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12. Tulipas

Sentou-se sozinha no sofá. Queria ir embora, sair dali e apenas tranca-se em seu quarto para chorar, mas era aniversário de Olivia e por ela sabia que deveria ficar.
Thomas foi o único a perceber  o quanto Emily não parecia estar bem, por isso aproximou-se e chamou-a para respirar um pouco de ar puro na rua.

Assim que os dois saíram em direção ao jardim, Emily se pôs a falar, como se precisasse muito mesmo desabafar. Contou tudo a Thomas, até mesmo os detalhes sórdidos entre Evan e Katie e sem saber bem o que dizer, ele apenas a abraçou, tentando reconfortá-la.

Naquele momento, completamente atordoado Evan, que a procurara feito um louco pela casa, finalmente a encontrou nos braços de outro — Emily? — chamou-a, confuso — Quem é esse cara, Emily?

— Acho que não te devo nenhuma satisfação — dito isso, ela virou-se para Thomas e sem nem ao menos pensar direito, beijou-o na frente de Evan.

Não sentiu absolutamente nada durante o beijo, só conseguia pensar no ciúme que estaria causando em Evan e na raiva que a consumia por ele tê-la trocado por Katie.

— Já chega, Emily! — falou o loiro, separando-a de Thomas e se pondo entre os dois — Eu cometi um erro, mas não torne isso ainda pior. Você já me deu o troco, hã?! Agora por favor, quer me escutar?

— O troco? Esse beijo não foi nada comparado ao que você fez — seu tom de voz aumentava gradativamente a medida que sua fúria crescia — Você transou com ela, Evan! — gritou a plenos pulmões dessa vez, voltando a agarrar-se em Thomas.

— Em, por favor, me escuta, droga! — ele insistiu, puxando o braço da menina para afastá-la do outro garoto — Eu errei, mas estou te pedindo perdão, será que dá pra pelo menos reconsiderar?

— Ei, deixa ela em paz! — Thomas empurrou Evan com pouca força, apenas para tirá-lo de perto da amiga.

— Saia da minha frente, moleque! — os olhos de Evan fervilhavam como tochas de fogo — Se não quiser que eu...

— Se não o quê? — desafiou Thomas, cerrando os punhos em resposta.

— Parem com isso! — Emily interviu — Thomas, deixa eu falar com ele a sós.

O garoto bufou, deu de ombros e esbravejou — Tudo bem, só espero que você não seja tão ingênua de acreditar nesse otário.

Evan apenas acompanhou a saída do garoto com o olhar, mentalizando números de um a dez, tentando não perder o controle.

— Emily, eu sei que fiz besteira e sei também que não tem justificativa para o que eu fiz, mas juro que Katie não significa nada pra mim.

Ela hesitou, deu um passo para trás, afastando-se ainda mais — Você transou com ela, depois que eu quase te implorei para fazer comigo!

— Em, se eu não quis transar naquela noite, foi por que você tinha bebido e achei que estava agindo impulsionada pelo álcool — aproximou-se, afagando-lhe a bochecha — Quando você disse que era virgem, eu não quis que sua primeira vez fosse daquela forma — esclareceu ele — Só Deus sabe como foi difícil dormir ao seu lado, a noite inteira, vestida daquela forma e não fazer nada. Eu te respeito, Emily!

— Não sei se devo acreditar em você! — balbuciou, sentindo uma lágrima lhe escorrer pela face.

— Não chore! — exclamou o rapaz, enxugando a pequena gotícula com o polegar — Nunca faria nada com a intenção de te magoar, eu juro!

Emily tentava se recompor, mas seus olhos continuavam a transbordar — Mas você me magoou, magoou muito. Talvez eu tivesse me arrependido de ter feito daquela forma — falou aos soluços — Mas nunca me arrependeria de ter feito com você.

Evan sorriu, andou até o canteiro florido perto da porta e colheu uma flor. Em meio a tantas, escolheu uma tulipa vermelha, oferecendo-a a Emily — Pegue! É pra você.

Ela titubeou, mas acabou por aceitar a flor — Obrigada, é linda!

Os lábios do rapaz se estenderam ainda mais, perante um aprazimento — Você conhece a história dessa flor?

— Não! — ela franziu o cenho — E flor tem história?

- Ele soltou um riso espontâneo — Essa tem! As tulipas são flores originárias da Turquia, apesar de terem se adaptado melhor na Holanda. Existe uma lenda turca que explica o significado das tulipas vermelhas serem consideradas por muitos como a flor do amor.

Emily nem piscava, curiosa com o que ele lhe contaria à seguir.

