59. Toda a verdade sobre Megan
- Minha mãe é uma daquelas mulheres fúteis da alta sociedade. Sempre agindo na sombra do marido e evitando contrariá-lo, com medo de perder o estilo de vida luxuoso que sempre teve. Acho que nunca se importou verdadeiramente com os filhos - Megan levou a xícara de café aos lábios e deu um longo gole, antes de prosseguir com seu relato - Meu irmão sempre foi o encrenqueiro da família. Gastava sem dó o tão amado dinheiro do meu pai. Saía quase todas as noite, detestava estudar, bebia feito um louco e transava cada noite com uma mulher diferente.
Evan apoiou o cotovelo sobre o braço de sua poltrona, pôs o dedo indicador sobre os lábios e passeava com ele de um lado para o outro. Os olhos fixos na jovem, procurando enteder onde ela queria chegar com aquela história.
Sem nenhum comentário feito pelo garoto, Megan continuou - Eu, por outro lado, sempre fui o exemplo de filha. Sempre bem comportada, estudiosa e caseira. Lembro-me de, certa vez, ouvir meu pai dizer a Victor o quanto desejava que ele fosse como eu.
Os lábios de Megan continham um sorriso, mas os olhos marejados e a fala trêmula entregavam a dor que havia por trás de toda aquela postura de garota rebelde.
- Mas, como tudo na vida, as coisas mudaram drasticamente, quando o câncer levou meu irmão - Megan olhou para o teto e batia as pestanas com rapidez para evitar que as lágrimas rolassem por sua face - Evan, eu cometi o pior erro de toda minha vida.
Não pode mais segurar. Era impossível medir o tamanho do sofrimento e da culpa que ainda sentia. Lágrimas derramaram por seus olhos, escorrendo sem parar, fazendo suas bochechas avermelhadas cintilarem.
Evan, vendo a menina daquele jeito, deixou a poltrona e sentou-se ao lado dela, no sofá e a trouxe para um abraço de pesar reconfortante.
- Se essa história te machuca tanto, não precisa continuar.
- Mas eu quero! - Megan afastou-se do garoto, secou os olhos com as costas das mãos e seguiu adiante - Sem Victor, perdi o chão. Por mais que ele fosse insurgente, como meu pai dizia, era meu irmão, me ouvia, me protegia e eu o amava.
- Sei bem o que você sentiu com a perda dele - Evan segurou a mão de Megan com doçura, para expressar sua condolência - Olivia era tudo pra mim e se não fosse por Emily - ele engoliu nervoso - Talvez eu tivesse cometido o maior dos pecados.
- Sinto muito! Não vou dizer que isso é algo superável, pois não é verdade. Cada dia que passa a dor se torna mais intensa e a única coisa que fica é o vazio e o silêncio da perda - suas pupilas estavam dilatadas e brilhantes por conta das lágrimas - Mas a gente precisa ser forte e lutar.
A tristeza havia nublado as feições do garoto. Falar de Olivia, após sua morte, sempre lhe causava esse efeito, mas ao ver Megan tentando consolá-lo, lembrou-se de que era ela quem precisa de apoio naquele momento. Abriu-lhe um sorriso forçado e pediu que a mesma desse continuidade a sua narrativa.
- Não quis vê-lo todo entubado no hospital, sequer fui a seu velório e me arrependo amargamente disso - ela apertou os lábios e novamente fitou o teto - Depois que recebemos a notícia do falecimento dele, meus pais precisaram cuidar dos trâmites para o velório e eu fui direto para casa. Sequei todas garrafas de bebida que encontrei no armário, depois peguei o Porsche do meu irmão e saí feito louca, dirigindo e chorando como se nada mais importa-se.
- Megan, você atropelou alguém? - Evan estava atônito.
- Um menino - ela assentiu - Devia ter uns 10 anos.
- Por Deus! - o rapaz jogou a cabeça para trás e passou os dedos entre os cabelos loiros - Eu já esperava por algo assim, mas admito que estou chocado.
- Eu sei, sou uma pessoa horrível - Megan baixou o olhar - Foi por isso que fui parar naquele internato na França. Eu merecia coisa pior.
Evan tocou o queixo da morena com o dedo dobrado, fazendo-a olhar em seus olhos novamente - Não diga isso. Você sabe que errou e vejo que a morte desse menino te afeta de tal forma, que é notório seu arrependimento.
- Mas isso não vai trazê-lo de volta para a família - seu olhar chamejante denotava todo o remorso e repulsa que sentia por si mesma - Ele era apenas uma criança, com toda vida pela frente e eu o privei disso, Evan.
