Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 1 - Um Natal Para Mary


Dezembro tinha chegado finalmente, e havia no ar aquela magia que parecia estar espelhada em todos os lugares. Os sorrisos nos rostos das pessoas que transitavam pelo centro de Nova Iorque eram contagiantes. As lojas estavam enfeitadas com luzes coloridas e árvores tradicionais; as ruas estavam iluminadas de forma especial e, para coroar todo esse espírito natalino que podia ser sentido a milhares de distância dali, uma neve branca e espessa começara a cair sobre os telhados, casas e copa das árvores, deixando no ar aquela sensação boa de tudo o que aquela época tão especial conseguia despertar na alma e no coração das pessoas: a fraternidade, a união entre entes queridos e, especialmente, o amor.

Em meio a todo esse cenário encantador, Mary caminhava de loja em loja, carregando nos braços milhares de pacotes, enquanto seus olhos verdes brilhavam de alegria. O Natal era sua data favorita, porque sentia em seu coração uma nova oportunidade de recomeçar, deixar para trás velhos projetos e abrir espaço para o novo. Seus pedidos à meia-noite, antes da ceia ser iniciada, eram sempre os mesmos: ótimos desafios no trabalho, amizades sinceras, saúde para realizar o que desejasse e um amor que durasse a vida inteira.

Em quase tudo, ela era atendida. Seus amigos eram os melhores do mundo, daqueles que transcendiam a amizade. Eram seus irmãos e irmãs postiças, como ela gostava de chamá-los, pois, por ser filha única, não tivera uma irmã de sangue para compartilhar seus segredos. Assim, ela sabia que podia contar com eles em qualquer situação. Seu emprego era excelente e lhe oferecia todas as oportunidades que desejava. Fazia cinco anos que trabalhava com propaganda e marketing, área na qual se formara na faculdade, onde aprendera muito e tivera grande sucesso também. Sentia-se em casa no meio de seus colegas de profissão, e para ela, a agência na qual desenvolvia toda a sua criatividade diariamente, era como sua segunda família. Saúde tinha de sobra, mas quanto ao amor, esse era um tópico sensível.

Mary era uma garota de vinte e cinco anos, romântica e sensível. Se lhe perguntassem se ela acreditava em príncipes encantados, certamente diria que não, mas, no fundo, estaria mentindo, pois acreditava naquele tipo de amor que era para sempre e sim, o príncipe perfeito estava incluído no pacote. Embora tivesse tido inúmeras decepções com o passar dos anos em sua vida amorosa, Mary se recusava a perder a esperança, por isso, ela incluía amor em sua lista de desejos no Natal. Talvez fosse perda de tempo, ou uma ilusão, como suas melhores amigas diziam, porém, viver a vida não significava atirar-se em aventuras e viver o agora, como elas também a aconselhavam a fazer. Mary acreditava que sua outra metade estava lá fora, ela apenas tinha que manter os olhos bem abertos e o coração disposto a se apaixonar.

A garota morena alcançou seu carro, abriu o porta-malas e colocou todas as suas compras nele. Em seguida, tornou a fechá-lo, pois sabia que ainda estava no início e que muita coisa ainda precisava ser comprada, e os presentes significativos, ela sempre deixava para o final.

Assim, Mary entrou em uma loja de brinquedos e seus olhos foram atraídos por uma caixinha de música. Dentro dela, havia uma bailarina de vestido azul. Ela deu corda no objeto e uma melodia suave começou a tocar, emocionando seu coração. Era o presente perfeito para sua afilhada que, além de amar esse tipo de coisa, tinha cinco anos e praticava balé desde os três anos. No último Natal, ela lhe fizera um pedido inusitado, que até aquele momento a fazia rir de verdade.

