60. Efeito Alison
Emily vestiu-se rapidamente. Pôs um vestido justo de renda preto, com um belo Decode em tule. Era o mais ousado que encontrara em suas coisas e decidiu levá-lo para a casa da avó, junto com um outro na cor cinza, tubinho Midi e de alças, que tinha quase certeza ser de Olivia. "Definitivamente preciso de roupas novas" pensou ela, enquanto calçava suas sandálias de salto grosso e muito altas.
Passou pela avó e a tia na cozinha e se despediu. A senhora mais velha quis abrir a boca para questionar, mas lembrou-se que Emily estava prestes a completar dezoito anos e não era mais uma garotinha.
Alison a aguardava impaciente, em seu Volvo conversível vermelho. A menina também usava um belo vestido curto e decotado, porém na cor verde.
Emily adentrou o carro, sentou-se no banco ao lado de Alison e pôs o cinto - Vamos?
- Só isso? Vamos! - ela ironizou, repetindo a fala da amiga - Nem um abraço, um que saudade de você, Alison?
Emily riu. Quase havia esquecido o quanto era bom ter a companhia e a amizade de Alison. As duas se conheciam desde a infância. Todos os anos, quando Emily deixava Miami e visitava a avó, Alison sempre estava por lá, para tornar tudo uma verdadeira diversão.
- Quanto drama - Emily revirou os olhos em um jeito brincalhão - Sabe que sempre sinto saudades da minha loira.
O carro fez a curva em uma rua repleta de pessoas bem vestidas e com copos de algo que, para Emily, parecia ser champanhe.
- E quem não sente? - Alison ergueu uma sobrancelha - Eu sou a melhor companhia desse lugar inteiro.
Emily franziu o cenho e engoliu seco - Esse seu convencimento me lembra alguém.
- Quem? - Alison indagou.
- Ninguém. Melhor deixar isso pra lá - lembrar-se de Evan era como partir seu coração em trilhões de pedaços. Embora conseguisse agir de forma inflexível em relação os seus amigos e até mesmo com Dylan, Evan sempre lhe arrancava um sorriso bobo ou um pensamento feliz, embora fosse apenas momentâneo.
- Ih, não deixa a bad bater não, amiga - Alison tinha um semblante espirituoso - Sei porque voltou pra Miami tão depressa da última vez, sei o motivo de não ter me procurado, mesmo tendo passado todo o ano vivendo tão próxima a mim e entendo se não quiser tocar nesse assunto, mas quero que saiba, sou sua amiga e vou estar sempre aqui, para qualquer coisa, não apenas pra te tirar de casa quando está magoada com algo.
Emily baixou o olhar envergonhada. Como ela poderia saber o motivo? Será que sabia mesmo sobre Ryan ou apenas a história mascarada que Ellie contava para os vizinhos que viram-na sair carregada por enfermeiros?
- O quanto você sabe sobre isso, Ali?
O carro estacionou em frente a um local bem iluminado, porém pequeno. Na frente havia uma enorme placa luminosa que dizia Jack's Bar.
Alison retirou seu cinto e fitou Emily com um olhar penetrante e solidário - Sei sobre Ryan. Depois que você foi embora, naquela noite, Nathaniel me contou o que viu quando entrou naquele quarto.
Os olhos de Emily ardiam, já querendo inundar-se em lágrimas. Não conseguiu balbuciar mais nenhuma palavra. Aquela lembrança ainda doía, como um soco na boca de seu estômago.
- Não chore. Vai acabar estragando a maquiagem - Alison puxou o queixo da amiga, fazendo-a olhar para ela e a trazendo para um abraço alentador - Aquele infeliz não vale suas lágrimas.
Emily passou os dedos na parte inferior dos olhos, tentando limpar as lágrimas sem ficar toda borrada. Aquela noite era pra ser um marco que separava suas lembranças tristes de uma nova vida.
- Estou bem! - disse ela, retirando seu cinto e abrindo a porta do Volvo - Vamos arrasar?
Alison também deixou o carro e deu a volta, parando ao lado de Emily em um segundo - É assim que se fala!
Ao se identificar na portaria do lugar, a loira pareceu cochichar algo no ouvido do jovem que procurava nomes na lista e em seguida apontou para Emily, que aguardava ao lado.
Quando finalmente conseguiram ingressar no local, Alison se dirigiu ao bar. Pediu ao barman dois Gimlet com vodka. Emily apenas avaliava o local com curiosidade.
- Tome! - disse a loira, alcançando a bebida para a outra - E só pra não esquecer, você tem 21.
- Que? - Emily lançou um olhar duvidoso em direção a amiga - Como fez isso?
- Conheço todo mundo por aqui. Nunca ousariam duvidar de Alison Marie Beneke - a moça sorridente lhe deu uma piscadela confiante - Vem, vamos circular.
Aos poucos, o local ia lotando e as pessoas começavam a esbarrar uma nas outras, mas por incrível que pudesse parecer, Emily sentia-se bem.
A companhia de Alison era extremamente agradável. Ela lhe apresentara alguns amigos e todos a trataram de forma que, pareciam conhecê-la a tempos.
De costas para o bar, Emily bebia seu quinto drink, quando alguém se aproximou e a tocou no ombro. Ela virou-se rapidamente e se deparou com um rosto conhecido.
- Ah, meu Deus, cara dos carros! - ela o abraçou brevemente.
- Kyle! - corrigiu ele.
isso, Kyle... - Emily levou a mão a cabeça, alisando os cabelos, um pouco constrangida - O que faz por aqui?
Ele lançou-lhe um sorriso irônico - Bem, vc não quis me dar seu telefone, então te segui até aqui.
- Tá falando sério? - Emily empalideceu, não entendendo o sarcasmo que carregava as palavras do rapaz a sua frente.
- Não, cara linda - ele sorriu mais uma vez, zombeteiro - O dono desse lugar é meu melhor amigo, venho para cá quase todo o final de semana e nas minhas folgas também.
Encabulada, Emily devolveu o sorriso - Entendo.
- Quer dançar? - Kyle convidou.
- Essa música é lenta - afirmou ela de forma duvidosa - Vou pisar nos seus pés.
- Não tem problema - ele esticou a mão para pegar a dela - Levando em consideração o seu tamanho, não acho que seja algo que eu deva me preocupar.
Emily o encarou com o cenho franzido, fingindo estar zangada - Agora vai me zoar por causa do tamanho?
- Nunca! - exclamou ele, jogando os braços para o alto em rendição - A tempos aprendi que nos menores frascos se encontram os piores venenos.
- E também as melhores fragrâncias - ela acrescentou sorrindo.
Os dois caminharam de mãos dadas, até a pista de dança. Emily não conseguia deixar de pensar no quanto aquele loiro, com olhos cor de amêndoa, era lindo. Seu porte era de alguém que, muito provavelmente, praticava algum exercício físico. Vestia uma camisa azul clara, com as mangas dobradas até os cotovelos e calças de sarja pretas.
Kyle rodopiava com Emily, elegantemente, pela pista de dança " droga, o desgraçado, além de lindo, ainda dança bem" aquele pensamento tolo e fútil a fez sorrir sem nem mesmo notar.
- Posso te fazer uma pergunta? - indagou ele.
- Tecnicamente você já fez - ela zombou - Mas diga, o que quer saber?
- Quando disse que estava tentando mudar, por conta de alguém que te fez sofrer, se referia a quem?
Emily se afastou de Kyle quase que imediatamente. Deu de ombros, enquanto era seguida pelo menos. Sem entender nada, o garoto tentava pará-la sem sucesso.
- Emily, desculpa se fui evasivo demais. Não foi a minha intenção de chatear.
- Se quer saber mesmo - ela virou-se para olhá-lo nos olhos, em meio a muitas pessoas bêbadas e que riam esteticamente - Todo homem com quem me envolvi até hoje, de alguma forma, me magoou. Meus amigos viraram as costas pra mim e a pessoa que eu amo verdadeiramente, deve estar na cama, com outra, nesse exato momento. Então, satisfeito?
Ele a alcançou, tocou seu braço com a ponta dos dedos e sorriu sem humor - Eu não levo mesmo jeito com as mulheres.
Os cantos da boca de Emily se curvaram em um bonito sorriso e ela não pode deixar de notar o quão desagradável havia sido. Kyle apenas estava curioso e não merecia aquela grosseria com que foi tratado.
- Me desculpe, estou sem graça com tudo isso - passou a mão sobre os cabelos - Você não tem nada haver com meus dramas emocionais.
- Que isso, me pague um drink e estamos quites.
Ela fez uma careta - Não posso comprar bebida, tenho só 17.
- Fala sério! - ele coçou a cabeça em dúvida - Como entrou aqui?
- Minha amiga Alison conhece o dono. Eu acho.
O rapaz soltou uma gargalhada estridente, puxando-a até o bar - Ela não só conhece, como tem um lance, digamos que bem íntimo com ele.
Emily apoiou os braços sobre o balcão, enquanto Kyle pedia ao atendente duas margaritas.
- Quer dizer que eles transam? - Emily sorriu divertidamente - A Ali não tem jeito mesmo.
- Devem estar lá em cima nesse exato momento. Ou você está vendo ela por aí? Eu não vejo o Tyler desde a hora que cheguei - ele alcançou a ela o copo com a bebida - Tome seu drink!
- Marguerita não é um drink - as palavras deixaram seus lábios sem que pudesse detê-las. Evan havia lhe explicado aquilo e tudo que, de alguma forma, tivesse haver com ele, a machucava - Lá em cima é o que? um motel?
Kyle riu alto com a constatação errônea da menina - Na verdade são dois quartos reservados, estilo suíte. Mas os clientes não estão autorizados a subir, muito menos usá-los - o loiro deu um longo gole em sua bebida, em seguida balançando o copo no ar - Se não é drink, o que é essa delícia?
- Um coquetel - soltou as palavras sem se aprofundar no assunto e afastou-se do balcão, pegando o copo entre os dedos e bebericando lentamente - Acho que ficarei sem ter como voltar pra casa. Alison deve estar se divertindo lá em cima e eu aqui sem carona.
- É cedo ainda. E se precisar, eu levo você pra casa - ele aproximou-se dela, com um sorriso sacana nos lábios - E quanto a se divertir lá em cima, eu tenho as chaves.
- Engraçadinho - ela bebeu mais um gole - Cadê aquela timidez toda de quando nos conhecemos?
Kyle beijou as costas da mão de Emily e piscou sedutor - Sou um homem de muitas facetas, minha querida, além disso, no dia em que nos conhecemos, você praticamente me atacou, não tive reação.
- Foi só pra mostrar o quanto nos mulheres podemos ser determinadas quando queremos.
- Admito que gostei muito - Kyle chegou mais perto de Emily, tocando seu rosto e enrolando uma mecha de cabelo em seu dedo indicador - Mas agora é minha vez de mostrar o quão determinado eu sou.
Ele afundou seus dedos entre os cabelo soltos e longos de Emily e os mesmos se enroscando nele até que tocassem a nuca. Lentamente, ele virou o rosto e a beijou.
Kyle empurrou o corpo de Emily contra o balcão do bar, acariciava suas costas e jogava seu corpo para mais perto do dela.
O beijo era compatível, carregado de desejo e impulsividade. O ritmo perfeito entre o enrolar de suas línguas e o absorver de fôlego, os conectava de forma eminente.
A cada segundo, o movimento das mãos de Kyle sobre o corpo de Emily se tornava mais firme e a presença das pessoas em volta deles parecia nem ao menos ser notada. Estavam imersos na ânsia de que aquilo se prolongasse ainda mais.
Quando seus rostos finalmente se afastaram, Emily continuava a sentir o perfume inebriante que exalava do rapaz. Suas mãos ainda se tocavam em um gesto tênue de carinho.
- Achei que nunca mais sentiria esse gosto novamente - Kyle tinha um sorriso mordaz entre os lábios - Queria poder sentir mais.
Emily desviou o olhar - Sei o que quer dizer e não, eu não vou para aquele maldito quarto com você, se a Ali faz esse tipo de coisa, não quer dizer que eu...
- Calma, calma, calma, como você é esquentadinha, garota - Kyle a interrompeu - Quis dizer que dessa vez, gostaria que me desse seu telefone e quem sabe pudéssemos nos conhecer melhor.
- Ah... - Emily estava surpresa com a forma que o rapaz lidava com a situação, ficou sem palavras e um tanto sem jeito - Me dê uma carona pra casa e te dou o número. Uma troca justa. Não acha?
- Está bem, pimentinha!
O apelido lhe causou certa estranheza, mas estava claro que era somente por conta de sua reação ríspida ao que, ela julgava ser, um convite ao sexo.
- Mas o que acha de bebermos mais um coquetel e nos divertirmos um pouco antes dessa troca justa de favores?
Emily então envolveu Kyle, pondo seus braços em torno do pescoço do mesmo e depositando um beijo em sua bochecha, ela assentiu.
O resto da noite se desenrolou muito bem. Emily estava um pouco alta por conta de todo o álcool que havia ingerido, mas como não estava dirigindo, isso não tinha muita importância. Um pouco antes de sua saída do local, avistou Alison vindo em sua direção.
- Achou que eu ia te deixar na mão, morena? - a garota zombou, um pouco exaltada por conta da bebida - Vamos embora?
- Ahm... É que eu... - Emily titubeou.
Alison desviou os olhos na direção de Kyle, que digitava algo em seu aparelho celular, ao lado de sua amiga e pode compreender o porquê do gaguejar dela.
- Já entendi - sorriu e revirou os olhos - Arrumou uma companhia mais máscula do que a minha. Pode ir, amanhã nos falamos - Alison aproximou-se e sussurrou no ouvido de Emily - Quero saber de tu-do!
Emily franziu os lábios - Eu também quero saber tudo, dona Alison!
- Com detalhes, minha velha amiga!
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