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26. Um adeus doloroso

Os dias se passavam e a saudade de Evan era cada vez mais forte e Emily já havia desistido de tentar esquecê-lo. Não tinha mais contato com Olivia, desde o fim das aulas. Com um esforço inimaginável ela conseguira passar em todas as disciplinas e aguardava os dias seguintes para que seus pais também saíssem de férias para então viajarem.

Não dava mais para discutir, teria as piores férias de sua vida e quando voltasse, talvez Evan estivesse com planos novos para sua vida e ela seria apenas mais uma.

A mala estava pronta, não precisaria de muita coisa, afinal ficaria dentro de seu quarto o verão todo e a única roupa que precisaria eram seus pijamas.

Estava sozinha em casa, então resolveu ir até a cozinha em busca de algo para comer. Não haviam muitas pessoas com quem falar pelo telefone, então acabou por esquece-lo no quarto. Assim que voltou, notou uma mensagem piscando na tela:

" Espero que não esteja pensando em viajar sem se despedir.
- Ian"

Depois daquela manhã em que a levara para a escola, Emily e Ian haviam tido uma longa conversa e decidiram não deixar que o que aconteceu atrapalhasse a amizade que existia entre eles, mas Emily ainda estava resistente quanto ao fato de ele ter se apaixonado e queria evitar magoa-lo ao falar de Evan.

Respondeu a mensagem pois Ian era o único amigo que lhe restava.

" Suco na Drive Center as três e meia?"

A resposta veio em segundos:

"Te encontro lá."

Assim que chegou a lanchonete, avistou Ian sentado à mesa, próximo a janela. Ele acenou para ela que seguiu em sua direção - Pensei que fosse me dar um bolo - ele zombou, fazendo referência ao atraso da garota - Pedi um suco de morango para você.

- Desculpe o atraso, fiquei de levar meus livros até a escola hoje - ela justificou-se - Morango está ótimo!

- Por falar em livros, tenho um presente para você - ele sorriu, pegando uma sacola sobre a mesa e alcançando para Emily - Espero que goste!

- Night Shift caramba! - segurava o livro entusiasmada - Já disse que você é a melhor pessoa que existe no mundo?

- Já, mas agradeço novamente, afinal reconhecimento é tudo na vida de um homem - brincou - Que bom que gostou, é para que não fique entediada nas férias.

- Tá brincando, eu adorei, a muito tempo quero ler esse livro - ela esticou-se sobre a mesa para abraça-lo - A Califórnia começa a ficar interessante.

- Espero que não seja tão interessante a ponto de você não querer mais voltar - ele piscou - Vou sentir sua falta.

- Também sentirei a sua - Emily estava quase por beija-lo, quando a garçonete apareceu com os pedidos. Os dois ficaram sem jeito e voltaram para seus lugares.

- Em, como você está? - Ian questionou, enquanto bebia seu suco.

- Bem - ela ergueu os ombros - Não da para notar?

- Você ri, brinca, faz piada, mas eu quero saber se está bem por dentro - Ian cruzou os braços sobre a mesa - Eu te conheço e sei quando está fingindo.

- Não estou fingin... - era impossível mentira para Ian, ele tinha algo no olhar que a desarmava totalmente - Ainda choro quando estou sozinha, a saudade que sinto dele é insuportável.

Ian olhava para ela como se quisesse arrancar a dor e pega-la para si - Evan também não fala comigo desde o dia que vocês tiveram aquela conversa e Olívia acha melhor que eu não o procure - o garoto parecia sofrer com aquilo também - Ele sempre foi como um irmão para mim.

- Sinto muito - Emily lamentou - Você contou a Olivia o porquê de toda essa confusão?

- Não, achei melhor ela ficar sabendo por um de vocês - Ian era cauteloso - Disse apenas que me apaixonei por você.

Emily mal podia respirar ao pensar em tudo que acontecera entre eles e que a causa de ela ter perdido Evan, era o garoto em sua frente - Acho melhor eu ir, já está ficando tarde.

- Tudo bem, eu levo você! - Ian se ofereceu, levantando-se - Deixe que eu pago!

- Ian, você já me deu até presente - Emily tentou pegar a comanda - Deixa eu pagar.

- Não! - Ele correu os dedos sobre os dela - Eu convidei.

Os dois se olharam e Emily rapidamente levantou-se e seguiu em direção a porta, para aguardar Ian.

Foram conversando por todo o trajeto, riam de tudo e por um breve instante Emily pensou que talvez com Ian pudesse esquecer de Evan. Mas era loucura, Evan é diferente em tudo, tudo com ele era mais colorido, mais apaixonante e não seria certo usar Ian para esquece-lo.

Chegou em casa por volta das oito da noite, ficou feliz em não receber nenhuma bronca dos pais. Eles pareciam nem ter notado que ela passara a tarde fora. Iriam sair pela manhã, então Emily achou melhor dormir, para acordar disposta no dia seguinte.

Aquele pesadelo que a assombrava voltara, e ela não conseguia entende-lo. Quem era o homem que a impedia de jogar-se no abismo dessa vez?

Assim que o dia amanheceu, resolveu ligar para Olivia para se despedir. Embora não estivessem se falando, isso era o que melhores amigas faziam.

O celular parecia estar desligado, então decidiu ligar para o residencial. Depois de dois toques alguém atendeu, mas não era Olivia.

- Residência dos Blake! - Evan mal pode acreditar quando do outro lado da linha, ouviu aquela respiração ofegante e a voz tímida e surpresa de quem ele tanto evitara ouvir - Oi, sou eu, Emil... - Evan não a deixou terminar - Emily! Eu sei, quer falar com Olivia? - tinha que ser assim.

- Sim, tentei o celular, mas parece estar desligado - ela explicou-se - Ela está aí?

- Está - evan respondeu de um modo seco, mas não conseguia disfarçar a emoção em sua voz, como se quisesse dizer algo a mais, mas a razão não o deixava falar - Vou passar para ela.

O telefone ficou em silêncio por um tempo, até que Olivia atendeu - Nossa! Quem é vivo sempre aparece - a menina brincou - Como anda, dona Emily?

Evan apenas observava.

- Por telefone? - Olivia parecia contrariada - Vem até aqui agora, se despedir pessoalmente, se não nem quero papo com você - a irmã disparou.

Evan a fuzilou com os olhos.
A voz de Emily, mesmo que ao telefone, fazia Evan estremecer, vê-la seria demais para ele.

- Assim que se fala - foram as últimas palavras de Olivia.

No instante em que a irmã desligou o telefone, Evan pois-se a falar irritado - Lutei com todas as minhas forças para não falar nenhuma palavra além do necessário com Emily pelo telefone e você a chama pra vir aqui? - ele gesticulava feito um árbitro de futebol e Olivia se pôs a rir - Não tenho nada a ver com as brigas de vocês.

- Ela precisava achar que não a quero mais, que essa história com Ian foi a gota d'água - Evan deixou escapar o que a muito mantinha apenas para si.

Quando Emily contara sobre Ian e ela, a raiva foi grande e Evan acabou agindo por impulso e falando coisas sem fundamento algum, mas assim que a menina deixara seu apartamento, arrependeu-se de a tê-la tratado daquele modo e decidiu pedir-lhe desculpas, mas antes que pudesse proceder como desejado, ficara sabendo do insistente com os pais dá menina e também sobre a viagem, não teve dúvidas de que aquela era a deixa para que ele se afastasse, muito embora, o amor dele por ela fosse impossível de ser esquecido, precisava ser assim, era melhor para Emily.

Após as férias, ele iria embora de Miami, se mudaria para Washington e não mais atrapalharia a vida dela, mesmo que isso custa-se sua própria felicidade.

Ela iria se acostumar, talvez até descobrisse em Ian, seu verdadeiro amor.

O garoto deixou a sala de estar assim que Olivia atendeu a campainha. Foi até a cozinha em busca de algo apetitoso para saciar sua fome.

Não encontrou, então deu a volta no corredor e foi até seu antigo quarto, afim de nem ao menos ouvir a voz de Emily, mas não foi bem sucedido, pois antes de bater a porta de seu quarto pode ouvi-la dizer - Vou sentir muita saudade sua!

Evan deitou-se em sua cama, o cheiro era de lavanda, parecia que sua mãe mantinha o quarto a sua espera. O copo e a garrafa de whisky no mesmo lugar de sempre. Levantou-se, pôs uma música em seu aparelho de som, serviu-se da bebida e deitou novamente, com os olhos fechados, tentando relaxar.

Ficou assim por algum tempo, quando estava prestes a pegar no sono, ouviu passos do lado de fora e em seguida batidas em sua porta.

- Entre! - ele gritou, abrindo os olhos e erguendo-se na cama, apoiado nos cotovelos.

A porta não se abriu, então ele suspirou irritado, levantou-se, deixou o copo que ainda segurava sobre o móvel ao lado e segurou a maçaneta para abrir em um solavanco esbravejando - Droga Olivia...

Evan não pode prosseguir, quando viu a figura que lhe aguardava do lado de fora do quarto. Era Emily.

Ele arregalou os olhos incrédulo. O que ela fazia alí? Porque teimava em seguir com aquela tortura? Vê-la pela rua já não era uma missão fácil, ela precisava tornar tudo ainda mais difícil?

Não pode deixar de notar o quanto ela estava bela. Usava um vestido rosado marcando sua cintura, sapatilhas quase no mesmo tom de sua pele e os cabelos sedosos dançavam em seus ombros, mas os olhos, esses eram de puro cansaço, parecia não dormir a dias.

Eles se olharam por alguns minutos, sem nada dizerem, até que Emily simplesmente invadiu o quarto, deixando Evan sem reação.

- Preciso que diga - ela ainda caminhava dentro do quarto, como uma borboleta procurando um local onde pudesse pousar - Olhe nos meus olhos e diga que acabou mesmo. Para sempre.

Evan olhou para a garota parada ao lado de sua cama, fechou a porta atrás de si e finalmente soltou a massaneta que esquentara com o calor de sua mão.

Caminhou até ela, relutante - Emily, nós não temos mais nada a dizer. Você nem deveria estar aqui!

Evan deu de ombros, pegando o copo de sobre a mesinha de cabeceira.

Emily o puxou pelo ombro de maneira brusca, fazendo-o derrubar a bebida.

-Olhe para mim - ela afastou-se um pouco, sem nem olhar o estrago que havia feito - Evan, eu vou embora e você nunca mais vai me ver, se é isso que quer, mas se ainda existe uma ponta sequer de amor por mim em seu coração, por favor me diz.

Ele largou o copo novamente sobre a mesa, agora quase vazio, virou-se para ela, segurando seus punhos que antes tentavam move-lo para si, seus olhos queimavam e a garganta estava seca.

As palavras de Emily eram desconcertantes​, desmontaram toda sua defesa, voltara a ser um menino assustado, com medo de perder a única coisa que o fazia ser feliz por completo.

Tentou afastasse da garota, mas era inútil, não tinha mais forças para lutar, puxou-a para si, envolvendo-a em um abraço forte, quase sufocante.

Quando seus lábios tocaram os dela, seu coração parou por um segundo, voltando a bater ainda mais forte, como se fosse controlado por ela.

O beijo durou menos do que Evan gostaria, queria se perder naqueles lindos e doces lábios, naquele sorriso que irradiava assim que abria os olhos e olhava para ele.

- Eu sabia que não era a única a sentir.

Evan afastou-se da menina, percebendo o que havia feito. Não podia, era o futuro de Emily que dependia de sua renúncia, não iria atrapalhar a vida dela daquela maneira.

Havia decidido isso naquela noite com a família dela, seus pais nunca aprovariam, estava claro, as coisas ficariam cada vez piores e mesmo que fosse difícil, precisava deixa-la partir.

- Emily, isso foi um erro. Me desculpe!

- Evan, eu senti - ela apertava seus braços em torno dele, como se pudesse prende-lo - Esse beijo não foi de alguém que não se importa.

Evan sabia que só havia uma forma de fazer com que ela desistisse e precisava ser convincente. Precisava que ela se magoasse com ele - Sua pirralha idiota - as palavras doíam nele - O que você entende de homens?

Emily enrugou as sobrancelhas em dúvida - Evan, do que está falando?

- Todos usam você e você nem ao menos percebe - ele continuou seu teatro - Primeiro Andrew, depois Ryan e por fim, Ian, você tem muito que aprender Emily.

O semblante incrédulo da garota e as lágrimas que o acompanhavam, quase fizeram Evan por um fim aquilo e abraça-la, fugir com ela para longe de todos que pudessem machuca-la, mas a melhor maneira de proteje-la, era ficando o mais longe possível.

Quando Emily voltasse da Califórnia, ele já teria partido e ela poderia viver como uma garota normal.

- Você entendeu? Eu apenas a beijei e você se derreteu por inteiro, deixe de ser tão sonhadora, a vida não é um conto de fadas, criança.

Emily não conseguiu pronunciar nem ao menos uma palavra, desabou em um choro copioso.

Virou-se e num impulso ergueu a mão e desferiu um tapa no rosto de Evan que apenas riu sem humor .

- Já deu seu show? - ele ironizou - Agora saia!

Ela deu de ombros, ainda em prantos e correu. A medida em que ela ia desaparecendo no corredor da antiga casa de Evan, ele sentiu como se um pedaço dele fosse levado com ela.

Queria correr atrás dela, a abraçar e cuidar para que nunca mais caísse de seus olhos uma só lágrima de tristeza.

Tombou para trás, deitado sobre a cama, as mãos sobre a cabeça repetindo para si mesmo "O que você fez? O que você fez?..."

Estava exausto de tanto sufocar seus sentimentos, apenas fechou os olhos e desistiu de lutar, desabou em lágrimas, enquanto a música no rádio dizia:

"Devo ficar ou devo ir agora?
Se eu for haverá problemas
e se eu ficar haverá o dobro...".

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