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1| amélia

[sexta-feira, 06 de Maio]


     AO LONGO dos meus dezassete anos — ignorando as quase 38 semanas do meu desenvolvimento embrionário —, aprendi que a combinação do desejo, força de vontade, esforço e tentativa não resulta necessariamente em êxito.

O resultado dessa combinação pode ser um estrondo horrível, ensurdecedor, de um mundo que se espatifa no chão e crava os estilhaços na sua pele como o lembrete do seu fracasso, dos erros, falhas e inutilidade.

Quando isso acontece, passam imensas coisas na cabeça como, por exemplo, um vislumbre distorcido dos possíveis motivos do desmoronamento. Depois chega a certeza de que as suas mãos são pequenas e inúteis para reconstruir com os cacos tudo o que antes se desfez. 

A dor não se torna diferente só porque viveu isso uma vez, ou talvez duas, e nem diminui porque tem noção de que vai falhar ou do motivo de não ter conseguido. Seja por algo ou alguém, uma derrota sempre vai doer como se fosse a primeira vez e fazer que, quando for dar o primeiro passo, dê três passos para trás. 

Respiro fundo, com a boca seca e a língua estranhamente dormente. A claridade do salão assusta os meus olhos nos primeiros segundos, o que me faz fechar novamente. A saliva é a pior coisa que se espalha em minha boca e engolir aumenta a minha ânsia de vómito, mas, porque não tenho opções, o faço uma… duas vezes seguidas. Toco o meu peito com os dedos, e tenho uma pequena vontade de empurrar os meus dedos para dentro dos meus ossos, mas só permaneço a fazer movimentos circulares, lentamente.

Parece inútil…

A dor no meu peito é quase como se alguém estivesse a martelar repetidas vezes com um martelo pontiagudo, mas se sentisse exausto de o tentar invadir com algo tão pequeno. No mínimo esse descaso faz com que a dor que antes sentia, seja uma lembrança que com alguns mais minutos poderá ser esquecida. Agora, maior é a minha vontade de me esconder num buraco e fingir que nunca tentei tudo isto. Ou, pior, que alguma vez acreditei que daria certo. 

Pisco algumas vezes, ainda a sentir que as lágrimas permanecem prontas para cair a qualquer segundo, o que faz que os meus olhos cheguem a arder um bocadinho e os meus lábios tremam como se sentisse frio. Entretanto, gradualmente  começo a identificar aquilo que está ao meu redor e, para a minha infelicidade, a vislumbrar que continuo no palco de Nova Santa Lúcia. E estar aqui, comprova que eu nunca estive a dormir por minutos suficiente para ficar presa em um pesadelo. Foi tudo real. Isto é real.

As lentes dos óculos de Magdalena tornam os seus olhos desproporcionais para o seu rosto e, o mais estranho, é que a jovem à minha frente — vulgarmente chamada de demónio do teatro — insiste em olhar para mim acima das lentes dos seus óculos. Eu não sei como ela é verdadeiramente, vivo de informações que os outros dão e, entre cantos, espalha-se a ideia de que ela é um monstro. 

O batom nos lábios carnudos combina com o tom escuro da sua pele e, apesar de todos os destroços hipotéticos ao nosso redor, esse momento parece a cena patética de um filme onde os personagens tiram o tempo para beijar-se ou fazer alguma declaração. 

Eu não me vou declarar para a mulher de mais ou menos trinta anos que, em suas costas, carrega o título de professora de teatro. Mas, se pudesse, diria que ela é muito bonita e, por fim, que os óculos não devem ser usados da maneira que os usa. E ainda que me esteja a refugiar em pensamentos que a tem como protagonista, eu não estou apaixonada pela professora de teatro; talvez por isso seja mais fácil identificar detalhes bonitos sem ficar tão nervosa. Ou, talvez por isso seja mais fácil esconder-me no nada que ela trás para mim com o seu silêncio, a sua curiosidade ou essa expressão que eu não consigo, nem quero, ler.

