11_ Carson, o peixe
O dia estavam nublado. Eu já tinha algumas sacolas comigo de coisas que achei bonitinhas para colocar na minha casa e agora estava, finalmente, escolhendo minha roupa de cama.
Eu lembrei, viram?
Olhei várias e no fim me apaixonei por uma branca com vários coraçõezinhos vermelhos. Tinha lençol, que era apenas branco, a colchão com os corações e a fronha, que era da cor dos corações. Era linda demais e eu precisei comprar.
Já estava voltando pro bar quando passei em frente a uma daquelas lojas que vendem ração e coisas para bichos. Meus olhos pararam num pequeno aquário com um peixinho azul lindo nadando.
Quando vi, estava de volta ao bar, carregando todas aquelas coisas e um aquário com um peixe.
ㅡ Você comprou um peixe? ㅡ Carson, que estava na parte da frente do bar, perguntou enquanto eu tentava largar algumas coisas no chão para abrir o portão que dava para o corredor.
ㅡ Sim. ㅡ Sorri. Carson veio até mim e abriu o portão para que eu entrasse.
ㅡ Por que?
ㅡ Porque gosto de bichos. ㅡ Entrei no corredor. ㅡ E ele estava tão sozinho lá, era o único peixe e ele olhou nos meus olhos e implorou para eu comprar ele. ㅡ Eu estava escarrando todas as coisas que comprei nas paredes do corredor, o que fez Carson tirar as coisas de mim e me ajudar a subir com elas.
ㅡ O peixe olhou nos seus olhos e te implorou pra compra-lo? ㅡ Carson perguntou naquele tom de que me achava maluca.
ㅡ É. ㅡ Concordei, ignorando sua risada atrás de mim.
ㅡ Você não ia só comprar uma roupa de cama? Toda vez que você sai, volta com um milhão de coisas. Como está comendo se está gastando tanto com essas coisas? ㅡ Abri a porta da casa e apontei para um canto onde ele poderia deixar as coisas. Ele entrou e as deixou no chão.
ㅡ Eu sei aproveitar promoção, só isso. Não consigo ir na rua comprar uma coisa só e voltar. ㅡ Alonguei minhas costas, sentindo a dor de ter carregado tantas coisas.
Carson olhou em volta, percebendo a diferença que o lugar estava. Agora, não só tinha os móveis, como tinha plantinhas, coisas penduradas nas paredes, montes de livros de romance que eu gostava de ler, coisas coloridas... Enfim, estava decorado.
Peguei o aquário e coloquei sobre a cômoda. Coloquei comida e sorri observando o peixe.
ㅡ Por que ele ta assim? ㅡ Franzi as sobrancelhas.
ㅡ Quem?
ㅡ O peixe. Ele ta paradão. Não ta nadando feliz. ㅡ Cruzei os braços. Carson veio até mim e parou do meu lado.
ㅡ Vai ver ele é um peixe sério. ㅡ Olhei para Carson esperando que ele demonstrasse ironia, mas ele só continuou encarando o peixe.
ㅡ Então, o nome dele vai ser Carson. ㅡ Voltei até as outras sacolas para desembalar as coisas que comprei.
ㅡ Por que? ㅡ Carson pareceu indignado.
ㅡ Porque ele poderia estar nadando feliz, mas está parado com cara de bunda. Olha só a cara de quem seria igual a você se fosse humano! ㅡ Apontei para o peixe. ㅡ Carson, o peixe.
ㅡ Eu vou trabalhar. ㅡ Carson saiu pela porta.
ㅡ Espera! ㅡ Corri até a porta para vê-lo de novo. Ele se virou para trás para me olhar. ㅡ Por que pendurou a minha pintura no salão do bar? ㅡ Minha pergunta pareceu o pegar de surpresa. Ele me observou parecendo sem saber exatamente o que dizer.
ㅡ Achei que quisesse isso.
ㅡ É, eu queria. Assim como quero decorar o bar todo, mas você nunca deixa. Quero saber porque resolveu deixar o quadro.
ㅡ Eu não sei... Só... Ficou legal. ㅡ E assim ele desceu as escadas, desesperado para encerrar o assunto.
ㅡ Ficou legal? ㅡ Fiz uma careta. ㅡ Isso foi um elogio, certo? Um elogio inteiro. Carson me elogiou. ㅡ Sorri orgulhosa de mim mesma e voltei para dentro, para terminar de arrumar as coisas.
[...]
ㅡ Ai, ainda bem que amanhã é feriado. Não aguento mais. ㅡ Ben puxou uma das cadeiras do bar e se sentou. A última pessoa havia acabado de sair e nós já tínhamos adiantado a limpeza.
ㅡ O bar não abre em feriados?
ㅡ Nada abre em feriados. Essa cidade ama feriados. E eu também. ㅡ Ele tirou o avental. ㅡ Tomara que esteja sol para eu pegar uma praia. Trabalho em frente e nunca vou porque sou escravo do Carson.
ㅡ Isso é um pedido de demissão? ㅡ Carson perguntou, enquanto terminava de organizar as bebidas que ficavam atrás do balcão.
ㅡ Não. ㅡ Ben sorriu para ele. ㅡ Infelizmente, preciso de grana pra viver.
Ben acabou se levantando e indo buscar suas coisas. Carson disse que eu também já estava liberada e eu corri lá pra cima para tomar um banho. Um cliente abençoado tinha derramado cerveja em mim e eu ainda estava fedendo.
Preparei um pijama bonitinho, peguei a minha toalha, fui para o banheiro, tirei a roupa e estava pronta para sentir a água limpar o meu corpo quando não senti nada. Abri mais a torneira, mas não caiu uma gota.
ㅡ Ah, só pode ser brincadeira. ㅡ Resmunguei. Fechei a torneira, me enrolei na toalha e saí do banheiro. Fui até a pia da cozinha só para ver se tinha água, mas nada saiu. ㅡ Que palhaçada! Eu vou ter que tomar banho no mar?
ㅡ Florence? ㅡ Carson apareceu na porta. Ele foi pego de surpresa quando percebeu que eu estava apenas de toalha, mas... Não parou de olhar pra mim.
ㅡ Que foi? ㅡ Perguntei já estressada. Só aí ele percebeu que ainda estava me encarando e balançou a cabeça.
ㅡ Você esqueceu seu casaco lá embaixo. ㅡ Ele me estendeu o casaco. Eu o peguei e joguei na cama. ㅡ O que foi?
ㅡ Eu to sem água e acho que posso não sobreviver se não tomar um banho agora mesmo. ㅡ Cruzei os braços, segurando a toalha em meu corpo.
ㅡ Ah, as vezes acontece. Eu vou lá ver o registro. ㅡ Concordei com a cabeça e esperei que ele fosse até lá embaixo e voltasse. Olhei para o pulso e suspirei ao perceber que o raio da pulseira que eu tinha comprado naquela semana... Eu já tinha perdido. Olha, acho que eu preciso de ajuda psicológica, porque perco e esqueço muita coisa. Até hoje não sei onde está o livro roubado da biblioteca. ㅡ Está aberto, a água deve voltar em breve.
ㅡ Em breve? ㅡ Quis chorar.
ㅡ Olha só, toma banho na minha casa, se está tão desesperada assim. ㅡ Ele sugeriu.
ㅡ Sério? Eu posso mesmo?
ㅡ Pode. Mas, não vai reclamar do cheiro do desinfetante. ㅡ Ele apontou para mim.
ㅡ Não prometo nada. ㅡ Ergui as mãos e isso quase fez a minha toalha cair. Por sorte fui rápida e segurei. ㅡ Obrigada, Carson. ㅡ Disse em meio a uma careta, indo buscar o meu pijama no banheiro.
Carson sumiu da minha casa e eu vesti uma camisa grande só para não ir apenas de toalha pra lá. Pensei em vestir a que eu estava usando antes, mas estava fedendo e eu tinha já tinha colocado para lavar.
Nota mental: preciso muito, muito, muito lavar roupa.
ㅡ Toc, toc... ㅡ Entrei em sua sala.
ㅡ Sabe onde fica o banheiro. ㅡ Ouvi a voz de Carson vinda de algum lugar da casa, ou do além.
ㅡ Okay... ㅡ Cantarolei. Passei direto pelo corredor e entrei em seu banheiro. Estava esperando o cheiro horrível de seu desinfetante, mas não senti nada. Fiquei aliviada.
Pendurei minha toalha no ganchinho, deixei meu pijama e meu sabonete líquido lá.
ㅡ O Carson, você... ㅡ Saí na porta do banheiro. Carson estava saindo de onde acho que era seu quarto e vindo em direção a cozinha. Me perdi no que ia perguntar porque ele estava sem camisa. Ainda estava com a calça jeans, mas estava sem camisa. Não me lembro de já tê-lo visto sem camisa antes.
Carson tinha tatuagens em suas costas, peitos e antebraço. Ele seguiu mexendo na cozinha enquanto esperava que eu terminasse a minha pergunta. Mas minha mente deu um branco e eu me esqueci o que ia perguntar.
ㅡ Eu... ㅡ Ele se virou para mim, me incentivando a continuar.
ㅡ Tem certeza de que tem água aqui, né? ㅡ Não era isso que eu ia perguntar, mas foi o que veio na cabeça.
Ele esticou seu braço e abriu a torneira da pia. Quando a água caiu, eu assenti e fechei a porta do banheiro. Me encostei nela sentindo o meu coração bater rápido como se eu tivesse acabado de correr a maratona.
Toquei o meu peito e fechei os olhos. Talvez eu devesse marcar uma consulta no cardiologista.
•••
Continua...
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