Não havia nada mais que pudesse dizer a ela. Sabia muito bem o que Megan sentia. Aquele maldito sentimento de culpa que por tanto tempo o assombrava. Por mais que o acidente de Olivia tivesse sido uma fatalidade, ele se culpava por tê-la deixado sair daquela maneira - Seu pai mandou você pra a França, para que não fosse presa. Foi isso?
- Na verdade, ele e seus advogados encobriram tudo. Ofereceram um bom dinheiro aos pais do menino, que por conta das despesas que tinham com os outros três filhos e sabendo que o processo provavelmente não daria em nada, resolveram aceitar - Megan suspirou profundamente - Meu pai sempre nos tratou como peões em um jogo de xadrez a qual ele era o rei. O seu xeque mate foi me mandar para aquele lugar e fingir que nada demais havia acontecido. Perante a sociedade, eu era apenas uma menina abalada pela morte do irmão.
Evan envolveu a menina em seus braços e deixou que ela pusesse para fora toda a mágoa e angústia que tanto a machucavam. Afagou os cabelos escuros e encaracolados, com a ponta dos dedos e a trouxe para mais perto de si.
Megan ficou daquele jeito por algum tempo, mas assim que conseguiu se recompor emocionalmente, ela se afastou, levantou-se do sofá e deu de ombros, secando seu rosto - Mas agora chega dessa choradeira, o jantar foi um desastre, sua mãe me odeia, tudo nos conformes.
- Ela não te odeia - ele franziu o cenho - Minha mãe é uma pessoa influenciável. Você sabe como o ser humano pode ser maldoso e tudo que meu pai deve ter dito a ela, fez com que você se tornasse um monstro aos olhos de dona Anna.
Megan aproximou-se de Evan e pôs seus braços em volta do pescoço do mesmo - Eu acho que ela sente saudade da nora exemplar e perfeitinha de nome Emily.
- E eu acho que você deveria calar a merda da sua boca e me beijar - o garoto depositou pequenos beijos pelo pescoço da jovem - Será que é tão difícil assim pra você esquecer a minha ex namorada, do mesmo jeito que eu fiz?
Ela afastou-se dele por um instante e fixou o olhar em seus olhos verdes - Esse é o problema, você não esqueceu ela e, não que isso me incomode, mas como sua amiga, quero que seja franco comigo.
Está bem - Evan caminhou novamente até a poltrona e deixou seu corpo repousar sobre ela - O que quer saber?
- Me conte tudo. Toda a história, desde o início.
O sorriso de Evan desapareceu e suas feições endureceram, denotando seu mal estar em tocar naquele assunto, mas devia isso a Megan. Ela havia sido completamente sincera com ele e o mínimo que ela merecia era que ele fizesse o mesmo. E talvez, só talvez, isso lhe ajudasse a superar o que ele fingia para si próprio ter posto uma pedra em cima.
- Sente-se! A história é longa.
Meses se passaram e as coisas andavam sem maiores complicações. Naquela tarde, Evan sairia da empresa um pouco antes do horário normal. Era sexta-feira e seus relatórios estavam bem adiantados, por isso decidiu buscar Megan para um happy Hour em uma danceteria na cidade próxima. Era inauguração do lugar que a garota estava bastante entusiasmada para conhecer, mas antes dariam uma passada no shopping local.
Precisava comprar um presente para o amigo oculto do escritório. Os papéis foram sorteados um pouco antes da reunião anual de comemoração pelos ganhos obtidos no ano, para que todos tivessem tempo de providenciar um regalo ao colega.
Paul e Annabel pareciam querer esconder do filho, a todo custo, a relação que estavam tentando reavivar. Tinham medo que Evan fosse contra, por causa do que havia acontecido no passado, mas ele, por outro lado, já tinha notado os olhares e os toques na mão que eles casualmente deixavam passar e não estava contrário a isso. Eles eram adultos e sabiam muito bem resolver seu empasse sozinhos.
Megan queria uma bolsa Prada da nova coleção, como presente de aniversário. Custava os olhos da cara, claro, nesse ponto, ela se parecia e muito, com sua irmã.
O plano de namoro falso havia dado efeito. Ela e o pai voltaram as boas e ele devolvera o carro e os cartões de crédito, embora a condição para ter isso de volta, fosse que a jovem tornasse a viver sobre o mesmo teto que ele.
Harry Fitzgerald era um homem mesquinho e controlador. Temia que seu nome fosse parar nos tablóides de fofoca por conta das burradas dos filhos. Evan, a sua visão, era um rapaz de boa família, seu pai era um grande empresário no ramo da construção e isso o tornava um belo partido para a filha, por isso, e unicamente por isso, o velho o tratava com apresso.
Assim que Megan teve de volta sua antiga vida de patricinha sustentada pelo pai, deixou o emprego e regressou a faculdade. Não pretendia viver daquela forma, sob a tirania do velho, por muito tempo mais.
