23_ Você é italiano?
Carson deixou o quarto para ir ajudar o seu pai em alguma coisa e eu fui tomar um banho para tirar o cheiro de avião de mim. Não usei a banheira, mas lavei o cabelo, o sequei e coloquei outro vestido. Dessa vez um rosa pastel.
Saí do quarto e não vi nenhuma pessoa no corredor. Desci as escadas e comecei a ouvir umas risadas vindas lá de fora. Segui pela porta dos fundos que só agora percebi e atrás da casa estavam todos. Tinha área com uma mesa bem grande, era praticamente um banquete de café da tarde. Ainda não tinha escurecido, mas não demoraria muito. O sol já estava fraco e batia um vento fresco, balançando as folhas das árvores ao redor. A família de Carson estava sentada a mesa, conversando, comendo e rindo. Carson foi o primeiro a me ver, logo depois veio até mim e me acompanhou até a mesa, onde me sentei entre ele e seu tio.
ㅡ Uma vez ele foi a um leilão de caridade e voltou com um tapete indiano caríssimo que nem queria só porque não foi com a cara do homem que estava dando lances. ㅡ Dante disse fazendo os presentes na mesa rirem. ㅡ Eu não sei como ele ainda tinha dinheiro, já que gastava com bobeiras só para debochar da cara das pessoas.
ㅡ Quando eu era adolescente, todas as minhas amigas estavam indo com bolsas Prada pra escola. ㅡ A mãe de Carson colocou uma cesta de baguetes sobre a mesa. ㅡ Ele quis comprar a loja Prada de Toscana para eu usar as bolsas que quisesse. Nunca conheci alguém tão exibido em toda minha vida. Eu o convenci a me dar somente uma bolsa, mas ele me deu uma bolsa por mês naquele ano.
ㅡ Ele me deu um Iphone no dia do Presidente. Do presidente! ㅡ Jason comentou. ㅡ Eu nem sabia que era um feriado na qual se da presente pras pessoas.
ㅡ Ele quis que eu e Claire abrissemos uma cadeia de restaurantes chiques por todo o país. Disse que patrocinaria tudo. ㅡ Foi a vez de Carson. ㅡ Claire nunca aceitou. Disse que queria começar do zero com o próprio esforço.
ㅡ Ela era uma menina de ouro. ㅡ Dante afirmou. ㅡ E o pai também.
De repente, a conversa que parecia ser apenas boas lembranças do homem falecido, se tornou um clima ruim. Um clima triste. Todos pareciam ter pedaços faltando e eu me senti mal por aquela família. Bem, por um lado os invejei. Eles tinham o que a minha família tinham, dinheiro, mas tinham algo ainda mais importante: união. Eles não eram falsos, não colocavam suas necessidades em cima dos outros e nem agiam como se fossem obrigados a estar juntos. Eles se gostavam, gostavam de estar juntos e isso a minha família não tinha.
ㅡ Bom... ㅡ Dante voltou a falar. ㅡ Ele viveu bastante e se foi fazendo o que gostava. Ostentando. ㅡ Dante ergueu sua taça de vinho. Todos fizeram o mesmo e eu, obviamente, ergui a minha. ㅡ À Francesco Ricci.
ㅡ À Francesco Ricci. ㅡ Todos falamos juntos e logo depois cada um deu um gole em seu vinho. Para não ser a diferente, dei um gole no meu.
Tentei disfarçar a careta, para não parecer a única criança ali que nunca bebeu álcool. Mas, quando olhei para Carson, ele estava sorrindo, se divertindo com a careta que eu, obviamente, não disfarcei.
Ele colocou a minha taça de volta na mesa e passou o seu dedo no canto da minha boca. Em seguida ele voltou a prestar atenção na conversa, me deixando paralisada na mesma posição.
ㅡ Agora eu quero saber mais sobre o novo membro da família... ㅡ Todos ficaram em silêncio e eu me toquei de que Dante estava falando comigo.
ㅡ Han? ㅡ O olhei.
ㅡ O que você faz Florence?
Conversas e conversas, papo vai, papo vem, o céu escureceu e logo todos saíram da mesa e foram fazer coisas diferentes. Alguns entraram para a casa, outros saíram para resolver algo, apenas Carson e eu permanecemos na mesa.
ㅡ Por que não me disse que você é Italiano? ㅡ Perguntei comendo um cubo de queijo.
ㅡ Porque não sou.
ㅡ Mas, sua família é Italiana.
ㅡ Mas, eu nasci nos Estados Unidos. ㅡ Ele falava despreocupadamente, sentado de maneira confortável na cadeira.
ㅡ Você entendeu o que eu quis dizer. ㅡ Ajeitei minha postura. ㅡ Você é todo misterioso, não sei quase nada sobre você.
ㅡ Isso te incomoda? ㅡ Ele pendeu a cabeça pro lado. Sei lá, sua pergunta soou tão encantadora.
