01_ Fui expulsa da faculdade
Fui expulsa da faculdade.
Isso ecoou na minha cabeça durante todo o caminho de ônibus. Ônibus esse que estava indo para algum lugar dos Estados Unidos que eu não tinha ideia. Acho que nunca estive tão sem rumo quanto agora.
ㅡ É o ponto final. ㅡ O motorista veio me avisar, pois a distraída aqui estava ocupada demais encarando a parte de trás da poltrona da frente, se perguntando o que faria da vida.
ㅡ Ah... ㅡ Olhei em volta. Não tinha mais ninguém no ônibus. ㅡ Me desculpa. ㅡ Abri um sorriso culpado.
O homem não disse mais nada, apenas voltou para a frente do ônibus e eu me levantei. Peguei minha mochila, que pesava milhares de quilos, e saí do ônibus.
ㅡ Obrigada. ㅡ Peguei a mala que o motorista tirou do bagageiro e permaneci parada no mesmo lugar até o ônibus arrancar e sair dali fazendo poeira subir.
Quando a poeira baixou, me deparei com uma praia. Ok, isso não era o que eu esperava a essa altura da minha vida. A cinco minutos atrás estava pensando no que fazer da vida, me sentindo na sombra do fundo do poço, e agora eu havia caído numa praia. Peguei um ônibus aleatório que nem tinha ideia de para onde ia e vim parar numa praia.
Talvez a sorte esteja a meu favor.
ㅡ Ah, qualé, Carson? ㅡ Ouvi alguém resmungar e olhei para trás. Um senhor de barba grande e calça pescando reclamou com o outro que parecia o estar expulsando do bar.
ㅡ Já falei que aqui você não bebe mais. Anda. ㅡ O outro homem colocou as mãos na cintura e apertou os olhos por conta da luz do sol. Ele observou o senhor até que ele se afastasse enquanto murmurava um monte de palavrões.
Quando o senhor barbudo sumiu de vista, os olhos do homem se pousaram em mim. Meu corpo deu reset. Sabe quando você está com má postura, cabelo na cara, careta no rosto e parece que saiu de um conto de terror infantil, e aí você se toca e se ajeita rapidamente? Foi isso que fiz. Fiz, pois o cara que me olhava poderia facilmente ser considerado o mais bonito que já vi na vida.
Apesar de estar com cara de poucos amigos, ele era muito atraente. Seu maxilar era marcado, seus olhos azuis pareciam cintilar no sol, os cabelos pretos feito carvão contrastavam bem com sua pele branca. A camiseta sem manga deixava a mostra algumas tatuagens em seu antebraço.
Foi quando parei para olhar para mim mesma. Eu vestia uma camiseta cinza da universidade de São Francisco, um macacão jeans jardineira e all star nos pés. Meus cabelos deviam estar do mesmo jeito de quando acordei e minha cara limpa de qualquer vestígio de maquiagem. Era uma ótima hora para eu encontrar o cara mais gato da Califórnia. Ótima!
Apertei a alça da mala de rodas que estava parada ao meu lado e ouvi passos. Olhei na direção do bar e vi que o homem havia entrado. Também notei outra coisa, uma placa de precisa-se de garçom. Nunca fui garçonete na vida, mas não tenho nem onde passar a noite hoje, não custa nada tentar.
Não pensei muito antes de entrar no bar. O lugar era muito escuro comparado ao dia ensolarado e colorido lá fora. As paredes eram em marrom desbotado, tinham alguns quadros de bandas e outras coisas nas paredes. As mesas eram de madeira, sem alguma toalha por cima. Não era muito enfeitado, era simples, tristes e sem vida.
Quando cheguei perto do balcão, me inclinei para ver se encontrava alguém. Foi quando aquele mesmo cara se levantou segurando um pano e parou na minha frente, do outro lado do balcão. Meu corpo congelou por uns segundos, mas logo abri um sorriso.
Ele me observou sem expressão alguma, apenas parecendo esperar que eu dissesse o que queria.
ㅡ Er... ㅡ Apontei na direção da porta. ㅡ Vim pelo anúncio de garçom. ㅡ Ele continuou sem expressão, mas ao mesmo tempo parecia analisar-me muito bem. Como se me estudasse.
ㅡ Não contrato mulheres. ㅡ Ele começou a passar o pano por sobre o balcão. Franzi as sobrancelhas.
ㅡ Por que não?
ㅡ Porque não. ㅡ Continuou com a atenção focada no balcão, que nem parecia sujo.
ㅡ Olha... ㅡ Respirei fundo. ㅡ Eu acabei de chegar na cidade, não conheço ninguém e preciso muito, muito mesmo de um emprego. ㅡ Praticamente implorei. Faltou pouco não me ajoelhar.
O homem me olhou, largou o pano e me observou por mais longos segundos. Não sei se ele fazia o tipo observador ou se só amou o meu rosto e gostava de ficar me olhando.
ㅡ Boa sorte para encontrar um. ㅡ Foi tudo o que ele disse antes de voltar a limpar o balcão.
Eu estava cansada. Minha vida tinha virado de cabeça para baixo nas últimas vinte e quatro horas e eu precisava dormir. Dormir e comer. Dormir e comer e arrumar um emprego.
Senti que qualquer coisa estava me irritando e aquele cara na minha frente era uma delas.
ㅡ Que foi? ㅡ Ele arqueou uma sobrancelha quando percebeu que eu ainda estava ali o encarando.
Bufei. Passei meus dedos pelo balcão para deixar digital e saí do bar antes que ele jogasse o pano em mim.
[...]
