20. Uma péssima ideia
- Emily, onde você estava? - Elizabeth abordou a filha assim que adentrou a porta da frente de sua casa.
- Estava com a Olivia - tentou subir as escadas o mais depressa que conseguisse, mas foi pega na mentira antes mesmo de subir o primeiro degrau.
- Não, não estava - Emily congelou, sem olhar para a mãe, já sabia o que a esperava - Eu estava na varanda ontem a noite e vi quando Olivia chegou acompanhada de um rapaz, você não estava com ela. Onde estava, Emily?
- Mãe, eu posso explicar... - não conseguiu terminar a frase - Não diga nada, sei que você estava com Evan, dormiu com ele, mesmo depois que eu proibi esses encontros. Você não mede as consequências?
- Se você o conhecesse veria o quanto ele é uma boa pessoa - virou-se para a mãe com um olhar desafiador.
- Nesse instante o telefone de Emily tocou. Uma mensagem de Olivia a convidando para tomar um suco - deu de ombros e caminhou de volta para a porta - Quer saber? Não vou ficar aqui ouvindo suas besteiras.
- Não me dê as costas. Onde você pensa que vai? - a mãe tentou segurá-la sem sucesso.
- Vou sair com Olivia! - respondeu, abrindo a porta - Nem adianta tentar me impedir, chega de me tratar feito criança!
- Então pare de agir como uma! - a mãe rebateu - Volte aqui, Emily!
- Não! - saiu rapidamente, desrespeitando a mãe e seguindo até a casa da amiga. Elizabeth achou melhor deixá-la se acalmar, antes de bater de frente novamente.
- Olá dona Anna, Olivia está?
A mulher de olhos vidrados convidou-a para entrar. Tinha um olhar um tanto quanto preocupado - Emily, será que podemos conversar um pouco, até Olivia terminar de se arrumar?
- Claro! - Emily sorriu em afirmação - Sobre o quê?
- Você e meu filho - a mulher foi direta e a garota estremeceu - Sei que vocês se gostam e quero que saiba que tem minha aprovação. Mas não brigue com seus pais por conta disso.
- Obrigada! - Emily sentia-se aliviada e feliz por saber que tinha a aprovação de Annabel. Não aguentaria ter mais alguém contra a relação deles - Meus pais não o conhecem e nem fazem questão disso. Não posso aceitar isso numa boa.
- Evan tem o temperamento forte, mas sempre foi um bom garoto - ela falava com um orgulho imenso do filho - Seus pais vão acabar percebendo isso também. Mas você precisa ter calma e entender o lado deles. Você é muito jovem, não pode fazer tudo que sente vontade sem escutar o que eles dizem.
- Obrigada pelo conselho, dona Anna - sentia-se bem em saber que a tinha do seu lado - Vou pensar em tudo que me disse.
- Fico feliz em ajudar - ela abraçou Emily calorosamente, como abraçaria uma filha. Era reconfortante ter alguém como ela para conversar. Olivia tinha sorte em tê-la como mãe.
- Ei, vamos? - Olivia surgiu à sala.
- Vamos! - Emily levantou-se do sofá e seguiu em direção a porta, esperando a amiga despedir-se da mãe.
- Divirtam-se, garotas! - Annabel abraçou a filha e elas saíram em seu caminho até a sorveteria.
- Acho que vocês deveriam sentar, os quatro, conversar e tentar expor suas idéias - Olivia tentava aconselhar a amiga, enquanto aguardavam os pedidos ficarem prontos - Se os seus pais o conhecerem, vão ver o quanto ele é legal e talvez deixem vocês viverem em paz.
- Não acho que isso seria assim tão fácil, Liv - erra evidente o seu pessimismo - Tenho medo que eles o tratem mal, que o humilhem de alguma forma.
- Meu irmão não liga para essas coisas, acho que se você pedir, ele irá com você - insistiu.
- Prometo que vou pensar - Emily sabia que essa era a única forma de fazer com que Olivia desistisse de impor sua forma de pensar - Sua mãe disse que aprova. Pra mim é muito importante.
- Minha mãe te adora, Em - Olivia cruzou as pernas em baixo da mesa e bebeu um gole d'água - E eu também.
Emily soprou um beijo para amiga e as duas caíram na gargalhada, quando de repente uma voz masculina surpreendeu-as - Olá, meninas - era o amigo de Evan, Ryan - Aproveitando o calor?
Olivia ficou vermelha - Olá! Estamos. Quer sentar com a gente?
- Posso? - ele olhou diretamente para Emily
- Claro! - ela sorriu - Se é amigo do Evan, é meu também.
Ele sentou-se, chamando a garçonete que aproximou-se com o cardápio em mãos - Pois não, senhor?
- Por favor, traga-me um Sunday de chocolate - disse ele, educadamente - e uma água com gás. A garota loira sorriu, parecia encantada com o garoto, talvez porque não houvessem muitas pessoas educadas no mundo, principalmente em locais assim - Trago em minutos, senhor!