A garotinha tinha lhe perguntado quando ela traria um namorado de verdade para casa, e quando Mary disse que não sabia, a menina a olhara nos olhos e dissera em sua ingenuidade infantil, que seu presente de Natal tinha que ser um tio postiço, já que Mary era considerada por ela como sua verdadeira tia, e não apenas madrinha. O pedido não pudera ser atendido, porque o príncipe de Mary não tinha aparecido, ou quase, se ela considerasse o que acontecera no último Natal como um sinal dos céus.

Afastando o pensamento incômodo, pois se recusava a ficar triste em sua época favorita, Mary pediu que embrulhassem o presente e, logo que saiu da loja, seu celular tocou. Como estava de folga do trabalho, ela não imaginava que poderia ser, até olhar na tela e ver que era sua mãe. A princípio, ela ficara preocupada, porque Rachel não estava na cidade. Ela tinha viajado para ajudar uma tia de Mary que estava doente, e a garota apenas esperava que não fossem más notícias.

— Alô. — Ela disse, apreensiva.

— Oi, querida. Como você está? — A mãe dela perguntou, com seu bom humor característico. Mary admirava sua mãe demais, por ser uma mulher forte e tê-la criado sozinha. Seu pai tinha morrido em um acidente três meses depois de ela nascer e a história de amor dos dois tinha sido tão maravilhosa que sua mãe nunca mais quisera se casar. Era por isso que Mary tinha aquela alma tão romântica, pois desejava viver um amor igual ao de sua mãe. Ela até pensara estar vivendo um há alguns meses atrás, mas nas últimas duas semanas a paixão dele parecia ter se esfriado.

— Estou bem, mamãe. Aconteceu alguma coisa? Como está a titia?

— Bem, meu amor. Ela já está recuperada, por isso voltei para casa.

— Nossa, que bom. Ainda bem que foi rápido. — Mary disse, aliviada e feliz ao mesmo tempo. O Natal sem sua mãe não seria a mesma coisa. Como não tinha planos para ir para nenhum lugar em especial, ela pensara que teria que cozinhar apenas para si mesma. Não que se importasse, mas preparar a ceia com Rachel era o que mais amava fazer. As duas preparavam o peru tradicional da família, comiam juntas, tomavam champanhe e, depois, assistiam a um daqueles filmes clássicos que ambas adoravam. Naquele ano, tinha escolhido assistir Doutor Jivago, um filme russo bastante famoso mundialmente. Mary ficara decepcionada quando a mãe tivera que viajar, porque a tradição seria quebrada, mas, felizmente, alguém lá em cima decidira dar a ela aquele pequeno presente, e estava grata por isso.

— Estou te ligando para avisar que sua prima Joan quer que passemos a noite de Natal com ela. Parece que vão fazer uma festa igual à do ano passado, e queria saber se você gostaria de ir.

Mary não respondeu prontamente, porque aquela pergunta a pegara de surpresa. O Natal do ano anterior fora realmente uma surpresa para ela; iniciara-se de um jeito e terminara da forma mais inesperada possível. Ela não sabia bem se queria ter aquelas lembranças de volta, pois, apesar de ter sido especial, também acionava gatilhos dentro dela, que certamente a afetariam se estivesse em um ambiente propício para isso. Não eram lembranças ruins, pelo contrário; eram lembranças maravilhosas, mas que lhe traziam também uma sensação de fracasso, daquilo que desejara e não pudera ter.

Seu peito se apertou com esses pensamentos, porque ela ainda não sabia lidar com certas questões que envolviam o coração. Ela era uma profissional de sucesso, que tinha uma vida estruturada e bem resolvida. Contudo, quando o assunto tinha a ver com sentimentos, ela se sentia uma completa fracassada. Nunca tivera sorte no amor e, nos últimos anos, Mary se conformara com a ideia de que nunca viveria um amor de verdade. Sua alma continuava romântica, porém, a realidade lhe mostrara que isso somente a levava a decepções terrivelmente frustrantes.

— Pensei que passaríamos o Natal juntas. Apenas nós duas. — Mary respondeu, desejando que a mãe desistisse da ideia. Ela queria aconchego naquele dia especial, e não ficar deprimida por coisas inacabadas.

