49. Outra tragédia
Na noite em que Emily chegara de Miami, seus pais não fizeram muitas perguntas. Pareciam pisar em ovos perto dela. Talvez por conta de todo o tormento pelo qual ela estava passando.
Após um longo banho e a tentativa de se alimentar, fez o que disse que faria. Ligou para Evan, para que ele soubesse que estava bem e claro, ouvi-lo a deixava mais calma.
Não queria que a convivência com os pais voltasse a ser como era na época em que viviam em Miami, mas estava decidida. Não podia mais viver daquela maneira. Por mais que Dylan fosse um cara bacana e ela gostasse da companhia dele, Evan era seu verdadeiro e único amor.
Ao despertar, na manhã seguinte, um pouco mais cedo do que o habitual, Emily se arrumou como sempre fazia, pegou sua mochila e deixou o quarto um tanto quanto inquieta. Era agora ou nunca.
Foi até a cozinha, onde seus pais preparavam juntos o café da manhã e sentou-se a mesa, pensando na melhor forma de começar aquela tão temida conversa.
- Pai, mãe... - ela pigarreou para chamar a atenção deles para si - Preciso conversar algo sério com vocês e quero que dessa vez me escutem com bastante atenção.
- O que ouve, minha querida? - Bruce virava algumas panquecas em uma pequena frigideira preta - Aconteceu alguma coisa em Miami entre você e Dylan?
- Pai, por favor, deixa isso tudo aí e senta aqui - Emily desviou o olhar para a mãe, que serviu-se uma caneca de café - Você também, mãe!
Ambos deixaram o que estavam fazendo de lado e atenderam o pedido da filha, um pouco impacientes com todo aquele mistério nas palavras da menina.
- Ok, estamos prestando atenção, fale logo do que se trata - Elizabeth bebericou seu café - está nos deixando preocupados.
Emily respirou fundo e passou a mão pelos longos fios de cabelo, e por fim se pôs a falar - Quando eu estava em Miami, as coisas acabaram não saindo do jeito que eu imaginava. Dylan e eu optamos por ficar em um hotel, mas acabamos nos desentendendo e ele voltou antes de mim.
- Isso nós já sabemos, Emily! - Bruce queria que a filha fosse direto ao pondo, ao invés de explicar algo que eles já tinham conhecimento - Dylan pagou o hotel. Foi o que você nos disse. Então qual é o problema?
Elizabeth analisava as palavras do marido, enquanto segurava a caneca com as duas mãos, apoiadas sobre a mesa a sua frente.
- O motivo do nosso desentendimento foi Evan - Emily disparou olhando diretamente para a mãe que mantinha o olhar calmo de antes - Estar ao lado dele novamente trouxe a tona tudo que eu tentava manter trancado dentro de mim desde que o deixei.
Antes que Bruce pudesse dizer algo, Elizabeth esticou suas mãos até a da filha, pegando-a entre as suas e lhe afagando delicadamente.
- Eu sabia que se tratava disso o tempo todo, mas precisava que você tivesse a coragem de nós contar e não escondesse mais seus sentimentos, para enfim ter a certeza de que erramos ao te afastar dele.
- Está falando sério, mãe?
- Sim. Ela está, minha filha! - Bruce entrou na conversa, sorrindo e com o olhar doce - Depois de todo os esforço que fez para poder estar ao lado de sua melhor amiga, sua mãe e eu conversamos bastante sobre estarmos sendo rígidos demais e te privando de fazer suas próprias escolhas.
Emily estava atônita com aquela situação. Nunca imaginou que seria daquela forma, com os pais tão abertos a ouví-la e principalmente admitindo que erraram quanto a afastarem-na de Evan.
- Eu não sei nem o que dizer.
- Querida, nós julgamos mal o rapaz. Tivemos algumas conversas com Annabel e ela nos explicou a situação, disse que o filho não merecia pagar pelos erros do pai.
- Pensamos bastante na possibilidade de te deixar vê-lo, até que você conheceu Dylan e ele parecia te fazer tão bem - Elizabeth completava as explicações do marido - Achamos que era melhor deixar tudo como estava. Até que infelizmente a tragédia de Olivia nos fez pensar novamente no assunto.
Os olhos de Emily estavam marejados e ela só queria abraçá-los e agradecer por estar sendo tão compreensivos finalmente.
- No ano que vem você será maior de idade e vai se formar, precisará decidir qual faculdade seguir e que curso irá escolher - Bruce tomou novamente a palavra - Então achamos que você precisa fazer suas próprias escolhas daqui para frente, mas queremos que tenha confiança e nos inclua em todas elas.
A menina não pode mais se conter. Pulou nos braços dos pais e chorava de forma sincera e feliz.
Após o momento mais especial de sua vida, sendo ouvida pelos pais pela primeira vez, tendo a aceitação deles para finalmente ficar ao lado de quem ama, Emily seguiu para a escola.
A menina ainda estava bastante desolada. Apesar do momento terno que tivera a pouco, a idéia de que nunca mais veria Olivia a destruía por dentro e o sorriso forçado em seu rosto, era a forma que havia encontrado para dizer aos outros e a si própria que estava bem.
Precisava de Evan ao seu lado o quanto antes possível. Somente ele poderia entender sua dor e lhe ajudar a superar aquele funesto acontecimento.
Assim que encontrou com Lucy e Bradley na entrada da escola, sentiu um aperto em seu coração. As duas meninas a abraçaram sem dizerem nada e Emily não pode conter o choro.
- Você não devia ter vindo para a escola hoje - Lucy disse-lhe com o olhar compadecido - É tão triste perder um amigo dessa forma tão brutal.
- Eu não posso me esconder a vida toda, preciso enfrentar isso de cabeça erguida - Emily sorriu sem forças - Olivia iria querer assim.
Bradley novamente abraçou a amiga de um jeito doce - Pode contar conosco para tudo.
- Obrigada, meninas! - ela baixou o olhar envergonhada - Tenho algo pra contar. Vocês lembram que falei sobre Evan?
- O irmão gostoso de Olivia pelo qual você era apaixonada? - Lucy sacudiu a cabeça em afirmação - Claro que lembramos. Não me diga que rolou um flash back entre vocês. Claro que não. Onde estou com a cabeça, ele deveria estar arrasado com tudo!
Bradley lançou um olhar fulminante na direção da amiga, como se para repreendê-la por falar daquela forma tão direta - fale o que iria dizer, Emy!
A menina suspirou pesadamente. Estava tensa, sem saber qual seria a reação das amigas, principalmente de Bradley, quando contasse sobre os beijos trocados com Evan - Bem, Lucy está certa. Evan e eu ficamos mais próximos em meio a todo aquele horror que foi a perda de Olivia e bem, preciso ser sincera com vocês, nós nos beijamos.
- Espera! Então foi por isso que o Dylan voltou antes de você? - o olhar de dúvida pairava sobre a mente de Lucy. Bradley apenas ouvia tudo em silêncio.
- Dylan não sabe sobre o beijo - Emily desviou seu olhar de Lucy para Bradley - Ele ficou chateado com a forma como tratei Evan e resolveu me deixar lá. Preciso encontrá-lo e me explicar.
- Emily, Dylan é meu melhor amigo e já sofreu muito com traições - Bradley finalmente expôs sua opinião sobre o que ouvia - Para o seu próprio bem, não faça nada que o magoe, ele não merece alguém que o engane.
Bradley deu as costas para as meninas, em seguida virou-se chamando por Lucy - Você vem? Temos a primeira aula juntas hoje.
- Já estou indo - Lucy voltou-se para Emily que tinha um olhar ainda mais triste do que quando chegara - Não ligue para a Brad, ela protege sempre os amigos, mas se você ama o Evan, não deixe que nada te impeça de ficar ao lado dele.
Emily sorriu aliviada. O apoio de Lucy era muito importante para ela - Você viu Dylan por aí? Preciso muito falar com ele, o quanto antes melhor.
- Acho que está no estacionamento com alguns amigos - Lucy informou - preciso encontrar com Bradley. Depois me conte como foi a conversa.
Emily despediu-se de Lucy e seguiu até o estacionamento, a procura de Dylan. Estava angustiada desde quando pousou na Califórnia. Sabia que aquela conversa seria extremamente difícil e que corria o risco de perder a amizade do garoto para sempre.
Assim que foi se aproximando, notou que ele estava debruçado sobre o capô de seu carro, conversando com um rapaz que ela não conhecia.
Ao vê-la, Dylan abriu um enorme sorriso e logo o outro garoto se afastou, deixando que os dois conversassem a sós.
O estacionamento estava completamente vazio. Muitos carros ao redor, mas a maioria dos alunos já haviam entrado para assistirem a primeira aula.
- Emy! Senti tanto sua falta - Dylan a abraçou fortemente - Como você está? Desculpe por ter sido tão idiota e ter te deixado sozinha por causa de um ciúme sem fundamento.
Ao ouvir aquelas palavras, Emily sentiu seu coração acelerar. Ele confiava nela e ela o havia desapontado. Como poderia contar que, no meio de uma tragédia, ela percebeu que amava Evan e pior, que o beijou e agora queria terminar o namoro, para correr para os braços do mesmo.