Após se formar, montaria seu próprio atelier, quem sabe em Manhattan, iria para longe de Miami e viveria sob suas próprias regras. Nunca mais precisaria ouvir os xingamentos de Harry e nem as chiliques de sua mãe Estella.
Evan pegou suas chaves de sobre a escrivaninha, trancou a porta de sua sala e seguiu até o elevador. Entrou em seu novo carro, no estacionamento e deixou o local tranquilamente.
A duas semanas, Evan trocou seu amado Mustang vermelho, por um conversível prata. Seu antigo carro andava lhe dando muitas dores de cabeça e embora gostasse muito do veículo, ele tinha dinheiro para comprar algo muito melhor.
Sua vida parecia mesmo ter tomado um rumo completamente diferente do que ele próprio esperava, anos atrás. Nunca pensou que teria um emprego estável e valoroso como aquele e nem que conquistaria tanta coisa, em tão pouco tempo.
Paul havia sido bastante generoso em indicá-lo para o cargo, tendo em vista que, na época, os dois mal se falavam e o desprezo e desdém de Evan, para com ele, era muito vívido.
O dia estava lindo. O sol brilhava com intensidade, mas a brisa leve que soprava, fazia com que a temperatura se mantivesse agradável.
Evan dirigia sem pressa, sentindo o vento tocar seu rosto com avidez e bagunçar seus cabelos loiros. Pôs It's My Life do Bon Jovi para tocar e tamborilava os dedos sobre o volante, enquanto ia em direção a casa de Megan.
Estacionou e apertou a buzina para chamar a atenção da garota. Não estava afim de conversar com Harry, muito menos com Estella. A frivolidade da mulher lhe dava nos nervos.
Alguns minutos se passaram e Megan saiu pela porta da frente da casa. Usava um bonito vestido florido em tons de rosa e bege, e sandálias baixas. Era difícil vê-la sem sua superprodução, roupas extravagantes e maquiagem pesada.
"Ela fica tão mais bonita assim" balbuciou ele, apenas para si. Entendia que sua forma excêntrica de se vestir era apenas por conta da profissão. Gostava de causar impacto sempre que chegava, mas depois que se conhecia Megan interiormente, como Evan, se via o quão doce e gentil ela era.
A jovem adentrou o carro antes mesmo que Evan pudesse lhe abrir a porta. Dizia que não gostava te tal cavalheirismo, pois na visão dela, tinha capacidade suficiente para abrir ela mesma.
- Vamos?
- Sim. Mas antes vamos ao shopping - Evan deu ré em seu carro e voltou a estrada - Preciso comprar presentes para todos.
- O que eu vou ganhar? - a morena indagou com o olhar curioso.
O carro virou a esquina e entrou no estacionamento do shopping center. Não haviam muitos veículos naquela tarde, muito embora o local parecesse bem movimentado.
- Já disse que quer a tal bolsa. Não? - o garoto foi mais rápido do que dá primeira vez e abriu-lhe a porta sorridente e brincalhão - E o meu presente de aniversário terá que ser tão bom quanto.
- Seu presente sou eu nua em sua cama, pra fazer o que você quiser - Megan beijou-lhe o canto da boca.
- Isso eu já tenho, todo santo dia! - zombou ele - Que tal me dar algo mais original?
- Eu, nua em sua cama, coberta por calda de chocolate?
Evan estreitou os olhos - Isso parece bom. Quero meu presente adiantado!
Os dois riram enquanto adentravam na primeira loja que avistaram. Evan foi até uma vendedora e pediu que a mesma o auxiliasse, para que fizesse a melhor escolha.
Não conhecia muito bem seu colega oculto, mas todo homem gosta de uma carteira nova, conforme o que seu pai lhe dissera, muito embora, para ele, não fosse bem assim.
A simpática moça o levou até o fundo da loja e começou a mostrar-lhe algumas opções. Megan andava por entre as araras, em direção ao que era sua maior paixão, sapatos.
Evan passou algum tempo fazendo suas escolhas na companhia da vendedora loira tão atenciosa. Em alguns momentos tivera a sensação de que ela o estava paquerando.
Ao final das compras, ele pegou suas sacolas e correu os olhos a procura de Megan. Ela se encontrava na seção de lingeries e assim que o viu, abriu-lhe um sorriso, indo ao seu encontro.
Caminharam lado a lado, até a saída da loja conversando descontraidamente. Evan estava carregado de sacolas e a garota ria da forma que ele se movimentava. Mas quando cruzaram o limite da porta, o alarme começou a soar, fazendo um enorme estardalhaço e chamando a atenção de todos ao redor e dentro do local.
Quando seus olhos fitaram o semblante de Megan, Evan viu a cor fugindo-lhe do rosto e os olhos arregalaram. Ela, por fim, exclamou - Merda!
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