Capítulo Vinte e Quatro - Vazio
William
Thom estava parado a minha frente. O rosto vermelho e com alguns pingos de suor escorrendo. Em todos esses anos, nunca o vi tão furioso.
- Sente-se!
- Não quero me sentar, hombre . Eu só quero que me explique o que aconteceu.
- Não sei do que está falando.
- Não se faça de tolo. Você sabe muito bem do que estou falando. Eu quero que me diga por que a tratou daquele jeito e que merda está acontecendo entre vocês dois.
- Quem o contou?
- Coley me disse.
- Preciso colocar um freio na língua dele. Não o pago para fazer fofocas.
- Vai me responder ou não?
- Não há nada entre nós dois. E eu jamais bateria em uma mulher.
- Eu sei disso! Por que agiu daquele jeito?
- Eu não sei. Eu só me sinto irritado perto dela. A voz dela me irrita e tudo o que ela diz. O cabelo dela, o jeito dela andar... Tudo nela me deixa estranho, no limite, e você deve achar que estou louco - eu disse, passando as mãos nos cabelos.
- Si, eu acho. Mas, já vi muitos hombres sofrerem dessa loucura.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que você não está sabendo lidar com seus sentimentos. Está louco de raiva porque até aqui, tem mostrado para todos, o hombre forte que você é. No entanto, quando ela está perto de você, se torna fraco. Está irritado porque está apaixonado por ela e não sabe como agir com seus sentimentos.
"Que idiotice."
- De onde você tira essas coisas, Thom? Começou a ler livros de romance? - falei com desdém - Nunca ouvi tanta besteira. Eu não estou apaixonado por ela. Eu tenho as mulheres que eu quero.
- E nenhuma esquenta sua cama nas noites solitárias. E isso é triste.
- Por quê? Eu gosto de viver a minha vida do jeito que é. Além do mais, não sei o que ela tem para que você ache que vou morrer de amores por ela. Isso chega a ser cômico.
Thom olhou para mim por um breve momento, caminhou até a porta e parou. Ainda de costas, ele colocou o chapéu na cabeça e virou o rosto apenas para que eu pudesse ouvi-lo perfeitamente.
- Sabe o que ela tem, Will? Ela tem vontade de viver, de ser feliz. Não destrua isso dela.
Quando Thom saiu, eu olhei para a enorme sala onde eu estava. E por mais que a fazenda estivesse cheia de empregados, eu achava que ali era o lugar mais vazio do mundo. Ou talvez, aquele lugar vazio, fosse eu.
À tarde, tudo seguia tranquilamente.
Calvin falava comigo quando necessário e estranhamente, aquilo me incomodou. Ele sempre trazia notícias da cidade ou contava alguma coisa que envolvesse os vaqueiros que ele supervisionava.
Mas agora, o que eu via ali, era um homem calado, com olhar perdido enquanto escovava o pelo de Diamante.
Eva também estava diferente. Não se preocupou se eu comi ou não, nem me recebeu com um bom dia caloroso que ela sempre me dava, acompanhado de um beijo no rosto.
Incomodado! Era assim que eu estava.
De repente, a frase "perder para dar valor", veio a minha cabeça. Era isso que minha mãe dizia para o meu pai, toda vez que ele me batia.
Eva e Calvin cuidaram de mim, mesmo depois que Wallace me trouxe para cá. Eles já não tinham nenhuma obrigação comigo, ainda assim, cuidaram de mim.
Droga! Como era difícil reconhecer que eu estava sendo um enorme imbecil com eles.
Eu me aproximei dele e alisei o pelo de Diamante.
- Bill está interessando em um dos cavalos - eu disse.
- Isso é bom.
- Eu gostaria que você o levasse até o estábulo da área oeste e mostrasse os quarto de milha.
- Claro, patrão.
Ele não era meu empregado.
- Depois, precisamos abastecer os armazéns. O caminhão chegará daqui à uma hora, mais ou menos.
- Hu-hum.
Isso estava difícil.
- Olha, você sabe que não sou bom com palavras...
- Não entendo o que o patrão está querendo dizer.
- Não me chame assim - eu resmunguei.
- Então me desculpe, William.
- Calvin, por favor, pare!
Ele parou de escovar os pelos do cavalo e me olhou.
- Parar com o quê?
Soltei uma longa respiração
- Tudo bem... Eu fui um imbecil. Me perdoe!
Ele voltou ao que estava fazendo anteriormente e levou alguns segundos para falar comigo.
- Não precisa pedir perdão.
- Sim, eu preciso.
- Se precisa, então está perdoado.
- Não vai me dar nenhum sermão?
- Você ouviria?
A resposta era "não", mas, eu não disse, apenas fiquei calado.
- Todos esses anos, eu tenho tentado fazer você enxergar algo bom na sua vida. Enxergar o homem que se tornou e eu sinto que tenho fracassado.
- Calvin...
- Pare e me escute! - e então ele continuou -: Eu sei que seu avô o amou muito e eu sei que você também o amava. Antes de ele morrer, ele pediu que eu continuasse cuidando de você. Mas, se faço isso, não é porque prometi a ele, é porque desde quando eu o vi, William, indo para a escola e você parou para olhar aqueles bolos na vitrine da padaria, meu coração doeu. Você tinha fome, lembra? Então eu prometi que sempre que pudesse, eu iria naquela padaria e compraria algo bem gostoso para você comer.
- Por quê? - perguntei após soltar uma longa respiração. - Eu nunca entendi o porquê de você ser tão bom comigo.
- Eu estava cansado de me sentir um fracassado e precisava me sentir útil. Não que você fosse um tipo de projeto, mas, Eva e eu, nunca tivemos filhos. E o problema nunca foi ela. O problema sempre fui eu. Ela chorava tantas noites. Não podia segurar algum bebê, que ela não controlava as lágrimas e aquilo me machucava - colocou a escova dentro do balde e cruzou os braços. - Eu não sabia o que era ser o pai de alguém. Então Wilson fazia todas aquelas coisas e eu me perguntava por que homens como ele, podiam ter mais do que eu. Ele não merecia você. Ele não sabia dar valor. Foi aí eu prometi que faria por você, o que um pai faria por um filho. Você não imagina a alegria que me dava quando você ficava feliz, quando tomava um sorvete ou comia um pedaço de bolo. E, eu sofria quando você sofria pela sua mãe. Eu vi em você, a oportunidade de ser útil, de me sentir um pai. Vi a oportunidade de ver Eva sorrir, toda vez que o via. Vi a oportunidade de tentar amenizar seu sofrimento.
Eu podia ver seu olhar vagando nas lembranças. Eu também tinha esse olhar perdido todas as vezes que me recordava daqueles dias.
- Quando não tínhamos noticias suas, ficávamos com o coração apertado. E quando aquilo aconteceu com você, eu não pensei duas vezes ao leva-lo para casa. Mas, o Will que eu conhecia já não existia mais e nem por isso, eu deixei de vê-lo como um filho. Os anos passaram e você se tornou o herdeiro O'Connor e fiquemos felizes por você. Todavia, não consegui fazer você entender o quanto é especial. Não consegui te dar a paz que você precisa e não consegui fazer você se sentir amado. Eu fracassei e Deus sabe que eu tentei não fracassar.
Eu não conseguia falar. Algo me sufocava. Apenas respirei fundo, coloquei a mão em seu ombro e com boca aberta, tentei soltar as palavras, porém, todas elas estavam presas em algum lugar.
- Não fracassou - foi a única coisa que saiu dos meus lábios.
Calvin sorriu tristemente, então tirei minha mão de seu ombro e saí.
Eu precisava respirar.
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