Capítulo Vinte e Sete - Odeio querer você
Heloyse
O tempo em que eu estava fora, pedi para Ashley abrir novamente a cafeteria. Eu estava tranquila com o meu empreendimento. Confiava plenamente em Diana, a moça que ela colocou como gerente.
Durante os meses que fiquei aqui, eu depositei o dinheiro das contas domésticas. O que não era muito, já que minha casa tinha ficado fechada. E uma vez no mês, Margot fazia a faxina.
Tudo parecia caminhar para a perfeita harmonia, pelo menos nessa área, porque os meus sentimentos mentos estavam uma grande bagunça. Eu precisava tomar um rumo na minha vida e isso, significava organizar minha vida sentimental.
Cielo e Thom eram como pais para mim. Eu não queria ir embora. Eu sentia falta de ter uma família e eles preenchiam essa falta que eu sentia.
Eu também não queria voltar para casa porque tinha medo de encontrar Michael e tudo o que pensei não existir mais, está lá, adormecido. E se, quando eu o visse, eu descobrisse que ainda o amava? Isso seria possível?
Por outro lado, ficar aqui, também tinha seus riscos. Ter Will por perto, iria dificultar meus planos de esquecê-lo.
Mas, durante esse tempo, nos vimos tão pouco, que eu estava convicta que poderia esquecê-lo facilmente.
Respirei fundo e me concentrei no que estava fazendo.
- Você vai acabar caindo e quebrando alguns ossos.
Eu dei um sobressalto quando ouvi aquela voz.
Eu havia subido em cima da árvore para poder colocar um filhote de passarinho dentro do ninho. Pobrezinho estava tão molinho que achei que talvez, não sobreviveria.
O dono da voz ficou com as mãos na cintura me olhando como se eu fosse uma fruta prestes a estatelar no chão. De fato isso aconteceria se eu ficasse por mais alguns minutos ali. Nunca fui uma pessoa coordenada. Subi em árvores não era meu forte.
Eu desci desastradamente e me perguntei como eu não tinha ouvido ele e seu cavalo chegando.
O dono da voz tinha os cabelos escondidos debaixo de um chapéu e a roupa bem surrada. Will O'Connor não ficaria feio nem se estivesse vestido de sacos.
- O que está fazendo aqui?
- Eu fui até a casa dos Ferrel e não tinha ninguém lá.
- Eles foram almoçar na casa dos pais do Jeremy.
- E você? Por que não foi?
- Eu não achei que minha presença seria necessária.
Nas últimas semanas, eu tinha estado ocupada. Planejei comprar a casinha de madeira e um pequeno pedaço do terreno, mas, Thom não permitiu. Ele simplesmente disse que a casa já era minha e me ajudou com a cerca em volta. Estivemos trabalhando duramente. Fizemos reparos na casa, pintamos as portas, janelas e fizemos uma cobertura para a caminhonete.
- Ficou bonito o trabalho que fizeram aqui.
Will olhou para o lado e apontou para a casa.
- Ficou sim - eu disse colocando as mãos nos quadris. -Você deseja mais alguma coisa?
Ele olhou para o alto da árvore, onde eu havia estado. Depois olhou pra mim e sorriu.
Deus, como podia alguém quebrar o outro, apenas com um sorriso?
- Se eu não tivesse chegado, talvez você estivesse estatelada no chão e não haveria ninguém para ajudá-la.
Era nítido que ele queria puxar assunto e infelizmente, ele estava fazendo de forma errada. Ao invés de querer conversar com ele, eu apenas sentia uma irritação pela forma como ele falava comigo. Parecia que eu era algum tipo de piada para ele.
- Então, obrigada por salvar minha vida.
Passei por ele e fui em direção a casa. Lá dentro, abri a geladeira, tirei uma jarra de suco e me servi. Dei um gole e fiquei atenta aos seus passos.
