Capítulo Trinta e Seis - Algumas surpresas
Heloyse
- Antes de vir para a fazenda, eu morava no Green Park, aqui mesmo, no Texas. Éramos eu, minha mãe e o... - ele franziu o cenho como se estivesse escolhendo as palavras - meu pai. Nossa casa ficava do lado da casa dos Mitchell - Will respirou fundo como se alguma cena se passasse em sua cabeça. - Depois que minha mãe morreu, eles tomaram conta de mim.
- Eles? Mas e o seu pai?
Ele cruzou os braços e me olhou por alguns segundos até responder.
- Meu... - ele disse novamente franzindo o cenho - ele não estava em condições de ficar comigo. E depois de uns anos, ele morreu.
- Oh, sinto muito.
- Foi há muito tempo.
- Ainda assim, sei que você deve ter sofrido muito.
Ele assentiu devagar.
- Mas se Calvin e a Eva tomaram conta de você, quando seu avô te procurou?
- Wallace O'Connor, não era meu avô de verdade. Para falar a verdade, antes de meus pais morrerem, eu nem sabia quem ele era.
- Não? Mas então...? Então por que você se chama O'Connor? Como herdou tudo dele? - eu estava bem surpresa com o que Will disse e depois me arrependi e fiquei tímida diante da minha curiosidade. - Aí meu Deus, desculpa! Isso não é da minha conta.
- Todos aqui sabem que eu sou o filho adotivo dele. Houve um período em que o banco tomou nossa casa e colocou a venda. Eu não conhecia os parentes da minha mãe. Ela não nasceu no Texas. Minha mãe nasceu em Los Angeles. Conheceu meu pai lá, quando ele viajava por aí, trabalhando em obras. Ele nasceu aqui no Texas e minha mãe veio morar com ele. Pelo o que sei, minha mãe rompeu contato com os parentes dela. O meu avô paterno não se dava bem com o filho dele... O meu pai... - disse enquanto esfregava as mãos no tecido da calça jeans - E, ele tinha problemas com a justiça. O que foi um alívio, porque eu não precisei morar com ele - Will deu uma pausa e depois continuou. - E nem ele me queria. Mas enfim, o meu avô biológico morreu também. Fiquei sabendo quando eu já tinha dezesseis anos. Resumindo, eu não tinha mais ninguém que fosse da família, para cuidar de mim.
- Quantos anos você tinha quando foi adotado?
- Quatorze.
- Por que os Mitchell não o adotaram? E como você morava com eles se não eram da sua família?
- Eva trabalhava fazendo faxina na casa do prefeito e ele ajudou, conseguindo permissão para que eles ficassem comigo, então, não precisei ir para um orfanato. Nessa época eu tinha oito anos. Meu pai ainda não tinha morrido e a lei não permitiria que eu ficasse com ele. Além do mais, ele estava desaparecido. Então, a condição era que eu ficasse com eles até que alguém me adotasse. Eles queriam me adotar, mas, sempre dão preferência a quem tem mais condições para cuidar de uma criança. A condição financeira deles, na época, não contribuiu para que isso acontecesse. E tempos depois, Wallace me adotou.
- Ele não tinha filhos?
- Seus dois filhos morreram. Um deles, Richard, pisou em uma mina, quando estava no exército. Ele era fuzileiro. Em seguida, Ruth, morreu queimada em uma plataforma de petróleo. Wallace nunca entendeu os filhos. Eles viviam e trabalhavam como pessoas simples, mesmo sabendo que tinham uma fortuna para desfrutarem. Quando seus filhos eram pequenos, sua esposa morreu com um câncer no pulmão. Depois de anos na solidão, decidiu adotar uma criança - eu continuei ouvindo atentamente. - Nós dois perdemos as pessoas mais importantes das nossas vidas. Ele me entendia. Assim que me adotou, deu emprego para Eva e Calvin e viemos todos morar aqui.
- Mas se você vê os Mitchell como seus pais, por que os mantêm trabalhando?
- Wallace não os via como empregados. Na verdade, Calvin quis trabalhar aqui. Wallace ofereceu uma casa para eles, um veículo e muitas outras coisas, porém, eles não aceitaram. Só aceitariam se eles trabalhassem. Depois que Wallace morreu, pedi que parassem de trabalhar, mas, eles se recusaram. Eva diz que isso é uma forma de cuidar de mim. Na verdade, quem administra a minha casa, é ela. E Calvin ama o que faz. Não consegue ficar longe disso.
- Estou surpresa com tudo. Você realmente via Wallace como seu avô?
