30. Tentando se redimir
- Você só pode estar de brincadeira comigo! - Evan gesticulava de forma histérica - Eu não vou jantar com aquele cara, Olivia!
Faltavam alguns dias para o aniversário de Olivia e dessa vez ela não queria festa, nem presentes caros, queria apenas jantar com toda a sua família, mas esse desejo não seria possível se dependesse de Evan.
- Poxa, eu não estou te pedindo pra fazer as pazes com ele, nem precisa falar se não quiser, apenas cozinhe, sente-se a mesa com sua irmã, sua mãe e sua namorada.
- Sem essa, Olivia - ele estava irredutível - Se quiser minha companhia e a da Emily em seu aniversário, é melhor esquecer seu pai e acho que mamãe também não aceitaria essa sua maluquice.
Olivia fechou a cara, seu olhar passou de suplicante para feroz - Ele também é seu pai, nossa mãe quer me ver feliz então fará um sacrifício e aposto que para a Emily isso não seria problema.
Evan deu de ombros, sentou-se em seu sofá e jogou seu braço sobre o ombro da namorada que apenas observava tudo atentamente - Em não vai sem mim!
A menina lhe lançou um olhar fulminante - Como é que é?
Olivia sorriu divertindo-se.
- Olha - Emily levantou-se - Não é você quem decide onde eu posso ou não ir e se quer saber minha opinião sobre tudo isso, acho que deveria parar de ser tão criança e conviver mais com seu pai.
Evan bufou, apanhou as chaves do carro sobre o móvel e saiu batendo os pés, sem nada dizer.
As garotas se entreolharam e também permaneceram em silêncio.
Após uma tarde de busca infrutífera por um novo emprego, Evan se viu sozinho em seu apartamento e isso lhe causava certa tristeza.
Não podia ter Emily todas as noites e nem sempre que sentisse saudade, mas a coisa mais frustrante de tudo isso, era nem ao menos poder ligar para ela sem admitir que estava errado, que talvez sua irmã merecesse uma trégua entre ele e o pai, ao menos em seu aniversário.
Deitou-se na esperança de pegar no sono, mas era quase impossível dormir com todos os problemas que adquirira nas últimas semanas, ou melhor, desde que decidira não ir embora e assumir um namoro escondido no qual não se sentia totalmente a vontade.
Apesar dos pais de Emily estarem mais flexíveis desde que voltaram a morar juntos e terem desistido de tirá-la da cidade, ainda assim, era difícil viver se escondendo do mundo.
Quando finalmente estava fechando os olhos, seu celular vibrou, o fazendo pular assustado sobre a cama. No visor o nome que lhe trazia tanta paz. Era Emily.
"Boa noite, meu amor! Desculpe se fui rude, se não compreendo você, mas quero que saiba que sempre estarei ao seu lado."
O coração de Evan apertou. Emily não era bem o tipo de garota que se desculpava, muito menos quando estava convicta de sua opinião.
Ela estava sendo tão madura, tinha pouca idade, mas parecia ficar mais segura de si a cada dia que se passava, seu coração encheu-se de orgulho e ele teve certeza de que ela valia todas as suas noites mal dormidas.
Enviou uma mensagem que talvez fosse se arrepender na manhã seguinte, mas precisava pagar pra ver:
" Eu que peço desculpas por sair daquela forma e você tinha razão, a Olivia merece um esforço meu, se você for, eu também irei a esse jantar."
A resposta veio em meio minuto:
"Estarei sempre com você.
Te amo!"
Evan dormiu pensando em como seria reencontrar o pai depois de tudo que haviam passado.
Acordou assustado, vestiu-se rapidamente, foi até o banheiro para só então, após lavar o rosto, lembrar-se de que não tinha mais emprego e nenhum motivo para correr.
Tomou seu café e ligou para a irmã para dar-lhe a notícia de que iria fazer o tal jantar e ela poderia convidar quem quisesse.
A cada palavra que saia de sua boca, seu arrependimento ia se multiplicando, mas agora era tarde, havia prometido a Emily.
passou a manhã pelas ruas a procura de um novo emprego, mas a situação não era nada boa.
Buscou Emily para almoçarem juntos e ela estava tão linda, tão alegre que Evan só podia deixar seus problemas de lado e desfrutar da companhia doce dela.
- Sabe, fiquei muito feliz em saber que você vai dar uma chance para seu pai - Emily começou - Deixou Olivia muito feliz também.
Evan terminava de beber seu suco - Vai ser só nesse jantar, não tenho interesse em voltar a tratá-lo como pai, Em.
