45_ Preciso da sua ajuda
Eu não fiz mais perguntas naquele dia. Carson estava abalado demais e eu nem sabia que o aniversário da irmã dele era naquela semana.
Como o Henry teve coragem de aparecer? Ele nem sabia que a Claire tinha falecido, o que significa que em todo esse tempo, ele nunca ligou, nunca mandou uma mensagem, nunca procurou saber se a garota estava bem e como estava a filha dele. E agora aparece como se nada tivesse acontecido, como se estivesse tudo bem.
Deixei Carson em seu apartamento na noite passada porque ele disse que queria ficar sozinho. As palavras dele ficaram na minha cabeça a noite toda. Carson disse que era uma promessa... Ele prometeu para si mesmo que mataria Henry quando o visse novamente e iria para a cadeia em seguida. Agora faz um pouco de sentido o modo como ele viveu.
Carson não fazia nada além de trabalhar. Ele não vivia. O bar não recebia uma reforma. Ele praticamente arrastava a vida porque sabia que uma hora ou outra, encontraria o homem que matou sua irmã e iria preso.
Agora eu entendo muito mais o quão importante foi essa mudança na vida dele. Por mim Carson pendurou um quadro num bar onde ele não mexia. Por mim Carson comprou coisas novas, como copos, talheres e utensílios de cozinha. Por mim Carson saiu, brincou num parque de infláveis, pintou canecas e mudou coisas em sua vida que ele não pretendia. Ele até aceitou reformar o bar. Eu não via com tanta importância, mas agora que sei a verdade por de trás dessa recusa de Carson de viver a vida de verdade, vejo importância em cada detalhe do que ele faz. Em cada esforço que ele fez.
O dia amanheceu chovendo, o que significa que Carson escapou mais uma vez de ir a praia comigo. Mas, eu não pretendia que fôssemos. Não depois do que aconteceu ontem. Eu nem ao menos sei se ele está bem.
Preparei um café da manhã duplo e deixei na minha mesa de centro. Nos últimos dias consegui decorar o meu apartamento e nunca gostei tanto de um lugar. Mal quero sair de casa.
Estava pronta para ir na direção da porta quando alguém bateu.
ㅡ Carson? ㅡ Deixei que ele entrasse assim que abri a porta. ㅡ Eu ia agora te chamar, pra você tomar café comigo. ㅡ Fechei a porta e observei Carson. Seus olhos estavam um pouco inchados e ele tinha olheiras profundas. Parecia que tinha ficado acordado a noite toda.
Ele não me respondeu, apenas se aproximou, segurou atrás da minha cabeça e me deu um beijo demorado na testa.
Nos sentamos no sofá e pegamos as canecas com café.
ㅡ Você jantou ontem? ㅡ Ele balançou a cabeça. ㅡ Carson! Precisa comer. ㅡ Peguei um pedaço do pão doce e lhe entreguei. ㅡ Toma.
ㅡ Desculpa... ㅡ Ele mordeu o pedaço. ㅡ Eu não estava com fome.
ㅡ Você está bem?
ㅡ Sim. ㅡ Ele encarou a minha televisão. O jornal da manhã passava. ㅡ E você?
ㅡ Estou bem. ㅡ Continuei com meus olhos focados nele.
Um silêncio dominou a minha sala de estar. Eu continuei bebendo o café esperando que Carson terminasse de comer.
Depois de alguns minutos e de um bom gole no café, ele pigarreou.
ㅡ Me desculpa pelo que aconteceu ontem. Eu... Eu sabia que esse dia chegaria, mas não estava preparado. Pensei que estivesse, mas não estava. ㅡ Ele deixou a cabeça de volta na bandeja.
ㅡ Não tem que me pedir desculpas, eu entendo perfeitamente. ㅡ Coloquei minha caneca junto a dele. ㅡ Eu que sinto muito pelo que você passou ontem.
ㅡ Faz umas semanas que eu falei pro Ben que tinha mudado de ideia. ㅡ Carson cruzou os braços e se aconchegou no sofá, ainda olhando para a televisão. ㅡ Eu não ia mais... Matar o Henry. Eu não podia. Por mais que quisesse e tenha prometido isso no dia em que minha irmã morreu e aquele desgraçado sumiu da Califórnia... ㅡ Ele fez uma pausa para respirar fundo. ㅡ Eu não podia mais. Disse a ele que o dia que Henry aparecesse aqui, ele tinha que me lembrar que agora eu tenho um motivo para não ir preso. ㅡ Carson olhou para mim.
Senti minha respiração pesar. Entendo porque Ben gritou para que Carson me olhasse no meio daquela briga.
ㅡ Carson... ㅡ Me aproximei dele. Ele abriu os braços e eu me aconcheguei nele. ㅡ Sinto tanto por tudo isso.
ㅡ Não sinta. ㅡ Beijou minha cabeça. ㅡ Não quero que fique triste. Você é a pessoa mais feliz que conheço.
Ergui meu olhar para ele. Eu não tinha como não ter certeza do que sentia por aquele homem. Além da imensa atração física, eu sentia um amor tão grande que suas dores se tornavam minhas dores.
Carson me beijou e eu retribuí.
Os minutos daquela manhã chuvosa foram se passando. O jornal deu lugar a um filme de comédia e nós assistimos. Estava num comercial quando me levantei para ir beber água.
ㅡ A praia vai ter que ficar para outro dia. ㅡ Carson me seguiu e parou na porta. Observei a janela, horas pingavam no vidro e uma neblina densa pairava sobre a praia. As ondas estavam bem fortes e não se via uma pessoa pelas ruas. Também estava tão frio que eu estava de meia para não sentir o gelado do chão.
ㅡ Pois é, você se safou. ㅡ Sorri e bebi um pouco da água. Me escorei sobre a bancada e ele no batente da porta.
ㅡ Claire disse que estava grávida na última vez que fui a praia. ㅡ Parei de beber da água. Eu respeitava muito o fato de Carson não conseguir falar muito da irmã, mas prestava atenção em cada detalhe que ele contava. Eu era muito curiosa e não saber nada sobre um mistério do passado dele me corroía. ㅡ Fomos ela, minha mãe, meu pai, Jason e eu. Eles estavam passando o fim de semana aqui e Claire estava muito estranha tinha alguns dias. Já não estávamos nos falando. ㅡ Ele encarou os próprios pés. ㅡ Eu nunca gostei do Henry. Disse pra ela que ele não parecia boa pessoa, mas ela não acreditou em mim. Quando ela disse que estava grávida e não pareceu nem um pouco feliz com a notícia, eu quis ir atrás dele. Mas, ela não deixou. ㅡ Ele fitou a chuva que molhava a janela. ㅡ Disse que queria contar pra ele pessoalmente, mas que queria que nós soubéssemos primeiro. Todos ficamos preocupados, mas minha mãe tentou ser positiva para não deixa-la chateada. Até o fim daquele dia, Claire já estava animada com a ideia de ter uma criança.
Ele fez uma pausa longa e eu lhe dei um copo de água.
ㅡ Só que a animação não durou tanto, pois o desgraçado viajou sem avisar para ela. Quando ligou, já estava em Las Vegas. Disse que foi um emprego de última hora e que voltaria em alguns meses. ㅡ Ele voltou a falar. ㅡ Ele ficou oito meses fora, sem nem dar sinal de vida. Ela mandava mensagens e ele respondia uma vez ou outra. Disse pra ela que ela precisava contar que estava grávida, mas ela não me ouvia mais. Eu não sei o que estava acontecendo. Não sei se estava nervosa por causa do Henry ou se eram os hormônios da gravidez, mas Claire parecia querer descontar toda sua raiva em mim, já que era o único que estava com ela. E eu não soube ser compreensivo. Sempre discutiamos. ㅡ Suspirou. ㅡ Um dia ele apareceu e ela nunca ficou tão radiante. Até o momento que ele viu a barriga dela e a levou para fora do bar. Eu não estava, infelizmente. Tinha ido comprar algo e não vi o que aconteceu. Mas... Ainda tenho o vídeo da câmera de segurança.
ㅡ Você tem? ㅡ Dei um passo a frente.
Carson tirou o celular do bolso e se aproximou de mim. O vídeo em preto e branco e sem som mostrava uma garota de cabelos loiros e um vestido claro discutindo com o cara que vi ontem. A barriga dela já estava enorme e ele não parava de falar enquanto gesticulava com as mãos. Vez ou outra ele apontava para a barriga dela. A decepção e raiva estavam estampadas do rosto da garota.
Foi quando ele pareceu e gritar e virar as costas, mas ela segurou o braço dele e ele a empurrou. Ela caiu com a barriga no chão, ele ignorou, subiu na moto e saiu. Não demorou muito para que Ben e outras pessoas aparecessem para ajudar.
ㅡ Ela faleceu no hospital. ㅡ Carson guardou o celular. ㅡ O bebê morreu algumas horas depois do parto. ㅡ Toquei suas mãos e ele me olhou. ㅡ Eu nunca consegui ir ao cemitério. Nem no dia do enterro.
ㅡ Você pode me passar esse vídeo? ㅡ Ele fez uma careta, mas concordou e mandou o vídeo. ㅡ Você não tem culpa do que aconteceu. ㅡ Toquei o seu rosto e lhe dei um beijo delicado. ㅡ Deita lá no sofá que eu já vou, ta bom? Vou cuidar de você hoje. ㅡ Ele abriu um sorriso fraco e saiu da cozinha.
Saquei o meu celular e liguei para o meu pai.
ㅡ Pai? ㅡ Fui para perto da janela.
ㅡ Oi, Flor. Ta tudo bem?
ㅡ Sim. To ligando porque... Preciso da sua ajuda.
ㅡ Pode falar, filha.
ㅡ Não como pai. Preciso da sua ajuda como... advogado.
•••
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro