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C A P I T Ú L O • 18 •

Pouco dura a dor que termina em lágrimas, e muito longo é o período em que o sofrimento permanece no coração.



Estava nervoso quando dirigi do hospital até a mansão de Caleb. Busquei por sinais vindo de dentro da casa, não havia movimentação ali, não havia nada anormal, pensei em chamar o restante do pessoal, mas não queria envolve-los em um caso que não era da nossa base, havíamos arrumado isso, então, tínhamos que resolver sozinhos, Além do mais, poderia ser apenas um alarde!

A BMW preta estacionou atrás do meu carro. O fumê do carro fez com que não visse Hunter, mas sabia que era ele. Eu sabia que o filho da puta era podre de rico, era um babaca inconsequente porque queria ser. Quando o jovem desceu os seus olhos claros penetraram os meus de forma árdua, ali, era o lugar que ele menos gostaria de estar agora. 

— Espero que você não tenha atrapalhado a minha transa atoa Spencer! —  voz de de Hunter ecoou firme quando saiu do carro.

— Vamos entrar — falei, autoritário. 

Hunter olhou para os lados antes de mostrar a sua arma e dar de ombros para mim, fiz o mesmo, mas em seguida fiz sinal para que seguisse até a porta e ele me fez e, como eu tinha a chave não foi preciso de muito esforço para entrar. O hall estava vazio, sem sinais de briga, sem sinais de invasões. Caralho! O que estava acontecendo aqui? Caleb havia mentido pra mim? 

— Spencer...

— Cale a boca, Hunter. — trinquei os dentes, olhando para cima das escadas, tudo silêncioso.

Hunter bufou, mas fez o mesmo, subimos a escada com cuidado, estava tudo silêncioso demais. Assustador demais.

Ao entrarmos no corredor onde ficava o quarto do meu irmão havia rastros de sangue, sangue que se arrastavam por quase o andar onde estávamos, mas então os sinais desapareciam como se após isso alguém o carregasse.

Olhei para Hunter e o ruivo não sabia o que dizer, seus olhos havia preocupação, e nos meus, um medo crescente no peito. Por favor, só esteja vivo, meu irmão.

— Eu não estou preparado para entrar nesse quarto. — falei baixo. — Eu não estou preparado para caso tenha que ver o meu irmão morto, Hunter.

Cerrei a mão em punho, queria socar algo para esvaziar o que tava sentindo. Raiva, ódio, dor tudo misturado.

O homem passou por mim seguindo os rastros para dentro da porta escancarada. Vi Hunter respirar fundo quando passou por mim, e como se estivesse em câmera lenta o vi caminhar até a última porta aberta, da onde saia o rastro de sangue, do quarto do meu irmão, então ele entrou, sozinho. 

Os segundos pareceram horas, estava apreensivo e quando vi que vi não sairia, caminhei até lá, mas parei na porta olhando para um quarto totalmente revirado.

Hunter olhava para um ponto fixo, o mesmo que quando entrei prendeu os meus olhos, em cima da cama havia uma punhal suja de sangue aonde deveria estar o travesseiro. Uma mancha de sangue que parecia ter escorrido pelo lençol ao lado da cama, e no chão uma poça de sangue seco, bagunçado. Olhei em volta e em todo o ambiente tinha resquícios de sangue pingado como se o meu irmão tivesse tentado lutar, provavelmente Caleb havia lutado, ele nunca desistiria antes disso. A foto do criado mudo estava no chão, o porta retrato estava destruído. Do outro lado, havia roupas jogadas pelo chão, uma tentativa idiota de parecer um assalto, mas será que achavam que éramos burros a esse ponto? As coisas quebradas e reviradas me faziam lembrar de quando reconheci o corpo da minha esposa, será que o pesadelo nunca terminaria?

— Sinto muito, Spencer! — Disse, tocando meu ombro.

Não o olhei.

— Não, ele não pode estar morto, não pode Hunter.

Encarei o ponto buscando coisas positivas na minha cabeça. Ele ficaria bem, Calleb está vivo, tinha que estar.

Tentei esconder a  dor em meu rosto. Eu era forte, havia passado por isso, e mesmo sem forças, se necessário passaria outra vez, meu irmão seria mais uma causa a qual lutaria até o fim.

Hunter começou a tirar as fotos, o imbecil era um bom advogado criminalista, e estar em cassinos  clandestinos era apenas para o tirar das rotinas do tribunal e diversão.

— Comece a procurar pistas, seja racional e haja como quem é, tente ser insensível mesmo que doa ou não encontraremos provas aqui!

— Eu não consigo pensar racionalmente, estou travado cara.

Ele bufou olhando para a porta, mas logo olhou para mim novamente.

— Não precisa ser um gênio, para notar o que tentaram fazer aqui. — Hunter indicou para o quarto. — Se o seu irmão não tivesse te mandando mensagem, não saberíamos o que havia acontecido aqui. Spencer, a fechadura estava intacta, sem  nenhum sinal de arrombamento, ou seja, eles tiveram a indecência de trancar ao sair, tem que ter alguma digital naquela porra. 

Hunter estava certo, peguei o celular e liguei para a delegacia, pedi o máximo de investigadores e períto possível. Eu não estava em melhores condições, mal conseguia raciocinar corretamente.

— Spencer, vai para casa! — Hunter tocou meu ombro novamente, exigente. — Eu espero a corgia toda. Foda-se, não devo nada a eles, posso fazer isso sozinho.

— Não! Eu preciso estar aqui. — Olhei por cima da cama.

— Ficar aqui só retardar o seu sofrimento, você não vai trazer seu irmão assim. Vá para casa, vai até a sua irmã, ela provavelmente precisa de você.

Hunter tinha razão, ficar aqui atormentaria meus pensamentos ainda mais e, Violet  provávelmente estava sentindo a minha falta. Um barulhos de passos ecoou em meus ouvidos fazendo com que eu e Hunter apontassemos a arma para a porta, então, em um relance rápido, três seguranças de Megan entraram, mas ficaram parados próximos a porta, e quando os reconheci pedi que abaixasse a arma. Hunter os encarou, intrigado, apenas dei de ombros, mas segundos depois me preocupei quando vi o olhar inseguro e medonho de Meg, que merda ela estava fazendo aqui?

Quis pedir que a levassem, mas era tarde, seus olhos pousaram na cena criminosa.

Por um segundo ela ficou ali, inerte, presa a seus próprios demônios antes de escorrer pelo chão. Hunter a pegou pelos ombros antes que caísse, ele estava mais perto, quando vi, já estava envolvendo a minha irmã em meus braços, ela chorava copiosamente. Estamos sentindo a mesma dor. As lágrimas que rolavam de seu rosto a destruía, a maquiagem perfeita da dona da agência de modelos escorria. A garota alegre e espontânea deu espaço a uma mulher quebrada, estávamos novamente sentindo o luto passar por nossos olhos.

— Spencer, me diga que é um pesadelo — sussurou, meu corpo apertou-a ainda mais contra mim. Sinto muito, era o que gostaria de dizer. — Eu quero o meu irmão. Por favor. Eu quero o meu irmão.

Olhei para Hunter, perdido. O ruivo apenas abaixou a cabeça, não tinha como amenizar aquele momento. Não tinha como maquiar ou manipular. O momento era cruel, tudo estava na merda. Era isso que tínhamos, uma fodida destruição.

— Meg, vamos encontrá-lo. — Tentei amenizar, mas  sabia que isso poderia não acontecer assim como havia acontecido com a minha filha.

— Spen... — O ar faltou em seus pulmões, a situação a feria profundamente. — Eu. não.vou.conseguir. — sussurou lentamente, soluçando. — Eu não tenho mais forças desde que perdi a minha sobrinha e agora o meu irmão. Eu não vou conseguir, Spencer, eu não vou conseguir.

Os seguranças ficaram na porta, observando a cena de crime, não podiam passar dali, não podiam mudar a cena do crime, nós não podíamos... não tocamos em nada.

— Spencer, acho melhor você levar a sua irmã para casa, esse momento é pesado demais para ter alguém tão frágil aqui. Tudo já está muito fodido. — Hunter usou um tom baixo, quase sussurante, mas o suficiente para minha irmã soltar de meus braços e caminhar até ele, magoada.

— Quem você pensa que é para se intrometer na minha dor? Você não sabe o que é perder alguém? Eu não sou frágil. — As palavras de nojo misturaram-se aos seus olhos azuis já avermelhados. Ela olhava para Hunter com ódio, aquela sem dúvidas não era a amável e gentil Megan Behling. — Vá se foder, seu imbecil.

— Não vou dar a resposta que merece por respeito a seus irmãos, garota mimada. — Hunter ponderou na voz, olhou para mim, irritado. Não era para menos, eles nem se conheciam. — Spencer, a sua irmã precisa descansar, leve-a daqui.

— Eu não vou a lugar nenhum só porque você quer, seu... seu Ruiento cretino — cruzou os braços no peito fazendo jus ao que o homem a chamava.

—  Pelo amor de Deus esse não é um bom momento para isso, Meg. — usei o tom autoritário que usava na delegacia. — A polícia está chegando, deixe pessoas habilitadas trabalharem. Eu vou levá-la embora.

— Não!

— Megan! — repreendi.

— Eu vou com os meus seguranças já que foram eles quem me trouxeram até aqui, eu estava preocupada, droga! Quase surtei naquele hospital, a Lia está também preocupada, você poderia ter ligado pelo menos pra me dizer que está vivo! — Os olhos da minha irmã havia perdido o brilho. Estava preocupada. Megan não era boa em lidar com a dor, mas não me lembro de vê-la tão revoltada quando Dennah morreu e Emilly sumiu.