— Podemos fazer isso no dia seguinte. Acho importante socializar um pouco com os nossos amigos. Vamos lá, querida, anime-se — sua mãe insistiu.

Suspirando alto, Mary sabia que ia ceder. Sua mãe quase não tinha diversão. Vivia para o seu trabalho como consultora de seguros. Não custava nada dar a ela essa alegria.

— Está bem, mamãe. Pode confirmar minha presença — Mary respondeu, meio a contragosto.

— Ótimo. Compre um vestido bem lindo. A ocasião pede algo especial — a mãe de Mary disse, com animação.

A garota não entendeu bem a última afirmação dela, mas também não quis perguntar sobre a razão daquelas palavras. Antes de desligar, ao se despedir, ela disse:

— Tudo bem. Eu te amo.

— Também te amo — a mãe respondeu, desligando o telefone.

Mary guardou o telefone na bolsa e recomeçou a andar pelo centro da cidade em busca de um vestido para a festa. Não queria nada caro ou sofisticado, porque a festa na casa de Joan era bastante familiar e também porque não via motivo para comprar algo extremamente elegante. Assim, ela se deixou levar pelo espírito natalino que sentia na antevéspera de sua comemoração favorita e se misturou à multidão de pessoas, perdidas no centro de Nova Iorque, realizando suas últimas compras do dia.

Desinteressadamente, a garota passou em frente a uma loja de artigos femininos e viu na vitrine um vestido longo, preto e de tecido vistoso, que chamou sua atenção pela simplicidade. Assim que entrou na loja, uma atendente simpática veio em sua direção e perguntou:

— No que posso ajudá-la?

— Eu gostaria de experimentar aquele vestido, por favor — Mary pediu, apontando para a peça desejada.

Ela foi conduzida ao provador, onde colocou o vestido e sorriu para a própria imagem. Ele ficara perfeito em seu corpo e tinha sido a escolha mais acertada. Após pagar por ele, Mary foi para casa, encerrando suas compras de Natal daquele dia permanentemente.

No dia seguinte, a garota acordou e percebeu que estava nevando. Ela correu para a janela e quase gargalhou para aquela obra-prima incrivelmente branca. Natal só era de verdade se tivesse flocos brancos caindo do infinito. Parecia que era Deus abençoando o mundo com aquele presente da natureza.

Tantas lembranças de sua infância vieram à tona. Fora um tempo feliz que guardava dentro de seu coração. Era uma dádiva ter sido uma criança saudável, cuja mãe se preocupara em ajudá-la a construir seu mundo de faz de contas, preservando sua inocência, até que estivesse preparada para entender que a felicidade podia ser uma via de mão dupla.

Na fase adulta, Mary tivera muitos Natais bons, mas não como aqueles que lhe deram as melhores lembranças de sua vida. A magia de ser criança e acreditar em Papai Noel era realmente o que tornava a data extremamente especial, porque era também poder acreditar nos milagres que poderiam acontecer na pureza de um coração infantil. Sua mãe a ajudara a manter esse mundo lúdico por muitos anos, até que, infelizmente, todas aquelas crenças se desvaneceram. Mary ainda amava o Natal e costumava pendurar meias na lareira, montar a árvore cheia de bolas coloridas que colocava no canto da sala, com presentes embaixo dela. Mas não deixava mais um prato de cookies com um copo de leite do lado dela em cima da mesinha que tinham perto da árvore, para saudar o Bom Velhinho que a visitaria à meia-noite. As pegadas dele também eram recriadas por sua mãe, que as estendia da lareira até a árvore, fazendo Mary gargalhar no dia seguinte, ao ver que tinha ganhado exatamente o presente que desejara.

Tudo isso deixara de fazer sentido quando completara doze anos e entendera que suas crenças eram ilusórias. Porém, nunca deixara de agradecer à sua mãe por ter lhe dado a oportunidade de viver aquela experiência infantil tão gratificante. Quase nada sobrara daquela época, a não ser suas lembranças que Mary mantinha intactas em uma caixinha de fotografias cuidadosamente protegida dentro de seu guarda-roupa.

O dia passou rápido e, quando o relógio marcou seis da tarde, Mary decidiu se preparar para a longa noite que teria pela frente. Primeiro, ela tomou um banho relaxante, fez as unhas, escovou os cabelos e, por último, colocou o vestido recém-comprado no dia anterior. Quando estava dando os retoques finais em sua aparência, a campainha de seu apartamento tocou e ela se deparou com a mãe à sua espera.

— Você está maravilhosa — a boa mulher disse, olhando com aprovação para a aparência da filha.

— A senhora também. Qual é a ocasião para tanta elegância? Faz tempo que não a vejo vestida assim. — Mary comentou, apontando para o vestido longo na cor nude e de tecido brilhante.

— A ocasião pede algo especial — a mãe respondeu, olhando-a de forma enigmática.

— Uma festa familiar na casa da prima Joan? — Mary a olhou interrogativamente.

— Por que não? É uma festa familiar que temos apenas uma vez no ano. Não custa nada caprichar. — Sua mãe piscou de forma divertida.

— Se a senhora diz — Mary respondeu, deixando a conversa morrer.

Pegar um táxi àquela hora e naquela data específica causaria mais aborrecimento do que desejariam, por isso, Mary decidiu ir dirigindo até a casa de sua prima, pois não queria começar a noite estressada com espera e atrasos dos motoristas de aplicativos.

Durante o trajeto, Mary percebeu sua mãe digitar algo no celular várias vezes, o que a fez perguntar:

— Não devia ter encerrado o seu expediente? Não vamos a uma festa para você continuar trabalhando, mamãe.

— Não estou trabalhando. Apenas estou enviando uma mensagem para um amigo — sua mãe respondeu, desligando o celular logo em seguida.

— Um amigo especial? — Mary insistiu.

— Não, apenas um amigo — ela respondeu, ajeitando o vestido rapidamente.

A garota guardou seus pensamentos para si mesma, pois seria uma perda de tempo dizê-los em voz alta. A mãe detestava quando Mary insistia para que ela arrumasse um namorado. Ela ainda era jovem e bonita, mas vivia para seu amor perdido do passado. Era triste vê-la solitária e ter sua vida toda dedicada ao trabalho, pois raramente se divertia ou saía com uma amiga. Toda vez que a filha dizia que estava desperdiçando sua juventude, Rachel respondia que curtia a vida de sua maneira e que Mary não deveria se preocupar.

Ela ainda pensava sobre isso, quando chegou à casa de Joan. Como todos os anos, a frente da casa estava toda enfeitada, com uma enorme árvore de Natal no jardim. Na grama, havia várias figuras natalinas espalhadas, e a novidade daquele ano era um grande trenó que tinha um homem de neve posicionado ao lado dele. Mary sorriu com a visão daquele ambiente, tipicamente projetado para dar a sensação de que o polo norte era exatamente ali.

Joan preservava suas tradições familiares e as seguia à risca todos os anos, com uma ou outra inovação. Mesmo depois de casada e com filhos, ela ainda enfeitava a casa e servia as mesmas comidas que a mãe dela costumava fazer em sua infância. Era uma sensação maravilhosa fazer parte daquilo, e descobrir que tinha um pedacinho daquela garotinha de sua infância dentro dela.

Quando entraram na casa, foram recepcionadas pela prima e um bando de crianças que corriam por todos os lados. A animação parecia tomar conta de todos e, assim que Mary olhou para a prima que caminhava em sua direção, ela se sentiu em casa.

— Querida, que bom que veio. Rachel conseguiu te convencer, afinal — Joan a abraçou, sorrindo de orelha a orelha.

— É um prazer estar aqui — Mary respondeu, retribuindo o abraço.

— Ela não está linda? — Rachel, a mãe de Mary, perguntou, olhando-a com orgulho.