- Obrigado! - ele agradeceu e ela deu as costas saltitante.
- Parece que você tem uma nova fã! - Olivia tentava esconder o ciúme evidente - A garçonete gostou de você.
Ryan abriu um sorriso encantador para ela e Emily só acompanhava o diálogo pensando em como havia sido insensível em não perguntar nada sobre Ryan para Olivia.
Conversaram por algum tempo e Emily estava feliz pela amiga. Quando Ryan anunciou que precisava ir, Emily teve a impressão de que Olivia estava pronta para levantar e dar-lhe um beijo em meio a sorveteria, mas ao invés disso, ela apenas sorriu e agradeceu à companhia do garoto.
- Liv, o que acabou de acontecer aqui? - Emily a olhava impaciente, assim que o garoto deixara o local.
- Nada. Nem aqui, nem na festa - ela tinha um ar de decepção no olhar - Não entendo, ele parece gostar de mim, mas não passamos dos olhares e sorrisinhos. As vezes me parece estar apenas me usando.
- Talvez ele seja tímido - Emily constatou - Usando de que maneira?
- Sei lá, Evan falava muito dele na época da escola e ele sempre ficou com as garotas mais bonitas. Será que não faço o tipo dele? - a decepção virou insegurança.
- Não. Você é linda, faz o tipo de qualquer garoto - emily tentava animá-la - Vai ver ele se sentiu intimidado por você ser irmã do melhor amigo dele.
- Acho que ele se interessou mais pela namorada do amigo, ao invés da irmã - Olivia falou o que a muito estava engasgado.
- Do que você está falando? - Emily não entendia o comentário feito pela amiga.
- Ele fez muitas perguntas sobre você e se o namoro com Evan era mesmo sério - Olivia estava nitidamente incomodada com a situação e Emily não compreendia o que ela queria com aquilo tudo.
- Vai ver ele estava querendo saber mais sobre Evan, eles não se vêem a um bom tempo e você mesma disse que ele parece gostar de você - ela tentava achar justificativas plausíveis para o interesse de Ryan nela - Ou ele estava apenas tentando puxar assunto com você e usou seu irmão para isso.
- Estou te dizendo, ele não parava de te olhar na festa e aqui também. Acho que me trata bem para poder ficar próximo de você - estava certa do que dizia - Não estou chateada, só não deixe meu irmão saber disso, ele iria querer tirar satisfações com Ryan e já viu o problema que isso causaria. Eles já se estranharam por outros motivos pelo que sei.
Emily ficou curiosa - E quais seriam esses tais motivos?
- Evan me disse que Ryan apareceu por aqui a alguns meses e eles tiveram um desentendimento, não sei o motivo específico - Olivia serrou os dentes.
- Enfim, ainda acho que isso é coisa da sua cabeça, mas tudo bem, não direi nada a Evan.
- Você precisa me ensinar a atrair todos os caras assim - Olivia sorriu.
- Até parece - ela estava sem jeito com aquela conversa - Eu amo o seu irmão e não tenho interesse nenhum em Ryan.
- Eu sei, também não tenho mais. Afinal de contas, ele nem faz meu tipo - ela falava com convicção - Ele deve ser um grande nerd, que gosta de ler e essas coisas que você e Evan gostam também.
- Está dizendo que somos nerds? - Emily fez cara de ofendida - Vou contar isso pro seu irmão.
Olivia riu, juntando as duas mão, gesticulando para que Emily não o fizesse e debochando com o apelido da amiga - Por favor, não diga nada, pequena Em!
Alguns dias se passaram e a situação ficava cada vez mais insustentável.
Emily estava decidida a não mais se esconder. Sua mãe e seu pai estavam se reconciliando e usando ela para isso. Eles passavam horas discutindo e tentando convencê-la de que não era certo ela namorar um garoto tão mais velho, que precisava estudar, ter uma vida plena, longe de pessoas que eles julgavam ter um " comportamento instável". Achavam que Evan estava apenas usando-a e que por ela ser apenas uma menina, não conseguia ver maldade no coração de ninguém.
Ela tentara por vezes convencê-los de que Evan era muito especial, diferente dos outros caras e que jamais lhe causaria algum mal. Mas os pais só lembravam da briga que envolvia o pai do rapaz e o culpavam pela perca de, usando a palavra que lhes cabia, "pureza" da filha.
Emily não aguentava mais tantas brigas, teria de achar uma forma de livrar-se daquela marcação cerrada dos pais e ficar com Evan sem medo algum.
Pensou muito em tudo e decidiu que daria uma última chance aos pais, caso eles continuasse irredutíveis, ela tomaria medidas drásticas. Fugiria com Evan, iria para Nova York quem sabe, qualquer lugar longe de quem queria separá-los.
- Você não está raciocinando direito, Em! - Evan tentava mudar a forma de pensar da amada - Não podemos fugir do mundo. Você precisa estudar, não pode simplesmente jogar tudo pro alto para ficar comigo.
- Então você não vai até minha casa, falar com eles. É isso? - a angustia lhe tomava - Eu preciso de você!