- Nenhum dinheiro no mundo pagaria o que ele fez por mim. Às vezes, olho para aquela poltrona e o vejo, fumando seu cachimbo enquanto ouvia músicas em seu radio de pilhas. Era um bom homem. Sua bondade era infinita e isso fez com que eu o considerasse cada dia mais. Eu olho para essa fazenda como se eu estivesse aqui desde sempre. Eu amo este lugar e isso só foi possível, graças a ele. E eu daria tudo para ter meu avô aqui comigo.
Eu me sentei perto dele e observei seu olhar perdido, olhando a poltrona. Estava perdido em algum lugar das suas memórias.
Coloquei minha mão sobre a sua e foi aí, que ele notou que eu havia me aproximado. Ele ficou imóvel observando minha mão sobre a sua.
- Você chama Eva de mãe - comentei.
- Algumas vezes, sim.
- Por que não chama Calvin de pai, ou mesmo Wallace?
Eu vi seu maxilar retesar. Will se levantou rapidamente.
- Eu... - ele passou a mãos nos lábios em um gesto nervoso - Acho que falei de muito. Não posso continuar com esse assunto.
Eu continuei sentada. Não entendia porque ele tinha mudado de repente.
- Me perdoa...
- Não... Eu que peço perdão. Eu só não quero falar sobre isso.
- Eu entendo, Will. Tudo bem - eu disse me levantando. - Eu vou embora...
Ele se aproximou, segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou. O beijo foi moderado, ainda assim, fez com que acendesse todo o desejo em mim. Eu aproveitei para fazer o que eu mais queria. Eu passei a mão em seus cabelos macios. Ele parou de me beijar e enterrou o nariz em meus cabelos, puxando todo o ar.
- Você tem um cheiro bom, raio de sol.
- Por que você me chama de raio de sol?
- Porque você é um. Simples assim.
Ele voltou a atenção para meus lábios e me beijou novamente. Minutos depois, estávamos recuperando o ar.
- Eu ainda quero te levar para conhecer a fazenda - sua voz era grave e ofegante.
Eu apenas balancei minha cabeça.
***
Will me levou ao estábulo e colocou a sela em Diamante, depois me ajudou a subir no cavalo.
Enquanto seguíamos pela propriedade, permanecemos calados, apreciando nossos corpos colados um ao outro. Eu estava sentada à sua frente, com a cabeça apoiada em seu peito. A sensação era de intimidade. Parecíamos um casal de namorados, fazendo coisas rotineiras.
Ele me levou para ver o gado. Eram inúmeros bois que corriam enquanto ao longe, oito homens em seus cavalos, os cercavam. Havia também, um grupo de cães border collie que pulavam alegres quando Will se aproximou. Sony, aquele cachorro que me assustou perto do celeiro, veio correndo de encontro com ele.
Fizemos carinho nele, depois montamos novamente o cavalo. Will contou sobre os grandes torneios que participou em Dallas. Falou dos prêmios que ganhou, tanto com Diamante, quanto com Imperador, o cavalo que eu o vi treinando no haras.
Enquanto conversávamos, passamos perto de um pomar e ao longe, eu vi uma imensidão de terra. Parecia que não tinha fim. Um pedaço da terra parecia ter sido pintado de lilás, devido à plantação de lavanda.
- Você tem uma fazenda ou um pequeno país?
- Quase isso. São dois mil e noventa e oito quilômetros quadrados e se estendem por quase sete condados.
- Você está brincando? Isso é terra para não acabar mais. Então você é um fazendeiro cowboy, podre de rico que se veste como se não tivesse grana para comprar camisetas que não estão desbotadas?
- Você queria o que, Heloyse? Que eu colocasse gravata para tocar o gado? - ele riu. Eu sorri e continuei atenta a tudo o que ele falava. - Aqui, temos dois complexos principais - ele apontou para lado sul -, sete mil cento e quarenta cabeças de gado. Centenas de casas, vinte e três alojamentos para cowboys - apontou em outra direção -, armazéns, quinhentos e vinte cavalos quarto de milha, fora cavalos selvagens, appallosa e paint horse. Quatorze mil hectares de área cultivada, mais de mil poços de petróleo, uma fauna que inclui aves aquáticas, cervos, javalis e outros animais. Tem plantações de algodão, lavanda, esse rio, lagos, riachos e hectares não explorados.
- Minha nossa! Você me dá um tempo para processar? Eu estou tentando avaliar quais países cabem aqui.
Ele riu e guiou o cavalo de volta para o estábulo. O dia estava tranquilamente bem e eu esperava que continuasse assim.
Chegando ao estábulo, alguém esperava por Will. Eu fiquei tensa e vi que ele também estava.
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