— A lenda fala sobre Farhad, um príncipe que estava perdidamente apaixonado pela jovem Shirin — Evan prosseguiu — Um dia, Farhad foi informado que sua amada havia sido morta pelos soldados do rei, que era contra o relacionamento dos dois e sem ser capaz de aguentar a tristeza e a dor, o príncipe decidiu acabar com sua própria vida, cavalgando diretamente para um precipício. Segundo a lenda, cada gota de sangue do príncipe fez nascer uma tulipa vermelha, simbolizando assim o amor verdadeiro.

— Que coisa mais linda e triste ao mesmo tempo! — Emily enxugava as lágrimas que teimavam em cair.

Ele a olhou por um momento. Depois a puxou para mais perto, envolvendo-a num abraço forte demais para que ela pudesse se desprender, mesmo se quisesse — As tulipas sempre foram minhas flores favoritas. Quando nos mudamos pra cá e vi esse jardim, de alguma forma sabia que iria encontrar alguém como o príncipe encontro Shirin.

Ela sabia que precisava afastar-se de Evan, se libertar daquele abraço e simplesmente correr para o mais longe possível, enquanto ainda havia tempo, mas não teve forças, não pelo vigor dele, mas sim por não saber como deixar de querê-lo.

— Não me diga essas coisas se forem mentira — suplicou.

— Então me dá só mais uma chance pra te provar que é tudo verdade — Evan a puxou para mais perto e segurou seu rosto com as duas mãos, olhando-a no fundo dos olhos — Me desculpa, por favor, me desculpa. Sei que palavras são só palavras, mas eu juro que meu coração está partido por te ver assim e saber que o causador disso sou eu.

Emily abriu a boca, para logo em seguida fechá-la, ficando pensativa. Evan, por sua vez, aproximou-se da mesma, vendo-a dar alguns passos para trás, até encostar-se a parede, enrijecendo com a proximidade entre eles.

Quando seus lábios se encontraram, ela não pôde mais resistir. O beijo durou apenas alguns minutos, mas fora o suficiente para que Emily perdesse totalmente a noção do que era certo ou errado.

Era ruim pensar no que Evan havia feito naquele meio tempo em que estiveram afastados e não foram apenas beijos, como ela pensara, eles haviam tido uma relação bem mais íntima e era doloroso saber que Katie o tivera primeiro e de maneira tão visceral.

— Evan, eu sei que ficou chateado — disse ela, assim que o beijo fora encerrado — Mas não posso falar sobre nós com minha mãe, muito menos com meu pai — ela arfou — Vão me proibir de ver você...

— Sh! Sh! Sh! — Evan posicionou seu dedo indicador sobre os lábios da garota, para em seguida segurar-lhe a mão que mantinha a flor — Vem! Vamos procurar um lugar menos barulhento e longe dessa gente que eu mal conheço.

Emily assentiu e os dois passaram de mãos dadas pela sala, em direção ao quarto de Evan. Assim que adentrou o ambiente, a menina acomodou-se no canto da cama, cruzando os tornozelos embaixo do corpo. Evan, bateu a porta e a trancou à chave, logo em seguida juntou-se a ela, ajeitando as costas na cabeceira macia.

— Eu sei que sua mãe acha que sou violento por ter agredido meu pai daquela forma e talvez ela tenha razão — disse ele, com certa tristeza no olhar — Quando eu era mais novo morei um tempo com meus tios e quando voltei para casa, trabalhava quase que o dia todo, só via as marcas que ele deixava nela pela manhã e não podia fazer mais nada pra ajudá-la.

— Eu sinto muito! — Emily sacudiu a cabeça em desaprovação e foi só o que conseguiu dizer, antes que seus olhos castanhos se enchessem de lágrimas.

A mão direita dele correu por sobre o colchão, até chegar a tocar na da garota consternada — Eu sei que me excedi, agi como ou até pior do que ele, mas eu seria incapaz de encostar um dedo que fosse em uma mulher — ele a encarava com o olhar suplicante — Nunca machucaria você, Em!

Sentindo-se vulnerável, Evan deitou a cabeça sobre o colo de Emily, em busca de proteção, como um menino frágil e quebrado intimamente. Ela ficou alguns minutos em silêncio, apenas acariciando os cabelos do rapaz, tentando acalmá-lo.

— Você é muito diferente do seu pai, eu sei disso — ela quebrou o silêncio — E diante de tudo que você me disse, eu entendo que não queira vê-lo tão cedo.

— Nunca vou perdoá-lo! — levantou-se de onde sua cabeça repousava, cerrando os punhos sobre o enchimento acolchoado — Ele não tinha o direito de machucá-la —sua voz tremia em fúria — Eu o odeio, Emily!