Mesmo de costas, eu sabia que ele estava atrás de mim, então me virei, encostei-me a pia e o encarei.
Visivelmente sem jeito, Will cruzou os braços e virou o rosto em direção à janela.
- Aquele dia...
- Eu tento esquecer aquele dia... Todos os dias - eu o interrompi.
Ele assentiu com a cabeça, bem devagar.
- Me desculpe por aquilo. Eu não ia bater em você, se é o que pensa. Jamais bati em uma mulher. Não suporto homens que fazem isso.
- Agradeço por deixar isso bem claro, mas, isso não muda o idiota que você é - Will me encarou e depois respirou fundo. - Por que você age assim comigo? Eu não entendo porque você é assim. Você mal me conhece, mas, parece me odeia, outras vezes, parece que... - parei antes de concluir. - É estranho... Você é estranho!
- Eu sei - disse me olhando - A maneira que me comportei não foi certa. Eu poderia simplesmente ter deixado você ir. Poderia ter proibido sua entrada na fazenda ou qualquer coisa, só não poderia ter te tratado você daquele jeito.
"Estamos chegando a algum lugar, O'Connor."
- Calvin disse que você queria me afastar. O que ele quis dizer com isso?
- Nada que faça sentido. Calvin, às vezes, fala umas coisas que nem eu entendo - ele franziu o cenho. - Você e Johnson estão saindo?
- Não entendo como isso possa te interessar - eu disse, em seguida bebendo o resto de suco.
- Eu não entendo como pode sair com um retardado igual Johnson.
- Primeiro, é visível que você é péssimo em mudar de assunto. Segundo, ele não é retardado. É um cara bondoso, prestativo e respeitador. Muitos homens deveriam ser como ele.
- Idiotas? - perguntou com a expressão de deboche.
- Não! Homens! Homens de verdade, tratam uma mulher com carinho, respeito e tudo mais. Você entende do que estou falando, não é, William? - sua expressão ficou séria e vi seu maxilar retesar. - Você quer suco?
- Não, Heloyse! Quero apenas que pare de sair com o Johnson.
Então, com força, bati o copo na pia.
- Você não quer nada! Você não exige nada! Porque você não é nada meu!
Will O'Connor aproximou-se de mim tão rápido, que dei um sobressalto.
Eu pressionei minhas costas contra a pia, enquanto ele me cercava com seus braços.
Devido à sua altura, eu tive que levantar minha cabeça para olhá-lo. A proximidade era tão grande, que podíamos ouvir a respiração um do outro.
- Eu me pergunto se ele sabe como tocar em você.
- Talvez ele saiba - eu menti.
- E ele faz você se sentir satisfeita?
- Sim - falei um pouco baixo.
- Mentirosa! Se está tão satisfeita com ele, por que anseia tanto que eu te toque?
- Não desejo que me toque - eu estava começando a ofegar.
- Seu corpo não diz isso. Seus lábios entreabertos esperando que eu te beije, não diz isso.
Havia momentos em que minha boca não entrava em um acordo com meu cérebro. Quando isso ocorria, eu sempre falava o que não era certo.
- Então você terá que resolver isto.
"O que eu fiz?"
Will jogou tão rapidamente seu chapéu no chão, unindo em seguida, nossos lábios de uma forma tão sublime, que eu quase esqueci quem eu era. Esse beijo era diferente. Havia sentimentos.
Aquele era o melhor beijo da minha vida, porque era ele quem me beijava. E aquele era o pior beijo da minha vida, porque eu sabia que acabaria a qualquer momento.
O meu sangue fervia.
Will me beijava.
Will me punia.
Will me controlava apenas com um beijo.
Will me queria tanto quanto eu o queria. E isso me fascinava. Aquele beijo era a prova da falta que eu tinha dos seus lábios.
Ele subiu suas mãos pela minha cintura e levantou um pouco a minha blusa. Eu senti sua mão sobre minha pele e suspirei na sua boca. Aquilo era muito pra mim.
Ele me apertou mais a ele, intensificando o beijo. Quando nos separamos, algo havia mudado em nós.
- Lisy, eu...
Will afastou seus lábios dos meus e apoiou as duas mãos na pia. Eu continuava cercada por ele. Nossas respirações estavam ofegantes e os lábios avermelhados. Nossas bocas abertas, confusas, sem saber se deveriam se tocar novamente ou respirar.
Ele abaixou sua cabeça, como se tivesse sido um erro me beijar.
- Eu preciso ir.
Me olhou por alguns segundos e deu as costas, indo em direção à porta.
Uma hora ele me queria, em outra, simplesmente voltava a ser o idiota de antes.
- Eu o odeio, William. E me odeio mais ainda por sempre deixar que você faça isso comigo.
- Isso o quê, raio de sol? - falou parado à porta e ainda de costas.
- Me beijar como se tivéssemos algo e depois você deixar bem claro que não há nada entre a gente.
- E não há!
- Imbecil! Você não pode dizer essas coisas. Não quando me beija como se eu fosse algo que você deseja.
- E você é.
- Então, por que você mostra o contrário? - perguntei, sentindo meu coração acelerado.
Batia descontroladamente.
Will se virou e lentamente caminhou até mim. Chegou tão perto, que fechei os olhos na expectativa de que ele me beijaria novamente. Mas, para a minha decepção, ele não o fez.
Will acariciou o meu rosto e quando abri meus olhos, ele me olhava tão intensamente. Eu observei aqueles olhos verdes me olharem com tanta emoção, que pedi a minha mente que guardasse aquela imagem para o resto da minha vida.
- Lisy...
- Eu não entendo por que você se afasta de mim. Will, nós...
- Eu tenho que ir.
- Por quê? Por que você é assim? É tão insuportável ficar perto de mim?
- Pelo contrário. É extremamente delicioso, ficar perto de você - ele disse com os lábios perto dos meus.
- Eu juro que não entendo você.
- Não tente. Não queira saber como eu sou.
Eu coloquei minha mão em seu peito, sobre a camisa e subi lentamente para o seu pescoço, até tocar em sua barba por fazer. Delicadamente, toquei seus lábios e Will pegou minha mão e a beijou.
Seus braços fortes me envolveram enquanto eu inalava seu cheiro. Ele beijou o topo da minha cabeça e ficou quieto, abraçado a mim. Eu só queria estar ali.
"Era como estar na chuva e de repente, achar meu abrigo."
- Eu jamais serei um cara bom pra você.
- Por que você acha isso?
- Porque é a verdade, Lisy. Imagine um cara como eu, tendo uma namorada, esposa, filhos... Eu iria ferrar com tudo. É como uma maldição. Eu serei mais um imbecil acabando com a vida de alguma mulher.
- Isso não é verdade. Eu não entendo. Por que não me conta o que acontece com você? Talvez se você se abrir...
- Não! - ele disse se afastando de mim. - Eu não tenho nada pra contar. Apenas sei que eu jamais seria alguém bom pra você. Pra ninguém!
Ele foi até onde estava seu chapéu, colocou-o na cabeça e saiu, sem ao menos olhar para trás.
Eu fiquei parada, olhando na esperança de vê-lo voltar e me abraçar. Mas, ele não fez. E mais uma vez, eu me vi diante dos mesmos sentimentos que enfrentei quando Michael me deixou. Eu me sentia rejeitada.
Então corri até a porta e quando ele já tinha sumido da minha visão, fechei-a com todas as minhas forças. Coloquei minhas mãos sobre a cabeça e deixei as lágrimas caírem.
Por que todos iam embora da minha vida?
Deitei no sofá e fechei os olhos. Agora eu estava sem forças para emitir qualquer som. Apenas deixei minhas lágrimas rolarem pelo meu rosto, silenciosamente.
Eu estava exausta. Tanto que adormeci.
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