ㅡ Arg... ㅡ Me joguei na cama do quarto de hotel. Meus pés estavam doendo de tanto andar. Eu queria dormir o resto daquele dia, mas precisava urgentemente arrumar a droga de um trabalho.
Rolei pela cama até chegar na minha mala. A puxei para cima da cama e abri. Cacei minha carteira por toda ela até me lembrar de que ela estava na minha mochila. Rolei para o outro lado da cama e peguei a minha mochila.
Depois de finalmente achar a carteira e contar a miséria de dinheiro que eu ainda tinha, percebi que eu só tinha dinheiro para ficar uns dois dias naquele hotel e para comer um dia, uma refeição barata, de preferência. Talvez não tenha sido tanta sorte vir parar numa cidade com praia, isso fazia os hotéis serem ainda mais caros.
ㅡ Ai... Eu vou virar sem teto. ㅡ Choraminguei me jogando para trás na cama novamente.
Após me doer pela minha fase de vida terrível, resolvi me levantar e agir. Tirei aquela roupa maluca que eu vesti correndo de manhã e coloquei uma mais apresentável para pedir emprego. Penteei o cabelo, passei uma maquiagem no rosto, peguei minha carteira e saí do hotel.
O centro de Santa Barbara era bonito. Lojas de roupas chiques, restaurantes, cafeterias, parques, teatros, shoppings e uma bela de uma praia maravilhosa. Ao menos eu vim parar aqui no verão. Quem sabe essa não seja a hora de começar a vender arte na praia, não é?
Andei por todo o centro e tentei em tudo quanto é lugar. Uns lugares até me deram esperança, outros nem sequer me atenderam, um até disse que em breve deve abrir uma vaga, era uma floricultura. Pareceu um lugar tranquilo que eu amaria trabalhar, mas não tenho tempo de esperar a tal vaga abrir.
Rodei o dia inteiro e só parei quando senti que desmaiaria. Eu não tinha comido nada além de uma barra de cereal no ônibus, nem sei como ainda estava de pé.
Entrei numa lanchonete e pedi um salgado. Saudável? Não. Me sustentaria? Não. Mas, eu não tinha dinheiro! Se comprasse algo barato, talvez desse para me alimentar amanhã.
Após comer o salgado em mínimos pedaços para durar o máximo de tempo, voltei para o hotel com o peso da ficha caída na consciência. Eu estava perdida. Eu ia morrer de fome e meus pais provariam que estavam certos. Ta, primeiro eles iriam chorar no meu funeral, mas depois iriam dizer que estavam certos.
O quarto do hotel permaneceu escuro depois que entrei. O centro da cidade estava a todo vapor, era possível enxergar um pouquinho da praia pela janela, ao longe. Tudo parecia lindo lá fora, pessoas de férias, verão e vibe boa. Só eu que parecia estar sem rumo na vida naquela cidade.
Cheguei a pegar o celular e pensar em ligar para eles. Pensei várias e várias vezes. Cheguei até a quase ligar, mas joguei o celular na cama.
ㅡ Vou tomar um banho e dormir. Amanhã é outro dia. ㅡ Falei para mim mesma.
[...]
Deviam ser quase seis da manhã. Eu estava caminhando por uma calçada que ficava de frente para a praia. Tudo ainda parecia fechado na cidade e isso só me deixava ansiosa. Mal consegui dormir essa noite e assim que o sol nasceu, saí do hotel para voltar a procurar emprego.
Estava distraída olhando as ondas do mar enquanto andava, quando senti areia voar no meu pé. Olhei para baixo e percebi que não era só areia, como sujeira também.
ㅡ Ei, qual foi? ㅡ Encarei o dono ranzinza do bar que se recusou a me contratar ontem. Ele estava varrendo a entrada do bar e jogou o lixo com a vassoura na calçada bem na hora que eu estava passando.
Quando me viu reclamar, seus olhos pousaram no meu rosto e ele bufou, como se eu fosse a coisa mais irritante que já viu.
ㅡ A culpa foi sua. ㅡ Ele simplesmente disse.
ㅡ A culpa foi minha?? ㅡ O encarei, chocada com sua audácia. ㅡ Você varreu sujeira no meu pé e a culpa é minha?
ㅡ É, o que diabos ta fazendo na rua essa hora? ㅡ Perdi as palavras sem entender sua pergunta. ㅡ Santa Barbara acorda tarde. Varro sem preocupação essa hora, porque ninguém anda pelas ruas essa hora.
ㅡ Ah, me desculpe por ter chegado na cidade ontem e não ter estudado sobre o manual de vida daqui. Você tem um exemplar que possa me emprestar? ㅡ Cruzei os braços.
O homem, que esqueci o nome, me observou por mais longos segundos, como ele fazia com frequência. Até que soltou um suspiro e voltou a varrer.
ㅡ Da próxima, avisa quando estiver passando. ㅡ Murmurou.
ㅡ Pode deixar que eu vou andar com uma buzina a partir agora. ㅡ Revirei os olhos. Continuei parada no mesmo lugar e ele me encarou após perceber isso.
Nós dois nos encaramos em silêncio até ele se aproximar e passar a vassoura no pé.
ㅡ Pronto. ㅡ Disse voltando a varrer.
Percebi que não iria conseguir um pedido de desculpas, então voltei a andar pela calçada.
ㅡ Esse cara, viu... ㅡ Resmunguei. ㅡ Uma hora dessas.
ㅡ Não esquece da buzina! ㅡ Ele gritou.
•••
Continua...
Espero que gostem dessa nova história. Vou me esforçar para postar de segunda à sexta, às 18h 💖
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro