- Pai, eu preciso de férias - Evan tomava seu café da manhã, acompanhado de Paul e Annabel, na casa do homem - Aquele lugar está um verdadeiro caos e se eu não parar por pelo menos algumas semanas, sinto que vou enlouquecer.

- Verei o que consigo fazer, mas como tiramos aqueles dias, após a morte de Olivia, não sei se férias agora seria viável - o homem engoliu em seco, limpando a boca com o guardanapo - Está pensando em viajar?

Evan levou o garfo até a boca, saboreado suas panquecas com geleia de framboesa - Acho que sim. Preciso esfriar a cabeça, longe dessa cidade.

- Pra onde está pensando em ir? - Annabel questionou - Não me diga que vai levar aquela garota com você?

- Aquela garota tem nome, mãe e é Megan - seu olhar penetrante encarava os da mulher de forma rigorosa - Ela é minha amiga e sim, vai comigo. Talvez Nova Jersey.

- O que vão fazer em Nova Jersey que não podem fazer por aqui?

As inquisições da jovem senhora já o estavam deixando irritado. Ela nunca foi uma mãe super protetora, sempre deixou que os filhos fizessem suas próprias escolhas e por esse motivo, Evan não conseguia entender o porquê de tanta implicância para com Megan.

- É um estado com paisagens lindas que posso fotografar, dá pra fazer um safári e dá pra curtir uma praia mais calma do que Miami Beach - Evan enumerava coisas que muito provavelmente Megan odiaria fazer, mas a figura de Emily se encaixaria perfeitamente em tudo aquilo - Além disso, Atlantic City é uma cidade bastante agitada, com cassinos e casas noturnas para todos os lados.

- E desde quando você gosta de jogos e lugares movimentados e barulhentos? - disse Annabel, depositando a louça que recolhia da mesa, dentro da pia de mármore - Essa garota está fazendo sua cabeça, querido. Só você não vê.

Evan bufou. Ergueu-se da mesa, pegando seu casaco e as chaves do carro - Estou indo, vou aproveitar meu sábado e aguardo uma resposta sua, pai. Até mais.

Deu de ombros e seguiu para fora da residência, ignorando todo o papo sobre Megan que sua mãe continuava a proferir.

Pegou seu carro e seguiu até o maior parque da cidade. Pôs os fones de ouvido e deu algumas voltas na pista para descarregar toda a energia negativa que emanava dele naquele momento.

Havia prometido um almoço a Megan, então voltou para casa, tomou um banho e começou os preparativos. Faltavam alguns minutos para o meio dia, quando a garota finalmente surgiu pela porta, repleta de sacolas e respirando com dificuldade.

Jogou-se sobre o sofá, apoiando as compras no chão e tirando os sapatos que lhe apertavam os pés - Você acredita que o elevador estragou e não tiveram a decência de concertar ainda? Tive que subir pelas escadas. É pra isso que pagamos condomínio hoje em dia?

- Oi pra você também - Evan picava alguns temperos - Esse estresse todo vai acabar te matando. Casos de infarto em pessoas jovens está cada vez mais comum - zombou ele.

- Sério que acha isso engraçado? - ela levantou-se e caminhou até ele na bancada da cozinha, puxando do bolso um maço de cigarros - O que está cozinhando?

- Rolê de vitela com cogumelos e aspargos - ele olhou de relance para o que a menina segurava entre os dedos - Nem se dê ao trabalho de acender essa porcaria. Já disse pra não fumar aqui dentro.

Ela guardou os cigarros de volta no bolso, ergueu uma de suas sobrancelhas, evitando revirar os olhos, pois sabia que ele estava certo. Pegou de sobre o balcão um pedaço de vagem cozida e levou a boca - Ian sabe cozinhar?

- É impressão minha, ou tá rolando alguma coisa entre vocês? - Evan questionou - Sim, porque não deu pra não notar todo aquele papo sobre poesia e coisas que nunca vi você sequer mencionar que gosta.

Megan sentou-se a frente dele, em um banco alto, no lado de fora do balcão, apoio o cotovelo nele e a cabeça em uma das mãos - Eu disse que era uma caixinha de surpresas. Mas acha que ele se interessaria por mim, ou Emily faz mais o tipo dele também?

- Você sabe tudo que aconteceu entre eles, é claro que ela o interessa - Evan pegou dois prato de dentro do armário aéreo e pôs sobre o mármore.

A decepção pareceu nublar as feições de Megan.

- Mas Ian é um cara legal e pelo que pude notar, ele ficou interessado em você também, porque me ligou logo depois que fomos embora. Dei seu número a ele - Evan sorriu amável - Deixei claro que você e eu somos só amigos que gostavam de se divertir juntos, mas que o caminho estava livre. Por favor, só faça isso se tiver total certeza de que está pronta, Ian não é do tipo que se apaixona pela metade.

Os cantos de sua boca se transformaram em um belo e genuíno sorriso - Ian me enviou um torpedo, me chamou pra sair. Fiquei um pouco indecisa, por não saber qual seria sua reação. Então tenho sua benção?

- Tem. Só lamento por perder a companhia pra viajar - Evan serviu dois pratos e também sentou-se para apreciar sua comida - Estava pensando em nova Jersey.

- O que vamos fazer em Nova Jersey? - Megan lançou-lhe um olhar duvidoso - Safári? Você só pode estar maluco, eu quero curtir uma boa praia. Quem sabe... Malibu?

Evan girou os olhos - Definitivamente NÃO!

- Tem medo que eu encontre o Charlie Harper por lá? - ela riu - Somos só amigos, Evan. Ciúme não pega bem. O que Ian iria pensar?

- Você sabe muito bem que encontrar  com Emily está completamente fora dos meus planos - ele cortou sua carne - E do jeito que o Charlie Sheen está acabado, dúvida muito que consiga algo mais do que contrair HIV.

- Ah, por favor, - ela juntou as mãos - Quais são as chances de você esbarrar em Emily por lá? Vamos aproveitar o verão em um lugar com gente bonita e bronzeada, não num lugar cheio de bichos e prédios velhos.

- Se quer tanto ir para Los Angeles, convide o Ian - ele fez uma careta - Se bem que, acho que ele prefere Bibliotecas e prédios históricos, assim como eu.

Megan deu de ombros, pegando suas sacolas e as chaves do carro de sobre o móvel - Você mesmo me disse que ele não pode se ausentar da empresa agora, sem falar que paixão platônica não viaja junto.

- Quer dizer que vou mesmo ter que te aturar?

Megan não disse nada, apenas deixou a mesa improvisada, pegou suas  coisas, abriu a porta e soprou-lhe um beijo debochada.

Depois de alguns dias, Paul finalmente conseguiu alguém para ajudar Caroline, enquanto Evan ausentava-se da empresa e com toda insistência de Megan, ele finalmente aceitou passar o verão em Los Angeles.

O medo de encontrar com Emily era maçante, mas não poderia passar a vida fugindo disso. Se ela não estava mais com Dylan e não conhecia muita gente na cidade, era provável que ficasse ao lado da avó e da tia, então seria bem difícil desse encontro acontecer.

Chegaram em Los Angeles ainda pela manhã. Megan dormira quase todo o vôo e Evan estava com muita fome. Comida de avião era definitivamente horrível.

Ficariam hospedados em um hotel 4 estrelas de frente pro mar. A recepção forneceu a Evan, como pedido, um BMW conversível alugado. Nada muito luxuoso, mas bastante confortável.

Após o almoço, passaram a tarde na praia. Segundo Megan, ela estava muito branca e aquilo não combinava com o resto do lugar, por isso deitou-se debaixo do sol, esperando ficar com a cor de uma estrela Hollywoodiana que vive alí. Quase no final da tarde, Megan foi as compras e Evan voltou ao hotel, para se refrescar e livrar-se da areia que lhe invadira o corpo.

Já banhado e devidamente alimentado, Evan jogo-se sobre uma poltrona confortável em seu quarto e desfrutava de um bom whiskey, em frente a um televisor. Ao dar-se conta da hora, rezou mentalmente para que Megan não tivesse se metido em nenhum problema.

A alguns dias, ela andara frequentando um psiquiatra, não os que ele indicara, mas mesmo assim, já era um bom começo para que ela se livrasse definitivamente do mau hábito de roubar.

Logo em seguida a seus pensamentos, a jovem adentrou o quarto - Vamos nos divertir um pouco essa noite  

- Onde predente ir?

- Fiquei sabendo de uma boate maravilhosa aqui perto - Megan sorriu travessa - Dizem que fazem os melhores drinks da cidade. vamos, por favor!

- Me tire fora dessa - Evan arquejou - Sabe muito bem que detesto lugares carregados de bebidas e principalmente pessoas. prefiro ficar aqui, bebendo meu whiskey - ele sacolejou o copo no ar - E lendo um bom livro.

Megan despositou seus pertences sobre a mesa de mármore e puxou o jovem pelo braço, o forçando a erguer-se de sua poltrona - Nem pense nisso. Não vou deixar que passe os dias trancado nesse hotel. Isso não são férias, ainda mais num lugar assim...

Ela continuava a falar e a preguiça de retrucá-la, era maior do que a de arrumar-se para sair, então descidiu não discutir com a menina. Deu meia volta e procurou em sua mala, algo apropriado para uma boate naquela cidade tão populosa. Optou por calças de sarja na cor caqui e uma camiseta branco, por cima uma camisa aberta na cor azul marinho.

Megan parecia estranhamente animada. Aguardava Evan de maneira ansiosa, enquanto o mesmo terminava de se vestir. Usava um vestido azul, todo bordado em renda e pérolas, sapatos altos, envernizados, na cor nude e os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, com alguns fios soltos, para dar um ar mais despojado ao look.

Os dois deixaram o hotel e seguiram para o local combinado. Evan dirigia em silêncio, tentando não pensar para onde estavam indo. Além de aquele não estar sendo um dos seus melhores dias, a ideia de estar em um lugar cercado de desconhecidos e com música alta, o deixava inquieto.

Deixaram o carro no estacionamento e adentraram a boate. O fato de ter que se identificar na portaria e ter nome na lista, já o havia irritado, mas não deixava isso aparente, para não ter que ouvir as reclamações de Megan, quando voltassem para o hotel.

Em cada canto do salão, as pessoas se aglomeravam, com seus copos coloridos e dançando enlouquecidamente, em meio a luzes piscantes que incomodavam as vistas de Evan.

Foi até o bar e pediu um Bourbon sem gelo. Recostou-se ali e correu os olhos pelo local, a procura de Megan, que já havia desaparecido em meio a multidão. "Maldita garota, me trás até esse inferno pra me deixar sozinho" pensou ele, enquanto levava o copo até os lábios, saboreando sua bebida.

Os minutos se passavam lentamente e a vontade de deixar Megan e voltar ao hotel só crescia. Ela que arranjasse um jeito de voltar para casa, pedisse um táxi ou fosse a pé, não importava, afinal, ela também o havia abandonado.

Pediu mais um whisky duplo, para ser sua saideira. Bebeu enquanto apreciava a dança de algumas moças ao longe. Sempre fora um conquistador, mas agora, apenas a figura de uma mulher, o deixava um tanto desconfortável.

Quando seus olhos deixaram as mulheres, foram quase que imediatamente para outro ponto do boate, onde pode avistar um rosto conhecido. O rosto que tanto tentava esquecer. Não podia acreditar naquilo. Como o destino podia ser assim tão implacável?