Minutos antes, quando as suas lentes eram consumidas pelo vapor do café que ela levava à boca, também olhava para mim do mesmíssimo jeito como se eu fosse se eu fosse um ser de outro mundo ou a sua presa. Lembro de olhar por alguns segundos até ver a professora bebericar o líquido quente com calma, mas como se não sentisse prazer suficiente para fechar os olhos por um segundo, sentir o gosto e respirar de satisfação. Era como se fosse um movimento automático, simples, de onde tirava um lembrete de estar viva, mas, honestamente, todo o seu prazer se canalizava na ideia de arrancar todos os detalhes sobre mim. Todos. Naquele momento, eu acho que tive uns segundos para julgar que o diabo tinha um nome e estava ali, quieta, à espera do meu próximo passo. Naquele momento, eu sentia que tudo começava a arder como se o sol estivesse a deitar os raios com o mesmo efeito que os fogos do inferno. 

Essa sensação não é muito diferente agora.

Os meus dedos ainda tremem, noto a olhar para a minha mão esquerda por alguns segundos, e a luz da sala não é tão intensa como antes pareceu quando abri os olhos. O cheiro do café, que já deve estar frio por cima da mesa onde alguns papéis foram esquecidos, hipoteticamente toca a minha alma. 

É um toque bom, mas irreal.

Logo, não é suficiente para apagar o terrível desmoronamento do meu pequeno mundo. 

O suspiro do demónio do teatro parece uma corrente de ar que, apesar da proximidade, se perde antes de tocar alguma área do meu corpo e arrefecer-me um pouco. 

Magdalena ainda olha para mim do mesmo jeito, roubando os meus suspiros, preenchendo o espaço com um silêncio de palavras esmagadoras e segurando a garrafa de água com a mão de unhas curtas. Magdalena parece uma musa de pintura duvidosa, não só por ser bonita e apreciável, mas pela maneira que olha como se estivesse a ler todos os meus pecados e a sentir o sabor do seu castigo com as mãos sujas de sangue. Ela parece segurar uma porção mágica, como se fosse  uma bruxa, ou um cálice contendo algum conteúdo duvidoso que combinaria com a imagem demoníaca que os alunos pintam dia após dia. 

Novamente o demónio do teatro coloca a garrafa de água diante dos meus olhos, do mesmo jeitinho que fez nos últimos minutos que notou que eu não mais chorava. Porém, ainda que eu deseje encurtar o tempo dela só meu lado, pegar na garrafa e beber ao menos um pouco, não consigo reagir. A minha professora suspira, talvez tenha sido assim que suspirou ao me ver murchar diante dos seus olhos. Como se diante de uma criança, abre a garrafa para mim e faz um movimento como se fosse beber a água. 

Acredito, um pouco mais lúcida da realidade, que é para estimular um impulso copioso, mas infelizmente isso não acontece. Sinto que se beber a água até as minhas tripas podem sair pela minha boca. É uma imagem horrível, eu sei, mas o gosto amargo que se mantém forte na minha boca atiça o vómito que até agora se recusou a sair. 

Então, acho que está um pouco longe de acontecer o movimento tão esperado pela professora, pois, diferente dos minutos que se passaram em que eu tremia, escorria ranho do meu nariz e eu tinha movimentos repetitivos para tentar limpar a imundice, agora eu não consigo fazer nada além de olhar de fininho para ela num segundo e outro. 

O silêncio que nos envolve cria um lembrete de que alguém tratou de retirar todos os que observavam o show de horrores que eu protagonizei. É um alívio, um descanso temporário do peso abrupto da vergonha que, claro, nalgum momento vai cair em cima de mim como um raio ou meteoro. Assim, sinto-me um dinossauro ciente de que vai morrer tal como todos os outros, leve o tempo que for necessário. 

É também este silêncio o oxigénio que por muito tempo faltou nos meus pulmões, porque, hipoteticamente, existiam mãos no meu pescoço a apertar com tanta força como qualquer cena de filme que a pessoa tenta se debater até que o corpo não responda. Diferente dessa cena que existe um alguém para tentar furar o olho, o que me sufocava era invisível tal como o motivo pouco real que fez o meu coração quase rasgar a minha pele para fugir do meu corpo. 

Este mesmo silêncio só é quebrado quando um soluço meu escapa, a sobra de um choro agora contido, mas o olhar de Magdalena parece uma enxurrada de palavras que incomodam os meus ouvidos. 

Entre elas, verdadeiras ou não, está a ordem para que pegue a maldita garrafa plástica de 300ml, ou um pouco mais que isso, e tente consumir o líquido para tirar a sensação de secura. Então, ainda medrosa e com os dedos trémulos, levo aquilo que ela segurava como se fosse o meu antídoto. 

Semanas atrás, a ideia de colocar o meu nome na lista dos que gostariam de fazer parte do teatro da escola soava como a melhor e, também, como um acto de coragem. Não era só para ser uma verdadeira cidadã nativa de Nova Genesis, uma pequena cidade que é para muitos conhecida como a cidade do teatro, mas para poder mostrar para mim mesma que os meus medos são menores que a minha coragem.

Em uma caligrafia que imitava o itálico, usando uma caneta BIC azul que não era minha, deixei lá naquele papel A4: Amélia Aventurina, 17 anos, finalista. O meu sorriso ingénuo era largo enquanto largava a caneta por cima da mesa, ansiosa para chegar no meu melhor amigo e dizer: “em breve eu estarei ao seu lado no teatro escolar e vou honrar o título de ser nativa dessa cidadezinha.”

Acreditei que seria como subir num pé mágico de feijão para alcançar as nuvens rechonchudas e macias, porém, na realidade, foi como meter os dois pés numa areia movediça.

Olhar para cada um dos alunos sentados nas poltronas do teatro da escola, alguns com o título de concorrentes e outros não, rapidamente deixou-me mais pesada do que o chão que eu pisava. Buscava entre as pessoas sentadas alguém que ali estivesse para me apoiar, mas, não existia ninguém por culpa minha. E, não tão diferente de Magdalena que segurava a sua caneta pronta para apontar cada erro meu, todos aguardavam o momento exacto para jogar as suas pedras em mim. 

Em questão de segundos o sinal de  perigo começou a distorcer a imagem à minha frente, tornando cada um em algo que eu não conseguia identificar enquanto sentia o meu corpo ser sugado cada vez mais rápido. Se eu era um herói, naquele momento lutava contra um vilão potente, conhecedor de todas as minhas fraquezas e com poderes mágicos para manipular os meus próprios pensamentos.

A lama imaginária entrou pela minha boca enquanto era sufocada, isto numa tentativa de gritar por ajuda enquanto a minha mão ainda estava levantada. Bem, é hipotético, mas foi assim que me senti e foi assim como, no final de tudo, acabei num cantinho desse imenso palco a ter mais um episódio de um momento vergonhoso.

Tudo graças a minha fraqueza.

Tudo graças a minha doce ansiedade.

Olá, belíssima ansiedade. 

Eu simplesmente odeio-te, minha querida! 

— Como está a sentir-se agora? — a voz de Magdalena escapa das suas cordas vocais num tom tão alto que parece que esqueceu que está bem à minha frente.  

Talvez seja pelo trabalho que desempenha, o hábito de sempre ter que gritar para que alguém a escute enquanto perde-se em ser uma personagem fictícia ou uma pessoa real. 

Envergonhada, é o que me dá vontade de responder.

— Bem… — murmuro. Inspiro, fecho os olhos por alguns segundos, solto o ar e olho para a minha professora de teatro. 

Magdalena ajeita os óculos com o dedo indicador, usando como uma alavanca que, no final das contas, de nada serve porque ela ainda olha para mim do mesmo jeito. Gostaria que Samuel estivesse aqui ao meu lado, mas eu não o avisei da audição e, como as outras pessoas que fazem parte do teatro e têm a escola como um pesadelo, ele não se preocupou em estar presente. 

Eu também não ficaria interessada em seu lugar. Ficaria em casa a aproveitar cada segundo de um fim-de-semana com um dia bônus longe do som de início de uma nova aula, dos alunos barulhentos, do pátio cheio, da gravata sufocante ou, em resumo, de tudo isto.

Olho temporariamente para a garrafa que seguro com as duas mãos e sinto a mesma vontade de chorar que antes senti, porém, dessa vez não é por medo e, sim, porque sinto uma vergonha que só vai crescer com o passar do dias. As minhas mãos tremem enquanto tento abrir a garrafa de água para, de alguma forma, ter a ajuda do líquido para empurrar o choro de volta ao cofins. É nessa tentativa porém que, mais uma vez, eu volto a desmoronar. 

A água que molha o interior da minha boca parece a mesma que sai salgada dos meus olhos e, no segundo seguinte, não consigo continuar a beber a água ou a respirar como deve ser. Magdalena tira a garrafa das minhas mãos, acredito porque é a única comigo, e as poucas palavras que ela deixa escapar são comandos para que eu inspire, segure o ar por alguns segundos e, depois, solte pela boca bem devagarinho. Inicialmente não consigo, e não conseguir aumenta a minha certeza de que sou uma amélia com todas as letras maiúsculas. Ou seja, uma fraude, uma pessoa que não consegue fazer nada e não é nada.

— … Amélia? — escuto como um fiapo, a voz é diferente da do demónio do teatro e o toque na minha mão é mais quente e pesada do que o da minha professora. Eu quero abrir os meus olhos, mas a dor no meu peito, como se estivesse numa crise de asma, é maior que qualquer outra vontade minha. 

Eu sinto como se a minha pele fosse sugada pelas minhas costelas a cada segundo que respiro e choro, e tenho a certeza que no segundo seguinte vou perder os sentidos. Entretanto, isso não acontece. E é doloroso como o meu próprio corpo rejeita essa solução e continua a torturar-se por mais e mais segundos.

— Sente-se assim… — a pessoa comanda, mas por ter os olhos fechados, eu ainda não sei quem é. As minhas costas tocam uma base macia, em um movimento manual de alguém. — Isso, muito bem… respira devagar, Amélia. Use o nariz para puxar o ar, conte até cinco, solte o ar pela boca. Vamos lá… 

Tento algumas vezes, mas contar até cinco parece que aumenta o aperto no meu pescoço e só quero me debater para que a sensação esquisita deixe de existir. Tento mais algumas vezes, mas me sufoco nessas tentativas e aquela velha sensação, aquela de estar petrificada e ser inútil diante de algo tão pequeno, volta. Continuo a tentar, mas a falta do resultado esperado, faz que achei tudo isso estúpido e inútil. 

Eu não consigo.

Entretanto, os comandos continuam e, como se para ter a certeza de que duas pessoas cuidam de mim, consigo identificar a voz da minha professora misturada ao tom grave de quem desconheço. Tento seguir, mas sinto que sigo por um labirinto e que continuo a vagar sem uma saída. Mas existe uma, não? 

Entre os dois, alguém pede que continue a tentar e que, sem muita pressa, tente identificar o que os meus sentidos dizem existir ao meu redor. Desde o chão gelado do teatro, o trilho das minhas lágrimas até ao toque macia de alguém que segura a minha mão. Cinco segundos. E mais outros cinco segundos.

A certeza de que morreria começa a desvanecer com as repetições, o falso ataque de asma também se desfaz em pedaços e os cinco segundos não parecem infernais. 

Ao abrir os olhos, encontro dois pares de olhos curiosos a tentar descobrir se estou melhor e o pequeno sorriso que brota no rosto jovem de Quinn Eduardo — famoso professor de português e auxiliar do teatro — deve ser a confirmação de que o seu apoio e a da demónio do teatro foram o suficiente para me trazer de volta à realidade.

Eu continuo viva.

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