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05

Dois dias depois..

Não era difícil imaginar que todas as minhas ações e decisões me trariam até aqui e eu era responsável por cada pequena molécula que estava fora do lugar.

Um breu inebriante se formou em meu corpo e senti como se tudo tivesse se apagado para mim: Brie, Elle e Amelie. Todas apareciam como um grande borrão em minha mente e não sabia como consertar isso.

A lembrança de Elle indo para cima de Amy ainda era fresca em minha memória – se eu fechasse os olhos, conseguia ver nitidamente os olhos da minha amiga de infância sendo tomados pelas lágrimas enquanto sua mão pequena e quente se erguia em susto em direção a sua bochecha, afagando-a.

E, com isso, lembrava-me da primeira vez que vi Amelie há dezoito anos – e da pequena flor que lhe dei em símbolo da nossa amizade. Recordava-me de como seu cabelos estavam presos ao alto e suas bochechas levemente vermelhas.

Joguei meu corpo sobre o colchão macio e peguei novamente o celular, digitando o número de Amelie – a ligação chamou seguidas vezes e caiu na caixa postal. Soltei o aparelho e suspirei cansado.

Faziam dois dias que voltamos da casa de praia e, desde então, tudo estava estranho e escuro. Não tinho visto Brie, pois evitava sair do quarto, nossos pais estavam completamente confusos por não saberem o que aconteceu comigo e Elle que nos levou ao rompimento e, por fim, Amelie sumiu.

A porta do meu quarto se abriu bruscamente e vi o torso de Brie parado em meio ao batente – seus braços estavam cruzados e ela apoiou o peso do seu corpo sobre sua perna esquerda em uma pose.

— Já faz dois dias, Hero, quando vai sair desse quarto? – questionou. — Você precisa falar com Amy!

Permaneci deitado e, suspirando, cruzei os braços atrás da minha nuca.

— Eu já tentei, ela não me atende. – disse baixo.

— Ela mora do outro lado da rua! – disse óbvia. — Vá até lá!

— Eu não posso simplesmente ir lá! – brandei, levantando-me da cama.

Vi que Brie estava na mesma posição de minutos atrás, no entanto, sua expressão agora era de desdém.

— Você é um idiota, Hero!

Revirei os olhos, levantei-me da cama e caminhei calmamente até minha irmã. Quando estava perto o suficiente do seu corpo, levantei minha mão e a empurrei levemente para trás.

— Fica fora do meu quarto!

O suspiro pesado de Brie cortou o ar e, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, as silhuetas dos meus pais preencheram o espaço bruscamente. Notei o rosto da minha mãe tão vermelho quanto fogo e o do meu pai, mais sério do que nunca.

Suspirei cansado e me virei, colocando-me de frente para eles, imaginando o que viria a seguir.

— Que merda você pensa que está fazendo, Hero? – a voz grossa do meu pai soou pelo cômodo. — Você enlouqueceu?

— Pai... – tentei dizer.

— Eu não quero ouvir a sua voz! – brandou. — Você não pode romper com a Elle do nada! Você sabe tudo que está envolvido, Hero, e o quanto esse casamento seria importante para a nossa empresa!

O riso áspero de Brianna cortou o ar e ela deu um passo para dentro do quarto, pondo-se ao meu lado. Podia ver pelas linhas que se formavam em sua face o quanto ela estava furiosa ao ouvir as palavras que escaparam da boca do nosso pai.

— É só isso que importa para você, não é, Charles? – questionou. — Dinheiro e a merda daquela empresa corrupta! Você ao menos perguntou como o Hero está se sentindo com tudo isso?!

— Não se meta, Brianna! – minha mãe brandou. — Isso não tem nada a ver com você!

As vozes dos meus familiares se misturaram em uma discussão da qual eu não queria participar – a cada palavra que saía da boca deles, sentia meu corpo pesar e minha respiração falhar; apertei os olhos com força e fechei minhas mãos em punho antes de gritar:

— Calem a boca! Chega! Eu não aguento mais essa merda, eu não amo a Elle e não vou me casar com ela! – gritei.— Se é tão importante para vocês uma união com a família dela, se casem com ela!

Saí correndo do quarto em direção às escadas, rumo à sala principal, minhas mãos quentes e suadas alcançaram a maçaneta dourada da porta e a puxei imediatamente.

Algumas pessoas caminhavam pela calçada calmamente e direcionei meu olhar para a casa do outro lado da rua. A grama estava baixa e completamente verdade, e as árvores aparadas como sempre foram – corri em direção à casa o mais rápido que pude.
Alcancei a pequena campainha e apertei-a sem parar, de forma desesperada.

Minha respiração estava completamente falha e meus pulmões queimavam, no entanto, tudo o que eu precisava era falar com Amelie.

Minutos se passaram e ninguém apareceu, apertei novamente a campainha e comecei a bater na porta; após alguns segundos, ouvi passos se aproximarem, engoli o nó que se formou em minha garganta e dei um passo para trás.

Quando a porta se abriu, vi o corpo pequeno de Amelie, seu cabelos estavam soltos e seu corpo carregava o moletom velho que eu tanto conhecia. Seus olhos me observaram em confusão e ela suspirou, dando um passo para o lado e permitindo que eu entrasse.

— O que você faz aqui, Hero? – perguntou calma.

A porta atrás do meu corpo se fechou e a garota deu alguns passos até estar à minha frente – pude notar as lágrimas começando a se formar em seus olhos escuros e ela fungar, e nesse momento, senti como se todo o espaço se quebrasse debaixo dos meus pés.

Era como se o ar escapasse do meu corpo e eu pudesse cair ao chão sem vida a qualquer momento.

Aproximei-me mais dela, levando as mãos até o seu rosto e encaixando-as em suas bochechas.

— Eu sinto muito, honey bun. – minha garganta se fechou. — Eu sinto muito!

Soltei o seu rosto e puxei seu corpo para mim, encaixando-a em meus braços. Afaguei seu corpo em aperto e apoiei meu queixo sobre seus cabelos, sentindo o seu cheiro – os seus braços rodearam o meu corpo e ela me segurou também.

— Hero...

Uma explosão de sentimentos emanou por meu corpo, como um estalo. Um turbilhão de emoções. Como um presente guardado há anos em um armário – não podia mais conter as sensações em meu peito e meus pensamentos. Não podia evitar o salto que meu coração deu quando senti os dedos de Amelie apertar a minha pele, não podia e não queria mais negar isso.

— Amelie... – sussurrei. — Eu... Eu preciso saber!

Afastei seu corpo, segurando seu ombros, e observei atentamente seus olhos e as linhas finas do seu rosto.

— Hero, eu...

— Por favor, eu preciso saber, Amelie, eu preciso saber se você também me ama.


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