ㅡ Acho que sim. ㅡ Cocei a garganta.
ㅡ O que quer saber? ㅡ Cruzou os braços.
ㅡ Eu não sei. ㅡ Carson riu de mim.
ㅡ Meu nome é Carson Ricci, minha família é Italiana, mas nasci nos Estados Unidos. Nunca morei aqui e não sei falar italiano, então não me peça para traduzir nada. Moro sozinho na Califórnia, meus pais e meu irmão moram na França, tenho um bar na beira da praia e já tive uma irmã chamada Claire, ela faleceu tem uns anos. ㅡ Seu olhar ficou triste por um momento, mas logo ele espantou isso e voltou a me olhar.
ㅡ Eu sinto muito.
ㅡ Tudo bem. ㅡ Ele encarou a mesa. ㅡ Sua vez.
ㅡ Minha vez?
ㅡ É. Acha que eu também não quero saber sobre você? ㅡ Arqueou uma sobrancelha e abriu um sorriso ladino.
ㅡ Mas, eu não sou misteriosa igual a você. Sou praticamente um livro aberto. ㅡ Olhei para a paisagem pensando no que dizer. ㅡ Meus pais são advogados e muito ricos, tenho uma irmã mais velha que também cursa direito e não me dou bem com eles. Digo, com a minha irmã sim, mas com meus pais, nem tanto. Eu cursava direito por pura e livre espontânea pressão. Até que fui expulsa por causa de dois, digo, três idiotas e acabei parando em Santa Barbara. Gosto de decorar, gosto de pintar telas e sou impulsiva. Gosto de fazer coisas espontâneas.
ㅡ Ainda não me contou porque foi expulsa da faculdade. Sempre achei que numa dessas suas ideias malucas de fazer algo extraordinário completamente do nada, você exagerou e isso resultou na sua expulsão. ㅡ O encarei com uma careta.
ㅡ Olha só, eu não sou tão maluca assim. Sei que eu não gostava do curso, mas não faria algo que me fizesse ser expulsa. ㅡ Expliquei. ㅡ Foi culpa do Josh.
ㅡ Josh? ㅡ Ele enrugou a testa.
ㅡ Aquele bobo que me liga as vezes, enchendo o meu saco. Querendo me encontrar e explicar as coisas. Acho que é só o remorso atormentando ele. ㅡ Revirei os olhos. ㅡ Culpa dele e da namorada maluca dele. ㅡ Passei as mãos no rosto. ㅡ Dois malucos que a vida colocou no meu caminho.
ㅡ Ele te fez alguma coisa? ㅡ Olhei para Carson. Seu olhar era daqueles protetor, o que o também deixou mais atraente aos meus olhos.
ㅡ Não, exatamente. ㅡ Observei a taça de vinho na qual dei apenas um gole. A de todos na mesa estavam vazias, menos a minha. ㅡ Ele só foi um idiota com a namorada e acabou sobrando pra mim. Enfim, não quero falar deles. Se falar muito, daqui a pouco ele está ligando. ㅡ Estiquei as costas.
A mãe de Carson apareceu para tirar as coisas da mesa. A voz do pai de Carson soou vinda de algum lugar chamando por ele e Carson se afastou. Acabei me levantando a ajudando a mulher a tirar a mesa.
ㅡ Eu sinto muito pelo seu pai. ㅡ Falei, após finalmente conseguir ficar a sós com ela. ㅡ Pelas histórias, ele devia ser uma pessoa incrível.
ㅡ Ele era. ㅡ Ela assentiu com um sorriso triste. ㅡ Sei que falamos sobre como ele ostentava sua riqueza, mas ele também era rico de coração. Ele ajudava hospitais, orfanatos, asilos, doava para instituições de caridades... Era um homem bom. ㅡ Entramos na casa segurando as louças e fomos para a cozinha. Colocamos as coisas na pia e eu a ajudei a colocar na lava-louças. Ouvimos risadas e olhamos pela janela a cima da pia. Era Carson, seu pai e seu irmão. Estavam tentando podar uma moita com uma tesoura grande, mas não pareciam estar tendo muito sucesso e isso estava fazendo Carson e Jason rirem muito. ㅡ Meus homens... ㅡ A mulher sorriu observando a cena. ㅡ O Carson tem estado tão bem. Fazia tempo que não o via tão feliz.
ㅡ Ele merece muito ser feliz.
ㅡ E você tem dado conta disso. ㅡ Ela olhou para mim. ㅡ Tem feito bem a ele, Flor. Sei que já pulei de alegria quando te vi e descobri que Carson estava finalmente namorando, mas agora que vejo o quão bem você está fazendo a ele, fico ainda mais feliz. Ele está... Radiante. ㅡ Ela voltou a olha-lo. ㅡ Apaixonado, devo dizer.
Olhei para Carson rindo lá fora e sorri. Eu estava apaixonada, tinha certeza. Saber que ele também estava, enchia o meu coração.
•••
Continua...
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