Epílogo
Coloco o teste de gravidez com o resultado positivo virado para cima e um par de sapatinhos brancos dentro da caixa. Sorrio com nostalgia ao me lembrar que foi exatamente assim que fiz quando descobri que estava grávida pela primeira vez, ficamos emocionados na consulta que foi revelada a grande notícia que chegaria uma princesa em nossa vida.
Nossa Valentina.
Uma criança extremamente amável, ela tem toda a família em sua mão. Principalmente os avós, que morrem de amor por ela, meu pai se tornou um avô muito ciumento, quando ele e Daniel se juntam é para falar que Valentina irá namorar depois dos trinta anos, fora esses momentos, eles ainda permanecem com aquelas provocações entre si.
Isso deixa os momentos em família mais animados, sempre que nos reunimos, nossos encontros são repletos de brincadeiras e amor, sem chances para alguma tristeza. Literalmente a tristeza fica do lado de fora quando estamos juntos.
Hoje marquei um almoço, creio que minha mãe deve estar com mil teorias e meu pai deve estar atormentando ela, imagino que quando ele chegar aqui irá falar que envelheceu dez anos pela a espera.
Resolvi a arrumar a caixa após a saída de Daniel com Valentina, que foram até o supermercado comprar algo que faltava para fazer o almoço. Não irei fazer muita coisa, Daniel optou por um churrasco, então os acompanhamentos ficam por minha conta, já que Luíza falou que traria a sobremesa.
Ouço a capanhia tocar, meus olhos recaem no pequeno relógio em cima da cômoda, são apenas oito e meia. Guardo a caixa dentro da gaveta e caminho para fora do quarto pensando em quem poderia ser a essa hora. Talvez meus pais possam ter vindo mais cedo com o meu irmão. Um sorriso se forma em meus lábios ao me lembrar do Miguel, está tão grande, agora com nove anos está mais calmo, creio que aquela fase de bagunça passou com a idade, para o alívio de minha mãe.
Com um enorme sorriso abro a porta, ao ver quem está do outro lado meu sorriso morre aos poucos.
- Vó?
- Não sou sua avó menina - diz com nojo e me retraio um pouco com medo da sua hostilidade.
Não é nenhuma novidade que ela não goste de mim, quando perguntei ao meu pai sobre minha avó, ele mesmo me alertou que ela nunca aceitou seu relacionamento com a Alyssa, desde o início foi contra, que minha mãe não servia para ser a mulher do meu pai, um homem que no futuro seria um renomado médico.
- O que você quer? - pergunto tentando encobrir meu medo, minha mão aperta a porta e meus pensamentos imploram para que Daniel chegue o mais rápido possível.
- Vim ver com meus próprios olhos o que você se tornou - retorce a boca - Você não se parece nada com meu filho, me pergunto se é mesmo sua filha.
- Você não tem o direito de vir na minha casa e falar essas besteiras. Quer provas? Não tem problema, eu mesma pego o exame de DNA e esfrego na sua cara - minha voz se altera e percebo que a pego de surpresa, acho que não esperava que eu fosse rebater.
- Sem modos igual a mãe - revira os olhos.
- O que você quer? - pergunto mais uma vez.
- Não era para você encontrar Ethan, paguei muito bem para aqueles viciados esconderem você.
Sinto o chão aos meus pés sumirem um pouco quando diz isso.
- O que? - sussurro.
- Está surda? Não era para você encontrar o Ethan! - grita - Sua bastarda, era para ter ficado sumida e de quebra se morresse nem iria fazer falta.
- Como você pode dizer isso? - murmuro em meio às lágrimas que agora escorrem pelo meu rosto.
