02. Conhecendo um anjo
É inacreditável - pensou.
Aquela garota à estava perseguindo? Não estava satisfeita em roubar seus amigos, agora queria também roubar sua privacidade? Para completar sua total falta de bom senso, só estava faltando que ela agora pedisse um lado de seu fone de ouvido.
- Oi Em, vi você sentada aqui no fundo quando entrei no ônibus, onde você mora? - Olivia parecia muito animada com o reencontro.
- Em uma casa na... - ela pigarreou e pensou então que era melhor não dar muitas informações - Da licença, estou querendo ouvir um pouco de música, sem conversinhas à toa. Pode ser? - tentou soar o mais antipática possível.
Olivia corou, passou a mão no cabelo e o colocou para trás da orelha, olhando em volta, como se para se certificar de que ninguém às estava observando e meio sem jeito se desculpou. Em seguida, afundou no banco e se calou pelo resto do caminho.
Emily olhava a paisagem pela janela, tentando ignorar completamente a presença de Olivia no banco ao lado.
O tempo parecia estar se fechando e algumas gotas de chuva começavam a cair. Quando finalmente desceu do ônibus, a uma quadra de casa, era difícil dizer quão grande foi sua surpresa ao ver Olivia também descer, mas ela fingiu não perceber.
A chuva começava a engrossar, o que fez Olivia abrir seu enorme guarda-chuva preto com coraçõezinhos coloridos e um cabo de plástico cor-de-rosa. Mesmo correndo o risco de receber outra resposta grosseira, perguntou à menina ao lado - Quer uma carona, Em? Acho que vamos para o mesmo lado.
Emily, por sua vez, se preparara para dar-lhe outra resposta ríspida, mas a chuva era mais grossa do que ela poderia ser, então resolveu aceitar, apenas indo para perto de Olivia e se ajeitando de baixo do guarda-chuva gigantesco e chamativo da menina.
Percorreram o caminho, uma ao lado da outra, em silêncio. Passaram por alguns conhecidos de Emily, que ela cumprimentava sorrindo, mas depois voltava a se fechar.
Quando elas finalmente chegaram à casa de Emily, Olivia parecia meio confusa - É aqui que você mora?
Emily assentiu com a cabeça. Olivia então abriu um sorriso, mostrando seus dentes brancos perfeitos.
- Que legal, não acredito que somos vizinhas!
Emily também parecia não acreditar em tamanho azar - Ah sim, super legal! - a tentativa de ironia pareceu falha.
- Bom, então até amanhã, Em! Foi um prazer te conhecer.
Olivia sorrindo, deu as costas a Emily e foi em direção a uma casa verde, com janelas brancas, recém pintadas, do outro lado da rua.
A casa era bonita, com um jardim repleto de tulipas vermelhas, e ao que se recordava havia uma piscina nos fundos. Pela manhã, havia uma placa de vende-se, mas agora a casa estava aberta, à espera de seus novos donos.
Ao passar pela porta, Emily jogou os livros e a mochila sobre o sofá da sala, coisa que sua mãe vivia lhe dizendo para não fazer, mas como ela não estaria em casa naquele momento, resolveu deixar as coisas onde estavam e tomar um longo banho para relaxar e esquecer o começo de dia turbulento que tivera.
Depois do banho, foi para seu quarto, ligou a TV e ficou zapeando, a fim de encontrar algo interessante para se entreter. Acabou cochilando.
Acordou-se com barulhos no andar de baixo e foi verificar. Eram sete e vinte na noite, dormira quase que o tempo todo. Os barulhos que a despertaram, eram de sua mãe que chegara e agora estava na cozinha preparando um delicioso jantar. Voltou para o quarto, mas antes que algo lhe prendesse a atenção, sua mãe a chamou para comer. Após a refeição, as duas conversaram um pouco na sala.
Elizabeth parecia preocupada com a irmã, que há alguns dias estava sentindo dores fortes, mas não queria procurar um médico. Sua tia Rose a mais velha de quatro irmãs, já era uma senhora de bastante idade, não se cuidara na juventude e seus problemas de saúde a deixavam aparentemente, mais velha do que sua própria mãe.
Não tinha marido e nem filhos, por isso Elizabeth se sentia responsável pela saúde e bem estar da mulher. Muito embora ela morasse com outra irmã, em um cubículo que elas insistiam em chamar de apartamento.
Natalie era a mais nova, uma mulher de vinte e poucos anos, mas que agia como uma adolescente, sempre com um namorado diferente e sem responsabilidade alguma.
As outras irmãs moravam em países diferentes, não tinha contado nem com Elizabeth e muito menos com Emily. Nem recordava-se direito de seus rostos.
Quando Emily voltou para seu quarto, estava cansada e apenas querendo deitar e cair em um sono bem profundo de preferência sem acordar com aquele maldito pesadelo outra vez. Mas logo ao passar pela porta, viu a luz azul de seu celular piscando e o visor indicava uma nova mensagem de texto:
"Oi Em, sou eu Olivia, Katie me passou seu número, gostaria de saber: quer uma carona para a escola amanhã?"
Apagou a mensagem assim que terminou de ler. Não entendia o porquê de aquela menina estar tão interessada assim em sua amizade. Será que não dava para perceber que ela já tinha ótimos amigos e não fazia questão nenhuma de tê-la em seu ciclo?
Pôs um pijama. A noite estava bem agradável, por conta da chuva e embora ela ainda estivesse bem irritada com a mensagem evasiva de Olivia, sabia que precisava se acalmar para que pudesse dormir tranquilamente dessa vez.
Escovou os dentes e logo em seguida deitou-se em sua cama, abraçada em um urso de pelúcia que fora presente de Thomas, na brincadeira de amigo oculto, no natal do ano passado e em poucos minutos pegou no sono. Novamente aquele pesadelo a assombrara naquela noite.
Depois de algumas semanas, Emily estava mais próxima do que nunca de Olivia. Não que isso fosse desejo seu, mas parecia que todos os seus amigos gostavam dela. Os meninos principalmente. Chuck chegara a confidenciar a Emily que pensava estar apaixonado pela loira de olhos bonitos.
Naquela manhã, Emily levantou antes mesmo de sua mãe chamá-la. Por alguma razão que ainda não sabia qual era, acordou com vontade de dar uma de menina vaidosa. Então após um longo banho, vestiu uma calça jeans justa, uma blusa de alças finas azul clara e sapatilhas pretas, arrumou o cabelo em uma trança lateral, deixando o que restou solto, cair sobre seus ombros em cachos bem leves.
Passou um pouco de sombra nos olhos. Blush para realçar as maças do rosto e um batom rosa para completar uma maquiagem bem delicada.
Estava realmente linda e muito embora ainda não tivesse percebido aquilo tudo era por puro ciúmes de Olivia, a novata que tanto tinha chamado a atenção de seus amigos.
Por fim, Emily pegou sua mochila, despediu-se de sua mãe, levando consigo uma maça que avistou sobre a mesa.
O dia estava lindo, quente, mas a brisa fresca que soprava, tornava a temperatura agradável. Era o sinal que precisava para ter certeza de que o dia seria perfeito.
Quando chegou à escola, de longe pode ver Thomas, vindo ao seu encontro. O pobre garoto não conseguiu esconder o semblante surpreso, quando se deparou com Emily toda produzida.
Ela era naturalmente bonita, sem maquiagem e com cabelos bagunçados,mas hoje estava especialmente linda.
Ficaram alguns minutos parados, olhando um para o outro, quando Thomas finalmente quebrou o silêncio - Nossa quase nem te reconheci, Em!
Emily fez uma cara de quem não tinha gostado do comentário, mas quando abriu a boca para resmungar, Thomas emendou - Não, que você precise disso tudo, você é bonita de qualquer jeito.
Emily corou, agradeceu o elogio e em seguida perguntou se o garoto havia visto Katie, Thomas assentiu também um pouco envergonhado e indicou que ela estava depois das escadas, perto do ginásio. Ela virou-se e foi à procura da amiga. De longe pode vê-la sentada com Samantha Takahashi, uma menina de descendência japonesa, pequenina como ela e Katie, usava óculos e era um pouco tímida.
Ao lado das duas meninas que tagarelavam sem parar, estavam Chuck e a pessoa que Emily daria tudo para não ver novamente, Olivia Blake.
Olivia, ao ver Emily, logo a cumprimentou sorrindo - Oi, Em! - e acrescentou - Te enviei várias mensagens ontem à noite. Meu irmão disse que eu deveria te fazer uma visita, então eu resolvi primeiro avisar, mas acho que você não às recebeu.
- Essas linhas de telefone móvel são mesmo péssimas - Emily falou já olhando para o outro lado, tentando ignorar a garota loira, sentou-se ao lado de Katie e apoiando-se em seu ombro, cochichou em seu ouvido - O irmão deve ser tão irritante quanto ela e, a propósito, por favor, pare de dar meu número de celular a qualquer um, faz dias que essa garota me perturba por sua causa - Katie sorriu e preferiu não retrucar.
Durante as aulas e o intervalo, a novata que todos amavam não largava do pé de Katie e principalmente de Emily.
Olivia era muito simpática e não fosse o ciúme que Emily sentia de seus amigos, elas até que poderiam dar-se bem e talvez tivessem mais coisas em comum que pudessem pensar.
Ao final das aulas, Emily se atrasou copiando a matéria, esquecendo completamente de seu ônibus.
Saindo da sala, percebeu que teria de ligar para sua mãe e pedir que a buscasse. Com sorte, ela não estaria ocupada demais em seu trabalho.
Sentou em um banco, quase em frente o portão de saída da escola. Largou os livros sobre as pernas e pegou de um bolso da mochila o celular, para fazer a ligação, quando Katie surgiu, seguida por Olivia.
- Perdeu o ônibus, branquela? Estou vendo que esse ano começou da mesma forma que o passado terminou - zombou Katie.
- Vai se ferrar, Kat! - devolveu Emily, enquanto procurava, na agenda do celular, o número da mãe.
Olivia observava atenta a discussão das duas meninas que já considerava suas mais novas amigas.
- Que tal agora aceitar minha carona? - falou sorridente - Já que as mensagens com os convites nunca chegam - havia um Q de ironia na fala da menina sempre tão doce.
Emily já estava pronta para inventar alguma desculpa, quando Olivia, animada a interrompeu - Olha, meu irmão chegou. Você vai ou fica, Em?
Ela olhou na direção em que Olivia apontava e sua respiração quase parou.
Entrando no portão da escola, viu algo que fez seu coração palpitar. Um garoto alto, magro e lindo. Na medida em que ele ia se aproximando, ela pode ver aqueles cabelos loiros, curtos e bagunçados de uma forma perfeita. Os olhos eram iguais aos de Olivia, de um brilho quase que surreal, porém não eram azuis e sim verdes. Vestia uma camiseta cinza chumbo estampada, calça jeans, uma camisa xadrez em tons de azul, aberta sobre a camiseta e um par de All Star pretos, tal como os seus, que agora repousavam em baixo de sua cama.
O garoto, logo que chegou já se pôs a falar ininterruptamente - Oi irmãzinha, está pronta para ir? Precisamos chegar em casa depressa, o dia será longo pra você. A casa está uma bagunça. A nossa mãe é maluca, ela...
O rapaz fez uma pausa,percebendo sua indelicadeza - Desculpe, que mal educado, fiquei falando e nem me apresentei. Prazer sou Evan, Evan Blake. Sou irmão mais velho de Olivia! - estendeu a mão para Katie que assentiu, apertando a mão do garoto - Sou Katie!
Em seguida a mão de Evan se estendeu para Emily, que tentando não gaguejar disse - O prazer é meu. Sou Emily, mas todos por aqui me chamam de Em!
Ele sorriu para ela e olhando para a irmã perguntou - Vamos?
Ela fez que sim com a cabeça - Tem problema se Em for com a gente? Ela é nossa vizinha. Lembra?
- Claro, sem problemas!
"Que sorriso lindo", pensou Emily, no instante em que ele o lançou em sua direção. Não era possível recusar aquela oferta. Lamentou-se por um instante não tê-la aceito antes - Tudo bem Liv, já que vocês insistem.
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