O sorriso de Emily fechou-se quase que imediatamente e ela apenas bebeu de seu canudo colorido, ignorando a fala azeda do namorado.
Evan percebeu a mudança de humor da menina, pegou sua mão com delicadeza e levantou seu queixo com a ponta dos dedos, fazendo com que seus olhos olhassem nos dele - Eu vou fazer todo o esforço possível para conpreendê-lo, mas me entenda também, não consigo olhar para ele sem lembrar dos hematomas pelo corpo da minha mãe.
O semblante de Emily então mudou e seus olhos encheram-se de ternura e compaixão - Me desculpe, não tenho direito de pedir que você aceite-o, seu coração precisa fazer isso sozinho.
Ele sorriu para ela fascinado - Você não existe, Emily Marshall!
Os dois terminavam o almoço quando uma voz grave fez-se ouvir.
- Como está, Em? - era Ian.
O sorriso distraído de Evan deu lugar a uma carranca e piorou ainda mais quando Emily levantou-se para cumprimentar o rapaz com um abraço - Estou ótima - disse ela voltando a sentar-se à mesa - E você também me parece bem!
- Estou indo - Ian ignorava totalmente a presença de Evan, o que o deixava extremamente irritado - Mas me diz, gostou do livro?
Emily, percebendo o incômodo que Ian causava a seu namorado, esticou o braço para pegar-lhe a mão.
- Não tive tempo de terminar ainda, as férias passaram rápido demais e com a volta de minhas aulas, não tenho tempo para nada.
Evan apenas observava o diálogo calado.
- Sobre seu problema emocional - Ian disparou um olhar fulminante em direção a Evan - Sabe que sinto muito! Pode sempre contar comigo.
- Ela tem namorado para isso - Evan não pode evitar o comentário - Pode deixar que cuido dela daqui pra frente.
Emily sorriu sem graça.
Ian deu de ombros - Espero mesmo que cuide, porque ela não merece mais mentiras.
Evan soltou a mão de Emily e cerrou os punhos. Sentiu vontade de partir pra cima do primo, mas quando olhou para a face da jovem, ali parada, parecendo lhe implorar para não fazê-lo, acalmou-se e apenas devolveu com palavras.
- Emily e eu nos amamos e sempre vou cuidar dela, quando você encontrar alguém que lhe cause esse mesmo sentimento, vai entender que erramos tentando acertar, primo.
Ela estava orgulhosa das palavras fortes e sinceras ditas por Evan.
Ian apenas ignorou, despedindo-se da menina e voltando para sua mesa.
- Vamos embora? - Evan pediu gentilmente, pegando o casaco da menina de sobre o encosto da cadeira e a puxando para que ela se levantasse.
- Claro! - ela concordou - Posso te pedir só mais uma coisinha?
Evan olhou-a curioso - Pode!
- Vamos tomar um sorvete enorme e cheio de calda quente? - ela lambeu os lábios.
O garoto riu de seu jeito moleca, o que mais lhe fascinava nela - Pode tomar quantos sorvetes quiser.
Já em casa, Evan se preparava para jantar e relaxar com algum filme, quando seu telefone tocou. Era seu pai. Pensou em não atender, mas havia prometido para Olivia e Emily que faria um esforço.
- Alô!
- Filho, sou eu... - Paul pigarreou, parecia um pouco sem jeito e temeroso com a ligação - Quero conversar com você, antes do jantar. Se você puder, claro!
Evan ficou em silêncio por um instante - Qual o assunto?
- Prefiro falar pessoalmente, mas se você não puder, eu vou entender, só queria que me desse a chance de...
- Tá, está bem - Evan o interrompeu. Queria encerrar aquela conversa o quanto antes - Pode ser. Quando?
Paul suspirou aliviado - Que tal amanhã, meio dia, no Grill que fomos logo quando nos mudamos pra cá?
- Fechado.
- Até amanhã então, filho! - Paul parecia animado com a aceitação de Evan.
- Ok! - limitou-se a dizer e desligou sem despedir-se.
Evan preferiu não contar a ninguém sobre o almoço e o assunto misterioso de Paul. Nem mesmo a Emily.
Se algo desse errado, se as coisas saíssem do eixo, seria melhor contornar a situação sem ninguém o olhando torto, julgando ser sua culpa.
Pela manhã, Evan pegou Emily e Olivia e as levou até a escola, no caminho passou pelo antigo trabalho.
Já haviam contratado outro para seu cargo, mas prometeram-lhe que assim que precisassem de novos funcionários ligariam.
Voltou para casa, trocou de roupa e foi ao encontro do pai.
Assim que chegou ao Grill, deparou-se com Paul, já sentado a mesa, ao lado de uma janela.
O dia estava chuvoso e Evan acabou molhando-se do estacionamento ao interior do local.
Foi até o banheiro afim de secar-se e mesmo que jamais admitisse, estava nervoso e apreensivo com o que seu pai queria lhe dizer.
Sentou-se a mesa, o pai parecia feliz e surpreso com a presença do filho, talvez achasse que o mesmo não apareceria.
- Paul! - Evan cumprimentou.
- Olá, meu filho!
Evan fitou o braço estendido do pai e depois de alguns instantes analisando a situação, estendeu o seu em um aperto de mão firme.
- Bem, o que quer comer? - Paul tentava se recompor, mas seus olhos cheios de lágrimas, eram difíceis de disfarçar - Pode pedir o que quiser, é por minha conta.
Evan esboçou um sorriso, mas em seguida fechou-se novamente - Na verdade, vou querer apenas um café, tenho que buscar Emily para almoçarmos juntos.
O pai não conseguia esconder o desapontamento - Poderia tê-la convidado, mas queria que nosso assunto fosse em particular.
- Eu sei, aqui estou - Evan abriu os braços mostrando-lhe o que afirmava - Pare de enrolação, diga logo o porque de todo esse teatro.
Paul apenas suspirou - Ok! - cruzou os braços, apoiando-se sobre a mesa - Estou aqui pra lhe oferecer um emprego.
Evan arregalou os olhos incrédulo - Como assim? Eu trabalhar pra você?
- Não necessariamente para mim - Paul explicou - A empresa está precisando de alguém para o departamento administrativo e como você sempre foi bom com números, pensei que poderia ser uma boa oportunidade.
Evan estava eufórico. Sempre quis trabalhar nessa área, embora achasse muito difícil ser admitido por qualquer empresa sem ter alguma formação.
- Acho que não sou apto para esse cargo, Paul - doeu-lhe dizer aquilo - Não quero conseguir nada as suas custas.
Paul sorriu orgulhoso - Nada disso! - ele ergueu uma sobrancelha - A empresa oferece ótimos cursos e tenho certeza que se sairá bem.
Evan analisou as palavras do pai, uma a uma em sua cabeça. Tinha seu orgulho, não queria mais nada vindo de Paul, mas lá no fundo sabia que tudo que tinha até então, havia conseguido assim e um emprego não é algo que se arranja da noite para o dia, muito menos nessa área.
- Vou pensar em sua proposta e te darei a resposta assim que possível.
- Tudo bem, filho!
Evan levantou-se - Se for só isso, preciso ir.
- Espere! - o homem fez sinal para que se sentasse novamente - Tem mais uma coisa que quero discutir com você.
- Fale! - retornou então a cadeira.
- É sobre sua irmã. Ela quer morar comigo, disse que sua mãe a está abandonando por causa do novo parceiro.
O rapaz franziu o cenho - E o que isso tem a ver comigo?
Paul pigarreou, uniu as mãos em forma de reza - Temo que comigo acontecerá o mesmo. Moro sozinho e trabalho dia e noite, ela vai ficar mais sozinha do que com sua mãe.
- Entendo, mas ainda continuo sem compreender onde eu me encaixo nisso.
- Pensei que se você mudasse para uma casa maior, ela poderia morar com você - Paul observava atento aos mínimos detalhes no rosto do filho.
Evan ficou em silêncio por um tempo.
Se Olivia fosse morar com ele, ficaria muito mais difícil se encontrar com Emily, mas no fundo ele tinha consciência pelo que a irmã estava passando.
Sua mãe a estava abandonando, ela já não tinha a companhia dele em casa e o pai, por conta da empresa, mal poderia dar-lhe atenção também.
- Preciso pensar, Paul! - assim ele ganharia um tempo - Depois do jantar, sentamos com Olivia e mamãe e decidimos o melhor a se fazer.
Paul sorriu para o filho - Claro, como você preferir.
- Agora preciso mesmo ir - olhava para o celular ansioso - Emily já me ligou três vezes.
- Então vá, filho - o pai fez sinal para que o garçom lhe trouxesse a conta - Não deixe sua princesa esperando.
Evan assentiu, puxando a carteira para pagar o que havia consumido, mas o pai fez questão de arcar com o café, então apenas apertou-lhe a mão, retirou-se apressadamente do local e saiu cantando pneus do estacionamento, indo ao encontro de Emily. Precisava saber o que ela pensaria a respeito da ideia do pai de trazer Olivia para morar com ele.
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