Em meio ao caos lembrei-me da morena de olhos marcantes, Lia era alguém que acalmava a minha irmã, que a amizade dela a fazia bem já que não havia interesses, a minha irmã já sofreu demais por amizades conveniêntes, e então, a chegada inesperada em nossas vidas a fez bem, na verdade, me fez bem.

A minha irmã caminhou até mim, beijando-me na bochecha.

— Eu te amo, mas eu quero, preciso, ficar sozinha. — fungou, as lágrimas voltaram aos seus olhos. — Eu não sei lidar com a perda. Eu não sei lidar com o medo de não conseguir superar o que estou sentindo. Eu preciso de um tempo, Spen. Preciso refugiar a dor que sei que não vai amenizar. — minha irmã colocou a mão no peito, estava doendo. Pobre Megan. — Caleb é o meu príncipe, meu irmão misterioso e o meu parceiro de crime — sem ofensas —, mas, ele estava ao meu lado na Model Behling quando você me deixou sozinha.

Abri a boca para responder, mas não o fiz, eu não a tinha abandonado, e sim, abandonado tudo que envolvia Vincent, tudo que envolvia seus negócios era humilhante demais para mim.

Megan limpou o rosto avermelhado, e segurou a minha mão.

— Eu vou ficar bem. Só preciso ligar para o Nate e pedir para que vá ao meu apartamento, deveria ir embora também, Glendy ligou e disse que a Violet está perguntando incansavelmente por você!

Pouco depois que os seguranças levaram a minha irmã dali, Hunter me olhou, expressivo.

— Essa sua irmã é uma megera. — estreitou os olhos, apreensivo.

— Ela é amável e gentil, só não está em um bom dia. — defendi e o ruivo deu de ombros.

Quando os policiais chegaram pedi para me ausentar, mas, ficaria atento a qualquer novidade. Quando cheguei em casa entrei pelos fundos não queria que a minha filha me visse daquela forma. O descontrole não era algo que gostaria de passar, a princesa brilhosa merecia mais amor depois de tudo que viveu no orfanato, eu queria ser sua paz, não a trazer para o meu mundo em ruínas.

Tomei banho e só fui até o seu quarto, minha filha estava deitada ouvindo histórias que a senhora Glendy contava, mas quando me viu levantou e correu até mim pulando em meus braços. Violet envolveu-se em em mim em um abraço apertado, abraço cheio de amor e esperança, sentimentos que mais precisava nesse momento.

— Papai, a titia Gendy estava tontando historinha para mim. Era de uma pincesa da ilha — ri falsamente, a senhora percebeu, provavelmente, sabia o que estava acontecendo.

— Se quiser eu posso dormir aqui com ela, senhor — comentou ela, gentilmente.

— Já fez demais por nós hoje, obrigado senhora Glendy, mas essa noite preciso do carinho da minha filha como se o inferno fosse queimar a terra.

A mulher me olhou assustada, mas não se opôs, beijou o topo da cabeça de Violet, se despediu e deixou o quarto.

Poique tá tiste, papai? — a pequena percebeu e eu forcei outro sorriso, mas não conseguia desfarçar. Estava horrivel suportar.

— Hoje foi um dia foi difícil princesa brilhosa. — sentei-me na beirada se sua cama, alinhando-a em meu colo. Inesperadamente, Violet acariciou meus cabelos. — Ser adulto as vezes é doloroso, amor.

Violet piscou algumas vezes como não entendesse o que eu estava dizendo, mas também, ela era pequena demais para entender como o mundo era cruel. Como o mundo fazia as pessoas sofrerem, que tudo que viveu no orfanato era apenas uma prévia triste de abandono, era isso que o mundo instalava: O caos, a dor da morte e sofrimento, de todas as formas possíveis e...

Violet beijou meu rosto, suavemente, ao olhar para seus olhos azuis, ela sorriu, e com a mão pediu que me deitasse ao seu lado, desajeitado, ajeitei-me na cama de princesa, alinhando-a em meu braço.

— Eu te amo como o céu, papai. — Sorri, ao mesmo tempo em que que o coração apertou.

Suas palavras foram suficientes para que eu recebesse alento. Minha filha, a única que havia restado era o que me mantinha vivo agora. Minha motivação para continuar a minha busca por justiça e por Emilly, mesmo sem saber, Violet havia se tornado a minha melhor escolha, trazê-la para minha vida foi como abraçar o seu brilho.

— Eu te amo, princesa — Procurei paz em seu amor, e por breve momento em seu abraço carinhoso encontrei, mas a garotinha de cabelos loiros havia dormido, então, apenas me ajeitei da melhor forma possível porque era ao seu lado que gostaria de estar.

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