1°
Por que este homem chora abraçado em mim dizendo ser meu pai?
Por que estas pessoas me trouxeram para este lugar estranho, dizendo que uma das peças desta casa é meu quarto?
Por que todas as coisas estão embaralhadas e eu me sinto sozinho e com medo desde que saí daquele hospital sem nem entender o que está acontecendo?
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Meu nome é Lucio, pelo menos é assim que me chamam desde o hospital. Desde que cheguei aonde dizem ser minha casa.
É tudo muito estranho, os olhares, os rostos, as coisas. Tudo que dizem que fazia parte de meu dia a dia é estranho.
Sinto que preciso conversar com alguém, mas tenho medo, medo das pessoas, por isso até então quando me mostraram "meu" quarto, eu não saio mais dele. Fico observando meu violão, que não faço ideia de como mexer, observo também a quantidade de livros que tem em um pequena mesinha que fica do lado da cama: romances, romances e mais romances, fico até enjoado.
"Por que será tantos romances?"
Pergunto-me.
Uma mulher entra em meu quarto com toda a delicadeza, mas a porta não compreende e faz um som como se fosse casa antiga ou mal-assombrada.
Ela entra pedindo licença, eu estava deitado na cama, logo me escorro na cabeceira e ela se senta na ponta da cama me olhando como se fosse chorar. Essa situação me parecia até meio constrangedora, pelo fato de que as pessoas se emocionam quando me olham.
–Se lembra de mim?– ela fala pegando minha mão. Naquele momento me senti legal com sua "doçura".
Tento forçar a mente, mas toda vez que faço isto minha cabeça começa a doer. Faço cara de quem "tentou mas não conseguiu".
–Sou sua tia, irmã de seu pai!– ela logo fala.
–Ah– respondo.
–Ta sendo difícil esta situação, não é?– ela fala, novamente a ponto de chorar.
–Bastante até. Não consigo falar com ninguém e meus pensamentos estão completamente confusos!– falo desabafando.
–Eu imagino Lu...– ela fala.
Fico até na dúvida se ela é minha tia ou minha mãe. Parece que ela me entende e transfere paz para mim.
–O doutor aconselhou não contar muita informação, pois pode forçar sua mente demais e dar problema, mas você sabe não é, tia é tia, um pouquinho não faz mal– ela começa a rir e eu também– Vamos falar sobre você, um menino, praticamente um homem, que é lindo, de bem com a vida, que gosta de rir, de ler livros, de sair, de se arrumar, de escrever, de escutar músicas, cheio de amigos– ela fala.
–Que idade eu tenho?– pergunto meio envergonhado por não saber minha própria idade.
–Quinze, final do ano faz dezesseis.
–Hum, eu estudo?
–Sim, você foi para o primeiro ano do ensino médio.
–Ah, tia, posso ficar um pouco sozinho?
–Claro, claro, depois vamos tomar um sorvete?
–Está bem!
Ela se levanta e sai do quarto. Foi inevitável, ela saiu e uma angústia subiu e logo começo a chorar, não estava entendendo nada.
Depois que litros de água saíram de mim e eu me acalmo, vejo que tem um celular do meu lado.
💭"Para estar aqui deve ser meu" 💭
O ligo apressado, talvez toda a minha vida possa estar aqui. Para minha decepção, ele tem senha.
💭 "Nossa, que idiota que eu sou, eu deveria ter imaginado que um dia perderia a memória..." 💭
Me levanto da cama muito rápido, consequentemente fico muito tonto, então caio de novo sobre ela.
💭 "Ta, agora vai" 💭
Dessa vez me levanto devagar, então abro a porta de meu quarto, vou até a sala e vejo minha tia e meu pai conversando, me aproximo, ela sorri e ele abaixa a cabeça, ele logo sai.
–Você vai passar uns dias lá em casa, ok?– minha tia fala.
–Está bem!- respondo.
Obviamente que tinha alguma coisa acontecendo, mas se ninguém me contava, eu teria de investigar.
–Quando volto a estudar?– pergunto.
–Você está bem e quer ir para a escola?– ela questiona.
–Sim!– respondo.
–Então amanhã mesmo.
Dou um sorriso, mas ao mesmo tempo nervoso, não sei como me comporto na escola, nem quem são meus amigos e quem não é, mas só assim eu vou saber mais sobre mim, tomara que eu tenha um(a) melhor amigo(a).
Logo, arrumo minhas coisas para levar para minha tia.
–Estou pronto!- falo
–Ta, então vamos lá.
Nem consegui dar tchau para meu pai, pois ele tinha sumido de meu alcance de vista.
Chegando lá, pergunto para minha tia quanto tempo fiquei no hospital, porque eu dormi muito, então perdi a noção do tempo.
Ela diz que duas semanas, porque tinha que fazer exames e me recuperar do acidente.
–Eu vou ficar sem a memória pra sempre?– pergunto
–Não, o doutor disse que com o tempo você vai se lembrando, mas pode demorar...– ela responde.
Acho que seria complicado viver sem 15 anos da minha vida desde o nascimento, mas não seria impossível.
–Cadê as outras pessoas?– saiu automaticamente da minha boca.
–Todos estão trabalhando.
–Ah, vou me deitar.
–Ta bem.
Vou direto para o último quarto da casa, não sei por que, mas vou, então deito na cama e durmo.
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