Capítulo Quarenta e Cinco - O teimoso Thom
William
- Eu tenho o dinheiro que precisa. Você sabe disso!
- Eu sei, Will. Mas, já o devo. Não posso entrar em outra dívida.
- Então que tal esquecer a dívida anterior? Eu liberto você dessa responsabilidade e você pode se concentrar em me pagar esta nova.
- É claro que você me libera. Se dependesse de você, hombre, eu nem estaria devolvendo o dinheiro. Você é muito bom, Will. Mas, não posso ficar sugando você toda vez que tenho problemas financeiros.
Thom era bem teimoso. Nada o faria mudar de ideia. Ele estava passando por alguns problemas na fazenda e não aceitava que os tempos tinham mudado e precisaria modernizar a forma em que tocava seu negócio.
- Você não me suga, Thom. Não sei de onde você tira essas coisas. Além do mais, vocês são meus amigos e amigos são pra isso mesmo. A gente ajuda um ao outro.
- Eu agradeço, Will. Eu agradeço por nos considerar tanto assim. Não sabe o quanto fico feliz. Se Martin estivesse aqui, ele também ficaria feliz em ouvir isso.
Eu balancei minha cabeça.
Por várias vezes eu senti falta de Martin. Perdê-lo foi como perder um irmão. E sempre que Thom falava dele, era muito doloroso.
- Prometo que vou pensar na sua proposta.
Thom limpou as mãos sujas na sua calça de sarja gasta e bateu as botas surradas na intenção de sacudir a poeira.
Já montados em nossos cavalos, Thom cantarolou algo sobre a vida e o trabalho duro. Ele sempre inventava algo para cantarolar.
Ainda era de manhã e o dia já estava exageradamente quente.
Passou-se um mês desde que Heloyse e eu voltamos do chalé. Era estranho sentir a falta dela.
Quem diria? Há alguns meses se alguém me dissesse que eu iria sentir uma vontade louca de estar apenas com uma mulher, eu daria risada. Estranhamente, quero estar com ela a todo o momento.
"Estranho" era a palavra certa.
Mesmo com toda a falta que eu sentia, às vezes, eu não demonstrava isso a ela. Eu não era bom com essas coisas.
- Você irá ver Lisy, hoje?
- Sim, eu vou.
- Eu quero que saiba que estou feliz por vocês. Eu não tinha tido tempo para dizer isso pessoalmente. Quero que saiba que, aprovo este namoro de vocês...
- Mas...?
- Eu só acho que você também deveria mostrar a ela que está feliz com o que vem acontecendo entre vocês.
- Eu estou feliz.
- Eu sei, Will. Eu sei por que eu o conheço, mas, Lisy, não. Ela precisa que você mostre isso.
- Eu sei. Eu só não sei como fazer isso. Mas, não é como se fossemos nos casar, então tenho tempo para aprender.
- Pretende algum dia casar-se com ela?
- Não! - eu disse com uma exagerada afirmação.
A conversa não me agradava. Eu podia estar sentindo tantas coisas por ela, mas, o fato de me casar com alguém, ainda era algo novo. Era tudo tão recente. Casar? Não era bem isso que eu tinha em mente.
- Entendo. Aprecio sua sinceridade. E espero que esteja usando esta sinceridade com ela.
- Eu estou - pelo menos eu achava.
Thom concordou com a cabeça e acelerou os passos do cavalo.
- Veja Will, o problema do moinho é que ele tem quase a minha idade. Daqui uns dias o pobre não aguentará mais o tranco.
Eu o agradeci em minha mente pela mudança de assunto e disfarçadamente soltei uma longa respiração.
- Você pode até ser velho, mas, é forte.
- Talvez.
- Eu vou pedir para Calvin e alguns homens vir aqui dar uma olhada no moinho. Com certeza eu tenho tudo de que precisa.
- Obrigado. Sua ajuda é bem recebida.