— O ódio só faz mal para nós mesmos — disse-lhe com seriedade, saindo da posição em que se encontrava e caminhando até o outro lado do quarto — Quando tudo isso passar, você vai ver que eu tenho razão.

Evan sorriu pela primeira vez desde que entraram ali. Chegou-se para junto dela e deu-lhe um beijo calmo e suave. Emily sentiu suas pernas bambeando e teve a ligeira sensação de que se não se segurasse em Evan, sairia flutuando a qualquer momento.

— Me perdoe por ter me afastado daquela forma e principalmente, me perdoe por ter sido um imbecil, fraco e cafajeste.

Ela soltou uma respiração profunda e passou os braços em volta de si  — Não posso negar que o que você fez me magoou demais, não por considerar isso uma traição, já que não estávamos mais juntos, mas por ter sido com a Katie, depois de você ter me dito que não tinha interesse algum nela.

— Emily, eu jamais faria isso de caso pensado, foi apenas um erro e ela um completo acaso.

Ela elevou o queixo e soltou todo o ar preso aos pulmões — Está bem, eu acredito em você.

Evan sorriu, estendendo a mão para ela — Então venha, vamos voltar pra sala, sim?

— Mas não foi você quem disse que queria sair do meio daquela gente que nem conhece? — ela riu sarcástica, tentando mascarar a chateação com o ocorrido.

Evan mordeu os lábios, contendo um sorriso — Não ouse usar minhas palavras contra mim!

— Estou vendo que finalmente se entenderam! — exclamou Olivia, saltitando na direção do casal que acabava de adentrar a sala.

Evan fuzilou a irmã com o olhar e tirou-lhe o copo de cerveja que segurava — Olivia, você não ouviu nada do que a mamãe disse? Sem bebidas alcoólicas, esse foi o combinado.

Ela revirou os olhos, apoiando as mãos nos quadris — Você manda assim na sua namorada também, ou é só o meu saco que você resolveu encher hoje?

— Emily não é desmiolada como você, além disso, ela é minha namorada e pode fazer o que  quiser — Evan ironizou, beijando o topo da cabeça de Emily.

— Vou vomitar! — exclamou Olivia.

— Deixe de deboches, Liv — Emily a contrariou, mesmo mantendo um leve sorriso no canto da boca — Seu irmão só está sendo gentil comigo.

— Não, eu vou vomitar mesmo!

Olivia correu em direção ao banheiro, cobrindo a boca com as mãos e foi impossível para o casal conter a gargalhada intensa diante daquela cena cômica, digna de filmes B.

— Conhece o ditado: se não pode vencê-los, junte-se a eles? — Evan abriu os braços — Vou pegar algo pra gente beber.

Emily balançou a cabeça de um lado para o outro, rindo divertidamente — Tudo bem, eu espero aqui.

Enquanto aguardava, do outro lado da sala, a garota viu de relance sua então rival Katie, recostada a parede, ostentando um copo de vidro, com o que parecia ser whisky, nas mãos. Assim que a viu, ela se aproximou arrastando os pés contra o assoalho e esticou o copo para Emily — E aí, provou mais que do que os beijos dele dessa vez?

Emily empurrou a mão da garota, quase a fazendo derrubar o líquido no tapete felpudo — Katie, você está bêbada, não adianta me provocar, não vou brigar com você!

A outra não se intimidou e seguiu com as provocações — Se eu fosse você, faria logo antes que ele arrume outra para matar a vontade.

Emily virou-se, franzindo a testa e rebatendo sarcástica — Assim como ele fez com você?

Katie, nitidamente irritada, fuzilou Emily com o olhar, desviando em seguida para o copo em suas mãos — Ele é uma delícia, deveria provar... — juntou os lábios em um biquinho cínico — E não estou falando do whisky.

A luta parecia vencida. Emily empurrou o cabelo para trás, seu rosto foi tomado por uma coloração avermelhada e o sangue fervia nas temporadas quando Evan regressou, com dois copos plástico vermelhos nas mãos.

— Isso no seu copo é whisky? — ele questionou Katie, entregando um dos copos a Emily.

— É. Por quê? — indagou ela, de maneira arrogante.

— Porque é pouco provável que minha irmã tenha te dado as chaves do armário de bebidas do Paul, então você só pode ter pego isso no meu quarto — rosnou, cruzando os braços e a encarando assustadoramente.

— Eu só...

— Não quero ouvir suas desculpas, nunca mais entre no meu quarto sem permissão, muito menos pegue o que quer que seja de lá. Ouviu bem?

— Grosso! — Katie resmungou. Seus olhos encheram-se de lágrimas, mas ela imediatamente as enxugou, mantendo sua postura proeminente.

Emily não conseguiu conter o sorriso de deboche e o olhar de quem sabe que venceu a briga sem nem ter que dizer nada. Deram as costas para a menina que parecia realmente abalada com a bronca que acabara de levar.

Aos poucos a casa foi se esvaziando. Olivia havia exagerado na bebida, o que obrigou Evan e Emily a lhe colocarem na cama.
Katie dormia no sofá da sala e não tiveram coragem de acordá-la, muito menos mandá-la embora naquele estado e apesar de tudo, Emily a cobriu com um dos cobertores de Olivia.

Enquanto Evan dava uma pequena avaliada no prejuízo que os colegas de Olivia causaram à casa, Emily fora tomar um banho, para tirar a tensão que os acontecimentos do dia lhe causaram. Vestiu um pijama curto de Olivia e rumou até o quarto de Evan, batendo a porta para evitar que ele se irritasse com a entrada dela sem permissão.

— Posso entrar? — enfiou a cabeça pelo vão entreaberto da porta.

— Claro, Em!

Ele sobressaltou-se, ajeitando o corpo sobre a cama. Estava recostado na cabeceira, como de costume, usando apenas uma bermuda, a mesma da noite do jantar. Segurava um copo de whisky nas mãos e uma música suave tocava em seu aparelho de som.

Emily se acomodou ao lado do rapaz, correndo os olhos pelo quarto à meia luz e encontrando a tulipa em um vaso sobre o criado mudo, sorrindo por ele ter tido aquele tipo de cuidado.

— Olivia passou de todos os limites hoje — comentou o rapaz, pondo o braço em volta dos ombros da menina.

— Ela só estava feliz — Emily defendeu a amiga — É normal se exceder um pouco.

— Ah, é? Pois fique sabendo que quem vai levar a bronca por isso sou eu — sorriu mas logo fechou-se, voltando a pensar no que verdadeiramente o preocupava — Mas você está com uma carinha estranha. O que foi que houve?

Ela torceu um anel que usava no dedo, aspirando o ar profundamente, em busca das palavras corretas a dizer — Katie me disse coisas, tentou me provocar...

— E pelo jeito conseguiu — constatou Evan — O quê foi que ela disse?

— Insinuou coisas sobre você e ela — dessa vez seus olhos encontraram os dele, tristes e desanimados — Senti ciúmes, só queria que fosse eu no lugar dela.

Evan não respondeu, colou seus lábios aos de Emily, dando início a um beijo inesperado, pedindo passagem para a língua e tornando o contato cada vez mais intenso, enquanto suas mãos percorriam o corpo da garota com agilidade.

Explodindo em êxtase e com a respiração acelerada, Emily afastou-se um pouco para trás, puxou o ar com dificuldade e balbuciou "Evan" mas ele a trouxe de volta, para um beijo ávido e cheio de luxúria.

Por mais que seu corpo implorasse para tê-lo, Emily estava insegura. Não queria apressar as coisas, tinha medo de fazer algo errado e desapontá-lo. As palavras de Katie ecoavam em sua mente "ele é uma delícia". E se ela não fosse? Se o decepcionasse?

— Evan! — tentou fazer-se ouvir dessa vez — Queria estar no lugar dela, mas acho que ainda não estou pronta pra isso.

Ele moveu-se para o lado dela outra vez, sorriu e a abraçou, depositando um beijo carinhoso em sua testa — Tudo bem, minha menina. Faremos isso só quando tiver certeza.

— Me desculpa! — Emily desviou a atenção para o volume que se anunciava entre as pernas dele, por debaixo da bermuda azul — Eu só não quero te desapontar, Katie e você... Bem, ela é...

— Você quer saber se eu gostei? — Evan franziu a testa.

Emily assentiu com a cabeça junto ao peito dele.

Evan não conteve o sorriso, encantado pela doçura da menina — Pra falar a verdade, nem lembro direito. Eu bebi muito naquela noite, estava chateado, só pensava em você, mas meu orgulho idiota não me permitia voltar atrás — ele riu, mas dessa vez sem humor — Katie queria falar com Olivia, então mandei que esperasse na sala, ela veio para cima de mim e eu acabei cedendo.

Emily ergueu o corpo para olhá-lo — Está bem, mas agora não quero mais falar sobre ela — voltou a deitar — Só sobre nós.

Evan a apertou contra o peito, temendo que fosse — Como você me ganhou assim tão fácil? — sussurrou mais para si mesmo, do que para ela — Nós dois é tudo que eu mais quero, minha pequena Em!

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