Emily conversava despreocupadamente com um homem alto e loiro e sorria lindamente. Parecia feliz em estar alí.

Evan bebeu o último gole de seu copo, tomando coragem para ir até lá. Mas o que diria? Que estava arrependido por tê-la deixado? Que todo o tempo que estiveram afastado ele esteve ao lado de uma mulher, que veio a se tornar sua melhor amiga e ela o arrastou para aquele lugar? Com o olhar fixo na garota, a cabeça de Evan girava e ele tentava organizar seus pensamentos, sem sucesso.

Finalmente decidiu ir até ela e simplesmente ver o que acontecia, mas enquanto caminhava na direção de onde ela estava, o homem loiro a tocou no rosto e levou os lábios até os dela, a beijando calmamente, como se aquilo fosse algo habitual deles. Ela estaria namorando? Será que conseguira o esquecer e esquecer Dylan tão rapidamente?

Ficou parado ali, estático, vendo aquela cena que o destruía por completo. O coração apertado parecia quebrar em pedaços dentro dele e as lágrimas não convidadas desciam por sua face dura.

Ao final daquele beijo, os olhos da menina se abriram e por sobre o ombro de seu parceiro, ela avistou Evan. O espanto transformou seu rosto e ela parecia atônita com a imagem diante de seus olhos.

Quando finalmente conseguiu se mover, Evan virou-se e caminhou apressadamente até a porta de saída do local. Aquela viagem havia sido uma péssima decisão, algo sempre o alertava internamente, como se seu subconsciente o avisasse que aquilo iria acontecer.

Quando alcançou a saída, foi puxado bruscamente pelo braço e impedido de sair. Pensou por um instante que poderia ser Emily, mas para sua decepção, a mão que o tocava era de Megan.

- Onde pensa que vai? - ela o indagou.

- Embora. Nunca devia ter deixado você me convencer a vir - ele a fitou com indignação - Essa cidade não é pra mim.

Megan o puxou novamente, assim que ele lhe deu as costas - Você a viu? Porque não foi até lá, você não pode fugir disso, tem que parar de deixá-la sempre que...

- Espera - ele franziu o cenho e aumentou o tom de voz  - Você sabia que ela estaria aqui. Armou tudo isso? Megan, você tem noção do que você fez?

Evan deu de ombros e saiu do local, seguido por Megan que tentava acompanhar seus passos rápidos.

- Por favor, não faça isso. Ian e eu só queríamos que você tivesse a chance de falar com ela mais uma vez.

- Ian? - Evan parou em frente ao seu carro no estacionamento - Quer dizer que ele também está metido nisso? Quem disse que vocês têm o direito de decidir o que eu devo ou não fazer?

Ela o olhou com indolência - O que custa falar com ela? Você precisa disso, Evan. Nós só queríamos te ajudar.

- Mas que porra, Megan! - ele berrou - Ela está com outro. Não está nem aí para mim. O sofrimento que eu causei a ela deve ter feito o amor se transforma em ódio e não há mais nada a dizer.

- Você não sabe disso - Megan ergueu uma sobrancelha - Você estava tentando voltar com a tal Caroline, quando nos conhecemos. Não estava? Ela pode estar usando o cara pra te esquecer também.

- Não vou pagar pra ver!

Evan adentrou seu carro e Megan fez o mesmo. Ele jogou sua cabeça para trás no banco e cobria o rosto com as mãos, tentando  secar  as lágrimas que haviam escorrido e avermelhado sua face por completo.

- Me escute. Vai se arrepender disso - Megan tocou a perna do rapaz inconsolável - Volte pra lá, nem que for pra por um ponto final, pra saber se ela realmente não quer mais te ver.

- Não posso fazer isso, Megan.

- Porque?

Os olhos marejados e a face transtornada do rapaz diziam tudo - Porque se a resposta for negativa, não sei se conseguirei me reerguer novamente.