Enquanto Emily tomava coragem para falar o que precisava. As coisa tiveram uma virada que ela jamais poderia esperar.
Ouviu alguns garoto se aproximando deles, rindo e conversando sobre algo que eles não conseguiam identificar. Dylan virou-se para olhar e para a surpresa deles, era Joe e seus novos amigos.
- O que quer aqui, Joe?
- Meu irmão disse que Emily perdeu uma amiga. Viemos prestar nossas sinceras condolências. Vimos as fotos na internet, ela era bem gostosinha.
Todos riram diante das palavras carregadas de sarcasmo e insensibilidade ditas por Joe.
- É bom saber que você é do tipo de cara que se diverte com a dor alheia - Emily cuspiu as palavras com desprezo - Fico feliz que Lucy tenha se afastado de alguém tão repulsivo como você.
O semblante de Joe se fechou em fúria. As palavras de Emily o atingiram em cheio. Perder Lucy era algo que ele não conseguia aceitar. Ela era um troféu para ele. Desfilar ao lado de uma garota tão popular e bonita quanto ela, era como um prêmio e agora ele não tinha mais nada.
No impulso, Joe sacou uma arma, assustando Emily e fazendo com que, instintivamente, Dylan se pusesse a frente dela para protegê-la.
- Abaixa isso, Henderson - a voz de um dos amigos de Joe fez se ouvir atrás dele, enquanto os outros rapazes deram um passo para trás, também surpresos com a atitude insensata dele - Qual é, cara, se alguém ver você com isso, todos estamos fodidos e você sabe.
- Essa vagabunda se acha a dona da porra toda, vou mostrar pra ela o que acontece com quem mexe comigo, Gareth.
- Você quem sabe. Vamos, galera! - o garoto de nome Gareth chamou pelos outros - Não vamos nos envolver nas suas merdas, Henderson.
Sem dar ouvidos aos amigos e extremamente irritando, o rapaz apontou a arma para Emily, que o olhava de maneira apavorada. Dylan, por sua vez, tentou fazer com que Joe desviasse sua mira da menina.
- Você não pode ser mais patético, Joe? Vai atirar em uma mulher porque ela te rejeitou? - Dylan provocou - Fui eu quem fez Lucy cair na real quanto a você. Se quer descontar em alguém, desconte em mim, não nela.
- Dylan, não provoque - Emily moveu seu corpo para mais perto de Joe e saindo da proteção do outro. Suas mãos tremiam e ela suava frio por conta do nervosismo diante daquela situação. Era a segunda vez que via um revólver nos últimos dias e aquilo a deixava em pânico - Abaixa essa arma e vamos conversar como adultos.
- Lá vem a santa e diplomática Emily - Joe zombou - Você mexeu com a pessoa errada, vadia!
- Uhh, olha como ele é perigoso! - Dylan se pôs a frente da menina outra vez, sacudindo o corpo debochadamente, mas por dentro, estava tenso com o que poderia acontecer com eles diante te tal situação - Mostre que é homem ao menos uma vez na vida, deixa ela fora disso. Seu problema é comigo. Quer atirar, atira em mim - abriu os braços diante do outro.
- Parem com isso - as lágrimas escorriam pela face da menina e seu coração parecia querer sair pela boca - Quer um pedido de desculpas, Joe? Pois bem, me desculpe se fui evasiva demais, desculpe se me meti entre você e Lucy.
Enquanto Emily tentava convencer Joe que as coisas poderiam se resolver de outra forma, todos os olhares se voltaram para o outro lado do estacionamento, quando o zelador da escola, se aproximava deles, querendo saber o porquê de não estarem em aula.
- Cala a porra da boca - Joe apontou novamente a arma na direção de Emily. O que fez com que o zelador pudesse ter a visão do objeto de metal.
- O que vocês estão fazendo aí? Eu vou chamar a polícia.
Assustado e na ânsia de proteger Emily, Dylan deu as costas para Joe e olhou para a menina, sinalizando para que ela aproveitasse o momento para fugir dali.
O medo de ser pego tomou Joe por completo. Querendo sair do local o mais rápido possível, mas não sem antes se vingar de Emily, ele apertou o gatilho da arma, atingindo Dylan, que caiu desacordado nos braços da menina.
Emily soltou um grito gutural, fazendo sua garganta arder e chorando desesperadamente. Aquilo não podia estar acontecendo.
Emily olhou na direção do atirador. Enquanto ele se afastava rapidamente sorrindo satisfeito - Eu disse que você estaria fodido comigo. Nos vemos no inferno, seu filho da puta!
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