Beleza Súbita - Parte 2
— Sem chance — respondi, tão logo recebi a proposta que me fez, embora eu precise admitir que o lenço que ele me emprestou estava sendo bastante útil para limpar minha camiseta.
— Ah, por favor, não é nada demais.
Vlap, vlap, vlap.
Continuei esfregando o tecido na minha sujeira, calada.
— Eu só quero te comprar uma camiseta.
Diante disso, eu não tive escolha a não ser erguer o rosto para encará-lo.
— Ah, é claro! E eu vou dizer para o meu marido o quê? Um bonitão com sotaque esquisito me deu essa camisa porque fez o favor de derramar meio maldito litro de café quente em cima de mim?
Ele prendeu o riso.
— Acho pouco prudente.
Minha única opção foi bufar em resposta e tentar não derramar uma lágrima diante da minha camiseta de grife arruinada.
— Eu só gostaria de encontrar uma maneira de me desculpar por essa confusão toda — insistiu ele, o ombro encolhido.
Mas àquela altura eu já não estava disposta a me deixar embasbacar por sua beleza grega.
— Sem chance! — resmunguei.
— Italiano — disse ele, quando eu estava prestes a virar de costas.
Isso me fez conter os passos.
Só o que me faltava era o homem revelar que lia pensamentos.
— Perdão?
— Meu sotaque. Fui criado em Florença... embora tenha nascido na Bahia.
Uma pontada de alívio seguida de uma brilhante ideia me passou pela cabeça.
— E o que está fazendo aqui?
— Ah, é só um passeio! De volta às origens, sabe como é?
Fiz que não.
— Na verdade, sou mochileiro. Viajo à beça. Só não tinha feito isso aqui. No país onde nasci.
Meu coração de um salto, até. Então eu pedi que ele esperasse, com um fio de voz, e o homem começou a olhar em volta, constrangido, como estivesse decepcionado por não ter realmente se livrado de mim.
Eu podia apostar, naquela hora mesmo que, caso pudesse, ele teria engolido cada uma das palavras de volta.
Abaixei-me diante de uma das minhas malas, a qual eu carregava suspensa, e gastei alguns bons minutos à procura do pequeno bloquinho de notas que sempre carregava comigo.
Quando finalmente o achei, arranquei uma das páginas.
— Você tem uma caneta? — disparei.
Ele me encarava desacreditado, mas ainda assim, por algum motivo, ele enfiou a mão em um dos bolsos e tirou de lá uma caneta dourada, muito brilhosa, daquelas muito caras e que tem a mesma finalidade do que todas as outras.
— Obrigada — respondi. — Agora vire de costas.
— Como?
— Apenas faça o que pedi!!!
Ele parecia hesitante.
— Vai chutar o meu traseiro ou coisa assim?
Eu revirei os olhos e o segurei pelos braços para girá-lo em minha frente. Tempo o suficiente para avaliar o material.
Ele ia servir muito bem!
Apoiei então o pequeno papel em suas costas e rabisquei o que queria. Quando o homem se virou de frente para mim, entreguei o bilhetinho a ele, e abri uma foto no meu celular.
Quando estava prestes a explicar meu plano a ele, controlei-me por um momento.
— Espera aí. Você é solteiro, não é?
— Sou, mas... — disse ele, analisando os números no papel que tinha em mãos. — Você não.
— Não seja nojento! — retruquei com uma careta. Com a mão empunho, desferi um soco no ombro que ele encolheu em resposta. — Essa é a garota para quem você vai ligar.
Exibi pra ele a foto da minha amiga na tela.
— Mas precisa esperar três dias porque durante esse tempo. Siga essa instrução! É muito importante.
— Hum... e por quê?
— Ora, por quê! Porque este é o tempo que eu vou passar aqui com ela. E não pretendo dividi-la com você. Você é novato!
— Devo entender que eu não tenho escolha? — disse ele, com um sorriso no rosto enquanto encarava a fotografia que esclarecia que não seria nenhum sacrifício.
— Digamos que é uma maneira que encontramos para você se desculpar.
— Tá bem — deu de ombros, o espertinho, visivelmente agradecido.
— Agora tchau — disparei, mais um revirar de olhos enquanto ele comemorava discretamente.
Depois de quinze minutos perdida, após abandonar o viajante e ter esquecido da minha necessidade de ir ao banheiro, finalmente encontrei o portão de desembarque.
Lá estava ela, linda. Os cachos sobre os ombros enquanto encarava o relógio.
— Mila! — chamou-me, e logo desviou os olhos para minha blusa manchada. — Oh, meu Deus! O que foi que houve?
— Ah — comecei a explicar, fazendo-me de desentendida. — Digamos que fui atropelada por um cavalheiro errante.
— Tá bem — respondeu ela de cenho franzido, e me cumprimentou com um abraço apertado.
Saímos do aeroporto de braços dados e, quatro dias depois, quando eu já estava de volta à minha casa, recebi uma mensagem de texto de um número desconhecido.
Em anexo, uma imagem que tinha como pano de fundo uma sala de cinema, no centro, a figura do cavaleiro errante com uma princesa bastante familiar ao seu lado.
Fim.
😄
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