montamos uma bela cena. Parecia mesmo que vocês tinham transado. E eu, nossa, fiquei tão impressionada com meu profissionalismo. — Alexia se vangloria colocando um tom forte e orgulhoso nos argumentos.
Fecho os olhos e contenho minhas lembranças de acordar nua com ele. A forma sincera com que David afirmava ter transado comigo, e eu não lembrar de nós dois juntos. Agora tudo faz sentido. Como ela mesmo disse, eu fui muito burra de não ver o que estava acontecendo de baixo do meu próprio nariz. Ela era tão convincente e eu não consegui enxergar suas reais intenções.
— Depois que a cena foi montada eu só precisava de quem terminasse sem me ligar à ela. No caso...
— Natalia — interrompo suas palavras. Rebeca assumiu sua autoria nessa parte também.
— Exato — me olha com uma expressão suave. — Viu como você ficou mais esperta? Eu pedi que a Rebeca usasse o mesmo telefone pra avisar a Natalia sobre você e o David, e então, ela não demorou muito pra subir lá e checar com os próprios olhos. Eu sabia que a primeira pessoa pra quem ela mandaria as fotos seria ele... — Alexia faz uma pausa analisando minha incredulidade, e se divertindo com minha expressão. — Ele ficou tão triste, e tão machucado. Eu consolei ele, disse que podia ter um motivo. Sabe, Emily, eu vi ele chorar e tentei de todas as formas não mostrar que eu te odiava. O Lucas me pediu em namoro no quinto e último passo porque ele sabia que eu ia aceitar... Ele... — para antes de completar a frase. — Ele viu o ódio que eu senti de você por machucar ele. Você foi a pior namorada dele. E depois, não foi o Lucas que vazou suas fotos... Foi a Karen.
Pisco rapidamente os olhos tentando não deixar que as lágrimas me invadam o olhar. Tenho que ser forte, eu não posso chorar... agora não.
— Conta pra ela, Karen, porque você vazou as fotos — pede para a amiga, mas sem deixar de me olhar por nenhum segundo.
Karen me fita com indiferença. Me fuzila com o olhar.
— As fotos ficaram tão perfeitas, que eu achei que pareciam obras de arte. — O ódio faz sua voz cortante como uma faca que ela está amando cravar em mim. Karen não manifesta uma única emoção a não ser essa. — Eu achei que todo mundo precisava ver, e foi isso que eu fiz. Mostrei pro mundo, o seu lindo corpinho.
A sensação já martelava forte dentro de mim, e não consegui segurar minhas emoções no momento em que vi as suas vacilarem. Lucas cobre a boca com a mão, e um pranto lhe corta pelo rosto. Seu corpo está vibrando e delata que ele está sendo atingido tanto quanto eu. Minhas lágrimas também começam a desabar e molham minha face. Ainda não consigo acreditar que ela fez isso mesmo. Não tenho o que falar, Alexia é doente. Com o súbito silêncio, ela continua:
— E como o último e quinto passo — faz uma pausa dramática. Porém, não há mais drama, depois de tudo que eu acabei de descobrir... Quem precisa de inimigos com melhores amigas como elas?. — O Lucas me pediu em namoro na sua frente. Ele achou justo devolver na mesma moeda. Pegar a sua melhor amiga, eu. — o agudo em sua voz é cortante e duro de ser processado. Não consigo lembrar dele pedindo ela em namoro pelo simples motivo de ainda estar tentando engolir cada parte desse plano psicótico. — Você lembra que eu disse que teria outro motivo pra ter escolhido o David? Pois é, ele me ajudou muito nessa parte.
— Ele terminou com você. — ignoro essa última parte, e digo me referindo a Lucas.
— Estamos separados agora, verdade. Mas eu posso conquistar ele — expressa convicta. — E sou capaz de fazer ele mais feliz que você já fez um dia.
Meus dentes colidem em nervosismo. Seco meu choro, e soluço em um suspiro alto.
— Você é uma vaca... psicótica — manifesto com tom suave. — Vocês duas são seres humanos da pior espécie. Falsas, aproveitadoras e doentes... Vocês precisam se tratar.
— Obrigaada! — Karen arrasta a palavra como se fosse um elogio.
— Você vai se arrepender disso. Vocês vão — aponto o dedo na cara da Alexia enquanto nossos olhos brigam entre si. — Eu espero que o seu reinado dure muito — digo com ódio. As lágrimas que turvam a minha visão dela são pura manifestação de ira. — Mais cedo ou mais trade, ele vai acabar, e você vai cair. Eu não vou tá lá pra ver, porque eu cansei disso. Cansei de sempre ter que ficar voltando nisso.
Seco os olhos com o antebraço e então me volto a Lucas sem nenhum pingo de descrição. Lucas está paralisado, mas chora como um bebê. Vê-lo assim me machuca. Estamos afastados, mas o meu sentimento por ele cresce a cada dia.
— Agora você acredita em mim? — pergunto para ele. Alexia se enrijece em minha frente. Quando me volto à ela outra vez seus olhos parecem querer fugir do rosto. Seu corpo está parado como se uma onda choque a pegasse de surpresa. — Espero que seu reinado tenha sido longo, majestade, porque ele acaba aqui.
Me afasto com dois passos andando para trás. Observo Alexia se curvar com calma e encontrar Lucas e David na outra direção. Dou de ombros. Antes que eu possa fugir do ambiente Thiago me segura pelo pulso.
— Onde você vai? — quer saber. — Você não tava esperando por isso?
— Eu tô cansada, Thiaguinho. Não quero ver briga de casal. — desvio o olhar dele.
Thi assente, e me solta. Ouço Alexia começa a se contradizer a medida que me afasto. Thiago estava certo, essa era uma cena que eu estava esperando por um bom tempo, mas não dá. Estou esgotada de tanto ouvir e preciso me sentar um pouco. Eu vou chorar. Não sei quantas vezes eu já cai nessa armadilha do destino da diferença entre saber e ouvir a verdade nua e crua. Agora, ao menos, posso fechar os olhos e saber como tudo aconteceu. Todos esses meses eu me perguntava como? Haviam lacunas que não faziam sentido, momentos que tudo era confuso. Cada segundo que eu vivi com elas foi parte de um plano, nada entre nós foi real além da minha amizade sincera. Ela me usou, usou a minha dor da perda ao seu favor... ela usou todos nós, e isso é e imperdoável. Ela tem uma mente doentia. Quem seria capaz de jogar assim com as pessoas?
— Alexia é capaz — responde a razão. Sim, ela é.
Assim que me jogo no meu banco tento usar o exercício de respiração do Pedro, mas ele não tem muito sucesso. Escondo rosto nos braços me inclinando na mesa. A tristeza e a raiva me fazem companhia enquanto meus olhos queimam. A pura sensação de tristeza. Soluço, e soluço outra vez. Então sinto uma mão gelada agarrar a minha. Eu achei que ele tinha mais a falar com ela. Me engano. Me deparo com a última pessoa que achei que estaria comigo. Gabriel parece ser o único a se importar como estou agora. O Thiago está lá assistindo seja o que estiver acontecendo com o Lucas agora, o Jônatas e o Pedro também. Por um lado isso é bom, por outro não é. Ainda consigo vê-los de onde estou, e um berro soa chamado atenção de todos.
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