22. Conhecendo um amigo
Dias se passaram desde que Emily e Ryan decidiram deixar as coisas acontecerem. Ele era um cara legal, a fazia rir e estar com ele era sempre um momento de pura descontração.
As coisas em casa também estavam mais calmas, Emily voltou a falar com os pais, mesmo que poucas palavras.
Não pensava em contar sobre Ryan, pois não queria que tudo acontecesse novamente, afinal ele tinha a mesma idade de Evan, além de morar em um apartamento bancado pelos pais e não ter emprego. Era estudante ao que ela sabia, mas nunca o vira com um livro sequer nas mãos. Isso com certeza causaria um enorme problema e já que o garoto não fazia questão alguma de entrar para a família, ela achou por bem, continuar em segredo.
A única coisa que ainda a perturbava era Olivia. A menina se afastara um pouco de Emily desde quando soubera de suas saídas com Ryan e embora não admitisse, havia sim, ficado chateada com a situação.
Emily tentou por vezes explicar que as coisas aconteceram sem que ela pudesse evitar, mas Olivia apenas mudava de assunto sem falar de seus sentimentos.
Precisava fazer algo para que a menina se abrisse com ela, então resolveu ser franca e conversar abertamente sobre o assunto com a amiga. Foi então fazer-lhe uma visita.
Assim que se dirigiu até a casa de Olivia, Emily avistou um carro estacionado em frente à residência. Olivia não havia comentado nada sobre receber visitas, mas mesmo assim decidiu tocar a campainha.
— Olá, dona Anna — cumprimentou ela assim que a porta abriu-se e a bela mulher surgiu em sua frente — Olivia está?
— Que bom te ver, Emily — Annabel deu-lhe um abraço caloroso — Olivia está lá na cozinha. Vá até lá!
Assim que adentrou o cômodo, pode ver Olivia sentada sobre um banco alto na bancada, como costumava fazer enquanto Evan cozinhava, mas dessa vez quem cuidava das panelas era outro.
— Oi, Liv — sorriu constrangida — Não sabia que tinha visita. Posso voltar outra hora.
— Que isso, fique! — Olivia sorriu, a procura de algo na gaveta dos talheres — Emily, esse é meu primo, Ian. Ian, essa é minha melhor amiga, Emily.
Enquanto Olivia fazia as honras, Emily sentia-se feliz por ainda possuir o título de melhor amiga
— Ian vai morar aqui por um tempo — completou a loira, mergulhando uma colher em algo dentro da penela.
— Então você é a famosa Emily? — o rapaz sorria, pegando um colher para mexer o interior da outra panela, a que a prima ainda não atacara —Olívia fala muito de você.
— Sou Emily, mas famosa fica por sua conta — ela aproximou-se do fogão — O que vocês estão cozinhando? O cheiro está delicioso.
— Vocês uma vírgula, eu estou cozinhando, essa garotinha aí está apenas atacando minhas panelas como uma mendiga no lixo — zombou o garoto — É só macarrão ao molho pesto.
— Não precisava dar tantas explicações, não é McGuire? — Olivia fingiu estar chateada.
Ian abriu os lábios e desculpou-se com a prima, mas sem emitir nenhum som, depois voltou sua atenção para a outra menina — Junte-se a nós, Em? — convidou, usando o fatídico apelido que a amiga lhe dera — Posso te chamar de Em?
— Sim para as duas perguntas — ela riu — Só preciso avisar meu... Ahm, eu tinha um compromisso, mas posso desmarcar.
— Seu namorado não vai morrer por ficar um dia sem te ver — Olivia nem percebera o tom de voz enfático que usara para se referir a Ryan.
Emily sorriu forçadamente — Preciso avisar minha mãe também. Íamos almoçar juntas hoje.
Andou até o corredor e enviou uma mensagem a Ryan cancelando o passeio e outra para a mãe, dizendo que ficaria para almoçar na casa de Olivia.
Depois disso, as meninas puseram a mesa, enquanto Ian fazia os preparativos finais de sua refeição. Por fim, uniram-se para apreciar o macarrão.
— Sua comida é divina, sobrinho — Annabel elogiou, servindo-se pela segunda vez — Quase tão boa como a da sua mãe.
— Ninguém pode superar a comida dela, tia — o garoto fechou os olhos, imaginando o gosto do que lhe era tão distante no momento — Mas Em, Olivia me disse que você gosta muito de ler. É verdade?
Emily engoliu a última garfada de seu prato, pega de surpresa com a pergunta do rapaz — Bem, eu... Sim. Gosto muito sim!
— O que você costuma ler? — ele questionou novamente.
— Gosto muito de suspenses, alguns romances — ela levou o copo de suco de laranja a boca, bebericando lentamente o líquido gelado — Mas claro que os clássicos do terror também tem seu lugar.
— Deixa eu adivinhar — ele soltou os talheres e apoiou os cotovelos sobre a mesa — Aposto que gosta de Agatha Christie, Stephen King, Margaret Mitchell e Emily Brönte.
— Está de brincadeira! — Emily olhou diretamente para Olivia, concluindo que aqueles acertos só poderiam estar relacionados a sua amiga de boca grande — Você deu a ele um dossiê sobre mim?
— Não tenho nada haver com isso — Olivia balançou a cabeça, com a boca inteira lambuzada de molho — Vocês nerds que se entendam.
— Ela não me disse nada — ele bebeu o suco — Eu deduzi quando disse que gostava de clássicos e claro que a sua bolsa aberta, com o Morro dos Ventos Uivantes e A casa torta foram uma boa dica.
Emily parecia encantada. O sorriso de Ian lembrava, e muito, o de Evan e a forma como ele falava também. Era observador, sarcástico e charmoso. Tinha a sensação de que poderia passar horas e horas conversando com ele e ainda assim teriam assunto.
Quando olhou em seu relógio de pulso, viu que já estava atrasada. Havia prometido a mãe que ajudaria com a limpeza do sótão e não poderia desmarcar mais nada com ela.
— Gente, estava tudo ótimo, mas agora eu tenho que ir — disse, recolhendo os pratos e levando-os até a pia — Obrigada pelo almoço e desculpe por não ajudar com a louça. Compenso na próxima vez, eu juro!
— Venha sempre que quiser, querida! — Annabel convidou — E não se preocupe, eu e Olivia damos conta de limpar tudo.
— Sabe que "mi casa su casa", né amiga? Mas na próxima não vai sair dessa casa sem enxugar prato por preto, talher por talher — Olivia zombou.
— Olivia! — Annabel a repreendeu.
Emily mostrou a língua para a loira e as duas riram, como se só elas entendessem a piada.
— Ah, foi um prazer conhecer você, Ian — disse ela, dando as costas em direção a porta.
— o prazer foi meu, Emily! — o rapaz retribuiu, sorrindo encantadoramente.
No caminho de volta para casa, a menina sentiu que alguém a espreitara e ao chegar na varanda, avistou Ryan, parado em frente à porta.
— O quê está fazendo aqui. Ficou maluco? — Emily sussurrou, o puxando para trás de um arbusto — A gente combinou que ia manter isso em segredo, você não pode aparecer aqui assim, minha mãe deve estar em casa, Ryan — ela olhava alternadamente para a boca inchada e os olhos arroxeados dele — O que foi que houve com seu rosto?
— Calma, gata! Isso foi só um pequeno acidente de percurso, nada com o que se preocupar — ele sorriu debochadamente — Só queria te dar um beijo e saber como está Olivia depois da conversa de vocês. Além disso, fazem uns dez minutos que sua mãe saiu.
— Não pude falar com ela — Emily deu-lhe um beijo rápido nos lábios machucados, ainda bastante desconfiada — Olivia está com visita.
— Quem? — Ryan ergueu uma sobrancelha em curiosidade.
— O primo dela de Washington, Ian McGuire — respondeu a menina, sorrindo involuntariamente ao lembrar-se do rapaz tão simpático e educado.
— O quê? Aquele Zé Mané do McGuire está aqui? — Ryan soltou uma gargalhada encenada — Esse cara é um otário, sempre querendo bancar o superior.
— Eu não achei! — o sangue subiu ao rosto de Emily e sem notar, sua voz assumiu um tom severo e de indignação — Ele parece ser um cara muito legal.
— Você só pode estar ficado maluca — Ryan fechou a cara, se endireitando e cruzando os braços à frente do corpo — O cara é totalmente arrogante, quer bancar de intelectual, mas não passa de um nerd otário.
— Não vou discutir com você — ela ignorou a fala difamatória que Ryan realizava contra Ian e deu de ombros — Eu preciso entrar agora e você nem deveria estar aqui, se minha mãe saiu, isso significa que logo estará de volta e se nos pegar aqui, estaremos com problemas.
— Tudo bem — ele a beijou no rosto — Nos falamos mais tarde?
— Pode ser! — ainda zangada, caminhou até varanda e entrou, sem olhá-lo novamente.
Bem como Ryan dissera, sua mãe não se encontrava em casa naquele momento. Havia saído em busca de produtos para a faxina. Assim que a mesma retornou, Emily e ela resolveram o problema da limpeza no sótão e depois ambas subiu para descansar. Emily escolheu um filme para se distrair e esquecer do que realmente não sai de sua cabeça. Evan.
Por mais que as coisas com Ryan estivessem calmas e tranquilas, ela gostasse dele e da forma que eles eram juntos, não conseguia esquecer Evan por completo.
Decidiu ligar para Olivia, talvez conversar com uma amiga a ajudasse. Eram quatro e vinte da tarde, ela deveria estar em casa, a convidaria para uma sessão de cinema em seu quarto, regada a guloseimas e assim poderiam por o papo em dia e claro, ela se desculparia novamente por ter se envolvido com Ryan.
O telefone chamou muitas vezes e quando Emily pensou em desistir, uma voz masculina a atendeu
— Celular da Olívia! — falou.
— Oi, Ahm... Ian? — ela fez uma pausa, mastigando uma cutícula — A Olivia está ocupada? É a Emily.
— Ah... Oi, Em! — do outro lado da linha, Emily teve a impressão de que iam parecia feliz em conversar com ela — Na verdade ela saiu com uma amiga. Saiu tão depressa que esqueceu o celular. Quer que eu dê algum recado?
— Não, tudo bem! — inspecionou as unhas — Só queria conversar, não era nada importante.
— Quem sabe possa conversar comigo.
O convite foi inesperado e meio constrangedor para ambos, mas o que Ian não sabia, é que Emily precisava mesmo desabafar, não importava com quem.
— Prepare pipoca, eu estou indo!
Ian soltou o ar preso, como se relaxasse a tensão inicial do convite — Okay!
Emily retirou a roupa velha que usara para a faxina, vestiu sua camiseta favorita, calça jeans e tênis, seguindo rapidamente até a casa de Olivia, antes que se arrependesse e desistisse da visita. Tocou a campainha e quase que imediatamente, Ian a atendeu.
— Essa foi rápida! — o rapaz coçou a nuca, abrindo espaço para que ela adentrasse a casa que nem sequer era dele— Entre, Em! Tia Anna deve voltar logo, mas acredito que não vá se importar de você estar aqui.
— Não sabia que estava sozinho — disse, encabulada, entrando lentamente na sala — Se preferir vou embora.
— Está incomodada de ficar a sós comigo?
Ela negou veementemente, mas no fundo aquela situação a deixava um pouco desconfortável.
— Então não há porque ir embora. Hm?
Novamente ela assentiu.
— Espero que tenha acertado — Emily desviou o olhar para a mesinha de centro da sala de estar, para onde Ian apontava e pode ver um balde imenso de pipoca e dois copos com uma bebida de cor alaranjada — Pipoca salgada e suco de laranja!
— Elementar, meu caro Watson! — ela sorriu, referindo-se a emblemática frase do personagem criado por Arthur Conan Doyle.
— Para uma amante da literatura, me admira você usar essa frase — Ian sentou-se, batendo no estofado ao lado, indicando que Emily o acompanhasse.
— Deixa eu adivinhar, te incomoda Sherlock nunca ter dito isso nos livros? — ela se acomodou no sofá, apoiando o cotovelo no encosto do mesmo — Você é muito previsível, Ian McGuire.
Sorrindo de canto, o garoto rendeu-se. Ela era mesmo tudo que seu primo dissera, tão encantadora e sagaz que não lhe admiraria nenhum pouco que o mesmo estivesse perdidamente apaixonado por ela.
Sentados lado a lado no sofá, escolheram um filme para assistir, mas iniciaram um assunto e esqueceram-se completamente da televisão. Os motivos que a deixavam triste e angustiada, pouco a pouco iam se dizimando e sua mente ficando mais leve a cada palavra acalentadora de Ian.
— Olha! — ela exclamou, olhando desapontada para os créditos subindo na tela do televisor — Acabou o filme.
Ian não pode evitar rir da expressão no rosto da menina — Podemos colocar de novo!
— Não. Estava apenas brincando — ela devolveu o sorriso — Já vi esse filme milhares de vezes e conversar com você me fez muito bem.
— Pode ter certeza de que é recíproco — Ian a olhava nos olhos, da mesma forma que Evan fazia. Devia ser uma particularidade de família — Aliás, gostei da camiseta, os Strokes são incríveis .
Ela baixou a cabeça — Foi um presente. Confesso que não conheço tudo sobre eles pra usar uma camiseta, mas gosto do som — ela precisava ser honesta com alguém como ele.
— Foi Evan quem te deu? — ele questionou, mas a pergunta tinha um tom afirmativo.
Ela limitou-se a calar.
— Desculpe, não quis ser incoveniente.
— Não, tudo bem — Emily balançou a cabeça para que ele não se preocupasse, lançando mão de seu copo, virando o restante do líquido através da garganta — Foi presente dele sim e pra falar a verdade, esse foi o motivo de eu querer falar com Olivia mais cedo. Precisava desabafar. Fiquei aqui falando sobre o Ryan, mas na verdade é o Evan que não sai da minha cabeça.
— Em, se me permite perguntar, por que vocês não tentam conversar? — ele descansou sua mão sobre a da menina, no sofá — Sei que ele ainda é apaixonado por você.
Ela respirou profundamente — Nossa história é confusa — disse, olhando rapidamente para uma parede fazia, voltando a olhá-lo em seguida — Evan e eu... É melhor desse jeito.
— Bem, você é quem sabe dos seus sentimentos.
Ian sorriu, afagando o queixo de Emily com carinho, mas quando seus olhares se cruzarem, ela desviou, erguendo-se e afastando-se do sofá, inibida pelo toque.
— Preciso ir!
— Claro! — ele levantou-se, se sentindo culpado por tê-la intimidado, mesmo que sem querer — Espero que possamos nos ver de novo.
Emily passou os braços em volta de si, esfregando os braços, sentindo um frio percorrer-lhe o estômago — Eu também espero!
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