— Ela está perfeita — Joan concordou, trocando um olhar estranho com a mãe de Mary. A moça percebeu, mas não disse nada, pois naquela noite tudo estava bem estranho.

Ela correu o olhar pelo ambiente tão decorado quanto o lado de fora, mas de forma mais discreta, deixando-a bastante confortável. Mary gostava quando a família se reunia, pois lhe dava a sensação de não estar sozinha. Toda a vida desejara mais irmãos, porém, sua mãe nunca quisera se casar de novo, por isso, tanto sua infância quanto adolescência foram bem solitárias. Não tivera a experiência de ter alguém para dividir o quarto, contar seus segredos ou desapontamentos. Rachel era tudo o que ela tivera em todos aqueles anos de amadurecimento. Entretanto, não podia se queixar. Seus parentes eram bastante amorosos e sempre ficavam felizes por suas vitórias. Mary não poderia desejar outra família que não fosse aquela.

Ela foi até a mesa de bebidas e se serviu de um pouco de vinho. Nunca fora amante de bebidas alcoólicas, mas aquela noite se permitiu relaxar. Afinal, era Natal e todo mundo parecia entrar no clima quando chegava à meia-noite.

Com uma taça da bebida na mão, Mary andou pela casa, cumprimentando parentes e alguns conhecidos, que Joan convidara para partilhar a ceia que preparara com tanto capricho. Olhando para tudo o que a prima fizera naquele ano, ela não podia deixar de admirar a perfeição de cada detalhe.

Sem perceber, Mary foi parar no meio da sala e, quando olhou para cima, viu um azevinho pendurado perto da porta da entrada. Aquele pequeno detalhe foi o que bastou para carregá-la de volta ao Natal do ano anterior, como se uma máquina do tempo tivesse surgido diante de seus olhos, lembrando-a de tudo o que aconteceu naquela noite.

Eram nove horas quando ela chegara na casa da prima. Tinha trabalhado até tarde para entregar uma campanha e mal tivera tempo de se arrumar, antes de vir para a ceia. Ela quase desistira, porque estava tão cansada que tudo o que desejava era tomar um banho quente e se enroscar em seu edredom favorito, com uma xícara de chocolate quente e muita pipoca caramelizada. Tinha até escolhido o filme que veria mentalmente: Mensagem para você. Esse era um de seus filmes favoritos de Natal e o assistia todos os anos, desde que fora lançado, como um ritual. Embora fosse uma comédia bem clichê, o enredo satisfazia totalmente seus anseios apaixonados e românticos.

Entretanto, não pudera ignorar o convite da prima, que parecia muito animada em reunir toda a família naquele Natal e comemorar sua recuperação. Joan tinha sofrido um acidente em casa no início do ano e quase perdera a capacidade de andar. Ela caiu da escada ao tentar trocar uma lâmpada queimada, fraturando a bacia e causando uma pequena lesão na medula. Felizmente, seu quadro era reversível, mas Joan passara dois meses no hospital e seis de cama em casa, fazendo fisioterapias diárias e tentando superar os meses longos e dolorosos que seu acidente lhe impusera. Com a dedicação do marido e o apoio dos familiares, sua prima conseguira se recuperar e fazer tudo o que sempre amara. Assim, Mary não achara certo recusar o convite, depois de presenciar com os próprios olhos tudo o que Joan sofrera. O mínimo que poderia fazer era estar lá para apoiá-la em um momento tão importante.

A festa estava animadíssima, quando Mary colocou os pés no hall de entrada. Havia muita comida, bebida, risadas, alegria contagiante e o fogo crepitando na lareira, deixando o ambiente reconfortante como um verdadeiro lar deveria ser. Todos os seus parentes estavam lá e a garota teve a impressão de estar em meio a uma multidão no centro de Nova Iorque, que naquela época do ano se tornava quase insuportável. Contudo, aquela era uma ocasião para se animar, por isso colocou o melhor sorriso no rosto e cumprimentou a todos, especialmente Joan, que parecia radiante. O sorriso largo dela era um presente, depois daqueles meses angustiantes. Era bom sentir que a vida estava voltando ao normal e que tudo tinha voltado ao seu devido lugar.