- Eu nunca gostei da sua mãe, aquela sonsa e sem modos - destila seu veneno sem piedade - Quando Ethan me disse que havia conhecido uma garota, eu fiquei muito feliz, imaginando uma garota de classe alta, perfeita para estar ao lado de um futuro médico. Então ele apareceu com a sua mãe, não sabia nem a diferença entre os talheres, patética - revira os olhos - Tinha planos para separar aqueles dois, imagina minha surpresa e felicidade quando Ethan me disse que estava tudo acabado e partiria para a faculdade sem ela - seus lábios se curvam em um sorriso cruel, sinto meu estômago revirar - Mas poucos meses depois eu vi sua mãe de longe, fiquei com raiva com vi sua barriga, Ethan não tinha me falado que ela estava grávida. Meu medo que ele voltasse por causa de vocês foi grande, quando ele ligava e perguntava dela eu falava que ela estava feliz com outro homem. Então Lucy veio até aqui e conversou com ela, minha querida filha era outra sendo enganada por aquela sonsa, me perguntava o que sua mãe havia feito para ter meus filhos na palma da sua mão.
- Você é cruel - sussurro.
- Gosto das coisas do meu jeito, não é crueldade querer meus filhos com pessoas do mesmo nível que eles - diz dando de ombros - Quando você nasceu descobri que sua mãe iria entregá-la para a adoção, mas você nunca chegou a ir para adoção Victoria, todo o processo foi inteiramente planejado por mim e um contato que poderia os assinar para que parecessem verdadeiros. Sabe por que? Porque se você tivesse ido da forma tradicional para a adoção, eu corria o risco de Ethan te encontrar facilmente, meu querido filho não parava de falar que queria ter a chance de te encontrar. Mas como ele encontraria um nome que não consta na lista de adoção? - começa a rir - Encontrei seus pais adotivos por acaso, mas eram perfeitos para o que eu tinha em mente, na época eles não eram tão viciados, mas o dinheiro sobiu a cabeça. O plano era eles levarem você para longe, para que meu filho nunca te encontrasse. Pelo o jeito não cumpriram o acordo.
- Ele me batiam! - grito - Me deixavam passar fome, me humilhavam todos os dias, eu era uma empregada e um saco de pancadas naquela casa! - seus olhos estão arregalados, levanto a minha blusa de manga, coloquei ela quando o tempo esfriou um pouco depois que Daniel e Valentina saíram - Sabe essas marcas aqui? - pergunto e vejo o horror em sua face ao encarar minhas cicatrizes - Eu me cortava, todos os dias, para diminuir a dor do que eu sofria em casa. Eu quase me matei! - grito em meio às lágrimas - Vai embora daqui! Eu nunca mais quero ver a senhora.
Me apoio na porta sem forças, sinto que posso desabar a qualquer momento.
- Victoria...
- Vai embora! - grito mais uma vez.
- Saia daqui mãe! - ouço a voz do meu pai.
Ela se vira e vejo o medo estampado em seu rosto ao encarar meu pai a poucos metros de nós, minha mãe está atrás dele abraçada ao meu irmão, seu rosto está coberto por lágrimas.
Eles ouviram tudo.
- Meu filho...
- Não sou seu filho! - meu pai grita - Eu tenho nojo da senhora. Como pode ter manipulado minha vida e da minha irmã dessa forma? Você deu a minha filha para pessoas que apenas maltratavam ela! Vai embora! Esqueça que tem filhos, imagine que eles morreram, pois eu não quero mais saber da senhora, e minha irmã após saber isso vai ter o mesmo pensamento que eu tenho.
Sinto as forças dela sumirem, ela passa por eles quase correndo antes de entrar em um carro estacionado ali perto.
- Filha - meu pai vem correndo até mim.
- Pai - choro em seu peito quando sou acolhida pelo o seu abraço.
- Me desculpe minha filha, isso tudo é culpa minha, eu deveria ter levado vocês comigo para a faculdade, daríamos um jeito, mas você não teria sofrido - diz com a voz embargada.
- Não é sua culpa pai - murmuro.
Sinto um pequeno par de braço abraçar minha cintura, logo sinto os braços da minha mãe ao meu redor.
- Meu amor não é sua culpa - diz minha mãe com a voz trêmula.
Abraçada com minha família o passado se torna um borrão na minha cabeça, o presente é mais importante. Foi doloroso descobrir a resposta para a pergunta que às vezes me assombrava. Eu imaginei diversas teorias, mas nenhuma se enquadrou na realidade da resposta que eu acabei de descobrir pela a boca da pessoa que foi responsável por tudo.
Minha própria avó.
Mas agora me sinto em paz com meus pais e meu irmão me abraçando. Está tudo bem, o veneno dela não irá atrapalhar a nossa família. O nosso amor é maior que alguém armagurada pela a vida e sente prazer em humilhar os outros.
Para mim quem sempre será minha avó é a dona Beatrice.
[...]
- Amor você está bem? - pergunta Daniel mais uma vez.
- Estou meu amor - acaricio seu rosto, ele tem se sentido um pouco culpado por ter saído e tudo que aconteceu após sua saída.
A família ainda está chocada com a revelação, tia Lucy ficou em estado de choque, por sua própria mãe ter feito tudo isso. Mas eu tentei destrair a todos, hoje é para ser um dia feliz e não triste. Funcionou um pouco quando começamos a preparar o almoço, cada um destraiu sua mente com algo.
- Cuide da churrasqueira - brinco.
- Como se seu pai fosse deixar - rebate com um leve sorriso.
- Vocês se amam.
- Mamãe - ouço a voz da minha princesa.
Me viro e a encontro correndo na minha direção com uma caixa na mão, sinto meu coração perder algumas batidas quando noto que é a caixa com teste de gravidez.
Como ela achou?
- Filha o que é isso na sua mão? Ganhou um presente? - Daniel a pega no colo beijando sua bochecha rosada pela a corrida.
- Não sei papai.
- Filha - chamo com carinho, seus olhos castanhos encontram os meus - É para o papai, você pode entregar para ele? É muito especial o presente.
- Para mim? - pergunta Daniel confuso.
Ao nosso redor percebo a família se aproximar, como se sentissem que algo muito especial irá acontecer. De certa forma será revalado algo especial nesse momento.
- Sim amor - tento segurar o sorriso.
- Pra você papai.
Sinto meus olhos marejarem quando Daniel pega a caixa com cuidado.
- Vem com a mamãe, vamos deixar o papai abrir com cuidado o presente - pego Valentina em meu colo.
Daniel me encara por um momento antes de desfazer o laço em cima da caixa, ao abri-la seus olhos se arregalam, ele levanta os olhos e volta a olhar para a caixa sem acreditar.
- Não acredito! - ouço alguém falar.
- Eu vou ser avó de novo - diz Luíza com tamanha emoção.
- Minha filha irei te dar umas aulas de como poder contar sobre a gravidez com os próximos filhos - brinca minha mãe.
- De como se assustar e querer se afastar do pai da criança? - provoca meu pai.
- Amor - Daniel me encara com os olhos banhados em lágrimas.
Pego com tamanha devoção o par de sapatinhos brancos, em cada um possui uma pequena rosa cor-de-rosa, símbolo do nosso amor, ao final da caixa tem o teste de sangue.
- Eu vou ter um irmãozinho? - Valentina coloca suas mãozinhas na boca.
- Sim, meu anjo - beijo sua bochecha - A família vai crescer.
Daniel sai do seu estado de choque e vem em nossa direção, seus braços envolvem nós duas em um abraço repleto de emoção, seu cheiro almiscarado e o perfume de bebê que uso em Valentina me trazem a sensação de estar completa, me sinto em casa. Agora em meu ventre cresce mais um fruto do nosso amor.
- Eu te amo - beija meus lábios rapidamente - Ainda não acredito que tudo isso está acontecendo. Você diz que eu sou um anjo, mas você que é o meu anjo por ter me dado uma chance de viver ao seu lado e por ter me dado uma família - beija a testa da nossa filha - Obrigado por me fazer o homem mais feliz do mundo mais uma vez.
- Eu quero abraçar minha filha também - diz meu pai arrancando risadas de todos.
Sorrimos um para o outro e nos viramos para encontrar a família igualmente emocionada. Só tenho a agradecer pelo destino ter colocado eles no meu caminho.
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