- Claro que eu vou, mas você precisa estar preparada - ele segurava firmemente as mãos da menina - Eles podem nem ao menos me escutar.
Ela o abraçou de forma carinhosa - Não vou deixá-los te tratarem mal.
- Não estou preocupado comigo, eu me viro, só quero que você tire essa idéia de fuga da cabeça.
Evan sabia que não poderia estragar a vida de Emily daquela forma.
Já sentia-se culpado por ela estar em pé de guerra com os pais, imagina se ela decidisse fugir, largar a família por ele. Ela tinha apenas quinze anos, não era justo que ele a priva-se de uma vida normal ao lado dos pais, amigos e essas coisas que toda a menina precisa viver.
- Eu já decidi! - falou a menina, cruzando os braços e batendo o pé - Se não me deixarem em paz, não quero mais morar naquela casa.
Evan baixou a cabeça sobre as mãos e silenciosamente pediu aos céus que aquilo não precisasse chegar ao extremo de Emily.
Chegaram à casa da menina por volta das 6h da tarde e Evan estava uma pilha de nervos. Os pais de Emily não foram até a sala recebê-lo e aquilo não lhe parecia um bom sinal. Sentou-se no sofá de mãos dadas com ela, aguardando o aparecimento dos donos da residência.
Assim que os pais dá garota apareceram à sala, Emily apertou-lhe a mão com ainda mais força, como se quisesse impedir que ele se fosse.
- Como vão, senhor e senhora Marshall? - ergueu-se, ainda com os dedos entrelaçados nos dá namorada.
- Tire suas mãos da minha filha - foram as primeiras palavras de Bruce - Você não é um convidado nessa casa, só está aqui porque queremos que se afaste de nossa filha por bem. Emily é uma criança e você se aproveitou da fragilidade dela, seu, seu...
- Desculpe, Senhor Marshall - Evan pigarreou, tentando manter a serenidade na voz - Eu apenas quero que saibam que nunca faria nada que machucasse sua filha, eu a amo.
- Ama coisa nenhuma - Elizabeth falou severamente - Você é um vagabundo que vive em um apartamento bancado pelo pai e ainda acha-se no direito de bater em alguém violenta e covardemente.
A essa altura, Emily chorava, mas não por medo ou algo do tipo, a raiva a dominava. Não podia mais ouví-los insultar alguém que, por educação, nem ao menos tentava se defender.
- Chega! Não aguento mais vocês falando tudo que acham que sabem, mas me permitam dizer, vocês não sabem droga alguma sobre ele.
- Em, não faça isso - Evan sussurrou, tentando impedí-la de discutir com os pais, mas ela não conseguia se controlar. Seus olhos ardiam e a garganta ardia.
- Não Evan, não vou deixar que te tratem assim - Emily cerrou os punhos e seu semblante tomou uma coloração avermelhada, por conta da raiva.
- Ninguém tem direito de julgar alguém que nem ao menos conhece de verdade.
Bruce riu sem humor - Então nos conte quem é esse rapaz de tantas virtudes - ironizou.
Emily olhou no fundo dos olhos do pai e cuspiu as palavras sem pensar - O cara que me tirou de uma festa regada a álcool e drogas, no meio da noite e cuidou para que eu não fosse agarrada a força.
- Do que você está falando, Emily? - Elizabeth estava atônita com a revelação da filha - A que festa você está se referindo?
O homem com olhar penetrante aplaudiu sarcástico - Você anda cuidando muito bem dessa garota pelo que estou vendo. Andando com drogados e aliciadores.
- Eu vou embora, Em - Evan levantou-se do sofá, indo em direção a porta. Não podia mais ficar naquele ambiente, sendo agredido gratuitamente.
- Espere! - ela pediu-lhe - Vou pegar um casaco e vou com você.
- Você não vai a lugar algum - a mãe a impediu de subir as escadas até seu quarto.
- Você não tem idade para fazer o que bem entende, mocinha - completou o pai.
- Eles tem razão, Emily - Evan baixou a cabeça e parecia lutar com as palavras - Eu sabia que isso nunca daria certo!
- Evan, espera... - ela segurava o choro - Por favor!
- Você vai encontrar alguém que te faça feliz. Tenho certeza - Evan estava com o coração partido por ter de dizer aquilo, mas era a única maneira de fazê-la ver que ficaria melhor sem ele, que agora que os pais estavam voltando, ela precisava estar ao lado deles.
- Emily, eu não vou mandar novamente, vá para o seu quarto agora - a mãe fechou a cara.
- Evan, eu te ligo mais tarde - disse enquanto subia as escadas - Eu amo você!
- Melhor não. Melhor você fazer o que seus pais dizem e não me procurar mais - por mais que doesse, era melhor assim, eles deviam se afastar.
- Ela correu pelas escadas, chorando desesperadamente, sem acreditar no que estava acontecendo e nem ao menos conseguiu ouvir Evan dizer - Eu também te amo, pequena Em!
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