Joan veio cumprimentá-la no momento em que a viu e disse:

— Que bom que chegou, querida. Estava esperando por você. Temos mais convidados do que eu esperava. Fique à vontade. Quando eu puder, venho falar com você.

— Fique tranquila. Vou falar com nossa tia Amélia. — Mary respondeu, apontando discretamente para a mulher sentada em um sofá no canto da sala, cercada de pessoas.

Após trocar algumas palavras com sua tia e falar com mais algumas pessoas, Mary se serviu de um refresco e foi até um canto da sala para ter um minuto de privacidade. Precisava de um pouco de fôlego, depois de passar o dia em uma correria infernal.

— O que uma moça tão bonita faz sozinha em uma noite como essa? — Ela ouviu alguém dizer, próximo a ela.

Um pouco irritada com a intromissão, Mary se virou para responder à cantada barata, quando se deparou com um rapaz de olhos azuis, louro e cabelos cacheados, que lhe sorria com simpatia. Algo no sorriso dele fez seu coração dar um pequeno salto e, um pouco envergonhada, ela respondeu:

— Na verdade, eu gosto de ficar sozinha. Ajuda-me a pensar melhor e observar o que está acontecendo ao meu redor.

— E o que observou até agora? — Ele perguntou, tomando um gole de sua cerveja.

— Que o espírito natalino pegou todos dessa sala. — Mary respondeu, rindo, enquanto o rapaz não tirava os olhos de seu rosto.

— E qual é o seu nome, garota linda? Ele tornou a perguntar, observando-a como se estivesse hipnotizado. Mary corou, sentindo que seu rosto estava tão vermelho quanto a sua blusa de seda, e respondeu:

—Mary, e você? Como se chama?

— Richard. — O rapaz respondeu simplesmente, tomando mais um gole de sua bebida.

— Você é amigo da família? — Mary perguntou, com curiosidade, pois nunca tinha visto aquele rapaz por ali antes.

Sua prima sempre convidava muita gente e, com o passar dos anos, todos acabavam se tornando parte da família, porque esses grupos não variavam tanto assim. Mas Richard era um rosto novo, tinha certeza. Ela o teria notado se o rapaz tivesse vindo nas comemorações anteriores.

— Não. Na verdade, vim com um dos amigos de sua prima. — Richard respondeu. — Teria vindo outras vezes se soubesse que uma moca tão linda como você estaria por aqui.

Mary corou de novo e pensou que isso aconteceria a noite toda se ficasse conversando com aquele rapaz. Mas, por alguma razão desconhecida, ela não conseguia sair dali. Ao mesmo tempo em que se sentia inibida, também se sentia estimulada e atraída. Richard tinha um sorriso lindo, olhos calorosos e até mesmo sua faceta de galanteador era bastante charmosa.

— Então, quer dizer que gostou do ambiente? — Mary perguntou, tentando parecer descontraída.

— Não só do ambiente, mas principalmente das pessoas. — Ele disse, mergulhando o olhar no dela, fazendo-a perder o foco por um instante.

Era estranho sentir algo por alguém que acabara de conhecer, principalmente ela, que sempre era cuidadosa quando o assunto tinha a ver com o coração. Suas experiências anteriores a deixaram como gato escaldado, por isso, nunca permitia que as pessoas se aproximassem demais até conhecê-las melhor. Mas aquela era uma noite especial, por que não deixar a cautela de lado e se divertir só um pouquinho?

— Eu também gosto das pessoas daqui, especialmente quando aparecem rostos novos. É sempre uma nova oportunidade de se fazer amigos — disse Mary, sentindo-se um pouco mais ousada do que o normal. Talvez fosse o vinho que lhe desse coragem para ser diferente do que costumava ser diante de um estranho.

— E se eu quisesse te conhecer melhor, você permitiria? — Richard disse de forma direta, deixando Mary sem fala por um segundo.

Ela não teve tempo de responder, pois uma música começou a tocar e o rapaz perguntou:

— Aceita dançar comigo?

Mary se viu sorrindo e segurando a mão que o rapaz lhe estendeu, porque aquele olhar sobre ela era um estímulo e um desafio ao mesmo tempo.

Richard a envolveu nos braços enquanto a canção contava a história de um amor que tinha acontecido à primeira vista. A letra da melodia fez Mary sonhar com um amor assim, forte, intenso e indestrutível, e que pudesse durar a vida inteira. O rapaz não disse nada, enquanto a música continuava a encantar Mary, pois parecia tão envolvido pelo momento quanto ela. As mãos em sua cintura eram suaves, mas a seguravam com firmeza, mantendo o corpo dela contra si. Quase como se fosse para si mesma, ela murmurou:

— Será possível existir um amor assim?

— Acredita em conto de fadas? — perguntou o rapaz.

— Em conto de fadas não, mas para uma romântica como eu, é difícil para mim não desejar um amor como esse que a música descreve. — Mary respondeu, sentindo o coração dele batendo contra o seu, pois a proximidade de ambos era muito grande.

— Está à procura de um amor que dure para sempre? — Ele tornou a perguntar com um sorriso terno.

— É difícil encontrar algo assim, eu confesso. — Mary respondeu, apoiando a cabeça no ombro do rapaz.

— Por que não descobre comigo? — Richard perguntou, fazendo Mary levantar a cabeça novamente e encará-lo. Ao ver a sinceridade naqueles olhos azuis lindos, o sorriso dela foi a resposta para o que ele desejava saber.

A partir daí, a noite se tornou mais brilhante para Mary, que não conseguia acreditar no presente maravilhoso que ganhara. Ela chegara à casa da prima tão cansada e sem esperanças de ter uma noite boa, para depois tudo se tornar o melhor Natal de sua vida. Eles se divertiram juntos, dançaram juntos, conversaram por horas e trocaram confidências ao pé do ouvido. Quando o relógio bateu meia-noite, o jovem casal trocou o primeiro beijo e, envolvida por um encantamento que não conseguia conter, Mary nem percebeu o local onde estavam. Uma voz infantil a fez levantar a cabeça quando ouviu:

— Olha, mãe. Eles estão se beijando embaixo do azevinho.

Ao lançar o olhar para onde aquela voz vinha, Mary ficou vermelha ao ver a maioria dos convidados encarando-a e Richard com um sorriso no rosto. Ela sabia o que aqueles olhares significavam. Os sinos de casamento pareciam estar soando na cabeça de todos por conta de uma crença que, a seu ver, era bem ridícula. Beijar alguém embaixo do azevinho indicava matrimônio à vista, segundo os mais velhos, mas ela nunca de fato acreditara em tal absurdo.

Sua vergonha foi completa quando Richard segurou em sua mão e Joan levantou o polegar em sinal de afirmativa, o que quase a fez se esconder embaixo da primeira mesa da sala, para ocultar todo o seu embaraço. Felizmente, a prima logo chamou a todos para se sentarem à mesa e começar a ceia.

O resto da noite passou voando, tanto que, quando as horas avançaram para três da manhã, Richard disse que teria que ir embora. Eles trocaram números de telefone e o rapaz levou a echarpe azul-escuro que Mary estava usando como uma desculpa para vê-la de novo.

Quando viu o rapaz sair pela porta, Mary se perguntou se o veria de novo ou se a história do azevinho o tinha assustado o suficiente para que ele não mais desejasse um novo encontro.