Thom deu uma parada brusca com seu cavalo e se inclinou um pouco para frente.
- O que você tem, Thom? O que está sentindo?
- Nada... Nada...
- O que está acontecendo?
- Nada!
- Não minta pra mim, homem. Você não está bem, eu não sou burro.
- Eu apenas sinto um pouco de tontura. Eu não tomei café. Apenas isso.
- Você já tinha sentindo isso antes?
- Não... Bem... Talvez, uma vez ou outra.
- Eu acho que você deveria ir ao médico.
- Eu tenho que resolver a questão do moinho e preciso cobrar o dinheiro que os...
Thom parou assim que uma tosse seca se iniciou. A respiração estava ofegante, o rosto pálido e coberto por suor. Ele tirou o chapéu e limpou o rosto com a mão. Tossiu mais um pouco e depois olhou pra mim.
- Não faça essa cara. Eu não vou morrer. Apenas não tomei café.
- Então acho que deveríamos voltar.
- Si, vamos!
Thom realmente não estava bem e ele sabia disso.
***
- Meu Deus, você está pálido, Thom. O que houve?
Cielo fez a pergunta olhando pra mim. Certamente, conhecendo a teimosia do marido, sabia que ele iria explicar da forma mais vaga possível.
- Estou bem, mulher!
- Ele teve tontura. Disse que não tomou café da manhã - eu disse, prestando atenção na respiração rápida que Thom soltava.
- Eu falo pra ele, Will... Eu falo pra ele tomar café direito. Mas esse cabeça oca só pensa em trabalho. Eu amo muito este lugar e não me imagino vivendo em outro, só que às vezes acho que deveríamos vender isto aqui e ir para outro lugar. Não aguento ver o Thom se acabar de trabalhar.
- Meu Deus! Só foi um mal estar porque não tomei café. Agora quer vender a fazenda por causa disso?
- Se for para ver você tendo um momento de descanso, sim! E para de falar e vê se come.
Eu ouvi um barulho de passos e quando olhei para a porta, Heloyse estava lá.
- O que houve?
Ela estava de chapéu.
Oh, merda! Heloyse de chapéu era agradavelmente bom de ver. Ela ficava linda com qualquer coisa.
Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e continuou parada olhando para mim e então sorriu.
- Olá, Will!
- Oi!
- E então, vão me responder? O que houve? Sua cara não está muito boa Cielo.
- É que o Thom é um tremendo de um teimoso. Não nos ouve. Vê como ele está pálido? Eu disse para ele tomar seu café. Mas, não...! Ele tem que sair e ignorar o que eu disse.
Heloyse se aproximou de Thom e puxando uma cadeira, sentou-se ao seu lado.
- Você está pálido e sua respiração, muito rápida. Isso não é bom. Deveria ir ao médico.
Thom revirou os olhos e coçou a barba branca.
- Vocês mulheres são dramáticas, sabiam?
Cielo resmungou alguma coisa enquanto mexia nos copos. Não entendi direito, mas era algo sobre enforcar o próprio marido.
- Thom, eu o levo.
- Não precisa, Lisy. Eu estou bem - disse entre palavras e tosse.
- Isso não é "estar bem", Thom. Você vai ao médico hoje, nem que eu te arraste pelos cabelos, seu velho bunda mole e teimoso.
Eu queria rir quando vi Cielo falando e apontando a colher de madeira na cara dele. Mas, o assunto era sério e seria falta de educação.
Heloyse não era educada. Eu vi o canto da sua boca se formar em um pequeno sorriso e eu acabei rindo também.
- Está bem, Katherine! Está bem!
- Acho bom mesmo.
- Mas primeiro vou tomar meu café e vou tomar um banho antes de ir. Estou fedendo igual porco no chiqueiro.
- Está bem - ela disse um pouco mais aliviada
Thom deu um gole em seu café e nós o acompanhamos.
Minutos depois, ele se retirou.
***
- O que você acha que ele tem?
Heloyse encostou-se à árvore e cruzou os braços enquanto esperava pela minha resposta.
- Eu não sei. Não acho que isso seja só cansaço. A palidez e aquela tosse, é que são preocupantes.
- Também achei. A tosse me chamou a atenção - ela disse.
Descruzou os braços e colocou as mãos dentro dos bolsos da calça jeans. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu era um maldito cara de trinta e um anos que tinha dificuldade de puxar uma conversa.
- Senti sua falta.
A sua voz enviou ondas elétricas por todo o meu corpo. Eu queria beijá-la. Não só sua boca...
- Também, raio de sol.
Eu me aproximei. Então minha mão envolveu sua nuca e puxei-a para um beijo. Um beijo necessitado. Minha boca sentia a falta dela, assim como minhas mãos e meu corpo.
- Eu queria poder tocar em você, Heloyse. Se eu pudesse, ficaria o dia todo apenas tocando você.
Ela gemeu quando nossas bocas se tocaram, novamente. Uma sensação selvagem de toma-la ali mesmo, me invadiu de forma bruta e se continuássemos nos beijando por mais alguns segundos, eu cumpriria o desejo da minha carne.
- Vamos sair daqui?
- E você quer ir aonde, cowboy?
Ela sempre arrancava um sorriso de mim toda vez que me chamava assim. Eu segurei sua mão e a levei próximo do meu cavalo, ajudando-a subir.
Sentir seu corpo na minha frente era tão prazeroso quanto senti-lo nu.
Heloyse tinha suas costas encostadas ao meu peito, o rosto levemente virado como se quisesse inalar meu cheiro. Seus lábios soltaram o ar quente da respiração e lentamente, tocaram meu pescoço.
- Não faça isso, senhorita, ou serei obrigado a parar e toma-la aqui mesmo, no meio do pasto.
- Oh, isso seria muito cruel. Uma senhorita não pode fazer estes tipos de coisas em lugares inapropriados, cowboy.
Um sorriso arteiro se instalou em sua boca, mas, eu não conseguia rir. Era impossível, já que meu desejo por ela só aumentava de forma dolorosa. Eu precisava me libertar.
Alguns minutos depois de cortarmos pela minha propriedade, chegamos ao rio. O rio em que nos vimos pela primeira vez.
- Eu adoro esse lugar. Você, não? - perguntava com a voz notavelmente feliz.
- Eu passei a gostar mais ainda.
Ela sorriu e começou a tirar as botas enquanto andava. O jeito desengonçado me fez dar risada. Ela era sexy mesmo quando cambaleava tentando tirar a bota.
- Hey, não dê risada seu idiota.
- Desculpe-me, senhorita. Mas você não é muito boa com suas botas.
- Não, eu não sou, mas, sou boa em corrida.
- Não creio.
- Devia. Vamos apostar?
- Não sou homem de apostas.
- Ora, ora... Será que vi alguém com medo de perder para uma pobre moça que não sabe tirar suas botas?
- Não tenho medo de nada. E eu posso até apostar, mas, se eu ganhar, quero meu prêmio na hora.
- Ok! E o que você quer?
- Se eu ganhar, vou querer possuí-la em minha cama, da forma que eu quiser.
- Possuir? Isso soou tão homem das cavernas, cowboy. Que feio!
- E você, caso ganhe, o que seria difícil, o que vai querer?
- Você terá que me levar para sair e bancar o cara romântico.
"Ela está lhe dando uma dica, Wil."
Eu parei um pouco, franzindo meu cenho e rapidamente, voltei ao normal.
- Tudo bem. Então, em sua marca!
- Ok, senhor O'Connor! No três, hein? Então... Três!
"Raio de sol trapaceiro."
Ela corria rindo e gritando ao mesmo tempo. Ela jurava que podia ganhar. Eu poderia dar isso a ela, porém, eu era egoísta e não queria perder meu prêmio.
Eu a ultrapassei e ela gritou, batendo o pé no chão como uma criança birrenta.
Eu explodi em uma risada quando vi sua atitude.
- Não vale! Eu estava descalça.
- E trapacear na contagem, vale?
- Eu disse "no três". Eu não disse "no um, dois e depois, três...".
- Então a culpa foi minha por entender errado?
- Isso mesmo!
Lisy sorriu lindamente para mim.
O calor do sol ardia em minhas costas e a água certamente estava agradável.
- Vamos nadar? - perguntei.
Levei o cavalo mais adiante em uma sombra.
Vi o momento em que Heloyse tirou suas roupas e permaneceu sob suas vestes de baixo. Fez uma pilha com as roupas retiradas e olhou em direção a mim. Eu me virei de costas, fazendo a mesma coisa. Ela correu e entrou na água.
Graças ao calor forte daquela manhã, a água estava em uma temperatura agradável. Depois de certo ponto, eu mergulhei, experimentando a deliciosa sensação da água no meu corpo.
- Isso está uma delícia, Will!
Depois de um tempo, estávamos deitados à margem, deixando nossos corpos secar com o calor do sol.
- Da próxima vez que você me jogar na água daquele jeito, senhor O'Connor, prometo chutar-lhe o que tem sob sua cueca.
Ainda rindo, eu sentei e fiquei observando-a.
- Eu adoro este lugar - ela disse após parar de rir.
- Era o lugar preferido de Martin. No verão, vivíamos aqui.
- Devia ser divertido.
- E era!
Próximo à hora do almoço, vestimos nossas roupas e montamos no cavalo.
- Patrão!
Coley, um dos empregados, estava a alguns metros de nós, montado em uma égua amarela a todo galope.
- Patrão!
- O que foi, Coley? - perguntei enquanto ajeitava as rédeas do meu cavalo.
- Que bom encontrá-lo, patrão. E a senhorita também. Estávamos procurando vocês.
- Por que estariam nos procurando? - ela perguntou com o rosto visivelmente preocupado.
- Calvin pediu pra mim e a alguns homens, que os encontrássemos. Dona Cielo telefonou.
- Cielo? Oh meu Deus, o que houve? -- ela perguntou.
- Acho melhor vocês falarem com Calvin, ele está no hospital...
- Como no hospital? Desembucha logo, Coley! - ordenei irritado.
- Bom... Dona Cielo disse que seu Thom sentiu fortes dores nas costas, no peito... Tudo indica que ele estava enfartando.
- Oh não! Oh não... Will, eu...
- Sim, eu sei. Vamos!
Meu coração estava acelerado e senti um grande nó na garganta. O que ninguém sabia, é que eu estava acostumado a mascarar meus sentimentos. Além do mais, eu não deveria deixá-la apavorada.
Já montados no cavalo, eu ouvi o soluço que ela soltou com seu choro silencioso. Era tão obvio o amor de filha que ela sentia pelo homem que a acolheu.
- E se ele morrer, Will? E se ele for embora da minha vida? Como meus pais, meu irmão e...
Ela não concluiu a frase. Ela ia falar o nome dele. De Michael!
Eu apertei a rédea com tanta força, que os nós dos meus dedos ficaram doloridos. Eu não podia naquele momento, demonstrar meu ciúme.
Quando descemos do cavalo, outro empregado veio de encontro, nos informando em qual hospital eles estariam.
Não dissemos uma só palavra durante o trajeto. Ela ainda tinha o brilho molhado nos olhos e os lábios tremiam quase imperceptíveis.
Eu coloquei minha mão sobre a sua, para acalmá-la. Ela acenou com a cabeça, mordendo os lábios e logo após, soltando uma longa respiração.
- Ele não pode morrer.
- Ele não vai, Lisy. Não vai!
Mais uma vez ela concordou com a cabeça e voltou sua atenção para estrada. Depois disso, não dissemos mais nada.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro