C A P I T U L O • 10 •
Todos vivemos dias difíceis mas nada disso é em vão.
Abri olhos encarando o gesso branco do teto e rapidamente reconheci o quarto de hospital. Fiz careta quando notei o acesso venoso periférico em minha veia e um pedestal segurando a medicação. Olhei para o lado reconhecendo a cabeleira loira de Megan, dormindo, na poltrona minúscula quanto ela.
— Megan — Chamei-a, minha irmã acordou assustada.
— O quee? Oi? Como você está? Pelo estrago em seu carro deduzo que foi acidente, não foi? — concordei sem muitas informações. — Spen você me assustou, mas graças a Deus estava de colete e não aconteceu nada.
A menina de vinte e três anos se ajeitou aos meus braços com cuidado pra que não tirasse o acesso no meu braço, e me apertou com força, não senti dor. Acolhi Meg como não fazia a tempos, era bom poder abraçar minha caçulinha.
— Como me encontrou aqui?
— Através do Nate, ele é médico nesse hospital e estava de plantão quando você esborrachou-se no chão com uma garota, que eu já quero saber tudo sobre ela. Então ele te reconheceu e me ligou falando que estava aqui.
— O que aconteceu?
— Não se lembra do acidente de carro? Por Deus, você poderia ter morrido, a garota que estava com você, ela...
Como uma luz arregalei, lembrei-me da jovem. Seus cabelos negros grudados no rosto ensanguentado com um ferimento na cabeça. — Ela está viva?
— Por muito pouco, Spen. Prefiro que o Nate te explique melhor, irei procurá-lo, e assim que puder volto, só cuidado maninho.
— Não tenho muito que fazer aqui — revirei os olhos olhando a medicação que entrava lentamente. — E Megan, eu não faço ideia de quem ela seja.
Encarei o rosto jovem da minha irmã e seus olhos azuis brilharam. Ela me deu um beijo antes passar pela porta e me deixar.
Respirei fundo com sensação de solidão e angústia no peito, não entendia o que estava sentindo, mas precisava checar como ela estava queimava como fogo em mim, precisava vê-la para ter certeza que ficaria bem.
Pensei em tirar o acesso e procurá-la, mas seria inútil já que não tenho um nome, seria como uma agulha em um palheiro. Quando a porta abriu, Nathan, o namorado da minha irmã entrou, seguido por ela e sorriu quando me viu.
— E bom vê-lo com sangue no rosto, Spencer — brincou, fazendo com que eu arqueasse a sobrancelha sem entender nada. — Você deu entrada a uma hora da manhã de ontem, pálido como se não houvesse sangue em seu corpo, segundo a recepcionista quando desmaio abraçou uma garota que estava com você, que por sinal está em péssimos lençóis... — suspirou olhando o prontuário em suas mãos. — Você deu sorte cunhadinho, sofreu leves escoriações na coxa esquerda, um corte superficial na sobrancelha que nem ficará marcado e o medicamento na veia faz com que não sinta dor. Acho que hoje a tarde, o mais tardar amanhã pela manhã terá alta. Agora, a garota já não teve a sua sorte...
— Como está?
— O que aconteceu com ela? — fez uma contra pergunta, sem me responder.
— Eu estava no cemitério, fui visitar Dennah e me abrir com ela, bebi alguns goles de uísque, mas dormi no cemitério e quando acordei havia anoitecido. Eu precisava ir buscar a menina, mas antes precisava falar com Judith, mas o celular ficou na delegacia, então entrei no carro e corri, estava tarde, não pensei que pudesse surgir alguém do nada no meio da avenida... Não tive tempo de freiar Nathan, tudo aconteceu rápido demais. — suspirei fundo ao lembrar-me do que havia acontecido. Megan me olhou surpresa, eu sabia que queria perguntar sobre a menina. — Eu vôei pelo vidro do carro, e mesmo com dor fui socorrê-la, mas ao chegar aqui, apaguei.
— Quem é essa menina? — Meg perguntou, antes que eu respondesse Nathan chamou minha atenção para si.
— Presumo que tenha visto que ela havia ferimentos no rosto — concordei lembrando-me de sua maquiagem escorrida e borrada. — A garota foi espancada antes do acidente, acredito que deva ter notado por traços de agressão em seu rosto — comentou sério, e eu concordei. — Isso a deixou em estado alarmante sem que percebesse, Spencer, fizemos alguns exames e imagino o quanto ela não sofreu por estar perambulando com uma costela quebrada. Algo grave aconteceu, estamos pensando em acionar a polícia. O estado em que se encontra é preocupante.
— Não, não vamos envolver ninguém nisso. Ela precisa de segurança — mostrei seriedade no tom de voz. Era necessário para proteje-la. — Que horas são? Quero vê-la.
Eram quase sete horas da noite. Nate explicou que não poderia vê-la, por que ainda estava em tratamento e fariam uma radiografia da sua cabeça em instantes por conta da parte direita de seu rosto que estava inchado, assim como por quase todo seu corpo havia hematomas, que provavelmente se não fosse pelas medicações na veia não aguentaria de dor quando acordasse.
— Não sabemos a gravidade do ferimento que há em sua cabeça, nem os efeitos ou sequelas que isso possa causar quando acordar.
— Ela ainda não acordou? — Encarei o rosto harmônico de Nate.
— Não, essa é a parte em que precisamos conversar. — Nate olhou para Megan sentada, mexendo no celular antes de voltar sua atenção para mim. — Não temos um nome Spencer. Não temos um documento que diga quem ela é. Quando você a encontrou não se lembra de alguma bolsa ou documento no local?
Neguei, não me lembrava de nada, na verdade, nem tinha me atentado a isso.
— Isso é tão triste, porque nesse momento há uma família preocupada com ela, se tiver alguém — Megan comentou e eu fiz careta.
— Eu... Eu... — Merda! Não sabia o que dizer, parte por ela estar assim era culpa minha.
A porta do quarto se abriu, Caleb colocou a cabeça na porta. Olhei-o surpreso, claro que Megan avisaria que eu estava ali, não havia contado a ela sobre a nossa briga e não sabia o que Caleb havia contado.
— Posso entrar? — perguntou a mim, apenas concordei com a cabeça educadamente.
Nathan disse que iria porque tinha que ver um paciente e Megan disse que voltaria para agência já que sabia que eu ainda estava vivo e saiu da sala. No fim, Caleb entrou e sentou na poltrona branca em silêncio e ali ficou por longos minutos até quebrar o silêncio.
— Sabe, quando disse que queria adotar a menina, não que me opôs-se a você tentar refazer a sua família, mas Spen, ela precisa de cuidado, proteção e tempo, isso é o que você menos tem. Como vai fazer quando pegá-la? Contratar uma babá e a deixar sozinha o dia inteiro com um segurança na cola?
Suspirei fundo, não tinha pensado muito quando falei com Judith, mas sabia que Violet ficaria comigo, seríamos os dois contra todos.
— Caleb quero tentar. É a última coisa que Dennah planejou, não posso simplesmente dar as costas a seu sonho... Eu não posso cara.
— Se é isso mesmo que quer, estarei ao seu lado para cuidar da garota — levantou-se vindo até mim tocando meu ombro. — E dessa vez, ninguém toca em uma Behling.
— Ninguém! — Repeti sustentando seu olhar. Caleb sorriu e me entregou meu celular.
— Peguei isso na delegacia quando Meg ligou dizendo que você estava internado no hospital.
Peguei o aparelho olhando as ligações perdidas de Judith, assim como mensagens, provavelmente essa mulher já deveria me odiar por furar tanto com ela, mas dessa vez não tive culpa, ou melhor, tive, mas não tinha muita opção a não ser finalizar a noite aqui..
Rapidamente e sem pensar em muita coisa comecei a digitar o texto imaginando se a Violet estava tão ansiosa em vir morar comigo quanto Judith insistia.
E se ela não gostasse de mim?
Se isso fizesse lembrar da minha filha e o fracasso de não encontra-la como viveria com isso?
Suspirei fundo avaliando a mensagem e enviando-a:
Judith houve um imprevisto
Sofri um acidente e estou hospitalizado;
Mas assim que puder irei buscar a minha filha
Só tenha um pouco de paciência...
Atenciosamente, Spencer Behling
— Obrigado irmão — agradeci, voltando a atenção ao Caleb.
— Um Behling sempre pelo outro, lembra-se disso?
— Claro que lembro. — Megan entrou na sala novamente, me surpreendi quando percebi que a coisinha estava ouvindo nossa conversa, pequena enxerida. — Vocês eram dois idiotas com seus mantras ridículos.
— Não seja invejosa, Meg. — Caleb fez bico e eu sorri. Fazia tanto tempo que não tínhamos um momento assim, desde a minha briga com o velho, que cada um seguiu sua vida. Sem confraternizações familiares, sem finais de ano. Nada. Era como se Vincent tivesse anulado parte da nossa vida.
— Me polpe velhote, esqueci o meu celular. — ela caminhou até a mesinha de centro e e porta abriu, Nate entrou na sala de olhos arregalados e as mãos trêmulas, quando perguntamos, a resposta fez com que quisesse tirar o acesso e sumir.
— A garota acaba de sofrer um traumatismo craniano depois de quase vinte horas do acidente. O ferimento na cabeça ocasionou uma artéria obstruída, normalmente por um coágulo sanguíneo, Ela perdeu muito sangue e está precisando de doação. Fizemos alguns exames de imagens do cérebro e a distância que foi arremessada poderia tê-la matado. Essa mulher está viva por não ser o seu dia de morrer ou o criador tem outros planos pra ela.
Ficamos olhando o homem assustados, ninguém ousou falar nada. Não tinha palavras para dizer o rebuliço que tornou a minha vida.
— Ela está sedada, estamos lutando por ela, mas não sabemos quando vai acordar.
— Estaremos lutando, vocês não estão sozinhos e mesmo que eu tenha alta não sairei desde hospital enquanto não se recuperar. Não acho justo que nada tenha acontecido comigo e ela quase perder a vida por ter cruzado meu caminho.
— O problema não é apenas o acidente Spen. — Caleb chamou minha atenção para si. Megan segurou a mão de Nate para olhar para o que nosso irmão diria. — Precisamos protegê-la, porque quem a feriu ainda está a solta. Precisamos descobrir o que aconteceu com ela.
Caleb tinha razão, precisávamos protegê-la.
Minutos depois quando estava sozinho, Meg e Caleb foram embora, o soro acabou, e eu mesmo tirei o acesso de minha veia, havia passado por situações piores e não seria um acidente que acabaria comigo e nem com ela, a garota que ainda era um mistério para mim, mas cuja beleza por baixo de toda aquela sujeira era imensurável.
Capítulo adiantado 💕🎉
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