Respirando fundo, Mary voltou para sua realidade, sentindo na boca um gostinho de saudade. Agora estava ali sozinha outra vez, quando pensara que sua vida teria enfim uma enorme mudança. Sua vida amorosa continuava um deserto, embora naquele ano, pensasse que tinha encontrado a sua outra metade. Sua mãe dizia que, quando o coração escolhia, era porque realmente aquela era a pessoa certa. Mas seu coração a tinha enganado e novamente se sentia a garota mais tola do mundo. Talvez não existisse uma pessoa certa, apenas a sorte de encontrar alguém que valasse a pena.

Mary passou mais alguns minutos tomando vinho e conversando com um parente aqui e ali, até que Joan se aproximou dela e disse:

— Vá até a área externa. Tem uma surpresa para você lá.

Mary a olhou espantada, franzindo a testa, sem saber se realmente estava com vontade de fazer o que a prima lhe dissera. Não gostava de surpresas, pois era ansiosa por natureza. Entretanto, não custava nada ver que surpresa era aquela.

Quando saiu na área externa, as luzes se acenderam na varanda secundária, o coração de Mary quase parou. Richard estava lá e sorria para ela. Chocada com a aparição repentina dele, ela se aproximou e perguntou:

— Como chegou aqui? Achei que não te veria mais. Afinal, você viajou há três semanas e me deixou apenas um recado no celular. Parecia tão frio que achei que nosso namoro estava terminado.

— Acha mesmo que eu terminaria com a única mulher com quem quero passar o resto da minha vida? — Richard perguntou, olhando-a cheio de amor. — Na verdade, meu sumiço teve um ótimo motivo.

— Qual? — Mary perguntou, ainda emocionada com as últimas palavras dele.

— Você me disse que queria morar em uma casa ao invés de um apartamento. Então, aproveitei algumas folgas no trabalho e fui procurar a casa de seus sonhos. Felizmente encontrei uma que é do jeito que você sonhou. — Ele explicou.

— O que está dizendo? — Mary perguntou, com seu coração batendo forte.

— Eu estou dizendo que quero que se case comigo. — Richard disse, tirando uma caixinha do bolso, de onde um anel de noivado reluzia. — Eu me ajoelharia aqui agora mesmo, se o chão não estivesse tão molhado. — Ele continuou, com um enorme sorriso no rosto.

— Não precisa — disse Mary, enxugando uma lágrima que ameaçava cair discretamente.

— Apenas me diz que aceita. — Ele pediu.

— É claro que aceito, seu bobo. Mary respondeu, incapaz de continuar escondendo as lágrimas que agora rolavam abundantemente por seu rosto, enquanto Richard colocava o anel em seu dedo.

Após trocarem um longo beijo, ela olhou para a porta e tanto sua mãe quanto sua prima e todos os convidados compartilhavam com eles daquele momento. Em seguida, sua mãe se aproximou e disse para Richard.

— Eu sabia que ela não ia recusar.

— Como assim, mamãe? Você já sabia?Mary perguntou, olhando para sua mãe e depois para Richard.

— Todos nós sabíamos. Na verdade, essa festa de Natal é para comemorar o noivado de vocês.Rachel revelou, deixando Mary ainda mais surpresa.

— E se eu não aceitasse? Mary perguntou.

— Eu conheço minha filha. E Richard é o homem certo. Meu coração de mãe não se engana. — Rachel revelou, abraçando os dois.

— Vamos entrar e comemorar esse noivado aqui dentro. Está ficando muito frio do lado de fora.Joan os convidou ainda na porta, interrompendo o momento de emoção entre eles.

De mãos dadas, o jovem casal entrou na casa, sendo cumprimentado por todos os convidados. Quando passaram pela sala, Richard parou por um segundo, sorrindo de forma enigmática, o que fez Mary perguntar:

— O que foi?

— E pensar que tudo começou com um azevinho. — Ele disse, apontando para a planta delicada.

A resposta de Mary foi beijá-lo, enquanto lá fora o mundo se pintava de branco novamente, fazendo daquele o mais especial de todos os Natais.


TOTAL DE PALAVRAS: 5063

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro